SOU, MAS QUEM NÃO É?
(Escrito em 14/11/2014)
Ando invocada com uma
situação que me coloca, se não como a mais pretensiosa das criaturas, como uma
das candidatas mais sérias ao título. É que cismei que, como maneira de dar conta de minha
vasculhação interior - que, diga-se de passagem, é um misto de doce amargura e
de amarga doçura -,escrever vem sendo a receita certa para refazer tecidos,
carnes e outras partes, tudo lá de dentro, de todo tipo de textura e
consistência. Transformada numa prática interminável e em níveis cada vez mais
aprofundados de localização de vestígios e descosturas -, a escrita de coisas e
mais coisas que se abastecem de minha cotidianidade tem sido a minha mais nova
paixão, a única que substituiu a anterior, que era de gente pra gente e não
intracorpórea.
Mas, o estranho e o
que poderia caracterizar minha porção pretensiosa que anunciei ali atrás não se
liga a essa minha mais nova e deliciosa paixão. O que me faz questionar-me a
mim mesma - e neste espaço público ao infinito - é justamente o fato do lugar
de meus expurgos ser este aqui, com certeza, à primeira vista, pelo menos, mais
público do que o usual. Aí é que vem o xix da questão: tenho a pretensão de,
num mundo onde nem sempre é dada oportunidade para as pessoas se perceberem com
maior nitidez, muitas vezes enganando-se a si próprias, mesmo sem a menor
intenção, quanto às suas formas de ser e agir (em geral, a contradição, a
maldade, a birra ou os equívocos estão no OUTRO, não em si próprias), tenho a
pretensão de, expondo minhas mazelas, ajudar os demais a se olharem com mais
senso. E, caminharem adiante em função de suas releituras, como eu própria faço
em relação às escritas de que me sirvo sobre o meu percurso... Isso é o pretensioso.
Isso é que talvez fosse dispensável. Mas quem disse que dele consigo abrir mão?
Vejo-me acometida de uma imperiosa ordem interior de entender que, falando de
mim, possa educar pelo exemplo. Pretensão da grossa mesmo! Só não me sinto de
todo num pedestal, pois a forma de fazer a pretensa ação educativa custa-me
postar-me numa posição de humildade de quem aponta a si própria, escarafuncha
suas próprias dores, falando de suas penas e inseguranças. Assim é que, feito
esse acordo interior, tranquilizo-me, considero o jogo como que empatado,
abastecendo-me da necessária tranquilidade para seguir adiante. Colocando em
cena a humildade, a pretensão pode vir a público sem que muitos dedos em riste
surjam em minha direção (Espero!).
Feito todo esse
preâmbulo justificatório, anuncio a mazela do dia, para que reflitam sobre ela.
É que acabo de fazer o seguro do carro, como a cada ano sucede, ininterruptamente.
O corretor me apresenta uma nova seguradora e eu, mesmo considerando sua
opinião, sinto-me insegura. Aceito, pago, mas com um certo desconforto
interior. Jogo feito totalmente no escuro. Pois acreditem, senhores: sabem
quanto me vi numa situação mais relaxada quanto ao fato de ter feito uma boa
escolha? Não duvidem! Foi ontem, quando vi, pela TV GLOBO, o anúncio da tal
seguradora sobre a qual, nunca tinha ouvido falar antes.
Não tinha como não
repartir esse fato aparentemente pouco valorizável. E não tinha por uma razão
bastante simples: por ser ele revelador do tanto que somos formados pela mídia
que nos circunda e invade nossas formas de pensar. Sem ser pretenciosa, mas,
se, mesmo eu, dedicada, anos a fios, a estudar a nossa conformação à influência
do que nos ensinam os chamados "mass media", vi-me diante de tamanha
contradição, que dirá quem estuda outras áreas? Ou todos aqueles que pouco
estudam, entregues que estão a obter o seu sustento diário nesta tão
penalizadora e injusta sociedade?
Autocrítica é, assim,
atitude a ser vivida por todos nós. Não nos enganemos! Ou será bem pior!
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