TACOS DE BASEBOL? DISPENSO.
30/11/2017
Andei pensando, pensando, elucubrando mesmo, dando voltas em meu pensamento, à cata de alguma solução para me safar do que me aprisiona, tão habitualmente podando meus voos em direção ao mundo e ao alívio que ele e algumas de suas pessoas promove, expulsando minhas dores. Vasculho mesmo, com devotada boa vontade, opções de vários tipos, formatos e custos (emocionais, claro!), e constato que nunca seria um taco de basebol, nem em madeira crua nem encerada, que seria capaz de tamanho prodígio em favor de minha soltura. Agressão vinda de fora? Não. Dispenso.
Tenho cá minhas tornozeleiras, sim, a reter obstáculos e pressionar-me a me manter no conhecido status de insistentes sofrências, tão minhas que já subjazem ao meu modo de ser e de ir vivendo a vida. São dores agarradas a tal ponto a cada parte minha que são daquelas que me seduzem a com elas permanecer como que num doce conluio, enevoando minha sabedoria de encontrar saídas. É rir um bocadinho e voltar ao enraizado “tadinha de mim”. O campo do conhecido, tenho que reconhecer, tem bem seus atrativos... Nao exige muito, já está a postos, disponível, prestativo.
A prisão é de segurança máxima, e contra mim mesma. Não me deixa dúvidas de que é garantidora da doentia permanência no estado geral de trancafiar quaisquer saídas que vislumbrem movimentos de superação. As dores de estimação ganham terreno e instalam-se, de verdade, em meu berço íntimo e de lá não querem se afastar, dominando gestos, quaisquer deles, que não sejam a habitual paralisia, o conhecido estado d’alma de apegos e afagos a perdas e tropeços renhidamente abraçados como meus.
Ficar onde se está, no conforto do ambiente emocional com que lidamos com intimidade é doce proteção contra nós mesmos; afastando nosso movimento de reencontrar um novo oxigênio, respirável, descontaminado, capaz de ir a fundo em nossos pulmões, expulsando restos caducos de antigas inspirações e ir criando frestas para a pureza de um novo elemento puro e benfazejo vir chegando, viçoso e próspero.
Corro atrás de mim mesma, não há invasor algum de minha cela íntima. Tampouco milagrosos seres ou instrumentos externos (Que taco, que nada!). Conto mesmo é com meu vigor - insistente, vigoroso, pertinaz- cada vez mais afinado e confeitado com minhas próprias mãos viciadas em tecer fontes irradiadoras de luminosidades de um novo tipo.
Não desistir de si. Não abrir mão da melhor parte de si. Não se curvar à dor. Afirmar-se como criatura e criadora de maior espaço e tempo para a luz de coexistir em meio à abençoada natureza e àqueles seres com quem dividimos a parte boa, prazerosa e genuinamente compartilhada do caminho.
Creio que todo esse dito bem se casa com a transformação de minha FADINHA, cujas roupas estavam tão envelhecidas e ontem ressurgiram em novas cores e adornos, vindas de minhas mãos, envelhecidas mas com sua inventividade ainda em estado de gerar alguma cor, algum rendado e um certo brilho.
E viva a vida!
Aqui há palavras que vão de mim para o mundo, esperando que voltem recriadas, junto a tantas outras, construídas por quem quiser compartilhar este espaço. Entendo ser este um ninho verbal, cujos galhos-palavras podem e devem acolher sentimentos, saberes, expectativas, percursos. O nome? Vem de CARMEAR, “ação de desfazer nós”. Caminhemos, pois. Carmeando.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
terça-feira, 28 de novembro de 2017
Perdão, Thiago de Mello!
38/11/2015
Faz escuro e eu não canto,
nenhuma nova manhã há de chegar.
Deixe-me só, companheiro,
a cor do mundo não quer mudar.
Durma fundo sem esperar
Que o mundo não vai mudar.
Já se foi a madrugada,
veio o sol sem alegria,
sem que eu esqueça o que sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Deixe-me só, multidão,
trabalhar pela alegria,
não consigo neste novo dia.
38/11/2015
Faz escuro e eu não canto,
nenhuma nova manhã há de chegar.
Deixe-me só, companheiro,
a cor do mundo não quer mudar.
Durma fundo sem esperar
Que o mundo não vai mudar.
Já se foi a madrugada,
veio o sol sem alegria,
sem que eu esqueça o que sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Deixe-me só, multidão,
trabalhar pela alegria,
não consigo neste novo dia.
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
CONVERSINHA ALHEIA
27/11/3016
No ônibus, caio na besteira - costumeira, bem sei, sou reincidente - de escutar conversa alheia. De mim pra mim mesma, tento me prevenir de que aquilo não iria dar certo - serviria apenas pra cronicar, tudo bem, mas traria junto alguma aporrinhação. Vou ouvir, não vou poder me metidar (como dizia Mari Mariana Lozza em pequena), vou acabar tomando contato com o que não quero e ficar sem poder dar vazão às "minhas certezas" (Ah, como as tenho!). Mas, não teve jeito, não abri o livro que levava e, curiosa, sonsa, com cara de paisagem, vi que algo interessante vinha da poltrona de trás...
Isto mesmo, o papo ia animado entre duas senhoras e não deu outra: a da esquerda, lá pelas tantas, após reclamar bastante da vida e do Brasil, vira-se para a outra, do lado, e se sai com esta "... é, eu creio mesmo que acabamos trocando seis por meia dúzia tirando Dilma da presidência."
Flechada no coração! Ai, que dor!
Era isso mesmo, a presidente Dilma sendo comparada com o "profissa" temer, o qual, dia destes, só pra lembrar seu estilo e valores, elogiou o Geddel como excelente político? Em que matemática corrompida Dilma pode equivaler a um Temer? Que erro de cálculo é esse? Se essa criatura projeta um prédio, ele cai por erro crasso na quantificação dos materiais de sustentação.
Claro!, comigo também não deu outra: primeira pontada no peito, primeira agonia pelo silêncio forçado a ser providenciado, primeira - e forte - impaciência. Juro que forço minha natureza para ser tolerante, compreensiva, bondosa e tudo o mais ligado às boas normas de um convívio domesticado e preservador de sorrisos, mesmo que amarelados diante dos outros. Mas, sou fraca. Nem sempre dou conta da tarefa.
Fiquei tão embasbacada que ensurdeci. Sei apenas que a outra moça fez silencio. Mas não sei qual silêncio, se acompanhado de qual gesto ou trejeito facial... A história parou por aí. Entreguei-me a mim mesma e às minhas conjecturas.
Pior pra mim. Castigo. Será que um dia aprendo? Por que não abri o livro e me dei ao prazer de com ele me abster do que vai ao redor? Quem sabe até me emocionar com o que diz Freud sobre os sonhos e esquecer esta mania de antropóloga de meia tigela, bisbilhoteira, isso sim, que fica, em tudo e por tudo, querendo extrair a dimensão política e estratégias que façam avançar a transformação social...?
domingo, 26 de novembro de 2017
MIRA AMIGA
26/11/2017
A lança veio em direção ao meu lado direito. Com as minhas duas mãos livres e a alma contrita empenho-me em sua expulsão, ensaiando um vigor de gente sábia. Missão ao que parece atingível, por erro de mira do surpreendente arqueiro da vida rainha.
