LIÇÕES DE PROFESSOR SÃO ETERNAS, E ISSO É PERIGOSO
O bilhetinho que Inês Lemos Motta, querida ex-aluna, escreveu, aqui mesmo, numa outra postagem, dijaojinha (adoro quando tenho oportunidade de usar este termo de minha terra!), lembrando de nossas aulas, vividas há muitos e muitos anos atrás, me pôs a pensar e pensar e pensar. Aliás, vivo disso: é pensar de dia e sonhar de noite. Uma coisa assim como missão, karma, sei lá, mas que é de tal maneira entranhada em meu ser cotidiano que já nem ligo mais.
Para alguma coisa há de servir (será?) esta trama que começo a tramar, mesmo sem querer, até mesmo contra a vontade, quando qualquer sinal externo - ou interno ou no cruzamento entre uma coisa e outra - vem em minha direção, como a recente fala de Inês. Um vem e me fala de menino que não sabe ler, pronto!, está dada a partida: isso gera tempos soltos de conjecturas a respeito, podendo meus devaneios - ou desvarios, como queiram - chegar até outros tempos e espaços totalmente alheios ao tema gerador da cruzada pensamentística.
Outro vem e me apresenta um novo estudo sobre inseminação artificial combinando características de quem doa com as de quem recebe, e também está emitida a senha para que meu pensamento se despregue, ligando situações e hipóteses, livremente, percorrendo ideias as mais distantes e aparentemente desconexas. Creio mesmo que se alguém me vir nesses momentos de (des) alinhavos internos, abertamente postos, sei lá vindos de onde e a caminho de qual porto, deve encontrar uma pessoa totalmente fora do ar, com a fisionomia a mais estranha possível, absorta até não mais poder e visivelmente fora de um alinhamento previamente imaginado.
O elogio de Inês fez isto comigo: saí por aí com minhas lembranças, fui até Campos àquele curso onde nos conhecemos, na então escola Técnica Federal; revisitei a UFF (quantas histórias!); o Henrique Lage, de outras tantas pensatas e praticatas; até dar de cara com meus anos coordenando um reconhecido projeto que colocava jornais nas mãos dos professores para que aprendessem os meandros das notícias e sua maneira de ir compondo nosso jeito de pensar e agir. Foram anos e anos na função, acreditando com toda a minha consciência cidadã ser fundamental aquele trabalho de desvendamento e de encontrar novos sentidos no que a Imprensa põe em seus noticiários de todo tipo.
Foram milhares de professores e centenas de escolas a que tive acesso e a quem animei a identificar a maneira de ser do jornal. Só lendo e analisando a linguagem jornalística poderíamos, todos nós, estar aptos a verificar - e com exemplos concretos, - a influência na formação de nosso individualismo, a transformação de fatos históricos em fatos naturais, o simplismo e o imediatismo com que são apresentadas as notícias, e muitas outras formas com que os fatos são transformados em notícias pelas diversas mídias. Seria preciso colocar a mão na massa e ler, e indagar e comparar e interrelacionar.
Se não fosse na escola, onde seria feita essa leitura crítica, capaz de permitir que, "por tabela", também os alunos percebessem que há fatores determinantes que os fazem pensar como pensam e serem do jeito que são, gostarem do que gostam e desejarem o que desejam? Conhecerem-se a si mesmos exigia que penetrassem no mundo dos noticiosos que influenciam diuturnamente cada um.
Pois bem... esse trecho de minha história profissional, agora relembrado aqui, me pôs frente a frente comigo mesma. Fiquei a me indagar, inquieta, sobre o quanto é crucial a função do Magistério. Nós, professores, realmente deixamos um lastro - para o bem e para o mal - junto àqueles com quem cruzamos nas salas de aula.
Hoje, a força da mídia parece ter-se ampliado desmedidamente. O espaço das contradições me parece estar drasticamente reduzido no âmbito da Imprensa. Pouco parece restar de brecha para o pensamento divergente no interior dos jornais.
Vejo-me forçada e repensar e a tornar pública esta minha incerteza: nas atuais circunstâncias como nos manter informados? Já não leio mais jornais de papel. Os noticiários da TV, sim, vejo-os o mais que posso. Mas, com a pretensão de captar e me prevenir contra os discursos hegemônicos que se lançam a todos nós. As redes sociais e as leituras sugeridas por amigos é que acabam sendo a minha fonte de informação. Do Globo, por exemplo, tirando o grande Verissimo e outras pequenas contribuições de uma ou outra seção, o que nos resta senão o compromisso com o que está posto e plantado no solo da manutenção da desigualdade?
Repensemos juntos a nossa premência e desejo de crescermos juntos e por influência mútua e saudável entre todos nós.
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