quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

INADEQUAÇÃO
(Escrito em 21/12/2016)
Está na esquina, quase chegando à nossa casa, entrando pela fresta que encontrar aberta. Bem que eu me assegurei de que portas e janelas estivessem escancaradas, até mesmo aquela porta pirracenta, lá no quarto pequeno, que às vezes arranha o chão para se abrir de vez, até ela eu forcei para estar em estado de entrega total, simbolicamente de braços abertos e receptivos para a chegada do sentimento renovador comum aos dezembros que já vivi até aqui.
Mas, nada, nada provoca o efeito desejado. Por mais que estimule, de dentro de mim, a saída de algum vestígio de sentimento de boa-vontade, de fé no que virá, de um ansiado e milagreiro entusiasmo para a renovação que costuma impregnar os corações com a passagem do ano, nada se move na direção do abraço de boas vindas à "novidade". Desconfio de que tracei estratégias apenas no nível objetivo, sobre o que racionalmente tenho controle. Na alma mesma, naquilo que genuinamente brota, as portas estão cerradas pela descrença e inaceitação do absurdo em que vem-se transformando a existência no Planeta. Lá longe e aqui no quintal de casa. Mesa posta,sim, mas falta de ganas de aprontar o ajantarado.
Mas, tenho bom coração. Ou pelo menos é no seu lado menos azedo em que tenho investido. Vou então insistir. Não mexerei na arrumação do aconchego que tento promover. Tudo permanecerá intacto e em estado de alerta. Mas, sei não, me parece que o que dará mesmo pra fazer será ficar recolhida com as crias, Mari no meu colo entregue ao meu cafuné, Martin a lançar mais uma de suas frases irreverentes e provocadoras do nosso riso, Mido a me chamar de “sogrita” com todo o afeto do mundo, Luna a iluminar meu semblante só pelo fato de chegar aqui; e eu a ficar um pontinho acima pelo prazer do vinho e da simplicidade destes momentos a quatro... Fora isso, o trivial simples, para mim sempre recebido como um manjar dos deuses: estar com as pessoas queridas e a elas dizer de bem recíproco que nosso amor nos traz; receber como benção da vida as graças que a natureza e a amizade vêm nos trazendo através do tempo; e, para culminar, na noite de Natal, cantar Parabéns para Jesus, como quando fazia quando os filhos eram crianças. Vamos ver se consigo. Nada além. É o que consigo ter pra hoje.

sábado, 17 de dezembro de 2016

OBJETIVIDADE CONTRARIADA
(Escrito em 17/12/2016)

Eu já conferi pra lá de meia dúzia de vezes e é isto mesmo, meus pés estão assentados no chão. Nem foi informação de terceiros, eu mesma vi, de óculos de leitura e tudo. Um par de pés no assoalho do quarto. Os meus.
O coração, e bem ritmado, sem nenhuma extrassístole, também é notado. Ritmo normal, nem vestígio de qualquer palpitação daquelas dos meus idos tempos de fumante.
Olhos conferindo em torno, tudo conforme esperado - cada coisa em seu lugar, mesmo o livro que não consigo dar por terminado e o retrato do antigo amor, ambos na cabeceira, dormitando. Ok.
A aparência do quarto é toda ela mesma. Nem o filme do Chico que ganhei de Silvia Silvia Pedreira e o CD da Marisa Monte que acabei de ouvir se fizeram de rogados e se abstraíram, estão ali, como previsto, calados e fiéis perto do som.
Creio mesmo que continuasse a vasculhar o que vai em torno, detalhe por detalhe, não teria surpresas. Tudo está em seu lugar.


... A única ausente, escondida, amorfa, invisível, distante, sou eu mesma, consumida pelos ecos de meus sentires...