Fosse do lado do coração, esse sim já de bem antes ferido de morte, mais difícil a tarefa me soaria, aí talvez nem mesmo o empenho de todo o meu ser, em suas amplas e criativas capacidades, pudesse descarregar o veneno absorvido sob minha pele, de onde o viço se esvai sorrateiramente e sem aviso prévio.
Para Maria Regina Pinto
CADA UM TEM SEU DIA DE ALUNO DA ESCOLINHA DO PROFESSOR RAIMUNDO...
26/11/2013
Não sei qual era o personagem, nem qual o ator que o fazia (*). Mas me lembro da existência de um dos alunos da famosa escolinha que, de repente, ouvia de um outro colega alguma informação, mais do que sabida por todos, e fazia de sua ignorância em relação ao assunto motivo de graça, ao se surpreender, por desconhecer o assunto:
- “Napoleão Bonaparte, antes de morrer, viveu na Ilha de Elba” – dizia o colega.
E o tal aluno respondia, espantadíssimo, mal deixando o outro terminar de falar:
- “Napoleão morreu????????????”
Seu ar de surpresa era tão intenso que a turma vinha abaixo em gargalhadas, a cada semana repetindo-se situação semelhante, como sói acontecer neste tipo de humor que era e ainda é feito em nossas TVs.
Foi do que eu me lembrei na semana passada, quando vivi situação tão ou mais grave quanto essa da possibilidade da morte de Napoleão ainda espantar alguém. Ao visitar minha grande amiga Regina, lá pelas tantas, ainda à mesa, após um delicioso almoço de típicos pratos árabes, nem sei ao menos em função de qual motivação, ah, sei, sim, falávamos do Budismo, a minha amiga se sai com esta:
- “Dizem os budistas que naqueles tempos em que Jesus sumiu, dos 12 aos 30 anos, ele esteve na Índia, pois que ele era um Buda...”
Aí, foi a minha vez de me assustar, tal qual o moço da TV:
- “...E Jesus sumiu por todo este tempo?”.
Regina, apavorada, retruca:
- “É o que isso, Carmen Lucia, vc foi aluna do Auxiliadora e não sabe que Jesus ficou sumido não sei quantos anos?”
“NÃO, Regina!” – praticamente gritei, com os olhos arregalados.
Era a primeira vez que ouvia falar em tal fato. Jesus sumido? Por tanto tempo? E eu nunca soube disso? Meu Deus! O que fazia nas aulas de Religião lá no colégio? Escrevia meus diários?
Claro que a discussão mudou de rumo, saiu do Budismo e veio toda em direção à minha desmemória. Nunca ninguém se acostuma. Pairam dúvidas sempre, tamanhos os absurdos de que já me esqueci em minha vida.
Pois, desta vez, até eu me assustei. Cheguei em casa e fui logo à cata das informações sobre a vida de Jesus. E o que foi pior: tudo que li a respeito do tal sumiço era totalmente novo para mim. Eu nunca soube disso ou simplesmente me esqueci?
Para me defender, fico aqui pensando que Regina deve ter aprendido isso com Dona Hélia, as freiras estavam mais preocupadas com outras coisas do que com a vida de Jesus, ainda mais de um tempo em que ele esteve talvez andarilhando pela Índia, como dizem uns e outros...
(*) Já depois de parido o texto, soube por Paulo Ney que o personagem se chamava Rolando Lero e o ator era o inesquecível Rogério Cardoso.
CADA UM TEM SEU DIA DE ALUNO DA ESCOLINHA DO PROFESSOR RAIMUNDO...
26/11/2013
Não sei qual era o personagem, nem qual o ator que o fazia (*). Mas me lembro da existência de um dos alunos da famosa escolinha que, de repente, ouvia de um outro colega alguma informação, mais do que sabida por todos, e fazia de sua ignorância em relação ao assunto motivo de graça, ao se surpreender, por desconhecer o assunto:
- “Napoleão Bonaparte, antes de morrer, viveu na Ilha de Elba” – dizia o colega.
E o tal aluno respondia, espantadíssimo, mal deixando o outro terminar de falar:
- “Napoleão morreu????????????”
Seu ar de surpresa era tão intenso que a turma vinha abaixo em gargalhadas, a cada semana repetindo-se situação semelhante, como sói acontecer neste tipo de humor que era e ainda é feito em nossas TVs.
Foi do que eu me lembrei na semana passada, quando vivi situação tão ou mais grave quanto essa da possibilidade da morte de Napoleão ainda espantar alguém. Ao visitar minha grande amiga Regina, lá pelas tantas, ainda à mesa, após um delicioso almoço de típicos pratos árabes, nem sei ao menos em função de qual motivação, ah, sei, sim, falávamos do Budismo, a minha amiga se sai com esta:
- “Dizem os budistas que naqueles tempos em que Jesus sumiu, dos 12 aos 30 anos, ele esteve na Índia, pois que ele era um Buda...”
Aí, foi a minha vez de me assustar, tal qual o moço da TV:
- “...E Jesus sumiu por todo este tempo?”.
Regina, apavorada, retruca:
- “É o que isso, Carmen Lucia, vc foi aluna do Auxiliadora e não sabe que Jesus ficou sumido não sei quantos anos?”
“NÃO, Regina!” – praticamente gritei, com os olhos arregalados.
Era a primeira vez que ouvia falar em tal fato. Jesus sumido? Por tanto tempo? E eu nunca soube disso? Meu Deus! O que fazia nas aulas de Religião lá no colégio? Escrevia meus diários?
Claro que a discussão mudou de rumo, saiu do Budismo e veio toda em direção à minha desmemória. Nunca ninguém se acostuma. Pairam dúvidas sempre, tamanhos os absurdos de que já me esqueci em minha vida.
Pois, desta vez, até eu me assustei. Cheguei em casa e fui logo à cata das informações sobre a vida de Jesus. E o que foi pior: tudo que li a respeito do tal sumiço era totalmente novo para mim. Eu nunca soube disso ou simplesmente me esqueci?
Para me defender, fico aqui pensando que Regina deve ter aprendido isso com Dona Hélia, as freiras estavam mais preocupadas com outras coisas do que com a vida de Jesus, ainda mais de um tempo em que ele esteve talvez andarilhando pela Índia, como dizem uns e outros...
(*) Já depois de parido o texto, soube por Paulo Ney que o personagem se chamava Rolando Lero e o ator era o inesquecível Rogério Cardoso.
Gritos de pavor
26/11/2016
No dia que o papa Francisco chegou ao Rio, eu estava sozinha em meu quarto, toda arrumada, de banho tomado, tal qual uma moradora da roça que vai à festa do padroeiro no domingo (só faltavam as sobras de talco - que não uso - subindo, em camadas, pelo pescoço), toda linda em frente à TV para assistir todos os seus movimentos desde que desceu do avião. Naquele dia, eu me lembro bem, eu gritei de medo, quando o seu carro ficou encurralado no meio de ônibus e transeuntes, ali pelo meio da Presidente Vargas. Muito medo dele passar por algum perigo, diante da incompetência dos organizadores que o deixaram entregue a si próprio e à sua própria segurança. E a Deus, por suposto!
