segunda-feira, 7 de maio de 2018

POR QUE O SILÊNCIO?
ESTAREI NO CAMINHO DE DESCOBRIR?
7/5/2017

Pequena amostra do contexto...
A vizinha reclama da violência. A prima desanca a roubalheira, xinga seus autores e quer o "nosso" dinheiro de volta. O amigo estremece de ódio só de ouvir falar o nome do temer e de outros membros de sua tropa. A moça franzina puxa conversa no ônibus para falar do medo de andar na rua. A aposentada, pegando remédio na Farmácia Popular, diz que só pode tomar medicamentos gratuitos, os demais não tem como sustentar e sua saúde (precária) que aguente. O síndico se esgoela pelo atraso de alguns proprietários no pagamento do condomínio e tome de dispensar uns e outros funcionários para cortar custos. A madame arregala os olhos ao saber que o filho da empregada não tem mais como ir à escola sem condução gratuita e que a doméstica terá que trazê-lo ao trabalho pelo menos duas vezes por semana. O danado (e careiro) do dono do supermercado da vizinhança alega que está com as prateleiras pouco abastecidas porque a crise o deixou sem recursos para investir...
Esses são alguns dados empíricos, observados a olho nu sem grande esforço por qualquer um de nós, aqui perto ou mais adiante. E como eles, muitíssimos outros poderiam ser descritos como indícios da insatisfação desmedida reinante entre nós, brasileiros. É raiva, revolta e desgosto até dizer chega. Qualquer assunto descamba para o alto grau de maus sentimentos das pessoas com as quais convivemos, com maior ou menor proximidade.
Com um olho no padre, outro na missa, diante da situação constatada, a índole viciadamente inquiridora extrai do íntimo a indagação e me faz indagar: se assim é, se há praticamente um uníssono de desagrado, por que o silêncio no âmbito do coletivo? Por que só os resmungos ao pé do ouvido, as falações individualizadas que apenas aliviam na hora a ranhetice e não servem para nada que faça mudar substancialmente a realidade posta?
(Fundo musical de suspense)
Suspeito de que começo a ter uma resposta plausível a respeito e convido meus 25 seguidores a pensarem comigo...
Sabem o que pensei? Sabem porque só quem tem ido para a rua é a esquerda e quem é contra o golpe de abril de 2016?
Está me parecendo simples, límpido, translúcido: é porque cada qual prefere perder o que tiver que perder - a paz de espírito, a tranquilidade, a segurança financeira, e o que mais for - mas jamais abrir mão da situação de se sentir superior, diferenciado, privilegiado em relação ao conjunto dos mortais. É a velha lógica do matrimônio aplicada ao conjunto da vida em sociedade: "sou infeliz, mas tenho marido". Coisa de quem preza a aparência e o "sabe com quem está falando".
No dia em que aquele que se pretende e se vê como privilegiado perder a arrogância e olhar o outro como também um sujeito de direitos e estivermos juntos na mesma calçada da mesma rua... ah, o mundo, enfim, será um lugar respirável e de possibilidades de vida inteligente e fraterna. VIDA HUMANA.
Ah, Francisco, siga adiante, não desista, para que nossas vozes possam ser reunidas um dia num cântico em uníssono de louvor à justiça social e ao bem querer.
AMÉM!

quinta-feira, 3 de maio de 2018

DA ORDEM DAS INUTILIDADES

EXERCÍCIO DO PENSAR
2/5/2016

(Só perca tempo lendo esta bobice se estiver totalmente à toa)

Leio por aqui uma gentil mensagem vinda de algum dos  inúmeros membros desta rede, repassando a seguinte ideia: “faça de você mesmo o centro de seu dia”. Chamamento perfeito para mim, que vivo insistentemente em busca de mim mesma, de minha integralidade. Estava dada a chave irresistível para abrir as minhas primeiras especulações neste novo amanhecer.

Ponho-me em alerta e começo a entrar na trama dessas palavras, em seus sentidos e no que está a propor o conjunto delas, que deve trazer um bom conselho.

Anunciando-se como premissa do que estava posto na superfície das palavras, encontro a proposição de que a mim mesma cabe a ação. Está dado o primeiro passo.  Em termos lúdicos, andei uma casa. O fazer é meu e se eu fizer de mim mesma o centro de meu dia, isso será bom. Bom? Onde está escrito isso? Não, aí já é um passo adiante, metendo o bedelho por trás das palavras.  Ora, ninguém iria propor um caminho sem saber onde quer chegar. Se não, para que o conselho? A ideia de que devo fazer de mim mesma o centro do mundo só pode ter a sustentá-la a perspectiva de que vale a pena agir assim, o final do dia deve me trazer algo desejável, saboroso, agradável, de algum ponto de vista. Deve, pois, valer a pena. Certamente, o autor propôs tal direção tendo em mente um caminho para algo de bom para cada um. Se não, para quê?  Há, pois, imagino, um bom resultado para quem se dispuser a ser o centro de si mesmo.

Continuo minhas especulações, quem sabe dá certo? Imagino que se está postado aqui, é uma proposta que não surgiu assim, assim, do nada. Alguém pensou, imaginou, juntou alhos com bugalhos, e chegou à assertiva que gerou essa sugestão que está correndo mundo, alcançando uns e outros, onde me incluo.

Avanço, então, mais um tanto, já me enlaçando nas palavras do outro e me vejo diante de mais um acréscimo que me levou a entender melhor o que acabava de ler. E, aí, a ideia se amplia e fica mais ou menos assim: “se quer encontrar uma situação de prazer, de realização, no mundo, seja o centro de sua vida”. Ou, dito de outro jeito: “Para se sentir bem no mundo, aja na vida tendo você como o centro de seus dias, começando pelo dia de hoje”.Ou, ainda, numa outra maneira de escrever: “o êxito de seu dia depende de você ao agir como o centro das horas que o compõem”.

Posto isso, no percurso de entendimento que me dispus a traçar, era chegada a hora de enfrentar o cerne da questão: o que pode significar, para mim, fazer de mim mesma o cento de minha vida? Como entender minha individualidade para que ela seja o centro que possa conter a gênese na qual eu possa buscar os elementos para fazer de mim mesma o centro de mim mesma para obter um sentimento de realização pessoal ao final das horas do dia?

Aí é que surgiu a pedra do meio do meu caminho. Frustração das brabas. Danou-se! A boniteza toda dessa “instrução para o bem viver” não serve pra mim. Eu não sou só eu. Em mim há o mundo todo.  Eu ser o centro do meu dia envolve a mim mesma na relação com o mundo. Não sou só. Minha individualidade se faz no convívio com as gentes e as coisas do mundo.

Aí fica difícil. Impossível, chego a pensar. Fosse eu cartesiana, pudesse repartir o que só eu sou  e o que é só o outro, dava para seguir io conselho alheio. Não sendo assim, resta-me prosseguir convivendo com todas as contradições de todos que se entrecruzam. O centro de meu dia, para ser fiel a mim mesma, contém bem mais do que me deliciar com 6 pães de queijo acompanhados de um capuccino bem cremoso no Café da esquina. Isso,  sim, seria só  meu, sozinha.

Cá da minha poltroninha gostosa, já com os pés mais protegidos diante da nova temperatura, fico mesmo é querendo que o conselheiro que me inspirou tenha também o entendimento de que não dá para separar o que a natureza e a cultura juntaram para sempre: o cada um e o outro, reciprocamente acolhidos um no âmago do outro. Inseparáveis.