FAREJANDO
POSSIBILIDADES
(escrito em 4/11/2014)
"As palavras,
Carmen Lucia, tentam mas não alcançam as emoções. E, o que ainda perdura, ruas,
casas , lembranças, caminhos trilhados e até pessoas não trazem de volta o que
passou. As vezes que retornei a Campos, pareceu-me deserta. Não só de tudo que
dela trago, como até de mim, do que fui diante do que sou. Forasteiro no
próprio lar."
Aloísio Svaiter
Aloísio Svaiter
Você, meu amigo
Aloísio Svaiter, me saculeja com a sua bela maneira
de dizer da incompletude das palavras; da impossibilidade dessas malandrinhas
darem conta de ir às entranhas, de lá trazendo com nitidez o que é e que
importa. Para mim que, chegando de viagem, queria mesmo era escrever sobre as
duas irmãs adoecidas e seus legados, deixo para depois tal desejo, até porque é
bem mais complexo e avassalador.
O amigo me pega mesmo de
mau jeito em função de minha eterna crença de que as palavras nos formatam e
nos tornam o ser que vamos sendo. Até já discuti, no bom sentido, Aloísio, com
um grande amigo – André – que você não
conheceu, sobre a relação entre História e Literatura, ele sempre apregoando
que o que existe, de verdade, é a Literatura, é o dito, é o discurso, não o
acontecido, em si, esse permanente desconhecido.
Vejo-me estudando
análise de discurso e tentando captar a força do entendimento de que o que nos
chega em forma de discurso acaba por dar feição à nossa subjetividade. É a
menina que, desde pequena, escuta que é frágil e acaba por se acreditar assim.
E pode nem ser tanto. Ou, não raras vezes, não é. É o rapaz que escuta que é o
gostosão da mulherada e que acaba por tornar essa uma verdade absoluta e não
entender que não é bem assim.
Aprendi a me dizer que
“depende”! Sempre depende! Mas a escuta internalizada cria nossa fisionomia
emocional e vai-nos colocando em encruzilhadas pela vida afora e adentro. Duro
é derreter as certezas e confrontá-las com o que vem vindo e com sentidos
diversos!
Creio, Aloísio, que,
como em tudo na vida, temos mesmo é que seguir uma das lições mais preciosas
que um outro campista tão querido que já nos deixou – José Américo Pessanha – nos legou. Refiro-me à incerteza das coisas e
da sempre indispensável atitude de dúvida que devemos endereçar ao já
estabelecido como verdade sempre que com ele nos defrontemos. Duvidemos, pois,
da capacidade das palavras como também da sua incapacidade. Vamos continuar
testando sua força, seu poder e seu efeito sobre nós. E sobre a vida. Viver não
é também ir farejando possibilidades?
Conversinha boa
essa... (E deixe-me correr, se não me atraso para a terapia, com acento no
primeiro a, como dizem os argentinos...)
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