 
Eu e meu amor.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

LULA E MARISA NA PRISÃO. E JÁ!
(Escrito em 16/12/2016)



Não sou lulista, já disse e repito aqui. É verdade que já fui, e com fervor. Mas, depois do documentário do João Moreira Salles, ENTREATOS, cobrindo a campanha vitoriosa do ex-presidente, passei a encarar o grande líder mais realisticamente. O mito se humanizou. E foi isto mesmo: algumas cenas do filme foram decisivas para que uma nova construção fosse sendo produzida dentro de mim sobre o operário-presidente e seu partido. A cena de seu discurso para os operários e a sua saída do palco indagando, já nos bastidores, ansioso, a assessores se a FIESP havia decidido apoiá-lo, me fez entender cruamente a aliança que o estava levando à presidência. E que ele estava se equilibrando entre dois polos. O mais era ilusão, ilusão à toa, e sem ter Jonny Alf entoando a canção.
Meu entendimento foi-se ampliando e o super homem foi ganhando a dimensão humana de
quem também comete equívocos. Um dentre todos nós. Como não poderia deixar de ser. Errada era eu, de haver estendido desmedidamente a sua aura de milagreiro da bondade. Na verdade, quando o chamado mensalão veio à tona, Lula e o PT já me habitavam com uma dimensão muitíssimo mais cheia de tons, sem que eu mais me deixasse levar pela ilusão de uma pureza sem limites por parte dos antigos “companheiros”. A contradição viva foi-se delineando e tudo se tornava mais nítido quanto ao caminhar da política nacional. No pós-eleição, a Carta aos Brasileiros foi lida com mais atenção e serenidade e as políticas do governo federal, sendo implementadas, foram dando nitidez ao jeito Lula de governar – políticas sociais claramente postas em prática, mas à custa de lucros para o Capital, numa competência política descomunal e digna de invejável reconhecimento. Não por outra razão ganhou notoriedade internacional, mesmo por parte da chamada Academia, visivelmente o seu não-lugar. Com Lula, as políticas públicas surgiram e/ou mudaram de direção. Não se voltavam apenas para um mesmo lado, o de sempre. Agora, sopravam-se novos ventos de caráter popular, mesmo que à custa de bons negócios para os poderosos de sempre. Tudo bem, era o possível.
Vida que segue e novos contornos ganham o partido, agora no poder. Petistas mais
próximos, inclusive, com suas práticas e campanhas assentadas em farto e rico material, me ajudavam a ir percebendo o quanto a questão eleitoral moldava-lhes o espírito e os fazia cambiar as próprias referências, tornando-se mais elásticos em seu entendimento sobre o socialismo. Com grande surpresa, devo confessar, fui percebendo que para muitos um mundo igualitário começou a passar ao largo de seus sonhos (ou era eu que não teria sabido ver?) e que outros eram os interesses e valores que os colocavam no mundo da política. Enfim, passei a compreender mais vivamente que a vida, e, nela, a política – é feita por seres humanos, com suas diversas dimensões, mesmo as menos nobres.
Lula e tantos e tantos não serem comunistas ia ficando cada vez mais claro. Isso, no
entanto, não impedia que se pudesse, dentro das contradições, ver a generosidade como marca do seu governo, nos limites que lhe permitia a sua base aliada, a quem teria que agradar e dar a paga pelo que tentava – e ia conseguindo, de uma certa (a possível) forma – para reduzir a desigualdade social e a carência do povo trabalhador.
A virada de perspectiva do governo do PT em, pela primeira vez, trocar o sinal e
deixar de ser exclusivamente voltada para os mais abastados, assustou os donos do Brasil, aqueles que sempre comandaram o espetáculo das ações públicas. Lula virou inimigo a ser triturado e posto a nocaute. Aquela farra de retirar o pobre da invisibilidade não podia prosseguir. Com as práticas não ortodoxas levadas a efeito pelo PT para arrecadar fundos de campanha e para assalariar os votantes no Congresso, os conservadores obtiveram, de graça, a necessária munição para arrebentar com o partido que ousava sair da linha. Estava dada a largada para as denúncias e para a campanha – intensiva, programada e ampla – para anunciar ao mundo que o PT quebrou o Brasil, que o PT inaugurou a roubalheira no Brasil, que o PT é o diabo e tem que ser expurgado, e com urgência. Vade retro, Satanás, que queremos retornar ao leito do rio que sempre permitiu a navegação, sem acidentes, numa única direção – a boca do oceano dos ricos e endinheirados – era o que pareciam dizer os seus opositores.
