Longo comentário sobre um belíssimo dia de sol numa praia encantadora:
24/01/2016
A praia merece ser visitada. É divina! Vale o esforço da descida que, até pouco tempo, era feita por trilha acidentada, impossível para preguiçosos como eu... Agora, uma escada de madeira, para facilitar.
Aí, a gente chega a esse paraíso vencendo a tal escada de mais de 200 degraus, cansada, mas polianamente feliz de ter vencido tal desafio, e, como uma amiga argentina levou o maiô para se trocar lá, eu pergunto no primeiro quiosque onde há um banheiro. E a moça diz: "Tem não. O povo usa uma grutinha que tem mais pra lá, naquele canto, lá naquela ponta." E eu insisto: "mas e se a pessoa precisar ir ao banheiro, não há nenhum?". "Não, senhora! Aqui, o número 1 é no mar e o número 2 é na grutinha mesmo!" E falou rindo, me deixando "desconfortável", não com ela, claro!, mas em constatar mais uma vez como a banda toca mal em nossas bandas e seu jeito desafinado é encarado como natural.
Na saída, a mesma escada. Fui tão positiva e estive todo o tempo tão encantada com o banho - sublime! - relembrando meu espanhol portenho com o pequeno grupo, que não me atormentei durante o dia, imaginando o sofrimento da volta (subir a tal escalera, o que deveria ser pior). Digo isso, porque uma vez, indo à Ilha de Convivência, na foz do Paraíba, o barco na ida deu uma guinada tão abrupta que nos fez imaginar que iria virar. Pois bem, o dia em Convivência foi meio sem brilho, o medo da volta nos acompanhou todo o tempo. Ontem, não foi o caso.
Agora, a volta, ao subir o escadão. Até o meio, tudo bem. O coração disparado, mas sendo fiel à necessidade da sua portadora. Um cavalheiro! O único problema era eu mesma e minha falta de preparo físico. Mas, da metade em diante, me vi tomada por uma nova crítica aos nossos serviços/obras públicos. A escada vai indo bem até mais ou menos a metade. Daí para o topo, quando qualquer cidadão já está pra lá de cansado (Antes de qualquer um passar pelo outro, a respiração ofegante já anunciava sua presença), os degraus vão ficando mais altos à medida que se avança. Inacreditável, mas verdade. Ou seja: os degraus que imagino deveriam ser todos da mesma altura ou maiores no início do percurso, crescem depois, quando o cansaço já está tomando o caminhante de maneira mais intensa. "Quem projetou esta escada assim, virgem santa? (pensei) "Não teve a perspectiva do outro? O infeliz deve ser parente daquele senhor que estava na sala de espera um dia destes..." (Ver nota de rodapé)
O fato é que, apesar dos pesares, a Prainha do Pontal do Atalaia, que só conheci ontem (e olhem que já morei em Cabo Frio!) é deslumbrante e, pelo menos ontem, não estava gelada, como soe acontecer por ali.
Programaço!
(Nota de rodapé) Ultimamente, lugar cabrunco de desagradável é sala de espera de médico. Um dia desses, fui obrigada a ouvir um idiota (para mim, entenda-se) dizer a um outro cara, enquanto aguardava uma consulta médica: "Minha empregada é analfabeta de pai, mãe, madrinha, sogro e afilhado." Ao que o segundo idiota (também no meu ponto de vista) respondeu com uma baita gargalhada. Fala e resposta típicas de quem não entende - ou finge não entender - nada de ser humano, circunstâncias impeditivas ou facilitadoras da vida de cada um nesta nossa sociedade totalmente desigual.
Aqui há palavras que vão de mim para o mundo, esperando que voltem recriadas, junto a tantas outras, construídas por quem quiser compartilhar este espaço. Entendo ser este um ninho verbal, cujos galhos-palavras podem e devem acolher sentimentos, saberes, expectativas, percursos. O nome? Vem de CARMEAR, “ação de desfazer nós”. Caminhemos, pois. Carmeando.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
sábado, 20 de janeiro de 2018
DIREITO E AVESSO
Carmen Lucia Pessanha,
em 19/01/2018
Ao perceber que minha filha precisava de uma faixa flexível para proteger os cabelos para quando passa seus creminhos na face, fui à cata de um tecido em minha caixa de retalhos e encontrei um na medida, animando-me, como sempre, a, ao invés de comprar, eu mesma fazer (ou reformar, quando é o caso).
