quarta-feira, 25 de outubro de 2017

INFÂNCIA E REALIDADE

A propalada imagem da infância como período de flores, alegrias e encantamento é a que me invade logo cedo. O anúncio que sempre se faz daqueles tempos que ficaram pra trás – 

“Ah, que saudades que eu tenho
 da aurora da minha vida, 
da minha infância querida, 
que os anos não trazem mais...” 

como tempos permeados por uma intrínseca alegria, não sei se é porque –  ao contrário de Casimiro de Abreu – , tive mesmo foi muita cana-de-açúcar a me cercar no começo da vida – e não  bananeiras e laranjais, como o poeta – , infância para mim sempre foi mistura de sabores, cores e sentimentos. O amargo alternava-se com o doce, sem igual. À luz e à fresca do Nordeste se juntavam, não raro, o calor e a névoa. A paz transmitida pelo olhar de um irmão amado e doce contrastava com a amargura e a solidão de um pouco luminoso olhar de um outro, não menos amado irmão...

A ambivalência da vida e seus permanentes contrastes sempre me disseram “bom dia”, retornando à tardinha e antes da nova noite de sono, a me cumprimentar, com simpatia, ensinando-me, desde antes dos 8 anos do poeta, que viver, em qualquer fase, é coisa dos céus e dos infernos. A gente vai driblando daqui, costurando dali, aprendendo daqui e de lá, convivendo, e se fazendo gente, do jeito que sonhos e realidades vão permitindo, em seu mágico convívio. 

A vida não é um caminho que tem fases, nítidas, estabelecidas, onde se salta, como que por milagre, de uma zona de conforto para outra etapa a ela diversa e, assim, sucessivamente. Ao contrário do que nos ensinam os manuais do senso comum, infância não é alegria, adolescência não é tumulto, juventude não é tentativa e erro, maturidade não é equilíbrio, nem tampouco velhice é espera - pelo fim da brincadeira, claro!

Como seria simples se assim fosse. Cada qual decoraria a palavra de ordem da fase a enfrentar e treinaria o comportamento a ela adequado para não dar vexame e mostrar-se de acordo com as normas sociais. Qual o quê! A mistura vem de longe. Nada é uma coisa só o tempo todo. Nada nem ninguém. Nem eu, nem eu, nem eu (Ah, mestre Caymmi!) - *

Mas, por que mesmo essa converseira toda? É simples: é porque segunda-feira não será nada mais, nada menos do que o dia seguinte do domingo.  Tudo junto e misturado. Tudo novo, tudo velho. Cada qual, em que idade for, com alegrias e dores, esperanças e desilusões, forças e fraquezas, continuando a participar da construção de uma sociedade menos dolorida, sem privilégios, com benefícios cada vez mais acessíveis a todos. E, seus opositores também, por suposto, puxando o burro – com menino e tudo no lombo – pro lado oposto...

Votar é um pedaço da história. Mas, mesmo o PT, se parece ser o caso, e com o meu voto entusiasmado, reinaugurar um novo tempo de governo, saindo vitorioso amanhã, ele continuará com muitas e poderosas forças conservadoras a lhe travar a definição de políticas públicas. 

Com nossos diferenciados componentes, construídos desde sempre, teremos que prosseguir juntos e ativos. Não há milagres sem nossa participação! Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... e por aí vai...

* - Nem eu

Não fazes favor nenhum
Em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu
Quem inventou o amor
Não fui eu
Não fui eu, não fui eu
Não fui eu nem ninguém
O amor acontece na vida
Estavas desprevenida
E por acaso eu também
E como o acaso é importante querida
De nossas vidas a vida

