quinta-feira, 22 de março de 2018

AULA DE HISTÓRIA

(Uma versão plausível para os meus netos)

Era uma vez um país que estava se tornando mundialmente reconhecido, até provocando um certo alvoroço junto aos elementos centrais do capitalismo, até mesmo por criar mecanismos alternativos de integração econômica (os BRICS) frente aos tradicionais imperadores dominantes, e até gerando um certo incômodo por seu enorme potencial frente ao mercado mundial. Internamente, a sua população, que convivia, historicamente, com inúmeras dificuldades, notadamente em relação aos atendimentos de saúde e de educação, sempre bastante precários, neste novo tempo, por força de algumas políticas sociais que passaram a ser adotadas pelos governantes de então, obteve proezas de grande vulto: teve a sua parcela mais sacrificada excluída da zona de miséria mais aguda, deixando de estar na Zona de Pobreza Extrema, índice aferido pela ONU, o que se constituiu num feito admirável; segmentos carentes da sociedade passaram a ser beneficiados como nunca e algumas mudanças passaram a ser visíveis em termos de acesso aos bens culturais, antes exclusivos das camadas mais abastadas – o acesso à Universidade, por exemplo, a saúde descentralizada a seu alcance, o usufruto de viagens dentro e fora do país, a realização de viagens de estudo para fora do país em centros de excelência acadêmica, dentre outros.

O seu governante, um operário de pouca instrução, passou a ser internacionalmente aclamado como um líder de rara competência política e dezenas de Universidade e outras instituições similares a ele atribuíram títulos e honrarias jamais atribuídos a quaisquer outros presidentes daquele Estado em todos os tempos.

De repente, tudo começou a mudar e o país entrou numa crise sem precedentes, trazendo consequências inimagináveis para seu povo e suas lideranças que, mesmo que ainda aclamadas por grande parte da população, caíram em desgraça. Cientistas, chamados dos mais afamados centros de pesquisa foram reunidos, passaram a estudar o fenômeno e desenvolveram esforços amplos e profundos para compreender o ocorrido.

Empiricamente, o renomado grupo reuniu os seguintes dados e sobre eles tem-se debruçado para buscar alguma explicação plausível para o ocorrido e já começa a especular a possibilidade de ter havido uma ação de âmbito internacional para desestabilizar o país, enfraquecendo seu moral e economia internos, abrindo suas portas para o grande capital, num gesto maquinado pelo Império em seu desejo de garantir e ampliar seu espaço no mundo globalizado dos negócios, até mesmo pelo crescimento que a China nas últimas décadas. São eles:

• O primeiro – a PETROBRAS, destacadíssima empresa do ramo petrolífero em termos mundiais, passou a contar com uma campanha jamais vista de desmoralização, em função da qual enfrentou uma difamação por força da denúncias de antigos e enraizados processos de corrupção que passaram a ser divulgados ininterruptamente, como se fosse um processo iniciado no governo que promoveu as mudanças no país. Tal estratégia abriu à opinião pública o aceite de que empresas estrangeiras passassem a explorar o pré-sal, riqueza inestimável que vinha sendo saudada internacionalmente como um capital de valor incalculável, recém descoberto pela empresa. E o capital internacional passou a explorar as riquezas petrolíferas do país, já que a PETROBRAS estava moralmente desqualificada e indefensável perante quem que quer fosse.
•  O momento seguinte trouxe a desmoralização das maiores empresas de engenharia do país, que passaram a ser destruídas, também por força de denúncias de corrupção que as obrigou praticamente a interromper suas atividades, demitindo milhares de funcionários. Obras foram interrompidas e tais empresas viram suas atividades paralisadas, deixando regiões e mais regiões em estado de abandono e famílias em situação de extrema precariedade, com a elevação dos índices de desemprego a níveis alarmantes. O país ganha destaque em todo o mundo pela corrupção que grassa em seu interior e sua credibilidade cai, não só perante organismos financeiros internacionais como perante a opinião pública mundial. Importantes filhos de seu solo o abandonam e passam a entender que o lugar em que nasceram é intrinsecamente desonesto e genuinamente incapaz de ser um bom abrigo para os seus. A entrega dos bens nacionais a estrangeiros passa a ser vista até como desejável, já que internamente não há capacidade nem de gestão nem de produção eficaz.
•  Recentemente, um ataque inesperado e injusto teve por foco as maiores empresas exportadoras de carne do país, que passaram por um vexame em rede nacional, de imediata e drástica repercussão planetária, sendo acusadas de corrupção e imundícies sem precedentes, na produção de seus produtos, fazendo com que o mercado internacional passasse a cancelar encomendas dos frigoríficos nacionais. O mercado externo se beneficia, os competidores internacionais crescem diante da infame propaganda anti-nacional que a todos surpreendeu, dentro e fora do país.

