LIBERDADE
20/03/2016
Sob a inspiração de Irmã Zilda (*)
Vá saber o porquê eu ter amanhecido e, feito o trivial simples pós-bom-dia-vida, ter subido aqui pro escritório e, silenciosa - como que guiada por sei lá qual senso e de que tipo - ter procurado a cópia que eu trouxe de viagem da pintura A LIBERDADE GUIANDO O POVO, de Delacroix. Ainda tomada por um silêncio fora do meu jeito, abro a pasta grande e transparente onde guardo gravuras e imagens outras que um dia hão de ser emoldurados, e cumpro a “ordem” que vêm de dentro, só seguindo a intuição, sem nada pensar, somar ou refletir. Encontrado o objeto, miro com emoção aquela linda mulher representando a Liberdade, guiando o povo, em tempos idos, da Revolução Francesa, e trato de imaginá-la numa moldura antiga que tinha guardada no fundo de um armário.
Era pra já! Tesoura, durex, um fundo de cartolina grossa e lá fui eu para mais uma de minhas artes manuais.
Num impulso, as mãos envelhecidas mas arteiras deram conta de construir um belíssimo e simbólico quadro que logo coloquei em meu quarto, do lado esquerdo de minha deliciosa cama. Não sei se Freud ou qual outro de meus sustentáculos emocionais e psicológicos pode explicar esse movimento. Todo ele feito em silêncio, sem nem cantarolar nenhuma de minhas canções preferidas. E tampouco importa. Mais vale a inspiração para os cuidados a continuarem a ser tomados no contexto de hoje, no Brasil.
Só depois de bem admirado o novo enfeite é que recomecei a tarefa que mais me tem tomado nos últimos dias – a de ler cada vez mais o que vai sendo dito e por quem. A gravidade da hora exige de nós atenção, debate, reflexão e boas companhias. O compasso há de ser acionado e nele se verificar para onde pende a LIBERDADE como um dos maiores bens a serem preservados. Um bem que garanta que eu saia à rua com um blusa rubra sem correr risco. Um bem que me permita não ter que conversar em voz baixa na travessia das barcas por receio de quem quer que seja, sentado ao lado. Um bem que faça com que os diferentes convivam em paz e respeitosamente, em prol da ampliação da dignidade para todos.
Momento mais que delicado este nosso. Mas, vale o empenho. É no que acredito. É um lado ou outro, bem sei. Mas ouso imaginar que podemos procurar compreender com as lentes do entendimento e da crítica o que faz com que as pessoas estejam onde estão em suas visões de mundo e práticas de vida. Nem que, por um tempinho, os amores tenham que esperar um pouquinho para mais adiante se expressarem sem travas.
(a foto ficou feinha, mas o original está uma beleza).
(*) Irmã Zilda é a única freira do Auxiliadora de quem me lembro com admiração e saudade.
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