Escrito originalmente em 14 de outubro de 1998, em homenagem ao Dia do Professor(*)
Foi só o 15 de outubro vir se aproximando e veio vindo junto uma grande vontade de tentar rascunhar este artigo. Nem bem um artigo, talvez uma conversa, tendo, do lado de cá, uma professora que, mesmo já afastada das salas de aula convencionais, continua vivendo o permanente ensinar-aprender que acontece no seu dia-a-dia, em suas andanças pelas escolas, debatendo com os professores as possibilidades e limites do jornal na escola. E do outro, todos aqueles que vem encontrando em cada canto, os mais inusitados e distantes, em reuniões e mais reuniões que sempre lhe ensinam o mais importante: que eles - os homenageados de hoje - sempre estão lá, um ou mais deles - nunca nenhum -, irrecuperáveis em sua mania de tentar, de seguir em frente, de insistir em reinventar formas e meios de fazer de seus alunos cidadãos... Cidadãos que precisam conhecer o mundo e suas contradições e com quem lá vão eles a buscar a melhor forma de discutir os homens, as mulheres, as coisas, a vida, deste e de outros tempos, para que cada qual possa formar opinião, decidir, pensar e agir...
O engraçado - ou espantoso ... - é que, contrariando a prática habitual, quando o desejo de escrever sobre algo vem sempre acompanhado das idéias que irão compor o futuro texto, desta vez a vontade de escrever não chegava acompanhada do "o que dizer"... Apenas ela, ali, meio escondida, a vontade solitária, vazia de temáticas, ociosa de coisas a dizer...
Amanhece o 14 de outubro, véspera do grande dia, e a sensação do "ou agora ou só ano que vem..." apressa tudo: é ir pra frente do computador e tentar. Mas, como, se o vazio continua? Falar o já dito não satisfaz. Apenas ficar na já velha e gasta homenagem de dizer que somos isto e aquilo e coisa e tal, encher nossas almas de palavras bonitas, mas ocas de sentido para quem está lá, do outro lado, no emaranhado das escolas, sobrevivendo à custa de muito suor, cada vez espalhado em mais e diversificados lugares, tentando compor um salário menos aviltante? Não, repetir o velho não é o caso mesmo... Falar do presente... e o futuro? Dizer no abstrato ... e o concreto?
O que vai ficando cada vez mais claro é que só tenho mesmo a insistir no elogio aos que persistem; no abraço solidário aos que se emocionam; no incentivo aos que se comprometem com o desafio de ser educador; no agradecimento pelo aprendizado de que vale a pena acreditar que nossos meninos e meninas podem usufruir de um mundo melhor, mais de todos e de cada um ...
Neste país ao qual o futuro já chegou, sem trazer a bonança tão anunciada, quem sabe nossa força não esteja mesmo na construção do presente, ao qual temos emprestado o melhor de nós para adiar cada vez mais a falta de perspectiva em relação ao que virá?
A nos dizer, mesmo, de verdade, hoje, creio que é isto: vamos prosseguir, buscando cada vez mais aqueles companheiros que, como nós, também queiram vencer o desafio de forjar novas utopias, insistente e solidariamente. Sozinhos não conseguiremos compreender e enfrentar os desafios desta agoridade tão esgotada em seus próprios dias, tão sem respostas para as nossas angústias, angústias que, não raras vezes, nos calam diante de nossos alunos, repletos de quereres e necessidades não satisfeitos, atônitos diante de um futuro que a eles se apresenta como sombrio e fechado?
Resta-nos viver a coragem de prosseguir... Viemos até aqui, já aprendemos um bocado. Caminhemos, então, mais um pouco... O futuro precisa de nós. Quer melhor forma de nos solidarizarmos em nosso dia, olhando-nos uns nos olhos dos outros, dizendo-nos que sem nossa participação fica bem mais difícil encontrar as trilhas do prosseguir?
(*) Publicado no jornal O GLOBO, no dia do Professor
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