Ontem eu também gritei. Não houve toda a preparação como no dia de Francisco, mas também estava sozinha no quarto e, como naquele dia, eu também gritei, pedi por socorro, num estado lastimável de se ver. Nem sei bem quais palavras eu usei, mas foi em alto e bom som. Puro gesto de quem está perdido, aturdido, posto em nocaute. É que eu não conseguia acreditar no que via, ao vivo e em cores: o atual Partido dos Trabalhadores,partido ao qual já fui filiada, propor voto secreto para a votação que estava por ser feita em torno do senador pego em flagrante.
Hoje estou ressaquiada. E sem beber nada! Só mesmo o gole da vida em estado de desmoronamento que me entrou pela goela e por todos os poros de minha pele, deixando-me assim, sem palavras. Sou toda restos de gritos. A voz anunciadora sumiu por um tempinho.
26/11/2016
No dia que o papa Francisco chegou ao Rio, eu estava sozinha em meu quarto, toda arrumada, de banho tomado, tal qual uma moradora da roça que vai à festa do padroeiro no domingo (só faltavam as sobras de talco - que não uso - subindo, em camadas, pelo pescoço), toda linda em frente à TV para assistir todos os seus movimentos desde que desceu do avião. Naquele dia, eu me lembro bem, eu gritei de medo, quando o seu carro ficou encurralado no meio de ônibus e transeuntes, ali pelo meio da Presidente Vargas. Muito medo dele passar por algum perigo, diante da incompetência dos organizadores que o deixaram entregue a si próprio e à sua própria segurança. E a Deus, por suposto!
Ontem eu também gritei. Não houve toda a preparação como no dia de Francisco, mas também estava sozinha no quarto e, como naquele dia, eu também gritei, pedi por socorro, num estado lastimável de se ver. Nem sei bem quais palavras eu usei, mas foi em alto e bom som. Puro gesto de quem está perdido, aturdido, posto em nocaute. É que eu não conseguia acreditar no que via, ao vivo e em cores: o atual Partido dos Trabalhadores,partido ao qual já fui filiada, propor voto secreto para a votação que estava por ser feita em torno do senador pego em flagrante.
Hoje estou ressaquiada. E sem beber nada! Só mesmo o gole da vida em estado de desmoronamento que me entrou pela goela e por todos os poros de minha pele, deixando-me assim, sem palavras. Sou toda restos de gritos. A voz anunciadora sumiu por um tempinho.
O HUMOR: UMA TRAVA?
(Esta dúvida me persegue)
26/11/2016
A amiga me diz que meu cinismo é arma para preservar um mínimo de saúde mental e de ar não contaminado para seguir adiante. Sem alternativa, acabo concordando. Mas, no fundo, no fundo, quero é ajuda para entender este nosso espírito brasiliano mais do que criativo, alegre, irreverente. Quero compreender o papel que ele cumpre e a serviço de que ele se faz. As brincadeiras que surgem quase que simultaneamente a cada fato - por mais trágico que ele seja - me chega como brilhante e hilário. Adoro!. Mas não é também um meio de nos retirar o foco da luta e nos enfraquecer?
Se dois objetos não ocupam o mesmo lugar no espaço, fico suspeitando de que enquanto rimos - e eu sou mestra em rir e gostar de rir - estamos sem fazer outra coisa mais efetiva para nos tirar do atoleiro.
Ou não?
sábado, 25 de novembro de 2017
CHOVENDO NO MOLHADO
25/11/2016
Sem cruzar os dedos, jurando estar dizendo a verdade e sem querer estar buscando desentendimentos inúteis, mas querendo muito saber, pergunto: por que as panelas foram batidas - física e simbolicamente - com tanto ardor e se obteve o impedimento da presidente Dilma e agora estão todos calados diante da ação articulada, espúria e assassina do congresso com o planalto - juntinhos comandando o asqueroso baile da vergonha nacional?
Mas, observando o movimento da História, ouso alertar: se para os silenciosos de agora está tudo bem, a água da revolta da opinião pública vai encontrar saídas. O silêncio só ajuda a vergonha a ficar intocável, mas a revolta é feito água e a água é irrefreável e sempre acha por onde escapar. É porque o morro está descendo por motivos mais imediatistas, se não.. Mas isso não e imutável. Não é mesmo!
O morro não tem vez, mas...
https://www.youtube.com/watch?v=dIlkWvBUYMI&feature=player_embedded
25/11/2016
Sem cruzar os dedos, jurando estar dizendo a verdade e sem querer estar buscando desentendimentos inúteis, mas querendo muito saber, pergunto: por que as panelas foram batidas - física e simbolicamente - com tanto ardor e se obteve o impedimento da presidente Dilma e agora estão todos calados diante da ação articulada, espúria e assassina do congresso com o planalto - juntinhos comandando o asqueroso baile da vergonha nacional?
Mas, observando o movimento da História, ouso alertar: se para os silenciosos de agora está tudo bem, a água da revolta da opinião pública vai encontrar saídas. O silêncio só ajuda a vergonha a ficar intocável, mas a revolta é feito água e a água é irrefreável e sempre acha por onde escapar. É porque o morro está descendo por motivos mais imediatistas, se não.. Mas isso não e imutável. Não é mesmo!
O morro não tem vez, mas...
https://www.youtube.com/watch?v=dIlkWvBUYMI&feature=player_embedded
AMANHECERES
25/11/2016
Aos quinze anos, perdi o primeiro de meus irmãos. Morte trágica, num acidente. Coisa totalmente inadequada, improvável, inesperada, inimaginável... para uma menina que apenas pensava no primeiro - e grande - amor e no modelo do vestido da festa do próximo sábado. Está aqui cravado feito tatuagem: do primeiro luto, a gente nunca esquece.
Aqueles foram tempos em que, me lembro bem, quanto mais cedo o sono chegasse e mais tarde ele se despedisse tanto melhor. Era um verdadeiro alívio as horas em que o corpo se entregava a Morfeu. Podia sonhar com o que fosse, mesmo o mais horripilante pesadelo, tudo era melhor do que estar acordada e lidar com aquela perda que, em plena adolescência, eu sentia como brutal e totalmente incompreensível.
A cada amanhecer, a hora em que abria os olhos e voltava a perceber o que ia em torno e o porquê de o corpo estar tão castigado, vendo chegar à consciência o luto que me/nos dominava implacavelmente, é que era o ponto nevrálgico – e inescapável - na sequência dos dias.
Guardadas as devidas proporções e a tipicidade das dores, hoje em dia, acordar para mim também está guardando uma conotação de martírio inconteste. Deparar-me, a cada manhã, com a penúria moral, política, econômica, humana que nos circunda é aterrorizador. Se já não houvessem roubado o abismo, como alguém já falou, seria hora de sairmos correndo, mesmo sem saber pra onde, pois para lá nos empurram – com vigor e total senso de impunidade e cinismo.
E nós, vamos nos deixar levar?
Das duas, uma: ou é luto ou é luta.