Não sei se faz sentido, mas de minha parte eu recomendaria aos cientistas que desistissem de ir adiante. Só esses três acontecimentos parecem gerar uma versão bastante lógica para se pensar que há uma orquestração vinda de outras bandas, com cúmplices dentro do próprio país para fazê-lo vir ao chão. Afinal de contas, o que lá sucedeu é mais inexplicável, inconcebível mesmo, do que a construção das pirâmides do Egito e a existência das Linhas de Nazca, no Peru.

quarta-feira, 21 de março de 2018

O RISCO DE SER ABERTA A PORTEIRA DO ARBÍTRIO
21/03/2016
(sem fazer prosa bonitinha, só pensando alto)

Se por um acaso nós, brasileiros, permitirmos que a Constituição Federal, a nossa Carta Magna, seja desrespeitada, em qualquer de suas determinações, estaremos chancelando, avalizando, autorizando as seguintes situações como totalmente possíveis, razoáveis, aceitas:
- o vizinho neurótico pretender mudar a convenção do prédio para impedir crianças, em plena luz do dia, de transitarem pelos corredores, fazendo ruídos, como crianças que são;
- a mãe preconceituosa sugerir à diretora de escola que "dê um jeitinho" para não matricular crianças "diferentes" para não atrapalhar o ritmo da maioria, os ditos "normais";
- a vizinha de porta dar queixa ao síndico porque teve que dividir o elevador com a diarista negra que chegava ao trabalho e tinha ares de "metida";
- a mãe moralista ir pedir mudanças na escola de sua filha de 3 anos pelo fato de a professora ter brincado com a turma, dando um gostoso banho de mangueira, com os pequenos de calcinha e cueca, quando o calor mostrava-se insuportável no meio da manhã;
- a síndica, arbitrariamente, ter a si própria e a seus próprios valores e crenças, como referência para determinar o que pode e o que não pode no cotidiano da comunidade;
- o diretor de escola dividir as turmas por aproveitamento,  sem "misturar" quem quer que seja, para "dar no couro dos melhores" e estes terem sucesso no ENEM e serem propaganda viva e gratuita da instituição...

Se a Lei Maior é  desrespeitada, o vale-tudo se instala. As regras, quaisquer delas, em qualquer espaço coletivo, poderão ser manipuladas, contornadas, adaptadas para agrado de uns e outros. E aí, não serão apenas os pobres que perderão (estes quase sempre já perdem), mas é o neto autista do cunhado, a prima de meu colega, a minha filha, o seu afilhado, todos nós:  eu, tu, ele, nós, vós, eles.

E ATENÇÃO! EM CADA HIPÓTESE QUE EU LEVANTEI,  VOCÊ PODE SER O LADO FRACO DA HISTÓRIA  (a mãe do menino autista, o pai do menino que não foi selecionado para a turma dos "bons", ou seja, o lado prejudicado da história...)

terça-feira, 20 de março de 2018

LIBERDADE
20/03/2016

Sob a inspiração de Irmã Zilda (*)

Vá saber o porquê eu ter amanhecido e, feito o trivial simples pós-bom-dia-vida, ter subido aqui pro escritório e, silenciosa - como que guiada por sei lá qual senso e de que tipo - ter procurado a cópia que eu trouxe de viagem da pintura A LIBERDADE GUIANDO O POVO, de Delacroix. Ainda tomada por um silêncio fora do meu jeito, abro a pasta grande e transparente onde guardo gravuras e imagens outras que um dia hão de ser emoldurados,  e cumpro a “ordem” que vêm de dentro, só seguindo a intuição, sem nada pensar, somar ou refletir. Encontrado o objeto, miro com emoção aquela linda mulher representando a Liberdade, guiando o povo, em tempos idos, da Revolução Francesa, e trato de imaginá-la numa moldura antiga que tinha guardada no fundo de um armário.

Era pra já! Tesoura, durex, um fundo de cartolina grossa e lá fui eu para mais uma de minhas artes manuais.

Num impulso, as mãos envelhecidas mas arteiras deram conta de construir um belíssimo e simbólico quadro que logo coloquei em meu quarto, do lado esquerdo de minha deliciosa cama. Não sei se Freud ou qual outro de meus sustentáculos emocionais e psicológicos pode explicar esse movimento. Todo ele feito em silêncio, sem nem cantarolar nenhuma de minhas canções preferidas. E tampouco importa. Mais vale a inspiração para os cuidados a continuarem a ser tomados no contexto de hoje, no Brasil.