Fez um brinquedo também
RESPIRAÇÃO PROFUNDA
25/10/2015

Um dos tantos sobrinhos postiços que acumulo, me sugere que eu curta uma página cujo objetivo é "dar visibilidade às manifestações culturais urbanas" de um determinado município, e eu vou lá e curto. Enquanto com as mãos dou o clique concordante, fico cá comigo mesma pensando: ruim ter que haver um movimento para que alguma ação humana seja visível. Sinal de que há um outro, a ele contrário, para silenciar, obscurecer pessoas e sua expressão. Mas, como estou fazendo curso intensivo para virar santa e ver polianamente o que vai no horizonte, dou aquela respirada funda, tipo Yoga, busco dentro de mim uma luz bem clara que me preencha os espaços internos com a quenturinha da positividade e suspiro: "Que maravilha! Tem gente em movimento para se fazer ver, ouvir, sentir e viver".

terça-feira, 17 de outubro de 2017

De há dois anos, uma conversa com o taxista-tosador

17-10- ?

Das peripécias de meu dia de ontem, nada foi melhor do que a conversa com o taxista na volta para o conforto de meu lar. Tão relaxante que merece um – ou vários – parágrafos exclusivos para contar. Eu, cansada, quase dormindo no banco de trás, mas, querendo ficar alerta – nunca se sabe, meia noite no relógio, estrada vazia, era melhor conversar:
- Qual o seu nome?
- Alex.
- Qual será o melhor caminho a pegar, Seu Alex?
- Difícil, há perigo por todo o lado. O que eu vejo de noite por essas ruas... a senhora não calcula..
- Mas o senhor trabalha a noite inteira?
- Não, não, só até as duas, mais ou menos. Eu trabalho de dia. Toso animais.
- Ah, é?
- Pois eu tenho três labradores, Seu Alex. Da mais velha, já bem velhinha, está caindo tanto o pelo... No verão parece que piora.
- É assim mesmo. Mas há um remédio... não sei se vou me lembrar o nome.
- Ah, é? Que pena o senhor não se lembrar...
- É, eu trabalhei num pet. Sei que era tão bom, tão bom,tão bom,  que a dona de lá usava no próprio cabelo. E gostava pra caramba!
- KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Jura?
- É, ela só usava remédio de cachorro.
KKKKKKKKKKKKKKKKKK Mesmo?
- É... para qualquer problema que ela tinha, só usava os remédios da loja.
- KKKKKKKKKKKKKKKKKK (Já chegando em casa) Não é possível, Seu Alex!!! KKKKKKKKKKKKKK Tem de tudo, né? Já vi em filme (O Príncipe das Marés), a mulher dar comida de cachorro pro marido que todos os dias reclamava do que esta lhe servia às refeições - e ele gostar!!! Mas se tratar tomando por referência o jeito canino de   ser, aí é novidade para mim...
Pois é, minha senhora... Nunca duvide de nada. Tudo é possível de ser feito e experimentado... Boa noite! Quando a senhora precisar de poda pros seus cachorros, aqui, meu cartão.
- KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK O senhor foi muito gentil e ainda me fez rir muito. E fica com o troco, meu amigo! Boa noite!

sábado, 14 de outubro de 2017

Tentativa de modéstia
14:10:?

Vá saber o porquê de eu haver amanhecido com este danado deste poeta espanhol, Antonio Machado, outra vez buzinando nos meus ouvidos

“Para o diálogo, primeiro pergunte, depois escute” (Antonio Machado)

Já sei, já sei, criatura! Não venha novamente pra cima de mim com esta sua potência espanhola dantanhos - e ainda mais na condição de poeta brilhante - para querer que eu ajoelhe no milho e me penitencie por toda a discurseira que (penso que) tenho e que fico espalhando por aqui e ali, sem que me deem licença para tanto.

Pronto! Vou sair de fininho, sem prosa, sem lenço, sem lição a oferecer a ninguém. Satisfeito?

Fui, poeta!
Me dê sua benção!
Bom dia!

terça-feira, 10 de outubro de 2017

CACHORRADA

A ex-aluna,  a respeito do que escrevi sobre Mel, expõe  seu ponto de vista de que "mimar cachorro é  muito bom" e é o desconforto que sua fala me causa que me traz aqui, ao meu vício de palavrear. Ou carmear,  como queiram, valendo-me de meu nome feito verbo em seu significado de escarafunchar, desatar, esmiuçar. 