25/11/2016
Aos quinze anos, perdi o primeiro de meus irmãos. Morte trágica, num acidente. Coisa totalmente inadequada, improvável, inesperada, inimaginável... para uma menina que apenas pensava no primeiro - e grande - amor e no modelo do vestido da festa do próximo sábado. Está aqui cravado feito tatuagem: do primeiro luto, a gente nunca esquece.
Aqueles foram tempos em que, me lembro bem, quanto mais cedo o sono chegasse e mais tarde ele se despedisse tanto melhor. Era um verdadeiro alívio as horas em que o corpo se entregava a Morfeu. Podia sonhar com o que fosse, mesmo o mais horripilante pesadelo, tudo era melhor do que estar acordada e lidar com aquela perda que, em plena adolescência, eu sentia como brutal e totalmente incompreensível.
A cada amanhecer, a hora em que abria os olhos e voltava a perceber o que ia em torno e o porquê de o corpo estar tão castigado, vendo chegar à consciência o luto que me/nos dominava implacavelmente, é que era o ponto nevrálgico – e inescapável - na sequência dos dias.
Guardadas as devidas proporções e a tipicidade das dores, hoje em dia, acordar para mim também está guardando uma conotação de martírio inconteste. Deparar-me, a cada manhã, com a penúria moral, política, econômica, humana que nos circunda é aterrorizador. Se já não houvessem roubado o abismo, como alguém já falou, seria hora de sairmos correndo, mesmo sem saber pra onde, pois para lá nos empurram – com vigor e total senso de impunidade e cinismo.
E nós, vamos nos deixar levar?
Das duas, uma: ou é luto ou é luta.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
BERLINDA POLÍTICA
20/11/2016
Um diz que se Garotinho fosse inocente teria galhardia e não espernearia como esperneou, covardemente, na maca. Outro vem e diz que se aquele espetáculo fosse honesto, se fosse assim, a altivez do Eduardo Cunha não se faria, pois ele esteve aparentando a maior tranquilidade sendo conduzido pelos policiais. Vem um terceiro e diz que não é nada disso: que o cara esperneia porque estava totalmente incrédulo e nunca imaginou que o seu poder desabaria. Um quarto chega e diz que a tranquilidade não tem nada a ver com dignidade, pelo contrário, é a prova cabal de que o larápio sabe que será solto logo, logo e que seus dinheiros tantos os tirarão daquela dificuldade momentânea. Aí vem um quinto e arremata:
- "Ô pixotada, meninos e meninas, deixem de especular sobre o outro. Deem adeus às certezas. Tudo é possível e nada é uma coisa só. Deixem de lado essas baboseiras. Enquanto vocês se distraem com todo este espetáculo, a realidade caminha a passos largos para algo com cheiro, cor, som e gosto de barbárie... Mais vale reunir os amigos e os nem tanto (os que têm afinidade de querer um mundo menos doentio) para debater, olhos nos olhos, a parte que nos cabe neste latifúndio, pois o mundo está descarrilando..."
domingo, 19 de novembro de 2017
PAU-DE-DAR-EM-DOIDO
Triste sociedade esta que nos acorrenta a um jeito de ser e viver contraditório, dúbio, inconstante, perverso. A gente quer ser o melhor de nós e a vida nos traz tristezas, amarguras, desafios incapazes de serem medidos e superados sem grande sofrimento.
Sei lá por qual lei da natureza, sou bem humorada, adoro rir, seja lá do que for, e vejo-me em luta constante com o meu estado d’alma, entre meus movimentos mais acesos e para o alto, e outros tantos, que me trazem para o lado mais sombrio do mundo, ao qual não consigo me furtar. É uma gangorra constante entre bondade e “beliscão bem disfarçado em braço de menino pobre”, entre lucro e altruísmo, entre excesso e carência, entre atos tidos oficialmente como terroristas e outros tantos, cujas bombas e consequências são de efeito retardatário e naturalizado (destruição em alto grau, mas a médio e longo prazos).
Mesmo que num exato momento eu esteja às gargalhadas por estar lendo um texto onde encontro a afirmativa de que “a velhice existe desde épocas bem antigas” (o que me faz imaginar a hipótese impossível do tempo anterior a esse tempo bem antigo – e rir; e a seguir em meu devaneio humorístico-filosófico: se a velhice começa a surgir num determinado tempo, por mais antigo que ele seja, há um tempo anterior ao tempo antigo, e rio um pouco mais; e a pensar no ser humano naquele tempo mais antigo... como seriam homens e mulheres quando não havia velhice?, e torno a rir; e a rir de mim mesma por tanto rir... – pois bem, mesmo que esteja nesse estado de pura galhofa (sempre estou aberta a rir de alguma coisa, é meio impressionante...), sozinha e feliz da vida, eis que me chega algum fato novo, acontecido em algum canto, mais ou menos distante do Planeta, lugayr onde já estive ou onde nunca estarei (*), a provocar entristecimento, mágoa, impossibilidade, paralisia.
E, pior, sei lá, é a sensação inexplicável de ser um humano dividido. Se me deixo embrenhar totalmente pela dimensão da perversidade, sucumbo e nem o mais forte dos tarjas preta há de me trazer o sono a cada noite. Já, se fico no meu canto, alienada e “alegrinha”, fico sendo uma pessoa que me desconheço, pois o outro faz parte de minha dimensão de ser humano integral. Impossível! Só me faço e existo na relação com o outro.
De uns tempos pra cá, não tem sido raro que amigos – que antes se identificavam em sua maneira de entender e viver o mundo – andem divergindo entre si. O fato: o rato roeu a roupa do rei de Roma. Verdade! Mais ainda: a ação do roedor se deu num tal nível de destruição que há carência de material a ser cerzido, refeito, novamente posto para um uso possível. Nem o rei, muito menos a plebe ignara, está em condições de se vestir com a antiga roupagem. O rei e todos nós estamos nus!
Tenho amigos que estão propagando como saída o amor, o amor ao vizinho, sem a grande – agora inalcançável – pretensão do amor à humanidade inteira. A pretensa superação da desigualdade social haveria de ser olvidada, por inútil, tal qual vem-se moldando na realidade do agora. A ordem é ser generoso com o próximo, próximo mesmo, no sentido físico do termo, de aqui e agora. Sobre os destinos da Humanidade, em sua rota de acentuação do fosso entre pobres e ricos, não é tarefa humana nem plausível tentar interferir.
Perdemos, meninos, perdemos! - é o que muitos nos dizem.
Cá no meu pensar, cato minhas dúvidas, minhas tentativas, minha base teórica de entender o mundo, meus sonhos e quereres, e venho pro meu canto escrevinhar.
Que amor é este? Voltamos ao tempo "aliviador" da caridade cristã? Como vou me esquartejar e amar os próximos, esquecendo-me dos distantes?
Está bem, vamos lá, eu faço um exercício de suposições...
Compro uns livrinhos de história para a filha do amigo humilde que está por nascer? Compro uma vez por ano os cartões dos pintores com a boca e os pés? Luto cotidianamente para combater minha má vontade com o vizinho que é agressivo com os cães daqui de casa? Sou generosa e vou além do simples cumprimento da legislação trabalhista em relação à empregada doméstica que trabalha comigo? Sou gentil com o idoso que está no ônibus e lhe dou o lugar? Combato em mim os resquícios de egoísmo e as marcas de preconceitos que incorporei pela vida afora? É assim que a banda deve tocar?