Só depois de bem admirado o novo enfeite é que recomecei a tarefa que mais me tem tomado nos últimos dias – a de ler cada vez mais o que vai sendo dito e por quem. A gravidade da hora exige de nós atenção, debate, reflexão e boas companhias. O compasso há de ser acionado e nele se verificar para onde pende a LIBERDADE como um dos maiores bens a serem preservados. Um bem que garanta que eu saia à rua com um blusa rubra sem correr risco. Um bem que me permita não ter que conversar em voz baixa na travessia das barcas por receio de quem quer que seja, sentado ao lado. Um bem que faça com que os diferentes convivam em paz e respeitosamente, em prol da ampliação da dignidade para todos.

Momento mais que delicado este nosso. Mas, vale o empenho. É no que acredito. É um lado ou outro, bem sei. Mas ouso imaginar que podemos procurar compreender com as lentes do entendimento e da crítica o que faz com que as pessoas estejam onde estão em suas visões de mundo e práticas de vida. Nem que, por um tempinho, os amores tenham que esperar um pouquinho para mais adiante se expressarem sem travas.
(a foto ficou feinha, mas o original está uma beleza).
(*) Irmã Zilda é a única freira do Auxiliadora de quem me lembro com admiração e saudade.

segunda-feira, 12 de março de 2018

LIÇÕES DE PROFESSOR SÃO ETERNAS, E ISSO É PERIGOSO

O bilhetinho que Inês Lemos Motta, querida ex-aluna, escreveu, aqui mesmo, numa outra postagem, dijaojinha (adoro quando tenho oportunidade de usar este termo de minha terra!), lembrando de nossas aulas, vividas há muitos e muitos anos atrás, me pôs a pensar e pensar e pensar. Aliás, vivo disso: é pensar de dia e sonhar de noite. Uma coisa assim como missão, karma, sei lá, mas que é de tal maneira entranhada em meu ser cotidiano que já nem ligo mais.

Para alguma coisa há de servir (será?) esta trama que começo a tramar, mesmo sem querer, até mesmo contra a vontade, quando qualquer sinal externo - ou interno ou no cruzamento entre uma coisa e outra - vem em minha direção, como a recente fala de Inês. Um vem e me fala de menino que não sabe ler, pronto!, está dada a partida: isso gera tempos soltos de conjecturas a respeito, podendo meus devaneios - ou desvarios, como queiram - chegar até outros tempos e espaços totalmente alheios ao tema gerador da cruzada pensamentística.

Outro vem e me apresenta um novo estudo sobre inseminação artificial combinando características de quem doa com as de quem recebe, e também está emitida a senha para que meu pensamento se despregue, ligando situações e hipóteses, livremente, percorrendo ideias as mais distantes e aparentemente desconexas. Creio mesmo que se alguém me vir nesses momentos de (des) alinhavos internos, abertamente postos, sei lá vindos de onde e a caminho de qual porto, deve encontrar uma pessoa totalmente fora do ar, com a fisionomia a mais estranha possível, absorta até não mais poder e visivelmente fora de um alinhamento previamente imaginado.

O elogio de Inês fez isto comigo: saí por aí com minhas lembranças, fui até Campos àquele curso onde nos conhecemos, na então escola Técnica Federal; revisitei a UFF (quantas histórias!); o Henrique Lage, de outras tantas pensatas e praticatas; até  dar de cara com meus anos coordenando um reconhecido projeto que colocava jornais nas mãos dos professores para que aprendessem os meandros das notícias e sua maneira de ir compondo nosso jeito de pensar e agir. Foram anos e anos na função, acreditando com toda a minha consciência cidadã ser fundamental aquele trabalho  de desvendamento e de encontrar novos sentidos no que a Imprensa põe em seus noticiários de todo tipo.

Foram milhares de professores e centenas de escolas a que tive acesso e a quem animei a identificar a maneira de ser do jornal. Só lendo e analisando a linguagem jornalística poderíamos, todos nós, estar aptos a verificar - e com exemplos concretos, - a influência na formação de nosso individualismo, a transformação de fatos históricos em fatos naturais, o simplismo e o imediatismo com que são apresentadas as notícias, e muitas outras formas com que os fatos são transformados em notícias pelas diversas mídias. Seria preciso colocar a mão na massa e ler, e indagar e comparar e interrelacionar.

