terça-feira, 22 de novembro de 2016

A MORTE
(Escrito em 21/11/2014, quando Roberto faleceu)
O amigo de juventude, mais um, encerra seu ciclo de vida. Esse era particularmente próximo, não de toques e falas muito rotineiras, vivíamos distantes um do outro, mas sempre acompanhávamos nossos roteiros por meio de amigos comuns, e, quando nos víamos, era sempre uma alegria renovada.
Não fiquei triste quando soube. Tinha notícias de seu sofrimento e esperava mesmo que seu final fosse o menos dolorido possível. A dor sempre tem um apelo frontal em relação a mim, me atinge e me tonteia. Morrer, sim. Mas, sofrer morrendo de dor? Melhor, não.
Já até conversei com os filhos, um dia desses retomei a possibilidade de eutanásia, como uma solução para aliviar qualquer dor que venha a se mostrar além da conta em minha vida neste futuro que não tem data de término nem forma de chegar ao fim, como bem sabemos. Mas, já é conhecido, aqui em casa, é como um vício, tudo acaba em graça... E o filho, sempre irreverente e piadista, alegou, em contrário: “Mãe, aqui em casa, como as coisas são meio às avessas, qualquer injeçãozinha mortal que eu venha a aplicar em você, pode não dar certo...” . E eu: “Nem me fale, meu filho, a química do tal líquido, ao se ver em contato com o meu emaranhado interno, perdidinha da silva, pode me dar uma reanimada que eu fique aqui mais uns 200 anos, sozinha, zanzando,sem mais ninguém de amigo para papear... Isso, sim, seria a morte!”
O fato é que quando a morte se aproxima, nos belisca de perto, como no dia de hoje, volto sempre ao começo: como seria melhor acreditar que as coisas não cessam com a morte. Como são felizes aqueles que creem que haverá um reencontro, seja onde for, no “céu” ou numa nova vida em novas carnes e ossos.
Para mim, especialista em não-saberes, que nada sei sobre muitas e muitas coisas, e, especialmente sobre este drama humano de saber-se finito, a minha própria morte não me deixa triste nem apreensiva. Virá e pronto! E acabará por completo com o que pudemos ser enquanto tivermos sido. Nada mais depois. Vida eterna? Qual nada! Nos textos não existem os pontos e os pontos finais? Na vida também, por que não? Quando todos os parágrafos acabam de ser escritos e foi dada a conclusão da narrativa, a história se acaba e, aí, não tem jeito, é ponto final. Desde sempre, para sempre. Desde o não-início dos tempos, até o não-final dos tempos... Isso, sim, não tem letra maiúscula, por falta de início, e nem ponto final por total ausência de fim.

Roberto, meu amigo, sua eternidade, para mim, são as lembranças que guardo de sua figura impar e adorável. Seus amigos estão um pouco menores com a sua ausência. Você bem sabia o quanto era querido! Que sua partida nos traga lições, nos faça mais tolerantes, mais humildes, menos presunçosos diante de nossa extrema insignificância. Que um dia acaba, sem dó nem piedade.

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