sábado, 30 de dezembro de 2017

MINHA CRIANÇA SEMPRE VIVA! PRA QUÊ?
30/12/2014

A ideia era acordar e escrever sobre a tragédia que foram os dois assaltos que sofremos há uns anos, na antiga casa de onde nos mudamos, completamente assustados. O assunto tem surgido meio enviesado, por conta de uma ou outra charla com amigos e filhos, e eu vinha tendo necessidade de fazer desaguar as marcas desse acontecimento de memória tão pesada. Até andava insatisfeita comigo mesma por nunca me lembrar do ocorrido, a me julgar uma pessoa indiferente, como se a própria história não me houvesse deixado marcas. Como fico tempos e tempos sem nem me recordar de fato tão violento e marcante? Seria por aí, acreditava, mais cedo, a tônica da conversa a ser posta em letras...

Mas, a vida, como lhe é intrínseco, independente de cada um de nós, se fez presente cruamente, com sua autonomia e traço. Traço que tanto poderia ter a suavidade de um afago em nossa face quanto uma agressividade descomunal a provocar cicatrizes perenes. Como foi o caso, enquanto eu supunha realizar coisas ligadas ao mundo de palavras regeneradoras...  Mais ingênua, impossível! Uma menina!

Mal me levanto, venho a saber da perda de uma vida infantil, iniciante, a custar o desespero e a pena de adultos que lhe cercavam, e isso me toma por completo, me desviando de minha – agora percebida assim – irrelevante intenção para dar a partida para o meu dia. Assaltos tidos como tragédia? Régua torta, quebrada, inútil, essa, que mediu desse jeito os efeitos daquelas noites de abril de pouco mais de uma década atrás! Como estava enganada em minha medição das coisas, meu Deus! Como dimensionei mal a força daquele fato antigo que nos deixou a salvo, a mim e a meus filhos, apesar da violência empregada!  Perdas materiais? Recomeço? Essa aritmética traz resultados enganosos que não sobrevivem, por certo, a uma banal prova dos 9! O trágico reduziu-se a uma ocorrência totalmente secundária.  Tudo é mesmo relativo. Tudo mesmo, sejam quais forem as dores acumuladas pela vida afora, e de qualquer tipo! Tudo cessou! Tudo perdeu tamanho diante da notícia que me chega de Campos. Uma menininha morta numa piscina!

Por que fatos assim precisam acontecer para cada um se dobrar à sua insignificância? Fato coisa nenhuma! Fato tem data, circunstância, sujeitos. Tudo objetivamente definido. Essa tragédia não é desse tipo, ela é daqui para a frente, teve data apenas para ter início! É marca para todo o sempre.  Dores desse tido me são velhas conhecidas. Aos 15 anos, comecei a perder irmãos, já falei disso aqui.

Qual o sentido de tamanha dor?

Imobilizada, volto a minha infância, à fase de uma consciência totalmente ingênua. Entendendo que nada posso fazer, que a dor está posta e que, diante dela, sou total e absolutamente incapaz, fico a imaginar ações sem sentido ou eficiência, seja para o que for (não reparem na série de infantilidades, coisa de criança mesmo, que eu, menina mesmo por instantes, não me envergonho de contar): não comer nem doces diet em sacrifício para que a família suporte melhor a sua perda; não entrar na piscina por um tempo, eu que ontem mesmo fiquei horas e horas com Luna aproveitando a delícia da água para combater o intenso calor de Niterói; não fazer a minha sesta depois do almoço por algum tempo; não fazer isso ou aquilo, ..., uma série de inutilidades, sem nenhum efeito prático em torno do que sucedeu...; bem ao modo de quem apela para o pensamento mágico na impossibilidade de ter a Ciência a seu favor, pelo que a mesma não oferece para atenuar as dores da alma. Só bobagens! Só criancices! Só arremedos do que ficou dos meus tempos de menina católica que fazia promessas em prol da obtenção de alguma graça a ser obtida. Sempre fica um pouco de perfume nas mãos daqueles que oferecem flores? Pois é, das nossas antigas crenças também.