Cama feita, muitíssimo bem feita, sobrou para Dilma, a admirável mulher tida como
aquela que “não sabe fazer política” (esta, sim, continuo admirando com entusiasmo) que substituiu o político inigualável, ele, sim, capaz de negociar até com o próprio demo. Com todo o apoio da Imprensa, alcançou-se o impedimento da primeira mulher presidente do país, culminando com o retorno, agora revigorado, da banda da direita ao poder, sob o comando do seu vice, golpista e fraco. Henrique Meirelles que fora uma parte, agora é o comandante em chefe do conjunto do poder central. Aliás, a julgar pelo que dizem especialistas, hoje, no Brasil, afora a mínima parcela da esquerda que resiste mas não ameaça (ainda), o que temos é a direita, com maior ou menor quantidade de maldade em sua composição.
Pois bem, substituindo Dilma voltam a mandar os políticos tradicionais que antes
sempre governaram sozinhos. E sobre eles, os maiorais, tome de denúncias e mais denúncias de corrupção, fazendo com que a própria mídia tradicional não consiga mais esconder a podridão que cerca o governico que aí está. O rei ficou nuzinho da silva. Em pelo. E cada dia mais se agravam os acontecimentos em torno do andar de cima. Ou seja: vai-se desanuviando o ar e ficando cada vez mais visível, até para quem andava míope, que a corrupção não aportou aqui com os governos petistas. É coisa nossa. Uma jabuticaba mais que saborosa, conhecida, velha conhecida.
Mas, estávamos pensando que o líder Lula seria poupado e o foco do noticiário seria
lançado sobre a ladroagem oficial de hoje em dia? Ou sobre o tipo de ligação imoral que vigora entre Temer e o Congresso? Ou sobre as políticas que vêm sendo criadas, todas elas contra os anseios populares, todas elas de caráter excludente em relação aos mais pobres? Qual nada! Tudo que vem chegando é anunciado como necessário ante os desmandos dos governos passados (do PT). Até mesmo (ou principalmente) a política educacional, que vinha experienciando uma inusitada ampliação para abarcar os menos aquinhoados, agora oficialmente se põe novamente a separar quem vai à Universidade (e comandará o país) e quem fica no caminho (para ser comandado pela minoria). Absolutamente! O que se vê é a luz do palco não sair de um único local – o que alumia Lula e sua mulher. O que se coloca no centro é qualquer coisa que suje a imagem de Lula e de dona Marisa. Tudo o mais é secundário.
Aí, eu penso... e penso... e penso... e caio numa conjectura desvairada, só por
exercício de minha sanha de ver alguma mudança no ar: por que não se faz um exercício de maldade em benefício da verdade dos fatos? Coisa rápida, na crença de que “os fins justificam os meios”? Vejam se não fará bem ao povo e à elucidação da verdade. Seguinte: proponho que se prenda logo o operário Lula e a doméstica Marisa Letícia. Lá em Curitiba. Junto do “Mouro”. Deixem-nos lá por uns bons 30 dias. Como operário e doméstica, eles já conheceram muito aperto na vida. Eles resistirão, na maior.
Quem sabe assim, neste meio tempo, finda a vingança contra aquele que ousou pensar que
poderia mudar as regras do jogo, posta em evidência a ausência do protagonista, sanada a ira nacional de quem o odeia e acusa, quem sabe, repito, não se consegue um bom iluminador de palco para que ele vasculhe com seus canhões coloridos as outras áreas do tablado e se consiga ver quem o habita – e com todo o garbo? Enquanto Lula estiver livre as vistas estarão embaçadas pelo tipo de informação precária, unilateral, distorcida e maldosa que se espalha pelo Brasil afora.
Se mesmo visível para tantos, os móveis de uma sala não são percebidos porque no
seu centro está uma mesa de ricos contornos, que se retire-se a mesa! Não é possível que nem assim se consiga enxergar tantos quadros, poltronas, mesas e adornos que ali estão compondo o ambiente, e com tudo tão empoeirado...
Se não, nada feito! Só dará o mesmo do mesmo. As manchetes não mudarão. A ladainha
não cessará. A verdade continuará sem holofotes.
(Perdão Luis Inácio e Marisa Letícia, pelo meu desvario, em minha condição de
inconformada com o mal que a Imprensa brasileira e seus aliados vêm fazendo aos brasileiros...)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Para Mariana Lozza

