Reflexão sobre as parecenças
Tenho vivido um treinamento intensivo, dia sim, outro também, para pacificar meu coração, valorizar a vida, entender a felicidade como a arte de procurar estar bem em qualquer circunstância. Difícil pra burro! Tadinho do burro! Acho mesmo que é difícil para elefante (que, pelo menos, aparece aqui na minha oração por ser grande, não por qualquer possível preconceito)!.
O abrandamento do olhar enturvado e duro é atitude a ser revivida a cada manhã, meio como mantra, meio como bússola. Aquela mansidão exemplar de algumas pessoas - meu exemplo mais contundente é o de Conceição Muniz - não faz parte naturalmente de minha personalidade. Negocio com as circunstâncias e com os meus pares, troco aconchegos e ponderações, mas sinto o quanto é penoso aceitar, de alma limpa, a diferença do outro, aquilo que dele não faz parte minimamente de minha forma de lidar com o mundo. Abandonar o olhar julgador e dar a volta para acolher outros ângulos daquela personalidade que contraria meu jeito de viver a vida é tarefa que exige exercício e teima. Mas, o amor e a admiração são a senha para se prosseguir.
Para tecer a ponte da tolerância, o exemplo de bons amigos - que sabem melhor que eu negociar com a vida e com seus pares a eles antagônicos - tem me servido muito mais do que pensado. E não se trata de alienação, de fazer de conta que um dado "defeito" de uma pessoa querida não exista. O esforço é para estar junto apesar de. Se há carinho, se há confiança mútua, que vá às favas algum caráter dissonante do outro! Ampliar o diálogo entre as identidades e ser tolerante com os descompassos - essa é a vontade em ação. E de parte à parte.
Nesse processo de refazer modus vivendi de amar, cortes de relações só surgem em minha vida por questões de princípios. Aí, nem o afeto dá conta de sustentar a amizade.
Há que se suportar o sofrimento da perda!
Há que se viver o luto pelo desencontro!
Há que se ir além, pela impossibilidade instalada!
Não se nega a história que se viveu junto. Mantém-se a gratidão pelo trajeto partilhado em comunhão. Mas, encerra-se um ciclo de entrega e afetividade, tornado incompatível.
Aí, um dia, não se sabe o motivo, a gente pensa nisso com tristeza, vê que a amizade ruiu, mas segue adiante. Princípios são - e creio que sempre serão - inegociáveis!
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