sexta-feira, 21 de julho de 2017

Tá certo, a gente ri, mas, convenhamos: sem querer ser politicamente correta pelo temor da crítica alheia, muito menos simplista, essa é uma brincadeirinha séria demais. Ela revela que, querendo ou não querendo, a elite dita o que é certo, o que desejável,  até o que é necessário. E nós caímos na armadilha. Assim como os rolezinhos se intimidam nos shoppings, nós nos intimidamos na Riviera Francesa. Há os do andar de cima, eles, sim, os modelos,  nós,  cada qual no seu degrau da escada social, nos sentindo inferiorizados.  Depositando o valor no outro, perdemos o foco em nosso próprio valor. Aí tudo que diz respeito a nós fica menor. Tal qual aquela mãe que chegando à escola do filho e vendo que ele estava estudando a história de sua cidade, Campos dos Goytacazes, espantou-se e deixou escapar: "que desperdício,  se ainda fosse a história de Paris ou de Nova Iorque... (Estou é uma chata, podem me repreender, só fico pensando pelo avessso. Que mulherzinha enjoada, sô!)

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Naquele filme UMA LINDA MULHER, cujo autor do título em Português comete, no mínimo,  uma baita injustiça com o poema em forma de gente que é a banda masculina do casal de protagonistas,  num determinado trecho dele, quando os dois saem para um jantar, ainda na ida, a bela, garantindo desde logo o seu imenso agrado por tudo que ainda viria, dirige-se ao belíssimo e agradece pela noite que apenas iniciava. É disso que me lembro,  com muito frio,  por fora e por dentro,  quando vou vendo que minha geração vai encerrando sua participação neste intrincado enredo que é a vida.  Enquanto dá tempo e antes que eu me esqueça, valeu muito ter tido e estar tendo cada um em minha vida. Até mesmo quem fez sinal para entrar e tornou o barco mais pesado de levar por entre as ondas do mar. Estamos indo. Nos dois - ou mais - sentidos.

segunda-feira, 10 de julho de 2017


RECADO AFETUOSO PARA A TÃO AMIGA E MEIGA KATIA SOARES GODOY
10/7/2015
Você hoje nos trouxe, logo ao amanhecer, a poética fala de Cecília Meireles, e eu logo tratei de incorporá-la ao meu íntimo para me inspirar em meu início de dia. A poesia insiste em que as portas ou devem ser abertas ou fechadas, entreabertas, jamais. Abrir portas, devo dizer, já é tentativa antiga, que insisto em não me esquecer a cada dia, sempre buscando viver, o que para mim é meio sinônimo de estar aberta ao novo. Não é simples, mas é tarefa de quem não quer morrer em vida. Portas abertas: tudo bem! Quanto ao trancar de vez, ao evitar o lusco-fusco da incerteza, do trancar de vez todas as portas, encerrar todos os assuntos, concluir os antigos percursos, aí eu me penitencio, querida Katia. Nem sempre tenho êxito nesse intento. Uma coisa é racionalmente pretender esse encerramento, essa finalização, esse ponto final em coisas lá de trás. Mas, em se tratando de sentimentos, há portas que não consigo cerrá-las por completo. Não sei se é devido à qualidade da madeira, à teimosia trazida pelo vento nordeste que as empurra vez por outra, ao modo como foram construídas pelo artesão, há portas teimosas, ameaçadoras até, em seu caráter renitente e portador de luzes que deveriam há muito estar de um outro lado, sem acesso ao íntimo de minha casa de afetos.
De todo modo, foi muito bom e proveitoso ler a Cecília trazida por você. Se a poeta diz e se você crê e ensina, é porque eu devo continuar tentando...
Um beijo agradecido,
Carmen