É  que eu nunca gostei de bicho algum. Nenhuma recordação aporta à minha memória,  se o assunto é  o de qualquer animal de estimação,  na infância. De quem me lembro com saudade na ilha de edição que é minha forma de recortar o viver pretérito é de meu ursinho marrom, de pelúcia,  inanimado, mas completamente vivo dentro de mim. Dele, sim, me lembro bem.

Gatos, nem pensar!  Cachorros? Desnecessários,  invisíveis,  inúteis. 

Mas, a vida se fez viva e se impôs... E, pelo que observo,  
uma relação muda um percurso.

Como acaba de me expor uma especial amiga, pois que terapeuta de família,  uma relação envolve o um, o outro e numa terceira ponta,  superadora de um imaginado caráter  binário, que é  a  relação em si, que não é, em absoluto, a soma dos dois que se relacionam,  é  outra coisa, é  o processo e o produto do afeto que liga o um ao outro. 

Aqui, no meu canto, é  desse jeito mesmo. É justamente na interação construída  com nossos cães  que eu venho me transformando. Minhas mãos,  antes afastadas, como que presas ao meu próprio corpo, hoje se abrem à novidade, e afagam,  ampliando conquistas típicas do mundo tátil. A sensação da mão correndo pelos pelos é descoberta e alentadora,  confortável,  prazerosa. O olho no olho traz uma nova comunicação,  repleta de entendimento.  O medo do novo e o aprisionamento a tudo que já  é  de domínio dos sentidos vai cedendo e vejo ser corroído o indesejável  freio a novos experimentos. 

Agradeço a Mel, Maya e Noah, aqui em casa, a Cacá,  em Icarai, e a Pipoca, Branca, Mel Castanha e Pink, em Campos e Atafona, pelos novos ares que aprendo a respirar. Hoje, minhas narinas  gozam diante de cheiros diferentes,  minhas mãos perderam a rigidez de lidar apenas com as texturas habituais, meus olhos são  mais sensíveis ao que falam os animais, e eu abro minha vida a novos sentidos e experiências. 

Esse bem serve pra tudo. O mundo e suas diferentes apostas são bem-vindos.  Por que não  experimentar? Por que não conviver com o diverso? Por que não  perder o medo? 


Então,  Pietra De Paula, é característica adquirida e por influência de um bicho diferente de mim, que hoje eu consigo mimar Mel em sua muito bem-vinda recuperação.

domingo, 8 de outubro de 2017

A minha camisa azul
8/10/?
Que mania é esta de, havendo biscoitos quebrados no pote, por eles começar para só depois poder usufruir um inteirinho, sem estar em frangalhos?  E de chegar no computador com uma baita tarefa para fazer e só inciá-la quando já dei conta das miudezas - respostas a emails, anotações menores, pagamentos do dia, este tipo de coisa mais rápida? E de, se tenho um comprimido para tomar uma metade pela manha e a outra à noite, em caso de esquecimento da segunda parte, eliminá-la e, no dia seguinte, partir um novo comprimido para não ficar, a cada dia, com a pendência de um meio comprimido para ficar me olhando? À metade esquecida, o lixo, é óbvio! E a busca ansiosa pelas raspinhas das sobras de recheio que se espalham pelo tabuleiro, meio queimadas, lindas, quando são feitas panquecas, empanadas ou algo do gênero, para só depois me dar o direito de retirar e aproveitar um quitute em sua unidade completa?

Roberto Carlos usa azul. Meu TOC é começar do miúdo para depois enfrentar o grande.