Á MULHER DA MINHA VIDA
(Com amor, mesmo que sem rima)

Minha amada menina,
linda mulher que tanto encanta,
com sua forma de olhar o mundo
e tecer seu próprio enredo.
Tão opositora na infância,
ui, que horror!, nem vou lembrar,
Pois a mim doou a culpa
pela partida do pai pra tão distante,
naquele trecho do nosso navegar...

Quem diria a vida consumiria esse tempo
em que quase desisti de seu perdão?
Mas o tempo passou e, enfim, chegou
o momento tão bem-vindo de desatar
a relação de filha e pai das malhas
da minha relação com ele finda.

Hoje em dia, Mari Mari inverte a história
brincando de estar a me cuidar.
Mulher madura, com senso próprio
e ideias bem distantes do meu pensar.
Com posturas firmes a esbanjar sabedoria,
ensina-me outras maneiras de interpretar.
É pessoa que escuto sem cessar,
amiga de horas difíceis a ponderar.

Amar é verbo que você me ensina,
com seu sereno jeito de me aliviar.

Um ótimo dia para você!
Chegada iluminada
Há pouco mais de três décadas, uma hora destas, eu estava "comunistando", como diz minha amiga Dorinha Dora Henrique da Costa, no mais alto estilo. Se o povo tinha filhos pelo INSS, por que não? E lá estava eu, no Hospital Santa Cruz dando à luz a minha primogênita, pelas mãos de um lindo acadêmico de medicina, moreno, bastante bom de ver para me distrair um pouco das contrações que se intensificavam. Durante a noite, quando as cólicas apertaram, chamei a enfermeira que me tranquilizou dizendo-me que era assim mesmo, era questão de esperar... Mais "pão-pão-queijo-queijo" nunca vi. Filho vem com dores. Guenta firme, minha filha. Quer ser melhor do que as outras? Espere a hora.
Amanheceu, fui examinada por um médico - dr. Daniel, se não me falha a memória - e me foi anunciado que era chegado o grand finale. E lá fui eu andando para a ante-sala do centro cirúrgico, sem nenhum fricote de maca e beijinho de boa sorte de marido ou parente mais próximo, como dizem os manuais quanto à hora da chegada do príncipe ou da princesa. Ali, era eu e Deus. Nascimento de plebeu mesmo. Plebeia, saberia eu dali a poucos minutos, pois que naquele tempo não havia ultrassom. E a mãe, toda feliz da vida, rica de emoção e plena de vontade de conhecer o seu bebê. Pelo que me anunciaram antes, nada se concretizou, foram totalmente suportáveis as dores do parto. Quanto pensei que se continuasse como estava eu iria sofrer, a minha filha já se fez presente. Uma enfermeira ajudou colocando todo o seu peso sobre mim, pediu que eu me esforçasse ao máximo e foi quando Mariana me foi apresentada, toda cor de rosa, mais linda do que eu poderia imaginar... Meio magrinha, é verdade, afinal de contas veio bem antes da hora...
Quando pedi para que o orgulhoso pai fosse avisado, a resposta é que eles só se comunicavam com as famílias em caso de óbito. Nem reclamei. Vira essa boca pra lá! Afinal, era momento de luz e de esperança, de alegria e emoção, totalmente nova. Às duas horas da tarde, quando Juan Carlos chegou para me visitar, encontrou duas mulheres... e ele, coitado, sem saber que já era pai, me trouxe para ler "China, o nordeste que deu certo", crente que eu teria tempo de ler enquanto aguardava a chegada da nossa abençoada filha.
Quanta alegria recordar isso tudo! Nascimento mais cercado de amor, impossível! Sem falar da companhia de minha irmã Inesia Abreu e seu marido Vitor, que nos levaram para o hospital na véspera. Pura dedicação! Quanto a você, Che, uma palavra de total reverência. É inesquecível o seu amor naquele momento em que pusemos nossa menina no mundo.
VIVA MARIANA!

