Texto originalmente escrito em 2008
Sou uma professora, uma professora que foi se apaixonando cada vez mais por sua profissão à medida que descobria a sua paixão por, de alguma forma, contribuir para o mundo ser melhor. Vejo hoje, numa retrospectiva de minha vida, que foi assim mesmo: com o meu inconformismo diante da desigualdade social, desde o início do magistério, no sertão de S. João da Barra, ingenuamente, alfabetizando e cuidando de meninos e meninas pobres, até o passar dos anos, com a minha formação acadêmica (meu mestrado na UFF) e minha prática sindical (militava no SEPE, quando de sua fundação) fui casando o político com o pedagógico e cada vez mais me envolvi com a minha paixão profissional - estar com pessoas, em momentos de aula, para tentar abrir espaços para a humanização. Na verdade, sustentando meu corpo que vai envelhecendo (afinal de contas, sou uma mulher de 64 anos), há uma alma ainda de menina emocionada e alerta e não desistente (meu maior tesouro?). O amor pelo Outro já não depende de mim, o que a realidade dos despossuídos provoca em minha ação cotidiana já está fora de meu controle. E o Magistério no sentido mais amplo possível é o que apazigua meu coração...
As palavras sempre me seduziram e dedicar-me a estudar com os professores o discurso do jornal pareceu-me uma possibilidade de dar conta de minha paixão por dar voz àqueles que tradicionalmente não são ouvidos. Quando fui convidada para coordenar o programa QUEM LÊ JORNAL SABE MAIS, de O GLOBO, amparada numa perspectiva histórico-crítica de educação, estudei Bakhtin e me dediquei a compreender melhor a temática da análise de discurso. E pensei: se as empresas jornalísticas queriam formar leitores para garantir seus negócios, nós poderíamos formar leitores pelos próprios benefícios de se formar leitores, ou seja, pelo que a leitura, em si, pode trazer para cada leitor. Minha intenção junto à equipe com a qual trabalho, é de permitir que cada leitor reconheça no seu jeito de ser e viver a influência das leituras que faz, apropriando-se das raízes de sua individualidade. O que se espera é que cada leitor possa discutir os seus próprios limites e possibilidades frente aos elementos institucionais formadores de opinião que tanto o influenciam, dentre os quais se destaca, em grande medida, a Imprensa. O que se espera é que cada leitor possa aproveitar as possibilidades que a leitura traz para uma vida cidadã, indo além da simples absorção acrítica daquilo que lê, com destaque para as notícias. Marca-nos o inconformismo diante da desigualdade social e o prazer e compromisso com a realização de ações que possam conduzir, de algum modo, à justiça social. Em última instância, a expectativa que se tem é de contribuir efetivamente para a formação de seres éticos, capazes de efetuarem escolhas lúcidas nos diversos níveis de suas vidas, a partir do reencontro com a capacidade de serem autores de seus singulares modos de ler, interpretar, conhecer e interferir.
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