Volto à razão e tenho mesmo é que enfrentar a crueza dos fatos e seus determinantes. Nada disso é nada! Nada disso muda nada! Não sei, nada sei, nada obtenho com nada que vier a inventar.  Só percebo meus limites, minha total nulidade ante o que sucedeu.

Cheguei a esta vida, por ela passo, usufruindo seus momentos e dela partirei sem ter a mínima ideia de por onde passa a fonte primeira de sua trama. Diabólica, às vezes. Que horror!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

INADEQUAÇÃO
21/12/2016

Está na esquina, quase chegando à nossa casa, entrando pela fresta que encontrar aberta. Bem que eu me assegurei de que portas e janelas estivessem escancaradas, até mesmo aquela porta pirracenta, lá no quarto pequeno, que às vezes arranha o chão para se abrir de vez, até ela eu forcei para estar em estado de entrega total, simbolicamente de braços abertos e receptivos para a chegada do sentimento renovador comum aos dezembros que já vivi até aqui.

Mas, nada, nada provoca o efeito desejado. Por mais que estimule, de dentro de mim, a saída de algum vestígio de sentimento de boa-vontade, de fé no que virá, de um ansiado e milagreiro entusiasmo para a renovação que costuma impregnar os corações com a passagem do ano, nada se move na direção do abraço de boas vindas à "novidade". Desconfio de que tracei estratégias apenas no nível objetivo, sobre o que racionalmente tenho controle. Na alma mesma, naquilo que genuinamente brota, as portas estão cerradas pela descrença e inaceitação do absurdo em que vem-se transformando a existência no Planeta. Lá longe e aqui no quintal de casa. Mesa posta,sim, mas falta de ganas de aprontar o ajantarado.

Mas, tenho bom coração. Ou pelo menos é no seu lado menos azedo em que tenho investido. Vou então insistir. Não mexerei na arrumação do aconchego que tento promover. Tudo permanecerá intacto e em estado de alerta. Mas, sei não, me parece que o que dará mesmo pra fazer será ficar recolhida com as crias, Mari no meu colo entregue ao meu cafuné, Martin a lançar mais uma de suas frases irreverentes e provocadoras do nosso riso, Mido a me chamar de “sogrita” com todo o afeto do mundo, Luna a iluminar meu semblante só pelo fato de chegar aqui; e eu a ficar um pontinho acima pelo prazer do vinho e da simplicidade destes momentos a quatro... Fora isso, o trivial simples, para mim sempre recebido como um manjar dos deuses: estar com as pessoas queridas e a elas dizer de bem recíproco que nosso amor nos traz; receber como benção da vida as graças que a natureza e a amizade vêm nos trazendo através do tempo; e, para culminar, na noite de Natal, cantar Parabéns para Jesus, como quando fazia quando os filhos eram crianças. Vamos ver se consigo. Nada além. É o que consigo ter pra hoje.

domingo, 17 de dezembro de 2017

OBJETIVIDADE CONTRARIADA
17/12/2016

Eu já conferi pra lá de meia dúzia de vezes e é isto mesmo, meus pés estão assentados no chão. Nem foi informação de terceiros, eu mesma vi, de óculos de leitura e tudo. Um par de pés no assoalho do quarto. Os meus.
O coração, e bem ritmado, sem nenhuma extra-sístole, também é notado. Ritmo normal, nem vestígio de qualquer palpitação daquelas dos meus idos tempos de fumante.
Olhos conferindo em torno, tudo conforme esperado - cada coisa em seu lugar, mesmo o livro que não consigo dar por terminado e o retrato do antigo amor, ambos na cabeceira, dormitando. Ok.
A aparência do quarto é toda ela mesma. Nem o filme do Chico que ganhei de Silvia Silvia Pedreira e o CD da Marisa Monte que acabei de ouvir se fizeram de rogados e se abstraíram, estão ali, como previsto, calados e fiéis perto do som.
Creio mesmo que continuasse a vasculhar o que vai em torno, detalhe por detalhe, não teria surpresas. Tudo está  em seu lugar.

