O RISCO DE SER ABERTA A PORTEIRA DO ARBÍTRIO
21/03/2016
(sem fazer prosa bonitinha, só pensando alto)
Se por um acaso nós, brasileiros, permitirmos que a Constituição Federal, a nossa Carta Magna, seja desrespeitada, em qualquer de suas determinações, estaremos chancelando, avalizando, autorizando as seguintes situações como totalmente possíveis, razoáveis, aceitas:
- o vizinho neurótico pretender mudar a convenção do prédio para impedir crianças, em plena luz do dia, de transitarem pelos corredores, fazendo ruídos, como crianças que são;
- a mãe preconceituosa sugerir à diretora de escola que "dê um jeitinho" para não matricular crianças "diferentes" para não atrapalhar o ritmo da maioria, os ditos "normais";
- a vizinha de porta dar queixa ao síndico porque teve que dividir o elevador com a diarista negra que chegava ao trabalho e tinha ares de "metida";
- a mãe moralista ir pedir mudanças na escola de sua filha de 3 anos pelo fato de a professora ter brincado com a turma, dando um gostoso banho de mangueira, com os pequenos de calcinha e cueca, quando o calor mostrava-se insuportável no meio da manhã;
- a síndica, arbitrariamente, ter a si própria e a seus próprios valores e crenças, como referência para determinar o que pode e o que não pode no cotidiano da comunidade;
- o diretor de escola dividir as turmas por aproveitamento, sem "misturar" quem quer que seja, para "dar no couro dos melhores" e estes terem sucesso no ENEM e serem propaganda viva e gratuita da instituição...
Se a Lei Maior é desrespeitada, o vale-tudo se instala. As regras, quaisquer delas, em qualquer espaço coletivo, poderão ser manipuladas, contornadas, adaptadas para agrado de uns e outros. E aí, não serão apenas os pobres que perderão (estes quase sempre já perdem), mas é o neto autista do cunhado, a prima de meu colega, a minha filha, o seu afilhado, todos nós: eu, tu, ele, nós, vós, eles.
E ATENÇÃO! EM CADA HIPÓTESE QUE EU LEVANTEI, VOCÊ PODE SER O LADO FRACO DA HISTÓRIA (a mãe do menino autista, o pai do menino que não foi selecionado para a turma dos "bons", ou seja, o lado prejudicado da história...)
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