Se não fosse na escola, onde seria feita essa leitura crítica, capaz de permitir que, "por tabela", também os alunos percebessem que há fatores determinantes que os fazem pensar como pensam e serem do jeito que são, gostarem do que gostam e desejarem o que desejam? Conhecerem-se a si mesmos exigia que penetrassem no mundo dos noticiosos que influenciam diuturnamente cada um.

Pois bem... esse trecho de minha história profissional, agora relembrado aqui,  me pôs frente a frente comigo mesma. Fiquei a me indagar, inquieta, sobre o quanto é crucial a função do Magistério. Nós, professores, realmente deixamos um lastro - para o bem e para o mal - junto àqueles com quem cruzamos nas salas de aula.

Hoje, a força da mídia parece ter-se ampliado desmedidamente. O espaço das contradições me parece estar drasticamente reduzido no âmbito da Imprensa. Pouco  parece restar de brecha para o pensamento divergente no interior dos jornais.

Vejo-me forçada e repensar e a tornar pública esta minha incerteza: nas atuais circunstâncias como nos manter informados? Já não leio mais jornais de papel. Os noticiários da TV, sim, vejo-os o mais que posso. Mas, com a pretensão de captar e me prevenir contra os discursos hegemônicos que se lançam a todos nós. As redes sociais e as leituras sugeridas por amigos é que acabam sendo a minha fonte de informação. Do Globo, por exemplo, tirando o grande Verissimo e outras pequenas contribuições de uma ou outra seção, o que nos resta senão o compromisso com o que está posto e plantado no solo da manutenção da desigualdade?

Repensemos juntos a nossa premência e desejo de crescermos juntos e por influência mútua e saudável entre todos nós.

sábado, 10 de março de 2018

AMIGAS ATÉ NAS LOUCURAS DO AMOR
10/3/2017

Uma amiga e outra combinam de almoçar juntas. Necessidade recíproca de conversar sobre os males do coração. A primeira a falar se sai com esta, antes mesmo de fazer o pedido ao garçom que acabara de recomendar um cuzcuz marroquino com legumes assados para acompanhar o frango:

"-Desisti de seguir adiante sem auxílio de algum remedinho para me ajudar a combater a minha mania... ah, sim, porque só pode ser mania, coisa doente mesmo, ficar pensando no antigo amor como se ele ainda me amasse e apenas estivesse longe por pura incapacidade de lidar com o estado estranho de amar e ser amado... Sempre imaginando o dia em que voltará. Vou partir para algum antidepressivo para aliviar essas maluquices brotadas das dores da alma..."

Mais não disse. A outra não lhe deu chance, interrompendo-a    quase pedindo socorro, com os olhos clamando por alguma ajuda milagreira:

"-Jura? Pois quando a psiquiatra receitar a sua pilulinha mágica, me passe o nome rapidinho pois se você é meio novata nesta espera, que dizer de mim que espero há décadas pela volta do MEU amor? E pior: esperando na certeza de que virá. A vida só está fazendo uns volteios, mas o final será feliz. Na novela, não acontecem mil desencontros mas o final não é do mocinho com a mocinha, juntos e para sempre? Por que comigo não?" (segundos de silêncio e o trágico complemento): "Ou eu não sou a mocinha da história??????????????????"

"- Pois é... (diz a primeira)... será que estamos nos imaginando como a linda e sortuda Gata Borralheira e somos na verdade as irmãs malvadas???????????????"

sexta-feira, 9 de março de 2018

Risos em alto e bom som
9/03/2015

(Proibido para menores. Filhos, não leiam! Ou, lendo, guardem suas críticas à minha mania de me expor, bla bla bla bla bla bla)

Faz parte da diferença entre as pessoas. Para mim, o humor vem sempre abrindo as portas. Não que eu queira. Ele se apresenta e se instala. Tem uma autonomia fora do normal. Para não ser assim, o assunto tem que ser grave mesmo. Até em dores do coração, o lado engraçado da coisa sai pelas frestas do assoalho do coração partido.

Foi assim hoje na minha segunda aula de alongamento. Quase perdi as forças – das quais necessito com todo o rigor para cumprir os exercícios a serem feitos –, tamanha a vontade de rir. Vejam se não estou coberta de razão: só mesmo numa sala de gente pra lá de gasta, com homens inseridos no mesmo processo de ganhar uma forcinha nas pernas, é possível haver aquele grupo de mulheres de pernas abertas, ao ar, sem que haja, em seguida, nenhuma cena de sexo explícito, e em público. Só mesmo com os hormônios tendo ido passear em outras plagas bem distantes, aquela minha/nossa posição de pernas lançadas ao ar, “abertas até onde der”, em direção ao teto, prontas para alguma ação mais erótica pode deixar os velhos da sala sem reação alguma diante de tamanha provocação. Ou será por isso (penso agora) que fazem exercício com os olhinhos fechados?