E como diluo dentro de mim a necessidade de agir em relação a quem está distante e sofre os efeitos maléficos de uma vida miserável e carregada de injustiça e sofrimento? Devo virar-me para mim mesma, consolar-me e me aconselhar a restringir-me em meus intentos e ações a quem me cerca?
A saída se dá em âmbito individual, será assim? Eu, então, passo a amar a quem já amava – filhos, irmãos, pais, amigos? O amor é algo restrito a apenas alguns, àqueles a quem eu “naturalmente” já me entregava amorosamente?
Ou seja: vou pelo caminho (teoricamente) mais fácil, o caminho da maioria, o caminho em linha reta sem olhar pros lados, o caminho possível, o caminho de quem tenta se livrar de sua preocupação com a continuidade das mazelas sociais?
CONSIGO NÃO! APENAS ESCREVER, FALAR, RIR E CHORAR É PORÇÃO ÍNFIMA QUE ENTREGO DE MIM MESMA PARA O QUE SE FAZ NECESSÁRIO! SOU A MAIS PURA CONTRADIÇÃO! E NAS PROPORÇÕES EM QUE ELA HOJE SE APRESENTA É DESAFIO SOBREHUMANO! NÃO QUERO MAIS BRINCAR DE SER HUMANO, NÃO!
EU SOU MENOS EU!
(*) Em julho último, Mariana Lozza e Martin Lozza estiveram num dos bares onde ocorreram mortes, em Paris.
OO INDIVÍDUO E O MUNDO. E A FELICIDADE?
18/11/2017
Com o caminhar da vida fui substituindo, mediante aprendizado e superação, o entendimento, cotidianamente ensinado, de que a felicidade é um estado adiante, a ser encontrado, por sorte, por ação divina ou por determinação inexorável do destino. Das várias instâncias formadoras de meu senso do pensar, recebi influências e ordens, invadindo-o sem piedade, direcionando-me para um entendimento abstrato e inviável do que deveria ser o bem estar, o bem viver, a felicidade, enfim. As instituições pré-existentes à minha chegada a este mundo – família, igreja, escola, imprensa... – jorravam as suas vozes influenciadoras para o interior de minha alma, desde sempre, de modo a formatá-la em consonância com o pensamento mais forte e aglutinador da sociedade que me recebeu quando nasci.
Valores, costumes e quereres vinham, assim, nítidos ou desapercebidamente, ecoando e instalando-se em meu ser, dando forma e conteúdo às minhas ideias e atitudes. Quantas vezes não ouvi “o que você faz, volta para você”; “viva de boas ações, sacrifique-se, pois no final você será recompensada, ao enfrentar o juízo final”; “o que você pensa influencia o que você traz para sua vida”; “aqui é tempo de sofrimento, vida feliz será a próxima”; e tantas outras máximas, sempre gerando dúvidas, medos e inquietações, e cada vez mais afastando de minha própria autoria o encaminhamento de minha vida de maneira que eu fosse feliz no cotidiano mesmo, sem idealizar a felicidade, o bem estar espiritual, como um estágio sempre à minha frente, pelo qual eu não passara ainda e sobre o qual pairavam fortes dúvidas se seria o caso...
Com o caminhar da vida, a companhia dos amigos e dos livros, com os estudos e, especialmente, com a experiência profissional e a relação com meus alunos – de Ensino Médio e da Universidade e professores (milhares) em processos de formação – vim ganhando um novo olhar sobre a vida e o entendimento sobre o seu desenrolar. Quando tomava consciência de minha alegria numa intensa mas passageira troca amorosa; quando me via quase explodir de entusiasmo diante de um aluno que demonstrava a sua linda capacidade de não se deixar enganar por algum discurso alheio que lhe queriam impingir; quando me tornei mãe, estado que transformou o sentido de toda a minha vida; com esses e tantos outros indescritíveis momentos, fui percebendo, aos poucos, aos trancos, pensatas e trocas, que as alegrias não eram perenes e podiam ser, cada uma delas, substituídas, rápida e até inexplicavelmente, por momentos de luto profundo, por outros tantos de grande ebulição de novas ideias, seguidos de uma calmaria sem fim, de ansiedade ou de uma dolente pasmaceira, de momentos que poderiam permanecer maior ou menor quantidade de tempo, em função do que a vida vinha me servindo a cada tempo. Até porque, com 15 anos comecei a perder irmãos... e o aprendizado vindo do sofrimento, e tão cedo, amplia nossa ânsia por compreender as coisas deste mundo.
Dito de outra forma, ditada pelas experiências construídas em meu viver, a vida passou a ser sentida por mim como um intricado de movimentos, de tipos os mais variados, trocas de amor seguidas de incompreensões, encontros produtores de maravilhas cruzados por mortes ou perdas repentinas mesmo que em vida, prazeres em sequência, fazendo conviver a falta de apetite a instantes de apetite excessivo, quase sempre posto no lugar de alguma frustração inesperada.
Uma das mais significativas conquistas que pude realizar como vivente deste mundo de lógica inexplicável e hermética foi a compreensão de que a agoridade é o que existe e vale. É o agora, com o que vem e com o que podemos fazer com ele. Podemos estar planejando uma viagem a Irlanda que alguma coisa pode afastar você de tal possibilidade. Para a formatação do agora e sua maneira de se apresentar para cada um de nós e para o mundo todo (alegrias?;decepções?; indiferença?; ...?) fatores os mais intempestivos e autônomos, determinados por sei lá quem e nem em qual lugar, fruto do acaso, da física, da própria ação humana ou da combinação de um ou mais desses fatores (ou outros), definem o que surge como circunstância de vida a ser vivida: por mim, pelo outro, por todos. Nem o mundo é determinado em suas configurações mais gerais, nem eu sou sujeito capaz de fazer derrubar qualquer circunstância apenas por minha vontade ou entendimento sobre mim, sobre o mundo ou sobre as relações que se dão na vida privada ou da Humanidade em seu conjunto.
Ganhar tal entendimento tem me levado a conceber a felicidade não como fim, não como etapa, não como estágio avançado da vida de cada um, como se fora um prêmio ao avançar da vida e de nosso merecimento. Momentos de felicidade são companheiros de momentos de grande infelicidade e a nós, humanos, cabe introjetar esse conceito e ganhar sabedoria para lidar com as circunstâncias e com os circunstantes que fazem parte de nosso viver. Cada um de nós acaba sendo um pouco – ou muito – autor da capacidade de viver, construindo e sorvendo o que nos agrada ao coração e eliminando as trapaças maldosas que fazem parte da vida, independente de nós, mas que nos atingem aqui e acolá. Se não eliminando-as, envolvendo-nos com elas, dialogando com o que está posto, cara a cara, evitando ampliar-lhes ou desmerecer-lhes o poder.
Hoje, aqui e agora, somos felizes e/ou infelizes, acomodados ou abertos e em movimento, captantes dos movimentos do real ou aprisionados a modelos rígidos de que o mundo é de um jeito só, perpetuamente qualificado como mau, cabendo a nós esperar pela vida eterna (a outra, que virá) ou ir se amargurando a tal ponto de não ver saída e se tornar preso à imutabilidade e à desesperança. Usando de uma forma bem popular de falar disso tudo, é, sim, "tudo junto e misturado".
