terça-feira, 10 de outubro de 2017

CACHORRADA

A ex-aluna,  a respeito do que escrevi sobre Mel, expõe  seu ponto de vista de que "mimar cachorro é  muito bom" e é o desconforto que sua fala me causa que me traz aqui, ao meu vício de palavrear. Ou carmear,  como queiram, valendo-me de meu nome feito verbo em seu significado de escarafunchar, desatar, esmiuçar. 

É  que eu nunca gostei de bicho algum. Nenhuma recordação aporta à minha memória,  se o assunto é  o de qualquer animal de estimação,  na infância. De quem me lembro com saudade na ilha de edição que é minha forma de recortar o viver pretérito é de meu ursinho marrom, de pelúcia,  inanimado, mas completamente vivo dentro de mim. Dele, sim, me lembro bem.

Gatos, nem pensar!  Cachorros? Desnecessários,  invisíveis,  inúteis. 

Mas, a vida se fez viva e se impôs... E, pelo que observo,  
uma relação muda um percurso.

Como acaba de me expor uma especial amiga, pois que terapeuta de família,  uma relação envolve o um, o outro e numa terceira ponta,  superadora de um imaginado caráter  binário, que é  a  relação em si, que não é, em absoluto, a soma dos dois que se relacionam,  é  outra coisa, é  o processo e o produto do afeto que liga o um ao outro. 

Aqui, no meu canto, é  desse jeito mesmo. É justamente na interação construída  com nossos cães  que eu venho me transformando. Minhas mãos,  antes afastadas, como que presas ao meu próprio corpo, hoje se abrem à novidade, e afagam,  ampliando conquistas típicas do mundo tátil. A sensação da mão correndo pelos pelos é descoberta e alentadora,  confortável,  prazerosa. O olho no olho traz uma nova comunicação,  repleta de entendimento.  O medo do novo e o aprisionamento a tudo que já  é  de domínio dos sentidos vai cedendo e vejo ser corroído o indesejável  freio a novos experimentos. 

Agradeço a Mel, Maya e Noah, aqui em casa, a Cacá,  em Icarai, e a Pipoca, Branca, Mel Castanha e Pink, em Campos e Atafona, pelos novos ares que aprendo a respirar. Hoje, minhas narinas  gozam diante de cheiros diferentes,  minhas mãos perderam a rigidez de lidar apenas com as texturas habituais, meus olhos são  mais sensíveis ao que falam os animais, e eu abro minha vida a novos sentidos e experiências. 

Esse bem serve pra tudo. O mundo e suas diferentes apostas são bem-vindos.  Por que não  experimentar? Por que não conviver com o diverso? Por que não  perder o medo? 


Então,  Pietra De Paula, é característica adquirida e por influência de um bicho diferente de mim, que hoje eu consigo mimar Mel em sua muito bem-vinda recuperação.

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