A HISTÓRICA HISTÓRIA DE ANDAR NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
(Escrito em 15/12/2016)
Quando ontem, 38 anos depois, ao escrever para Mari, eu relembrei e me
dei conta de que até naquele momento - quando é comum vermos nos filmes e
novelas e ouvir de amigas, quando do anúncio da gravidez, as mulheres serem as
donas da situação - e eu, em minha condição de MULHER, não ter sido a atriz
protagonista de uma história (mais minha do que de qualquer outra pessoa), dei
de pensar, meio em estado de aparvalhamento. Foi o pai quem foi ao laboratório
confirmar a hipótese de que eu seria mãe e foi o pai que me deu a notícia, num
corredor de uma repartição pública, o quarto andar da Rua do Passeio, 62 (se
bem me lembro o número), onde funcionava a secretaria de educação do Estado.
Não posso jurar, mas, quase peço a bíblia para pôr sobre ela a minha mão
envelhecida e garantir que devia estar saindo de alguma reunião para debater
alguma medida para a educação que sempre foi devida - e cada vez mais o é - aos
nossos alunos e alunas da escola pública. O coletivo a toda e o individual
sequinho, sem poesia, pouco ou nada feminino.
Ando amarga. Muito amarga. Não sendo o delicioso que a gloriosa Celma
faz na casa de Inesia Abreu, qualquer outro jiló perde de muito pra mim. A
sensação é a de que não tive tempo para as maneirices de uma mulher que poderia
gastar tempo para surpresinhas e arremedos de charme e poses sedutoras para o
seu homem, até mesmo numa ocasião única na qual poderia aproveitar de sua
privilegiada condição de ser mulher-mãe.
Creio que hoje à tarde, no meu pós-almoço, vou rever pela trigésima vez
"Uma linda mulher", colocar-me a pensar em Richard Gere,
imaginando-me a irresistível Julia Roberts. Na ficção eu sou uma diva. Dará
certo?
Um pouco de alienação, por favor!
Eu, a caminho do trabalho, no Rio, grávida de Mariana Lozza. |
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