A felicidade para mim é o ganho desta capacidade de entendimento. A felicidade é esta tal construção do entendimento de que as parcelas de amargura nos atingem e que são passageiras, como tudo. E que é preciso viver cada percalço e cada boa nova em seu caráter mutável. Saber-se dentro de um processo que gira, que segue, que não é permanente – seja o beijo do homem amado, seja o luto por sua morte – faz-nos felizes, pelo encontro de um “método” de viver – que julgo capaz de encerrar o ciclo de escravidão a nós imposto de colecionar sonhos e frustrações, colocando-nos à margem das definições de nossa própria vida.
Para aqueles, como é o meu caso, que incluem em sua própria felicidade a felicidade do outro, que a tem dentro de si, como condição (condição não planejada, racionalmente incluída, mas instintivamente tida como sua) para se sentir feliz, ver o mundo num estágio de tamanha destruição de valores, dignidade e justiça, como hoje, demonstrando sem máscaras o desmantelamento da democracia liberal, traz a dor de viver (mas viver mesmo, com atenção e zelo!) mínimas parcelas de alegrias: o beijo de um filho, a fala da neta, o carinho da amiga, o banho frio no verão. É o prazer individual, agora revalorizado, sem deixá-lo passar despercebido, alçado a uma potência inesperada de sobrepujar o sofrimento vindo de fora.
Reduzido, ao ponto da quase exaustão, o espaço de boas novas no âmbito do coletivo, resta, me parece, viver momentos mais que efêmeros – uma taça de vinho, um petisco raro, um mergulho, uma nova escrita, um telefonema amigo, um boa soneca ou o simples abrir de olhos pela manhã... Claro, sem abrir mão de, mesmo entristecidos, conversarmos e estudarmos para construir novos caminhos requeridos pelo mundo, dentro e fora de nós. A não resignação quanto à possibilidade de um outro mundo ser possível é, afinal de contas, o que nos acolchoa o cotidiano em nossos ínfimos segundos de brilho no olhar.
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
PENSAMENTO CRÍTICO OU RENDIÇÃO
16/11/?
(para uma conversa com amigos, principalmente Marisa Calheiros Alvarenga, Angela Siqueira e Ana Chrystina Mignot, que se manifestaram a respeito)
É bem verdade que os acontecimentos não devem ser aceitos sem questionamentos. Bem sei: nada é apenas o que aparenta ser. Mais ainda: é só buscarmos autores filiados a uma concepção histórico-crítica de construção do conhecimento que eles lá estarão a nos ensinar que algo pode haver subjacente àquilo que parece ser usual, natural, corriqueiro. Desconfiar, então, é prática do bem viver para não idealizar nem imaginar irrealidades e incompletudes. Esse é um método. Método que muitos de nós busca exercitar, que envolve a dialética e a busca da unidade entre a aparência e a essência.Tudo bem.
Mas, convenhamos, algo anda mudando e me intrigando deveras, em função das atuais circunstâncias, em se tratando da política nacional, já que o alcance e o volume das possibilidades de engodo tornaram-se descomunais. O que nos contarem de improbidade, corrupção e afins, em princípio, é recebido como uma verdade nua e crua. Estamos aportando a um modo extremado - conclusivo, derradeiro, inescapável - em nossa tentativa de olharmos criticamente as circunstâncias que se sucedem.
Ajudem-me a ver: é como se o olhar reflexivo não fosse para superar a aparência, mas para desmontá-la por inteiro. É como se estivéssemos acuados, num fim de linha, de encontro a um muro intransponível, sem saída, em estado de irrestrita desconfiança em relação a tudo. Tudo que sucede, em princípio, pode ser o seu oposto, pode não ser NADA daquilo que aparenta. Explico: para estarmos com nosso senso crítico aguçado, nada que venha a suceder não deve apenas ser complementado com um conhecimento mais aprofundado e amplo. A essência não é apenas uma outra dimensão a ser articulada com o que se constata de seu exterior formando uma unidade a traduzir uma realidade concreta. Não! A realidade visível seria de todo falsa. A “verdade” é o que ela esconde. É como se estivéssemos pondo abaixo o diálogo entre o que é o que aparenta ser. Como se estivéssemos acatando o rompimento de vínculos entre objetividade e subjetividade.
Por que tais elucubrações? Por nada além do que eu mesma penso e do que ando lendo aqui – diante da prisão de Garotinho e Cabral, cá estamos, muitos de nós, intrigados, querendo entender, mais do que indícios do que parece ser, o que ela não é. Temo, de verdade, estarmos reféns de um modo de ver e entender os fatos que nos aprisiona.
16/11/?
(para uma conversa com amigos, principalmente Marisa Calheiros Alvarenga, Angela Siqueira e Ana Chrystina Mignot, que se manifestaram a respeito)
É bem verdade que os acontecimentos não devem ser aceitos sem questionamentos. Bem sei: nada é apenas o que aparenta ser. Mais ainda: é só buscarmos autores filiados a uma concepção histórico-crítica de construção do conhecimento que eles lá estarão a nos ensinar que algo pode haver subjacente àquilo que parece ser usual, natural, corriqueiro. Desconfiar, então, é prática do bem viver para não idealizar nem imaginar irrealidades e incompletudes. Esse é um método. Método que muitos de nós busca exercitar, que envolve a dialética e a busca da unidade entre a aparência e a essência.Tudo bem.
Mas, convenhamos, algo anda mudando e me intrigando deveras, em função das atuais circunstâncias, em se tratando da política nacional, já que o alcance e o volume das possibilidades de engodo tornaram-se descomunais. O que nos contarem de improbidade, corrupção e afins, em princípio, é recebido como uma verdade nua e crua. Estamos aportando a um modo extremado - conclusivo, derradeiro, inescapável - em nossa tentativa de olharmos criticamente as circunstâncias que se sucedem.
Ajudem-me a ver: é como se o olhar reflexivo não fosse para superar a aparência, mas para desmontá-la por inteiro. É como se estivéssemos acuados, num fim de linha, de encontro a um muro intransponível, sem saída, em estado de irrestrita desconfiança em relação a tudo. Tudo que sucede, em princípio, pode ser o seu oposto, pode não ser NADA daquilo que aparenta. Explico: para estarmos com nosso senso crítico aguçado, nada que venha a suceder não deve apenas ser complementado com um conhecimento mais aprofundado e amplo. A essência não é apenas uma outra dimensão a ser articulada com o que se constata de seu exterior formando uma unidade a traduzir uma realidade concreta. Não! A realidade visível seria de todo falsa. A “verdade” é o que ela esconde. É como se estivéssemos pondo abaixo o diálogo entre o que é o que aparenta ser. Como se estivéssemos acatando o rompimento de vínculos entre objetividade e subjetividade.
Por que tais elucubrações? Por nada além do que eu mesma penso e do que ando lendo aqui – diante da prisão de Garotinho e Cabral, cá estamos, muitos de nós, intrigados, querendo entender, mais do que indícios do que parece ser, o que ela não é. Temo, de verdade, estarmos reféns de um modo de ver e entender os fatos que nos aprisiona.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
SOMOS TODOS NINGUÉM, ISSO, SIM!