... A única ausente, escondida, amorfa, invisível, distante, sou eu mesma, consumida pelos ecos de meus sentires...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

POR QUE A ESCOLHA PENDE PARA O LADO TRADICIONAL DA CORRUPÇÃO?
(PREPARANDO A CEIA COM O QUE TEMOS PRA HOJE)
13/12/2016
Perdoem-me a lógica linear e maniqueísta, mas, fazendo um exercício intelectual, sigo o raciocínio de quem tem horror ao PT. E, colocando-me fiel a esse entendimento, constato à exaustão junto às camadas médias - amigos, parentes, conhecidos - que Lula e Dilma são considerados corruptos e devem ser banidos da política brasileira. Essa seria a solução para o Brasil.
A equação, então, é a seguinte: de um lado o P, considerado asqueroso, corrupto, devastador. E do outro? Vamos lá, eu acrescento o outro lado da equação - a comprovação de que o governico substituto é corrupto à enésima potência, antes, durante e depois dos governos do PT. Não que não se soubesse antes ou ao menos se suspeitasse da farra dos percentuais de propinas entre empreiteiras e políticos. Bem sabíamos. Mas, agora, as provas surgem incontestes: o governico praticamente como um todo usa e abusa de nossos suados impostos, roubando-os para si.
Então, temos a equação completa: o PT corrupto de um lado, à esquerda, é claro; e o Fora Temer e sua corja corrupta do outro, à direita, obviamente. (Continuo pedindo perdão pelo raciocínio sem a necessária amplitude, mas faz-se necessário para a explicação do problema.)
Agora, A QUESTÃO: por que a gritaria, os panelaços, as ofensas, as manifestações verde e amarelas foram contra o lado da esquerda da equação - tombar Dilma? E por que o silêncio contra os tradicionais corruptos?
O que essa ação evidencia?
Sigo a lógica que me proponho utilizar e identifico o de sempre: a revolta é contra o que começava a mudar com os governos do PT (e olhe que o PT fez o que pôde para beneficiar o empresariado...), as políticas sociais que eram inauguradas, olhando os pobres em seus legítimos direitos, como nunca foi feito antes na história do país. Nada de comunismo, nada de socialismo. Apenas um rasgo de bom senso e generosidade, e, assim mesmo, conciliando com os corruptos históricos.
Se ambas as bandas são corruptas, por que se condena apenas a que de alguma maneira fez sair da invisibilidade os mais humildes?
A não ser que me mostrem o contrário, é porque quem grita contra o PT grita por estar inconformado pelo anúncio de que quem nunca comeu melado pode começar a provar do sabor doce e se alegrar com isso.
Se a gente não se educa para mudar (exercício que precisa ser diário, se não seguiremos "como nossos pais"), continuamos a ver como natural os privilégios (para nós), a boa alimentação (para nós), a melhor condução (para nós), a escola de qualidade (para nós), as honras da vida (para nós) e etc e tal (para nós) - sem nem reparar e achar ao menos esquisito, como verei daqui a pouco, ao sair de carro aqui do condomínio para a terapia, a fila de empregados, quase todos negros, a subir as ladeiras para as casas de seus patrões. Tudo como dantes no Quartel de Abranches.
Muitos comungarão na missa de domingo. Mutos celebrarão o Natal com fartura e belas e concorridas ceias. O que sinto que é preciso é trocar a Ave Maria, ou dezenas delas na reza do terço, pela oração da prática que alimenta atitudes fraternas e cristãs. E que nos tornem capazes de olhar para o OUTRO como a nós mesmos.
(Sinto que falei demais, misturei sentimentos, mas o fiz como uma oração, o meu mantra cotidiano em busca de um mundo mais humano. Então, eu me perdoo!)
E VIVA DORINHA Dora Henrique da Costa, exemplo de mulher e amiga, que hoje aniversaria e que sempre fez de sua vida um mar caudaloso de generosidade. E sem rezar nem uma Ave Maria.
Beijos calorosos, Dorinha!

