terça-feira, 29 de novembro de 2016


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CONVERSINHA ALHEIA
(Escrito em 28/11/2016)
No ônibus, caio na besteira - costumeira, bem sei, sou reincidente - de escutar conversa alheia. De mim pra mim mesma, tento me prevenir de que aquilo não iria dar certo - serviria apenas pra cronicar, tudo bem, mas traria junto alguma aporrinhação. Vou ouvir, não vou poder me metidar (como dizia Mari em pequena), vou acabar tomando contato com o que não quero e ficar sem poder dar vazão às "minhas certezas" (Ah, como as tenho!). Mas, não teve jeito, não abri o livro que levava e, curiosa, sonsa, com cara de paisagem, vi que algo interessante vinha da poltrona de trás...
Isto mesmo, o papo ia animado entre duas senhoras e não deu outra: a da esquerda, lá pelas tantas, após reclamar bastante da vida e do Brasil, vira-se para a outra, do lado, e se sai com esta "... é, eu creio mesmo que acabamos trocando seis por meia dúzia tirando Dilma da presidência."
Flechada no coração! Ai, que dor!
Era isso mesmo, a presidente Dilma sendo comparada com o "profissa" temer, o qual, dia destes, só pra lembrar seu estilo e valores, elogiou o Geddel como excelente político? Em que matemática corrompida Dilma pode equivaler a um Temer? Que erro de cálculo é esse? Se essa criatura projeta um prédio, ele cai por erro crasso na quantificação dos materiais de sustentação.
Claro!, comigo também não deu outra: primeira pontada no peito, primeira agonia pelo silêncio forçado a ser providenciado, primeira - e forte - impaciência. Juro que forço minha natureza para ser tolerante, compreensiva, bondosa e tudo o mais ligado às boas normas de um convívio domesticado e preservador de sorrisos, mesmo que amarelados diante dos outros. Mas, sou fraca. Nem sempre dou conta da tarefa.
Fiquei tão embasbacada que ensurdeci. Sei apenas que a outra moça fez silêncio. Mas não sei qual silêncio, se acompanhado de qual gesto ou trejeito facial... A história parou por aí. Entreguei-me a mim mesma e às minhas conjecturas.
Pior pra mim. Castigo. Será que um dia aprendo? Por que não abri o livro e me dei ao prazer de com ele me abster do que vai ao redor? Quem sabe até me emocionar com o que diz Freud sobre os sonhos e esquecer esta mania de antropóloga de meia tigela, bisbilhoteira, isso sim, que fica, em tudo e por tudo, querendo extrair a dimensão política e estratégias que façam avançar a transformação social...?


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