14/11/?
11 da manhã! Acordar a essa hora é fato raro. Compensação do corpo para a noite insone diante da televisão e da incessante procura de algo, até mesmo aqui, algo que me desse alguma sustentação emocional, política, humana para olhar o horror, com algum instrumento capaz de clarear o primeiro passo a ser projetado como capaz de superá-lo.
Nunca pensei que a Matemática aprendida no Calomeni, aquelas operações iniciais mesmo, fossem necessárias para comparações esdrúxulas sobre o tamanho das desgraças, perdas, mortes. O maior número, a quantidade mais danosa é a da morte de um Rio ou de pessoas? Animais contam? A relação é de 1 por 1? Ou animal é uma fração ordinária de um ser humano? E um rio, sobre ele o resultado do desastre deve ser buscado em proporção geométrica? Ou temos que elevar a alguma potência o número de perdas? Raiz quadradra de quê? Ou de quem? É caso de somar ou dividir? Multiplicar ou subtrair?
O fato é que ficamos aqui, desatinados, mantendo-nos no mesmo, como se algo fosse alterar a nossa incapacidade diante do horror. Catar a notícia de que soubemos mais da morte dos mineiros chilenos do que do povo mineiro - eu até compartilhei - mas é pura perda de tempo. Ou a hora é de vermos se valem mais as mortes do Primeiro Mundo, sob os efeitos luminosos da Torre, ou aquelas que foram acimentadas a ferro e lucro na adorável Mariana em seu pedaço de menor prestígio? A que nos levam tais cálculos?
Matemática mal aplicada essa! Tal comparação - ou as que vierem! - não servem pra nada. Perda de tempo. Distração e desvio de foco! Na melhor das hipóteses (ou na mais ingênua e enganadora) cumprem apenas o papel de nos iludir de que nosso tempo está sendo bem empregado, anunciando e disseminando nossa consciência quanto à perversidade do Capital! Ai, ai, ai... Somos os maiorais! Disseminamos consciência e informação!
Ledo engano, caros humanos de plantão! Estamos é desprovidos de trilhas! A lama fez um caminho morto. Duro. As explosões escureceram também os caminhos pelo ar. Cegueira. Aqui e bem longe.
Bem já aprendi que para caminhar é preciso a incerteza de, por uma fração de segundos, contar com o apoio de apenas um dos pés no chão. Mas, sim!, e o que se projeta, o pé revolucionário, o que não me deixa paralisar, o que ousa e segue, me digam, pelo amor dos homens e de todas as mulheres: lanço-o em qual direção?
(Para não desanimarmos de todo, insisto: procurem assistir o Stédile na sua entrevista com o Mario Sérgio Conti)
14/11/?
11 da manhã! Acordar a essa hora é fato raro. Compensação do corpo para a noite insone diante da televisão e da incessante procura de algo, até mesmo aqui, algo que me desse alguma sustentação emocional, política, humana para olhar o horror, com algum instrumento capaz de clarear o primeiro passo a ser projetado como capaz de superá-lo.
Nunca pensei que a Matemática aprendida no Calomeni, aquelas operações iniciais mesmo, fossem necessárias para comparações esdrúxulas sobre o tamanho das desgraças, perdas, mortes. O maior número, a quantidade mais danosa é a da morte de um Rio ou de pessoas? Animais contam? A relação é de 1 por 1? Ou animal é uma fração ordinária de um ser humano? E um rio, sobre ele o resultado do desastre deve ser buscado em proporção geométrica? Ou temos que elevar a alguma potência o número de perdas? Raiz quadradra de quê? Ou de quem? É caso de somar ou dividir? Multiplicar ou subtrair?
O fato é que ficamos aqui, desatinados, mantendo-nos no mesmo, como se algo fosse alterar a nossa incapacidade diante do horror. Catar a notícia de que soubemos mais da morte dos mineiros chilenos do que do povo mineiro - eu até compartilhei - mas é pura perda de tempo. Ou a hora é de vermos se valem mais as mortes do Primeiro Mundo, sob os efeitos luminosos da Torre, ou aquelas que foram acimentadas a ferro e lucro na adorável Mariana em seu pedaço de menor prestígio? A que nos levam tais cálculos?
Matemática mal aplicada essa! Tal comparação - ou as que vierem! - não servem pra nada. Perda de tempo. Distração e desvio de foco! Na melhor das hipóteses (ou na mais ingênua e enganadora) cumprem apenas o papel de nos iludir de que nosso tempo está sendo bem empregado, anunciando e disseminando nossa consciência quanto à perversidade do Capital! Ai, ai, ai... Somos os maiorais! Disseminamos consciência e informação!
Ledo engano, caros humanos de plantão! Estamos é desprovidos de trilhas! A lama fez um caminho morto. Duro. As explosões escureceram também os caminhos pelo ar. Cegueira. Aqui e bem longe.
Bem já aprendi que para caminhar é preciso a incerteza de, por uma fração de segundos, contar com o apoio de apenas um dos pés no chão. Mas, sim!, e o que se projeta, o pé revolucionário, o que não me deixa paralisar, o que ousa e segue, me digam, pelo amor dos homens e de todas as mulheres: lanço-o em qual direção?
(Para não desanimarmos de todo, insisto: procurem assistir o Stédile na sua entrevista com o Mario Sérgio Conti)
SOU, MAS QUEM NÃO É?
14/11/2014
Ando invocada com uma situação que me coloca, se não como a mais pretenciosa das criaturas, como uma das candidatas mais sérias ao título. É que cismei que, como maneira de dar conta de minha vasculhação interior - que, diga-se de passagem, é um misto de doce amargura e de amarga doçura -,escrever vem sendo a receita certa para refazer tecidos, carnes e outras partes, tudo lá de dentro, de todo tipo de textura e consistência. Transformada numa prática interminável e em níveis cada vez mais aprofundados de localização de vestígios e descosturas -, a escrita de coisas e mais coisas que se abastecem de minha cotidianidade tem sido a minha mais nova paixão, a única que substituiu a anterior, que era de gente pra gente e não intracorpórea.
Mas, o estranho e o que poderia caracterizar minha porção pretenciosa que anunciei ali atrás não se liga a essa minha mais nova e deliciosa paixão. O que me faz questionar-me a mim mesma - e neste espaço público ao infinito - é justamente o fato do lugar de meus expurgos ser este aqui, com certeza, à primeira vista, pelo menos, mais público do que o usual. Aí é que vem o xis da questão: tenho a pretensão de, num mundo onde nem sempre é dada oportunidade para as pessoas se perceberem com maior nitidez, muitas vezes enganando-se a si próprias, mesmo sem a menor intenção, quanto às suas formas de ser e agir (em geral, a contradição, a maldade, a birra ou os equívocos estão no OUTRO, não em si próprias), tenho a pretensão de, expondo minhas mazelas, ajudar os demais a se olharem com mais senso. E, caminharem adiante em função de suas releituras, como eu própria faço em relação às escritas de que me sirvo sobre o meu percurso... Isso é o pretencioso. Isso é que talvez fosse dispensável. Mas quem disse que dele consigo abrir mão? Vejo-me acometida de uma imperiosa ordem interior de entender que, falando de mim, possa educar pelo exemplo. Pretensão da grossa mesmo! Só não me sinto de todo num pedestal, pois a forma de fazer a pretensa ação educativa custa-me postar-me numa posição de humildade de quem aponta a si própria, escarafuncha suas próprias dores, falando de suas penas e inseguranças. Assim é que, feito esse acordo interior, tranquilizo-me, considero o jogo como que empatado, abastecendo-me da necessária tranquilidade para seguir adiante. Colocando em cena a humildade, a pretensão pode vir a público sem que muitos dedos em riste surjam em minha direção (Espero!).