A HISTÓRICA HISTÓRIA DE ANDAR NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
(Escrito em 15/12/2016)

Quando ontem, 38 anos depois, ao escrever para Mari, eu relembrei e me dei conta de que até naquele momento - quando é comum vermos nos filmes e novelas e ouvir de amigas, quando do anúncio da gravidez, as mulheres serem as donas da situação - e eu, em minha condição de MULHER, não ter sido a atriz protagonista de uma história (mais minha do que de qualquer outra pessoa), dei de pensar, meio em estado de aparvalhamento. Foi o pai quem foi ao laboratório confirmar a hipótese de que eu seria mãe e foi o pai que me deu a notícia, num corredor de uma repartição pública, o quarto andar da Rua do Passeio, 62 (se bem me lembro o número), onde funcionava a secretaria de educação do Estado. Não posso jurar, mas, quase peço a bíblia para pôr sobre ela a minha mão envelhecida e garantir que devia estar saindo de alguma reunião para debater alguma medida para a educação que sempre foi devida - e cada vez mais o é - aos nossos alunos e alunas da escola pública. O coletivo a toda e o individual sequinho, sem poesia, pouco ou nada feminino.


Ando amarga. Muito amarga. Não sendo o delicioso que a gloriosa Celma faz na casa de Inesia Abreu, qualquer outro jiló perde de muito pra mim. A sensação é a de que não tive tempo para as maneirices de uma mulher que poderia gastar tempo para surpresinhas e arremedos de charme e poses sedutoras para o seu homem, até mesmo numa ocasião única na qual poderia aproveitar de sua privilegiada condição de ser mulher-mãe.


Creio que hoje à tarde, no meu pós-almoço, vou rever pela trigésima vez "Uma linda mulher", colocar-me a pensar em Richard Gere, imaginando-me a irresistível Julia Roberts. Na ficção eu sou uma diva. Dará certo?


Um pouco de alienação, por favor!

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé
Eu, a caminho do trabalho, no Rio, grávida de Mariana Lozza.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Carmen Lucia Pessanha

QUE DOENÇA É ESTA?
(Escrito em 11/12/2016)
Eu me lembro bem de quando em debates com colegas sobre a maneira como o jornal é construído, eu dar ênfase numa questão bem simples, corriqueira: quando o jornal escolhe uma manchete, é porque todas as demais notícias foram deixadas de lado como não merecedoras de tal condição. É escolha ideológica. Não é fruto do acaso.
Aqui também, cada um de nós, mostra de si com suas escolhas. Rabugenta, fico aqui a me intrometer nas falas postas em rede...
Daí a necessidade de dizer que não sei como compreender o fato de uma pessoa, diante da lista de governantes denunciados, agora às claras, sem dar mais para esconder a fantástica e desmedida ladroagem que precede os governos do PT, no dia de hoje escolher como manchete de sua postagem as figuras de Lula e seu filho. Silêncio em relação a todos, pau no nordestino. Pô, até hoje, povo de Deus?
Por que a insistência, meus amigos? Qual o problema de expandir um pouquinho o olhar e falar de Temer e de seus amiguinhos, ministros e amigos, recebedores de propinas as mais milionárias?
Qual é o horror que Lula provoca que faz com que as pessoas não desistam dele?
Cá com meus botões e cismas, especulo que não é Lula o alvo, é o que ele representa, é a contrariedade, o inconformismo pela chance que ele, muito menos do que o necessário, deu àqueles que sempre foram esquecidos pela sorte. O mundo girou sempre contra eles, por que mudar?
O danado conciliou como pôde, não deixou de dar asas aos banqueiros e construtores, mordeu e assoprou como pôde, mas não tem escapatória. Só pelo fato de dar alguma chance para os mais humildes, é o alvo preferencial de inúmeros brasileiros, como merecedor de ataques.
Sinceramente, tendo nomes como todos os que aí estão na lista da Odebrecht, a pessoa deixar de lado todo o bando - e que bando!; e com quais qualificações! - e insistir em falar de Lula, chega a ser ridículo. Parece uma fobia, algo a merecer algo mais do que um simples comentário como este meu. Sei lá, mas parece que o caso é pra especialista. Dou conta, não!

