PENA DE MORTE, JÁ!
5/6/2017
Aos humanos, nunca!, pois que, cada dia mais, insisto
em aprender a não julgar quem quer que seja. Mas, morte, rápida e certeira,
sim, às tantas ideias descabidas e alienantes que nos cercam desde que nascemos
e que vão nos domando contra qualquer possibilidade de sermos felizes pela vida
afora.
Ora, vejam vocês! Onde já se viu alguém perder tempo
para criar mensagens as mais idiotizantes para nos fazer crer, principalmente a
nós, mulheres, que o amor ideal existe e nos aguarda um pouco mais adiante? E
se não o encontramos, culpa nossa. Incompetência nossa. Má sorte nossa. O que
for, mas nosso, de nossa alçada, por nossa estrita responsabilidade.
A última mensagenzinha infame que recebi dá conta de
contar uma comovente historinha, com lindo e suave palavrório, sobre um casal
que sofreu um gravíssimo acidente. A mulher ficou deformada e o marido cego.
Cego até o dia em que a esposa, anos depois, veio a falecer e...surpresa! Ao
enterro, ele comparece bonzinho da silva, a visão em dia e podendo a todos
olhar como quem a tudo vê e compreende. Por quê? Aí vem a historinha da
carochinha: fez-se de cego até a partida da companheira, por amor a ela. Ah,
que santo! Argumento irreal, idealizado, só para nos fazer desconsiderar a
realidade que temos e imaginar o impossível: “ela não resistiria a ser vista
por mim tão feia como ficou após o acidente”.
Isso não pode ser por acaso, é maldade proposital.
Fico a imaginar a mulher, a real, aqui do lado, criada
entre esta e tantas outras parábolas medíocres, irrealizáveis e promotoras de
“verdadeiras” e “românticas histórias de amor” (não a sua!!!), deixar de
valorizar o homem que tem a seu lado, com quem divide a mesa e a sessão de
cinema, com quem atravessa percursos difíceis e partilhados, com quem discute
os arranjos e desarranjos dos filhos e amigos, com quem ri e chora em momentos
de alongadas conversas, aquele com quem divide a cama na hora da cesta,
deixando-se levar pelo sonho do par ideal, o outro homem, não o seu, o que não
lhe coube. E o pior – como esse homem ideal bate como uma luva no arrefecimento
do desejo antes incontrolável por seu objeto de desejo, agora marido – o
terreno é mais do que propício para que a felicidade fique mesmo sendo vista
como distante de si, do OUTRO lado, fora de seu particular mundinho, este, sim,
carregado de irrealizações.
Blefe dos mais perversos! Qualquer desejo, quando
satisfeito, tende a se esvair. Satisfação, no terreno da sexualidade, é
construção e vem da cabeça, melhor ainda se contar com alguns artifícios. Sexo
bom se conquista até sozinho, que dirá com o homem que se tem ao lado...
Mulheres da minha vida, parem de sonhar no abstrato!
Amor é construção, é conversa, é partilha de chatices e de momentos de “Ah, um
Humberto Martins aqui, agora...”. Histórias de amor são histórias concretas de
amor, tomando nossa “pareja” de carne e osso como centro do enredo. O recheio,
o sonho, o prazer é coisa de nossa alçada, originada de nosso esforço diário. O
viúvo da historinha maquiavélica que vá catar coquinho. Um homem capaz de se
fazer de cego por tantos anos é um perfeito idiota.
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