INFÂNCIA E REALIDADE
A propalada imagem da infância como período de flores, alegrias e encantamento é a que me invade logo cedo. O anúncio que sempre se faz daqueles tempos que ficaram pra trás –
“Ah, que saudades que eu tenho
da aurora da minha vida,
da minha infância querida,
que os anos não trazem mais...”
como tempos permeados por uma intrínseca alegria, não sei se é porque – ao contrário de Casimiro de Abreu – , tive mesmo foi muita cana-de-açúcar a me cercar no começo da vida – e não bananeiras e laranjais, como o poeta – , infância para mim sempre foi mistura de sabores, cores e sentimentos. O amargo alternava-se com o doce, sem igual. À luz e à fresca do Nordeste se juntavam, não raro, o calor e a névoa. A paz transmitida pelo olhar de um irmão amado e doce contrastava com a amargura e a solidão de um pouco luminoso olhar de um outro, não menos amado irmão...
A ambivalência da vida e seus permanentes contrastes sempre me disseram “bom dia”, retornando à tardinha e antes da nova noite de sono, a me cumprimentar, com simpatia, ensinando-me, desde antes dos 8 anos do poeta, que viver, em qualquer fase, é coisa dos céus e dos infernos. A gente vai driblando daqui, costurando dali, aprendendo daqui e de lá, convivendo, e se fazendo gente, do jeito que sonhos e realidades vão permitindo, em seu mágico convívio.
A vida não é um caminho que tem fases, nítidas, estabelecidas, onde se salta, como que por milagre, de uma zona de conforto para outra etapa a ela diversa e, assim, sucessivamente. Ao contrário do que nos ensinam os manuais do senso comum, infância não é alegria, adolescência não é tumulto, juventude não é tentativa e erro, maturidade não é equilíbrio, nem tampouco velhice é espera - pelo fim da brincadeira, claro!
Como seria simples se assim fosse. Cada qual decoraria a palavra de ordem da fase a enfrentar e treinaria o comportamento a ela adequado para não dar vexame e mostrar-se de acordo com as normas sociais. Qual o quê! A mistura vem de longe. Nada é uma coisa só o tempo todo. Nada nem ninguém. Nem eu, nem eu, nem eu (Ah, mestre Caymmi!) - *
Mas, por que mesmo essa converseira toda? É simples: é porque segunda-feira não será nada mais, nada menos do que o dia seguinte do domingo. Tudo junto e misturado. Tudo novo, tudo velho. Cada qual, em que idade for, com alegrias e dores, esperanças e desilusões, forças e fraquezas, continuando a participar da construção de uma sociedade menos dolorida, sem privilégios, com benefícios cada vez mais acessíveis a todos. E, seus opositores também, por suposto, puxando o burro – com menino e tudo no lombo – pro lado oposto...
Votar é um pedaço da história. Mas, mesmo o PT, se parece ser o caso, e com o meu voto entusiasmado, reinaugurar um novo tempo de governo, saindo vitorioso amanhã, ele continuará com muitas e poderosas forças conservadoras a lhe travar a definição de políticas públicas.
Com nossos diferenciados componentes, construídos desde sempre, teremos que prosseguir juntos e ativos. Não há milagres sem nossa participação! Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... e por aí vai...
* - Nem eu
Não fazes favor nenhum
Em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu
Quem inventou o amor
Não fui eu
Não fui eu, não fui eu
Não fui eu nem ninguém
O amor acontece na vida
Estavas desprevenida
E por acaso eu também
E como o acaso é importante querida
De nossas vidas a vida
Fez um brinquedo também
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