sábado, 8 de julho de 2017


TANTO AO MAR E TANTO À TERRA
UMA E OUTRA COISA
8/7/2015

Tem gente de que eu gosto muito que tem uma certa aversão a esta nossa forma atual de comunicação virtual, como se, ao estarmos nos servindo dela, usando e abusando das redes sociais, houvéssemos perdido nossa autonomia e sucumbido ao sistemão que tanto nos oprime. Eu não consigo concordar com essa maneira unidirecional de olhar as coisas. Para mim, isso é um pedaço, um ângulo, uma nesga da verdade... vai na lógica de quem reparte o mundo em duas fatias que não se misturam. Ou você é bom, ou é mau; ou é opressor, ou oprimido... ou ou ou...
Quando a gente intenta ver o mundo e a nós mesmos, vamos dizer assim, em nossas misturas, por mais cômoda que pudesse ser essa imaginada matematização da vida, onde pudéssemos segmentar as coisas, ela não dá conta do que sucede no âmbito do real concreto. Informações como as que aqui circulam – ainda mais nestes tempos em que a imprensa está pra lá de tendenciosa – e que são tão ricas, tão amplas, tão ensinantes, são informações que custariam muito mais a serem disseminadas não fossem nossas trocas virtuais. Aqui eu cresço ampliando as maneiras de refletir e agir para deixar de me submeter. É o que me parece.



quarta-feira, 5 de julho de 2017

O JOGO DA VIDA
 Bato muito nas mesmas teclas. Só não canso de mim porque a repetição surge de uma vocação irresistível para meu autoconhecimento, incessantemente reclamado por minha natureza e motivador dos insistentes retornos a certos temas e questões.

Do nosso despreparo para a vida, volta e meia tento dar conta com minhas elucubrações, insistindo no quanto principalmente nós, mulheres, somos envolvidas, ilusoriamente, como se houvesse um momento mágico em nossa vida em que seriamos introduzidas no mundo da felicidade para dele não mais sair. Após um período de procura e insatisfação, certamente pelas mãos de um príncipe encantado seríamos alçadas a um novo estágio - o de ser feliz - até o final de nossos dias.

É lamentável o tempo que perdemos na crença dessa ilusão tão vagabunda. A vida nada mais é do que um jogo em que partidas ganhas e perdidas se
misturam, indefinidamente, fazendo com que convivamos ora com momentos sublimes, ora com outros, de intenso sofrimento. Esse é o jogo.

Assim, ouvir esta delicia de música  nesta manhã tão fria - e gozar com o som que esses dois artistas da maior qualidade artística fazem chegar a meus ouvidos e coração -, traz implícita a presença de alguns nós que me atingirão, mais dia menos dia.

A gangorra entre bons e maus momentos é democrática. E sua distribuição pela Humanidade não foge a essa regra de existir para todos, mesmo que em graus diferenciados...

Deixe-me então curtir este som tão magistral! Com ele, com certeza, acumulo uma certa reserva técnica de alegria para algum tropeço que esteja vindo por aí. Não me custa abastecer-me de uma tão linda dose de prevenção...
ECOLOGIA ESPIRITUAL


A mania de juntar coisas daqui e dali e formar outras faz parte de mim. Colares e pulseiras usados e que se espedaçam logo viram qualquer outra coisa, até mesmo novos colares e pulseiras, refeitos, recriados, reinaugurados. Com pensamentos e ideias que surgidas de outros ou de minha própria reflexão, a tendência também tem a mesma direção - juntar a outras e rever conceitos e entendimentos. Aglutinação, mistura, efervescência e o que mais for, a serviço de revisões em função das incessantes buscas. Uma mistura do vivido ao que chega sempre traz algo merecedor de ser olhado. Por mim que seja. O movimento é espontâneo e sem pretensão. Se chega ao mundo é por pura decorrência. Simplesmente acontece. A onda motriz vem de dentro e a pretensão, ceio eu, é algum alívio para as contumazes incertezas
Hoje foi dia de um destes coquetéis. Pela manhã o amigo Aloísio Svaiter  nos trouxe Mario Quintana falando do entendimento/diálogo entre o autor e o leitor. Da fuga de um diante do que o outro lhe apresenta. Diálogo entre seres com experiências e reflexões que se cruzam no diálogo da escrita/leitura.