Na vida amorosa é que isso não deu muito certo. Comecei do grande. Ficou pelo caminho. Aí vim rolando entre porções médias, pequenas e de tamanho indefinido - até a maturidade. Quando me deparei com um grande novamente, virgem santa!, Foi um Deus nos acuda. Só mesmo o seguinte, o amor definitivo, me colocou em dia com a minha esquisita organização emocional: LUNA.

(Iria escrever muuuuuuuito mais, as manias são excessivas, mas estou saindo, com pressa...)
A minha camisa azul
8/10/

Que mania é esta de, havendo biscoitos quebrados no pote, por eles começar para só depois poder usufruir um inteirinho, sem estar em frangalhos?  E de chegar no computador com uma baita tarefa para fazer e só inciá-la quando já dei conta das miudezas - respostas a emails, anotações menores, pagamentos do dia, este tipo de coisa mais rápida? E de, se tenho um comprimido para tomar uma metade pela manha e a outra à noite, em caso de esquecimento da segunda parte, eliminá-la e, no dia seguinte, partir um novo comprimido para não ficar, a cada dia, com a pendência de um meio comprimido para ficar me olhando? À metade esquecida, o lixo, é óbvio! E a busca ansiosa pelas raspinhas das sobras de recheio que se espalham pelo tabuleiro, meio queimadas, lindas, quando são feitas panquecas, empanadas ou algo do gênero, para só depois me dar o direito de retirar e aproveitar um quitute em sua unidade completa?

Roberto Carlos usa azul. Meu TOC é começar do miúdo para depois enfrentar o grande.

Na vida amorosa é que isso não deu muito certo. Comecei do grande. Ficou pelo caminho. Aí vim rolando entre porções médias, pequenas e de tamanho indefinido - até a maturidade. Quando me deparei com um grande novamente, virgem santa! Foi um Deus nos acuda. Só mesmo o seguinte, o amor definitivo, me colocou em dia com a minha esquisita organização emocional: LUNA.

(Iria escrever muuuuuuuito mais, as manias são excessivas, mas estou saindo, com pressa...)

sábado, 7 de outubro de 2017

Reflexão sobre as parecenças

Tenho vivido um treinamento intensivo, dia sim, outro também, para pacificar meu coração, valorizar a vida, entender a felicidade como a arte de procurar estar bem em qualquer circunstância. Difícil pra burro! Tadinho do burro! Acho mesmo que é difícil para elefante (que, pelo menos, aparece aqui na minha oração por ser grande, não por qualquer possível preconceito)!.

O abrandamento do olhar enturvado e duro é atitude a ser revivida a cada manhã, meio como mantra, meio como bússola. Aquela mansidão exemplar de algumas pessoas - meu exemplo mais contundente é o de Conceição Muniz - não faz parte naturalmente de minha personalidade. Negocio com as circunstâncias e com os meus pares, troco aconchegos e ponderações, mas sinto o quanto é penoso aceitar, de alma limpa, a diferença do outro, aquilo que dele não faz parte minimamente de minha forma de lidar com o mundo. Abandonar o olhar julgador e dar a volta para acolher outros ângulos daquela personalidade que contraria meu jeito de viver a vida é tarefa que exige exercício e teima. Mas, o amor e a admiração são a senha para se prosseguir.

Para tecer a ponte da tolerância, o exemplo de bons amigos -  que sabem melhor que eu negociar com a vida e com seus pares a eles antagônicos - tem me servido muito mais do que pensado. E não se trata de alienação, de fazer de conta que um dado "defeito" de uma pessoa querida não exista. O esforço é para estar junto apesar de. Se há carinho, se há confiança mútua, que vá às favas algum caráter dissonante do outro! Ampliar o diálogo entre as identidades e ser tolerante com os descompassos - essa é a vontade em ação. E de parte à parte.

Nesse processo de refazer modus vivendi de amar, cortes de relações só surgem em minha vida por questões de princípios. Aí, nem o afeto dá conta de sustentar a amizade.
Há que se suportar o sofrimento da perda!
Há que se viver o luto pelo desencontro!
Há que se ir além, pela impossibilidade instalada!