ESCAMBOS DE ESPERANÇAS
(Escrito em 12/12/2016)
Minha querida amiga, especial como ela só, Cecilia Goulart, nos traz Quintana falando da fuga de casa de Tolstói, aos 80 anos, o que acaba por levá-lo à morte. A beleza tão crua do que diz - "não são todos que realizam os velhos sonhos da infância" - é retumbante. Sonhos são imortais. E podem ou não ser frustrados ou postos em vida em qualquer tempo.
A fala do amigo na conversinha virtual do amanhecer falando do sofrimento que no momento acolhe sua família também ecoa fundo em minha alma.
A minha agenda do dia, quando terei que me defrontar com a solução de uma situação insolucionável, também me abate e faz engolir em seco, cavando da garganta ressequida alguma saliva que me ajude a engolir o dia e suas aflições.
Tempos sombrios, lá e cá, antes e agora. O ano que termina sem trazer, como de hábito, uma certa esperança quanto ao que virá. Pelo contrário.
Mas o mundo não é só buracos sem fundo. Ele tem janelas, e nem todas estão emperradas. Algumas se deixam abrir. Da minha, vejo a natureza me saudando solidária, presente, realimentadora. Em sua natureza de natureza viva, desde que a ela fui apresentada, me empurra da cama, me traz aqui e me leva a carmear meus nós.

Nada como um bom escambo de esperanças entre humanos amigos para nos fazer resistir e dar os passos de que precisamos para corrigir traçados e aflições.
Na foto, um momento em que estive postada no chão para um registro. Um momento apenas...

DIZER PRAIANO
(Escrito em 12/12/2015)
O muro é clarinho, clarinho, quase juro ser branco, caiado, como costuma ser por lá. Pro meu gosto, meio alto demais, já que nada permite ver do que lhe vai por dentro. Sem alternativa no âmbito da objetividade, do preto no branco, do que é visto por fora, dou de imaginar. Por trás dele, do muro, o quê? É como vício: começo a ver do visível. O que mostra dá chance de começar a ver? Muito bem. Não dá? Invento. Uma piscina, como muitos, esquecidos das maravilhas do banho de mar, andam fazendo por lá por Atafoninha? Um tanto de grama ou aquele delicioso tapete do praiano "mineirinho" se fazendo de gramado, e ótimo? Ha, já sei, aquela varanda com uma rede velhusca meio abandonada pelos donos que tardam mais do que o razoável a vir até aqui aproveitar das delícias dessa praia e de seus encantos? Ou não, não é nada disso, e é o costumeiro punhado de papoulas gigantes, em ala, encostadinho no muro ocultador, flores que tanto aprecio, maiores que minhas mãos abertas quando as coloco em exercício contra artrose? ... Ou...
Vá saber... De concreto, só fica mesmo a parede alta e clara. Mas, como a me cutucar para me fazer pensar por outro ângulo, já que por dentro dele nada consigo vislumbrar, leio a frase, escrita nele mesmo, por fora, frase com total sentido, escrita com letras bem escuras, a me provocar pensamentos e suposições as mais estapafúrdias: "CONVICÇÕES SÃO CÁRCERES." E, com ela, abre-se para mim o caminho de hipóteses, análises, questões, indagações, entendimentos e arrepios... O lado de dentro perdeu prioridade. O que está à vista já dá o que viver.
Desta vez, além do mar verde-cana num dia e dourado no outro, além do conforto espiritual pelas conversas com pessoas que amo profundamente, além dos prazeres da boa mesa e da boa cama, a minha Atafona vem comigo de volta pra casa, em dizeres a serem pensados e repensados à luz das crenças e entendimentos de uma vida inteira.
CONVICÇÕES SÃO CÁRCERES?