Pois é, não bastasse a minha má vontade de colocar o corpo em movimento (para este tipo de sobe e desce, esclareço), ainda tenho o riso querendo explodir do peito para me tirar do sério na hora de cumprir as 30 vezes que a professora ordena, em posição tão, digamos, provocativa. E para me distanciar mais ainda daquele ambiente avesso a meus mais legítimos interesses, ainda vem a moça, a professora, ao me ver fazendo minhas estrepolias com as pernas: “Meu Deus, que flexibilidade vc tem! Que coisa rara! Dá até raiva!” Aí, do riso contido, passo ao riso solto, escancarado e (quase) não resisto: “Pra que, né, companheira? Não há de ser para estas sessões matinais destes inúteis vai pra lá e vem pra cá...” Fala sério!

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

quarta-feira, 7 de março de 2018

HOJE, ONTEM, SEMPRE, QUANDO, AGORA
7/3/2017

Particularmente apropriada, poética, mesmo que dolorida, a imagem que a amiga Zulma Guimarães utiliza para descrever o envelhecimento - a perda de intimidade com a vida. Cá com minhas rugas, dou de pensar que ainda tem o fato da gente perder intimidade até com a gente mesma.

Sair para ir à ótica mandar fazer um par de óculos era só sair de casa para mandar fazer um par de óculos. Simples assim.  Hoje em dia, a pessoa em processo de envelhecimento pode muito bem esquecer em casa a receita onde o tipo de lente e o grau dos benditos óculos estão descritos. E essa é ela, hoje, distanciada dela mesma e da sua super eficiência de antes. Em síntese: uma grande decepção (na intimidade ou no popular, uma merda mesmo)! Sorte se a pessoa se der conta na esquina de casa, ao vasculhar a bolsa. Se não, é viagem com perda total, o que eleva a frustração a uma potência bem mais elevada. E não venham me dizer que um bailinho da terceira idade dará uma aliviada na saudade de si mesma que a criatura passa a acalentar daí em diante. Argh!

sexta-feira, 2 de março de 2018

Notícias

OS INCÊNDIOS DE SÃO PAULO

2/3/2017

Ontem, mais um incêndio destruiu mais uma comunidade popular em São Paulo. Desta vez, uma enormidade de atingidos de Paraisópolis, cujas casas foram destruídas sob as câmeras da TV, como mórbido espetáculo, totalmente naturalizado. A NOTÍCIA tem mesmo compromisso é com a Imprensa como negócio. Atenção a pobre perdendo suas histórias e pertences não dá camisa a ninguém. Não é assim mesmo que  o enredo sugere que seja? Qual a surpresa? São ruelas, sem acesso a serviços, caminhão de bombeiro não entra mesmo... E só noticiar mesmo para mais uma vez ficar evidente como este povo é ignorante e teimoso, querem o que da vida?

Importante notar que tragédias que envolvam as camadas médias (Boite Kiss, Carnaval do Rio com acidentes) costumam gerar, pelo menos para dar alguma satisfação à opinião pública, protocolos para que não voltem a acontecer. Mas com favelas - nem isso. É esperar o próximo incêndio. É natural que venha, mais dia, menos dia.

O de ontem foi em plena quarta-feira de cinzas. Dia em que, não raro, uns e outros - de fora da favela, podem ter tido outro tipo de "problema": um mal estar, uma enxaqueca, totalmente previsível, para quem se excedeu muito além da conta bebendo algum whisky - dos bons -, só que além do limite. Esse, o do whisky, faz um pequeno resguardo, tira uma  soneca no dia seguinte, e está novo em folha para outra experiência em sua vida de quem gosta de whisky. Já o que perdeu a casa, procura um primo que mora numa outra favela que não pegou fogo (ainda), usa e abusa de sua hospitalidade por um dias, e só depois vai ver como recompor sua história, sua vida, contando com a sua força de trabalho para voltar à estaca zero. E faz isso, levando uma cesta básica que acaba de receber da prefeitura, fornecida por alguma empresa que, sabe-se lá  a que preço, ganhou a licitação para a prestação de tal serviço.

Está tudo certo. Nada a reclamar. E segue o baile porque este é o jogo e seus personagens no cenário em que vivem uns e outros.
Idiota foi quem inventou de colocar o nome de Paraisópolis num lugar que de Paraíso não tem nada. Aliás, fogo, pelo que nos ensinam por aí combina bem mais é com inferno.