Não se nega a história que se viveu junto. Mantém-se a gratidão pelo trajeto partilhado em comunhão. Mas, encerra-se um ciclo de entrega e afetividade, tornado incompatível.

Aí, um dia, não se sabe o motivo, a gente pensa nisso com tristeza, vê que a amizade ruiu, mas segue adiante. Princípios são - e creio que sempre serão - inegociáveis!
PALAVRAS À VENDA

Dar não posso, nenhuma que seja, mesmo as mais corriqueiras ou de escrita desengonçada, por absoluta necessidade de delas fazer meu meio de vida. No sentido mais humano e sensível, palavras me dão sustento, fazendo-o de maneira substantiva, adjetiva, até adverbial. Estabelecem o que vive, o que morre, os trajetos percorridos, nomeiam e qualificam cada coisa, até por meio de diminutivos, disfarces e ênfases superlativas surgidas do meu entendimento e considerados indispensáveis à narrativa.

Bem sei que lanço palavras ao vento costumeiramente, sem nada ganhar de parte alguma que vire sequer um prato raso de alfaces lisas sem sequer o mais insípido tempero. Palavras gratuitas, até mesmo intrusas, do ponto de vista de quem as recebe, já que chegam sem nenhuma conclamação de parte alguma. Apenas lançadas por paixão ao vício de tê-las como intérpretes de meu estado d’alma, espalhadas sem pedir licença e sem esperar nada em troca. Brotam sem compromisso, e é para ser assim mesmo. Ora são bruxas que voam pela janela, escapulindo do mal e espargindo-o para bem longe. Ora, se fazem encantadas criaturas, como que fadas luminosas a jorrar alguma boa nova para o mundo se colorir de esperança e viço. Tudo por minha própria conta e risco.

Mas, a realidade vem e faz estancar o sonho e nos espreme diante da crueza do viver. Seres humanos necessitam bem mais do que pratos rasos de alfaces insossas. Nem sonhos nem vícios - mesmo que solenes e por mais enfeitadas que sejam as palavras a traduzi-los -  não enchem barrigas. Apenas iludem corações e mentes. Chegam gratuitas, são gratuitamente admiradas e a vida segue seu ritmo, com o escritor lançador de palavras - gratuitas - olhando para seu prato raso de alface, a esta altura até, além de insossa, amarelecida.

Por isso, passo a vender palavras e as ofereço a quem delas necessitar em sua precisão de narrar e se fazer ouvir. Agucem seus ouvidos e ouçam-me com toda a boa vontade:

ATENÇÃO, SENHORAS E SENHORES!
VAI PALAVRA AÍ?
QUEM VAI QUERER?
PALAVRAS À VENDA!
MONOSSÍLABAS PELA METADE DO PREÇO!
LIQUIDAÇÃO DE VERBOS IRREGULARES!

CONTATOS IN BOX

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Alternativa para o viver

Carta aberta a um grandíssimo amigo que me escreve, hoje cedinho, amoroso, ponderando sobre a minha mania de questionar o mundo, suas dores e suas contradições.

Eis que ele me diz mais ou menos assim: que o não-pensar também merece o seu posto; que o pensar tem uma habitual arrogância de se achar o único dono da produção de saber; que as vacas nos olham com compaixão e seguem a pastar tranquilas; que a tentativa deve ser a de caminharmos em busca de trans-pensamentos; que o real é vasto e generoso caleidoscópio; que quem perdeu o senso de humildade foi por isso mesmo privado da capacidade de contemplação; que contemplar escapole das dominâncias do saber, é novidade que se saboreia e dá gosto e sentido aos pequenos atos; e conclui dizendo que enquanto ele de sua janela recebe o coro de passarinhos, eu observo aranhas tecerem bordados.

Ao que me pareceu, para ele, amor e contemplação são as chaves do bem viver.

