Chegada iluminada
Há pouco mais de três décadas, uma hora destas, eu estava "comunistando", como diz minha amiga Dorinha Dora Henrique da Costa, no mais alto estilo. Se o povo tinha filhos pelo INSS, por que não? E lá estava eu, no Hospital Santa Cruz dando à luz a minha primogênita, pelas mãos de um lindo acadêmico de medicina, moreno, bastante bom de ver para me distrair um pouco das contrações que se intensificavam. Durante a noite, quando as cólicas apertaram, chamei a enfermeira que me tranquilizou dizendo-me que era assim mesmo, era questão de esperar... Mais "pão-pão-queijo-queijo" nunca vi. Filho vem com dores. Guenta firme, minha filha. Quer ser melhor do que as outras? Espere a hora.
Amanheceu, fui examinada por um médico - dr. Daniel, se não me falha a memória - e me foi anunciado que era chegado o grand finale. E lá fui eu andando para a ante-sala do centro cirúrgico, sem nenhum fricote de maca e beijinho de boa sorte de marido ou parente mais próximo, como dizem os manuais quanto à hora da chegada do príncipe ou da princesa. Ali, era eu e Deus. Nascimento de plebeu mesmo. Plebeia, saberia eu dali a poucos minutos, pois que naquele tempo não havia ultrassom. E a mãe, toda feliz da vida, rica de emoção e plena de vontade de conhecer o seu bebê. Pelo que me anunciaram antes, nada se concretizou, foram totalmente suportáveis as dores do parto. Quanto pensei que se continuasse como estava eu iria sofrer, a minha filha já se fez presente. Uma enfermeira ajudou colocando todo o seu peso sobre mim, pediu que eu me esforçasse ao máximo e foi quando Mariana me foi apresentada, toda cor de rosa, mais linda do que eu poderia imaginar... Meio magrinha, é verdade, afinal de contas veio bem antes da hora...
Quando pedi para que o orgulhoso pai fosse avisado, a resposta é que eles só se comunicavam com as famílias em caso de óbito. Nem reclamei. Vira essa boca pra lá! Afinal, era momento de luz e de esperança, de alegria e emoção, totalmente nova. Às duas horas da tarde, quando Juan Carlos chegou para me visitar, encontrou duas mulheres... e ele, coitado, sem saber que já era pai, me trouxe para ler "China, o nordeste que deu certo", crente que eu teria tempo de ler enquanto aguardava a chegada da nossa abençoada filha.
Quanta alegria recordar isso tudo! Nascimento mais cercado de amor, impossível! Sem falar da companhia de minha irmã Inesia Abreu e seu marido Vitor, que nos levaram para o hospital na véspera. Pura dedicação! Quanto a você, Che, uma palavra de total reverência. É inesquecível o seu amor naquele momento em que pusemos nossa menina no mundo.
VIVA MARIANA!
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