Mesmo com o intenso calor que faz, o que me direcionaria para o frescor de um banho no chuveirão ou na piscina, impedida de pegar sol, devido a uma intervenção dentária na véspera, ponho-me a tecer a faixa para a pimpolha, mulher feita, mas minha eterna menina, apesar de estar a léguas de ponderação e racionalidade adiante de mim.
Trabalhar com as mãos é a mais pura desculpa para pensar e elucubrar - esta é a verdade. Só que hoje o desvario do meu pensar se deteve nesta horinha de trabalho recém concluída, na própria costura que ia saindo de minhas mãos. muito mais calejadas pelo uso de gizes e teclados do que de agulhas.
O que surge em meu pensamento em sua algazarra de gostar de sair por aí à procura de novidades? Nunca me satisfaço com os avessos que produzo. Parece uma sina, uma incapacidade mesmo. Mais vale aproveitar um botão bonito que sobrou de um antigo vestido de baile ou uma argola antiga para dar um acabamento ou incluir um adereço ao novo artesanato criado, do que o que lhe vai dar sustentação interna, posto que estará afastado do olhar de quem vê a sua bela aparência. Hum!!!, estranho isso!
Para mim, que valorizo o que as aparências escondem, esta faixa acabada de ser aprontada, com sua costura interna tão imperfeita (se Luiza Sarmet olhar, me expulsa da minha pretensa condição de costureira, mesmo que amadora!), me faz pensar em como me movo na vida. Nunca fujo de aproximações e interações de tudo com tudo. Entre o de dentro e o de fora também, com certeza. A realidade não é a construção mediante a reflexão para conquista da unidade entre o visto e o subjacente? Com isso me indago: o que ando deixando mal feito por dentro da alma enquanto por fora a bela viola se exibe vaidosa e impune?
A faixa preta de veludo está pronta, lindinha e útil para a filhota. Mas do processo de criação de tal objeto fica mais uma indagação para o meu próximo divã: qual a parte do meu avesso que o meu direito esconde, tímido, temeroso ou ainda preguiçoso de desnudar?
Carmen Lucia Pessanha,
em 19/01/2018
Ao perceber que minha filha precisava de uma faixa flexível para proteger os cabelos para quando passa seus creminhos na face, fui à cata de um tecido em minha caixa de retalhos e encontrei um na medida, animando-me, como sempre, a, ao invés de comprar, eu mesma fazer (ou reformar, quando é o caso).
Mesmo com o intenso calor que faz, o que me direcionaria para o frescor de um banho no chuveirão ou na piscina, impedida de pegar sol, devido a uma intervenção dentária na véspera, ponho-me a tecer a faixa para a pimpolha, mulher feita, mas minha eterna menina, apesar de estar a léguas de ponderação e racionalidade adiante de mim.
Trabalhar com as mãos é a mais pura desculpa para pensar e elucubrar - esta é a verdade. Só que hoje o desvario do meu pensar se deteve nesta horinha de trabalho recém concluída, na própria costura que ia saindo de minhas mãos. muito mais calejadas pelo uso de gizes e teclados do que de agulhas.
O que surge em meu pensamento em sua algazarra de gostar de sair por aí à procura de novidades? Nunca me satisfaço com os avessos que produzo. Parece uma sina, uma incapacidade mesmo. Mais vale aproveitar um botão bonito que sobrou de um antigo vestido de baile ou uma argola antiga para dar um acabamento ou incluir um adereço ao novo artesanato criado, do que o que lhe vai dar sustentação interna, posto que estará afastado do olhar de quem vê a sua bela aparência. Hum!!!, estranho isso!
Para mim, que valorizo o que as aparências escondem, esta faixa acabada de ser aprontada, com sua costura interna tão imperfeita (se Luiza Sarmet olhar, me expulsa da minha pretensa condição de costureira, mesmo que amadora!), me faz pensar em como me movo na vida. Nunca fujo de aproximações e interações de tudo com tudo. Entre o de dentro e o de fora também, com certeza. A realidade não é a construção mediante a reflexão para conquista da unidade entre o visto e o subjacente? Com isso me indago: o que ando deixando mal feito por dentro da alma enquanto por fora a bela viola se exibe vaidosa e impune?
A faixa preta de veludo está pronta, lindinha e útil para a filhota. Mas do processo de criação de tal objeto fica mais uma indagação para o meu próximo divã: qual a parte do meu avesso que o meu direito esconde, tímido, temeroso ou ainda preguiçoso de desnudar?
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