Minha resposta

Querido,

Deus meu! Domingo de manhã e essa linda, rica e profunda oração ao imponderável, prece efetiva e firme à nossa minúscula possibilidade de intervenção e à incapacidade da razão? E a canção sendo entoada em direção ao vento, à brisa simples, da entrega ao amor e à contemplação?

Leio, releio, torno a ler, quase rezo por esse credo e fico privada de meu instrumental já instalado e azeitado pelos anos de uso e reuso.
Deverei parar por aqui, jogar fora as sandálias e ir observar a aranha que tece?  Minha insignificância – que cada vez mais prezo e busco, e compreendo e vejo, e sinto e internalizo – deve chegar às raias da total abstenção ao que se pensa construir de sabedoria pela Dialética e pela História?

Pergunto mesmo, do fundo do meu coração: logo eu, que abomino o maniqueísmo do “ou isto ou aquilo”, procurando captar as contradições que convivem em cada parte e na totalidade, devo entender que devo me entregar ao coração, ao cotidiano sem prévios traçados e sem ideais de utopia? É me entregar ao que está, aqui e agora, da borboleta à aranha, do vento ao mar, do que se faz historicamente (outros homens e mulheres) e me deixar inserir nas ondas do que está posto e me leva para o futuro, de maneira independente de mim?

Grandíssimo amigo, isso é conversa tão necessária, tão fundamental, tão educadora que merece um quintal – meu ou de algum amigo – para ser degustada por nossos pensares, dizeres, dúvidas e possibilidades.

A nós!

Com amor,

Carmen
LIMBO
4/10/2014

Não sei pra quê.  Mas, um dia, quem sabe?, para alguma coisa há de servir o que li hoje num artigo na Folha de São Paulo...

Conta-se que um amigo do físico Wolfgang Pauli um dia lhe entregou um trabalho de um aluno,  pedindo que opinasse a respeito, ao que o cientista respondeu: "não é que não esteja certo; não está sequer errado".

Não dá o que pensar? Que limbo será esse onde não há espaço nem para erros nem para acertos? Que palavras ocas serão essas que não exprimem nem que a maré está baixa nem que a maré está alta? No mínimo,  a possibilidade de haver alguma coisa dita que não indique nem o sim nem o não,  faz-nos pensar na cantoria de vozes que anunciam o vazio de sentidos.  E o que será isso exatamente?

terça-feira, 3 de outubro de 2017

NITERÓI EM PROVÉRBIOS
3/10/2016

Enquanto em Campos, o Garotinho saiu de cena (Muito bom!), aqui em Niterói, necas de pitibiriba. Estamos aí, metidos num segundo turno sem opção: de um ponto de vista, tudo como dantes no Quartel de Abrantes. Foi batido o martelo: continua valendo a lei da farinha pouca, meu pirão primeiro. Muita gente acreditando em que a cavalo dado não se olham os dentes, e tome de angariar votos para candidato que, mesmo sendo ferreiro, em casa, tem espeto de pau.

Mas, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Parece coisa de algum castigo. Será que o destino anda revoltado com a cidade por termos cedido o nosso Freixo para o Rio? Não, não creio, pois Niterói tem muita gente generosa e Serafini é gente muito boa. A decepção é que, com o resultado de ontem, um abismo chamou o outro e estamos diante de farinhas do mesmo saco. Estamos nos fortalecendo, mas ainda não deu.

Mas, desistir jamais! Se esse foi um lado, o outro é que o PSOL foi muito bem votado. E essa direção nos alegra pois, quando o povo diz, ou é ou está pra ser. Ninguém nasce sabendo, é verdade, por isso, não podemos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje. Roma não se fez num dia. Nem uma Niterói humanizada se fará. Numa hora destas, nada como ser macaco velho. Nessa cumbuca nossa mão não entra. De pato a ganso, nenhum avanço. Traíra fora! Quem faz um cesto, faz um cento. Vamos reunir força para uma próxima etapa e agora, de imediato, atravessar a “poça” para ganhar no Rio.