terça-feira, 29 de novembro de 2016


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CONVERSINHA ALHEIA
(Escrito em 28/11/2016)
No ônibus, caio na besteira - costumeira, bem sei, sou reincidente - de escutar conversa alheia. De mim pra mim mesma, tento me prevenir de que aquilo não iria dar certo - serviria apenas pra cronicar, tudo bem, mas traria junto alguma aporrinhação. Vou ouvir, não vou poder me metidar (como dizia Mari em pequena), vou acabar tomando contato com o que não quero e ficar sem poder dar vazão às "minhas certezas" (Ah, como as tenho!). Mas, não teve jeito, não abri o livro que levava e, curiosa, sonsa, com cara de paisagem, vi que algo interessante vinha da poltrona de trás...
Isto mesmo, o papo ia animado entre duas senhoras e não deu outra: a da esquerda, lá pelas tantas, após reclamar bastante da vida e do Brasil, vira-se para a outra, do lado, e se sai com esta "... é, eu creio mesmo que acabamos trocando seis por meia dúzia tirando Dilma da presidência."
Flechada no coração! Ai, que dor!
Era isso mesmo, a presidente Dilma sendo comparada com o "profissa" temer, o qual, dia destes, só pra lembrar seu estilo e valores, elogiou o Geddel como excelente político? Em que matemática corrompida Dilma pode equivaler a um Temer? Que erro de cálculo é esse? Se essa criatura projeta um prédio, ele cai por erro crasso na quantificação dos materiais de sustentação.
Claro!, comigo também não deu outra: primeira pontada no peito, primeira agonia pelo silêncio forçado a ser providenciado, primeira - e forte - impaciência. Juro que forço minha natureza para ser tolerante, compreensiva, bondosa e tudo o mais ligado às boas normas de um convívio domesticado e preservador de sorrisos, mesmo que amarelados diante dos outros. Mas, sou fraca. Nem sempre dou conta da tarefa.
Fiquei tão embasbacada que ensurdeci. Sei apenas que a outra moça fez silêncio. Mas não sei qual silêncio, se acompanhado de qual gesto ou trejeito facial... A história parou por aí. Entreguei-me a mim mesma e às minhas conjecturas.
Pior pra mim. Castigo. Será que um dia aprendo? Por que não abri o livro e me dei ao prazer de com ele me abster do que vai ao redor? Quem sabe até me emocionar com o que diz Freud sobre os sonhos e esquecer esta mania de antropóloga de meia tigela, bisbilhoteira, isso sim, que fica, em tudo e por tudo, querendo extrair a dimensão política e estratégias que façam avançar a transformação social...?






MEU BOM LUGAR
(Escrito em 28/11/2016 – no dia seguinte do almoço na casa de Claudia e Helinho, no Rio)
Particularmente para todos os integrantes da DELBONZADA e muito especialmente para Claudia Barros Delbons que foi a responsável por nosso encontro de ontem - pessoa em quem me espelho em minha vontade de ser melhor: insuperável em sua arte, generosa ao extremo, bonita no sentido mais amplo do termo.
Com esta família aprendo cada dia com maior emoção o sentido de FRATERNIDADE como um bem valioso, aprimorador de minha humanidade. Não no sentido alienado de família que se fecha e só seus membros são os eleitos. Nem no sentido de uma juntada de pessoas iguais, carregadas de afinidades e por isso acarinhadas entre si. Família, SIM, no sentido de sermos amorosos em virtude de nossas parecenças e apesar de nossas diferenças. Família que secundariza qualquer dessemelhança e aposta no afeto, no toque, na atenção, na fraternidade. O que vale é o amor que nos une. Este é o valor maior. Nada mais importa.
Minha adorada irmã dindinha Nilza e meu saudoso cunhado Helio Delbons puseram no mundo uma prole adorável que vem agregando outras pessoas iluminadas que, por sua vez, vem-se desdobrando em pessoinhas do bem, que se juntam a outras que de modo idêntico vão-se tornando amigas e gostando da alegria que temos conosco ao nos encontrar. Só de gente bem miúda hoje temos 7 lindas criaturinhas que ontem alegraram o ambiente. Houve até estacionamento improvisado de carrinho de bebê à porta do apartamento.
Tenho orgulho de ser a "matriarca" deste grupo de pessoas tão incríveis. Um Natal antecipado de trocas afetivas das mais saborosas. Eu, de minha parte, à moda de papai, alisei cada um, afaguei rostos e deles todos recebi, como de praxe, afagos e mais afagos que hoje estão aqui comigo me sustentando na semana que se abre.