"O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria."                                                                                    Mario Quintana




E agora à tardinha, com certeza para colorir os raios do final da tarde, tentando atrair luz para retardar qualquer nuvem que pudesse antecipar desnecessariamente a noite que se aproximava, o amigo Pedro envia um belíssimo número de acrobacia, daqueles em que os chineses são mais do especializados (abaixo). Quando dou por mim, ao admirar a arte que o treino excessivo provocou nos malabaristas, perfeitos e surpreendentes em sua apresentação, percebo-me cumprindo à risca o entendimento do Quintana e assistindo ao espetáculo circense, mas deixando-me vagar pela minha vida e pelos treinos que recebi para ser uma mulher de um determinado tipo. E o passeio que dou por minhas rememorações de vida deixam nítido o tanto que descumpri a programação estabelecida para aquela mocinha do interior que adolesceu em plena década de 60. Era para dançar na corda e nela me equilibrar de maneira certeira? Pois o caminho por mim traçado teve um forte desvio e equilibrar-me num único e rígido caminho foi o que menos soube fazer enquanto vim até aqui.
Minhas escolhas foram diversas e desde sempre fui resistindo à necessária disciplina para os movimentos certos, adequados, esperados para aquele contexto.Treinada para ser moça ajuizada em busca de jovem promissor para constituir casamento, não por pensar e definir racionalmente, mas, na base da intuição, fui caminhando de tentativa em tentativa até chegar aqui. Malabarista da própria vida, sigo adiante, até onde tiver que ir. Rigidez, predeterminações e linearidade não me comportam. Vivo, é bem verdade, a tentar sanar dúvidas e inquietações, mas são elas que me movem e me sustentam. Viver pressupõe o desafio de tentar. O resto é o resto.





ACENDAM A LUZ!!!!
4/7/2016

Juro que não sei mais o que fazer. Pessoalmente, ando cá com minhas coisicas a me entreter enquanto sigo: uma palpitação do lado esquerdo, uma certa incompletude de ar por dentro, uma fisgada na borda da espinha, uma certa angústia ao pensar no futuro. Felizmente, quase sempre dá o ar de sua graça uma mazela por vez e, felizmente também, tudo isso e algo mais que possa ter esquecido de incluir, vem sendo bastante bem administrado por minha paciência em lidar com os dissabores que batem à porta do corpo e da alma. Se vez por outra sou má e intempestiva ou fujo de situações que poderia "aturar" mais um pouco, isso é só de vez em quando. No comum dos dias, acordo tentando carmear mesmo, ir desfazendo os nós, separando cotidianidades, remendando umas, outras levando direto ao lixo, as mais preciosas acolhendo com o maior zelo para ir cuidando que não despedace e dando de mim o que for possível para uma solução de paz e entendimento. Coisa de quem já viveu coisa de tudo quanto é tipo e que tentou olhar no olho das surpresas de plantão e juntou emoção, razão e intuição para escutar a realidade.

Pois, com isso tudo - a individualidade e suas exigências a trazerem conflitos e necessidades de toda ordem -, ainda ter que ver o país ser levado ao caos da injustiça, dos desmandos, da precariedade, da morte de um contingente incalculável de jovens negros, da educação em estado de total penúria, da insegurança do servidor sem salário, da indignidade, do desrespeito ... e a maioria de nós se sentar à mesa, servir-se do prato que nos apetece (ou de que dispomos) e mastigar pedacinho por pedacinho de nosso alimento, só vendo alimento no alimento, deixando seguir a destruição sendo disseminada sem dó nem piedade; e sair da mesa, e seguir o dia, e cuidar dos afazeres até a noite chegar e ir dormir, como se fosse natural este projeto de destruição de nossas instituições e cidadania...

Sei não, estou pior do que o mais desalentado dos moribundos, já por dar seu último suspiro, sem salvação à vista, vendo a esperança se corroer a cada segundo. O enfraquecimento está se instalando e me deixando insípida, inodora, incolor...

ACORDA, BRASIL!