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

ESCAMBOS DE ESPERANÇAS
12/12/2016

Minha querida amiga, especial como ela só, Cecilia Goulart, nos traz Quintana falando da fuga de casa de Tolstói, aos 80 anos, o que acaba por levá-lo à morte. A beleza tão crua do que diz -  "não são todos que realizam os velhos sonhos da infância" - é retumbante. Sonhos são imortais. E podem ou não ser frustrados ou postos em vida em qualquer tempo.

A fala do amigo na conversinha virtual do amanhecer falando do sofrimento que no momento acolhe sua família também ecoa fundo em minha alma.

A minha agenda do dia, quando terei que me defrontar com a solução de uma situação insolucionável, também me abate e faz engolir em seco, cavando da garganta ressequida alguma saliva que me ajude a engolir o dia e suas aflições.

Tempos sombrios, lá e cá, antes e agora. O ano que termina sem trazer, como de hábito, uma certa esperança quanto ao que virá. Pelo contrário. 

Mas o mundo não é só buracos sem fundo. Ele tem janelas, e nem todas estão emperradas. Algumas se deixam abrir. Da minha, vejo a natureza me saudando solidária, presente, realimentadora. Em sua natureza de natureza viva, desde que a ela fui apresentada, me empurra da cama, me traz aqui e me leva a carmear meus nós.

Nada como um bom escambo de esperanças entre humanos amigos para nos fazer resistir e dar os passos de que precisamos para corrigir traçados e aflições.


Na foto, um momento em que estive postada no chão para um registro. Um momento apenas...

sábado, 2 de dezembro de 2017

Momento humor
Dois bicudos (de uma certa idade) não se beijam
2/12/2015

Um velho conhecido (velho) me ligou um dia desses. Estávamos sem nos falar há um bom tempo e ele me surpreendeu com um telefonema meio fora de hora. Velhota (eu tb) logo pensei se tratar do anúncio da morte de um amigo comum. Mas a voz estava firme, logo vi que não havia nada fúnebre no ar. Falamos uns minutinhos, eu meio que esperando ele chegar ao ponto. É que com o espírito pragmático de hoje em dia, telefonema tem que ter pelo menos UM motivo concreto para ser dado. Só conversinha sem nenhum ponto de pauta pré-determinado é coisa das antigas. Desacostumei com isso. O assunto não veio, dei trela mais um tempinho, chovendo no molhado e (o que era verdade), pedi licença para pagar o táxi que acabava de chegar ao destino. Mas, fiquei com aquele sentimento de dívida a me cobrar um retorno à ligação do  conhecido de tão longa data. Sei lá com quem, mas aprendi a ser gentil com as pessoas. E hoje, quando me ajeitei na poltroninha do quarto para ver a novelinha das 6, resolvi ligar. Ticar a pendência. Ele atende e eu me explico, dou conta de que fiquei sem terminar a conversa como devia naquele outro dia, falo uma coisinha e outra mais e trato de ser gentil com o moço. De quem eu gosto, por sinal. Só sou meio ruim de telefone. Não é de meu feitio ficar papeando enrolada em fios - reais ou imagináveis. Mas a vida é sempre surpreendente. Ninguém nem pode imaginar qual foi a minha surpresa!  É que ele simplesmente me disse assim: "mas eu liguei procê? Então foi meu dedo que bateu sem querer e fez o celular tocar para você".

A pensar: então, ele se esqueceu de que conversou comigo, pouquinho, mas conversou naquele outro dia? A dúvida mais que cruel é a que segue: quem está mais ruim da cabeça - ele ou eu? Ou o velhote estava se vingando do que entendeu ser uma desculpa esfarrapada de minha parte no outro dia?

Conversa entre velhos dá nisso... Não resolve nada, só provoca mesmo mais algumas dúvidas, como se não bastassem as que já tenho...