NOVO EMPREENDIMENTO ACEITA SÓCIOS! CORRAM QUE O NEGÓCIO É BOM!
(Necessária explicação prévia: este texto - cinismo no mais elevado grau - foi escrito em 2013. Hoje, 2015, o encontrei e creio ser adequado ao momento. Estarei enganada?)


(Escrito em 29/11/2013)
É, não tem jeito mesmo, é começar a ler os jornais do dia e ver brotar a mais agoniada das agonias, não só pelos fatos narrados como por sua interpretação estampada nas páginas do diário. Algo tem que ser feito senão o coração explode! Uma ação política precisa ser empreendida com urgência! Senão, é desistir, e nunca é o caso de desistir, concordam?
Buscar a alienação de tudo, criando uma igreja, e ainda aproveitar dos benefícios fiscais de que gozam, inaugurando mais uma das dezenas delas que vejo aqui perto de casa, não entusiasma o coração. Nem coça o coração, tal possibilidade só surge mesmo, jocosamente, para dar início a este texto. Essa não é mesmo minha praia, nem se fosse a Igreja da Homenagem Eterna a Irmã Zilda, única freira de quem me recordo com profunda emoção quando me lembro dos tempos do Auxiliadora. Nem essa igreja não dá.
Qual saída, então? Há de haver! Só lutar com as palavras é pouco, pouco demais! Ah, já sei, vou entrar na onda das ONGs e terceirizações e criarei uma empresa pronta para fazer agitações sociais, diante dos absurdos do cotidiano. Reunirei todos os antigos militantes do movimento sindical e do sonho de se construir a sonhada sociedade dos iguais e lá iremos nós. A turma está mesmo quase toda aposentada, com tempo, e, claro!, com ainda caudalosas doses da mesma esperança, e lá iremos nós. Anunciamos aqui mesmo no Face e, pronto, iremos à luta.
Qual é o problema? Menina estuprada no Leblon? É só ligar que a gente vai pra lá. Ou é dar força ao governo argentino contra o El Clarin? Também topamos. O sucesso vai ser tão grande que dará até para uma viagenzinha a Buenos Aires, de quebra, o que é ótimo, porque militante agitador também tem bom gosto... Também podemos ir até são Gonçalo protestar contar a comida podre oferecida aos moradores do Bumba, ainda sem nenhuma proteção, acolhidos num Batalhão da Polícia... ou... ou...
Vida torta à procura de solução é que não falta. E uma EMPRESA DE AGITAÇÃO E PROTESTO pode ser uma boa. Agitação é conosco mesmo! Eu, que sou boa de escrita, até produzo panfletos. E veementes!
Vamos lá, companheiros? Estou aceitando sócios. O negócio é garantido! A vida nos contratará, com certeza. Se a rua murchou e se tudo está cada vez mais aviltante, vamos ganhar dinheiro com isso. Ou nascemos mesmo para sermos gauche na vida e nem para isso o capitalismo vai nos beneficiar? Será?


domingo, 27 de novembro de 2016

Pra Uzinha
(Escrito em 27/11/2014)

Campos, em uma semana, a segunda vinda. O fim das coisas. O fim das histórias. O fim das pessoas. Este, sim, o que traz a marca do fim derradeiro e corrosivo. As coisas que findam abrem frestas para o que virá. As histórias, por sua vez, quando esgotadas e sugadas até o último caldo, já grosso de tantos resíduos esparramados no fundo da alma, libertam aquele que as sonhou diversas do real. Ah, mas o fim das pessoas amadas, ah, esse, sim, sempre escurece o olhar, recolhe a alegria e deixa dolorido o corpo que pressente tempos de saudade.
Minha irmã, aquiete-se! Desfranza a testa. Durma em paz. Sonhe com todas as boas obras que você espalhou em sua vida. E, sem alarde, até mesmo por sua conhecida timidez. A sua imagem e a sua história são muito maiores do que o seu corpo miúdo que dormitava, cansado, hoje, naquela cama de hospital.
Até amanhã!