Feito todo esse preâmbulo justificatório, anuncio a mazela do dia, para que reflitam sobre ela. É que acabo de fazer o seguro do carro, como a cada ano sucede, ininterruptamente. O corretor me apresenta uma nova seguradora e eu, mesmo considerando sua opinião, sinto-me insegura. Aceito, pago, mas com um certo desconforto interior. Jogo feito totalmente no escuro. Pois acreditem, senhores: sabem quanto me vi numa situação mais relaxada quanto ao fato de ter feito uma boa escolha? Não duvidem! Foi ontem, quando vi, pela TV GLOBO, o anúncio da tal seguradora sobre a qual, nunca tinha ouvido falar antes.
Não tinha como não repartir esse fato aparentemente pouco valorizável. E não tinha por uma razão bastante simples: por ser ele revelador do tanto que somos formados pela mídia que nos circunda e invade nossas formas de pensar. Sem ser pretenciosa, mas, se, mesmo eu, dedicada, anos a fios, a estudar a nossa conformação à influência do que nos ensinam os chamados "mass media", vi-me diante de tamanha contradição, que dirá quem estuda outras áreas? Ou todos aqueles que pouco estudam, entregues que estão a obter o seu sustento diário nesta tão penalizadora e injusta sociedade?
Autocrítica é, assim, atitude a ser vivida por todos nós. Não nos enganemos! Ou será bem pior!
14/11/2014
Ando invocada com uma situação que me coloca, se não como a mais pretenciosa das criaturas, como uma das candidatas mais sérias ao título. É que cismei que, como maneira de dar conta de minha vasculhação interior - que, diga-se de passagem, é um misto de doce amargura e de amarga doçura -,escrever vem sendo a receita certa para refazer tecidos, carnes e outras partes, tudo lá de dentro, de todo tipo de textura e consistência. Transformada numa prática interminável e em níveis cada vez mais aprofundados de localização de vestígios e descosturas -, a escrita de coisas e mais coisas que se abastecem de minha cotidianidade tem sido a minha mais nova paixão, a única que substituiu a anterior, que era de gente pra gente e não intracorpórea.
Mas, o estranho e o que poderia caracterizar minha porção pretenciosa que anunciei ali atrás não se liga a essa minha mais nova e deliciosa paixão. O que me faz questionar-me a mim mesma - e neste espaço público ao infinito - é justamente o fato do lugar de meus expurgos ser este aqui, com certeza, à primeira vista, pelo menos, mais público do que o usual. Aí é que vem o xis da questão: tenho a pretensão de, num mundo onde nem sempre é dada oportunidade para as pessoas se perceberem com maior nitidez, muitas vezes enganando-se a si próprias, mesmo sem a menor intenção, quanto às suas formas de ser e agir (em geral, a contradição, a maldade, a birra ou os equívocos estão no OUTRO, não em si próprias), tenho a pretensão de, expondo minhas mazelas, ajudar os demais a se olharem com mais senso. E, caminharem adiante em função de suas releituras, como eu própria faço em relação às escritas de que me sirvo sobre o meu percurso... Isso é o pretencioso. Isso é que talvez fosse dispensável. Mas quem disse que dele consigo abrir mão? Vejo-me acometida de uma imperiosa ordem interior de entender que, falando de mim, possa educar pelo exemplo. Pretensão da grossa mesmo! Só não me sinto de todo num pedestal, pois a forma de fazer a pretensa ação educativa custa-me postar-me numa posição de humildade de quem aponta a si própria, escarafuncha suas próprias dores, falando de suas penas e inseguranças. Assim é que, feito esse acordo interior, tranquilizo-me, considero o jogo como que empatado, abastecendo-me da necessária tranquilidade para seguir adiante. Colocando em cena a humildade, a pretensão pode vir a público sem que muitos dedos em riste surjam em minha direção (Espero!).
Feito todo esse preâmbulo justificatório, anuncio a mazela do dia, para que reflitam sobre ela. É que acabo de fazer o seguro do carro, como a cada ano sucede, ininterruptamente. O corretor me apresenta uma nova seguradora e eu, mesmo considerando sua opinião, sinto-me insegura. Aceito, pago, mas com um certo desconforto interior. Jogo feito totalmente no escuro. Pois acreditem, senhores: sabem quanto me vi numa situação mais relaxada quanto ao fato de ter feito uma boa escolha? Não duvidem! Foi ontem, quando vi, pela TV GLOBO, o anúncio da tal seguradora sobre a qual, nunca tinha ouvido falar antes.
Não tinha como não repartir esse fato aparentemente pouco valorizável. E não tinha por uma razão bastante simples: por ser ele revelador do tanto que somos formados pela mídia que nos circunda e invade nossas formas de pensar. Sem ser pretenciosa, mas, se, mesmo eu, dedicada, anos a fios, a estudar a nossa conformação à influência do que nos ensinam os chamados "mass media", vi-me diante de tamanha contradição, que dirá quem estuda outras áreas? Ou todos aqueles que pouco estudam, entregues que estão a obter o seu sustento diário nesta tão penalizadora e injusta sociedade?
Autocrítica é, assim, atitude a ser vivida por todos nós. Não nos enganemos! Ou será bem pior!
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
EXERCÍCIO DE BOA VONTADE
13/11/?
Tenho uma conhecida que sempre fala meio dura com o marido e em quem eu uma certa feita, já dei um puxão de orelha para que fosse mais suave com ele. Mas ela me corrigiu na hora e eu aprendi para sempre: "Com algumas pessoas, se a gente é afável, gentil, essa coisa toda, elas vêm com tudo e tentam nos submeter. Nem todo mundo sabe ser tratado em pé de igualdade. Homem por mulher, então, logo abusa, com licença, mas 'monta' na gente... Deixa comigo, que eu sei o que estou fazendo."
Hoje, um pouco mais cedo, foi dela que me lembrei quando, molhando as plantas do jardim, feliz da vida, toda borrocada de terra a água, dei com a minha acácia imperial, que já estava crescidinha, cortada a poucos centímetros do chão. Um mísero cotoco, com todo um tempo de cultivo jogado por terra. Foi de chorar! Meses, se não anos, esperando seu florescimento, seu espichamento a ponto de vir a distribuir seus cachos amarelos pendurados em beleza e charme, e me deparar com o novo tempo que terei que aguardar para que ela dê de si à nossa rua seu puro encantamento. Com certos vizinhos mais mal humorados, chego a pensar que tal engano não sucederia...
Haja reserva de bom humor e consciência de que "tudo vale a pena se a alma não é pequena" e mais uma dúzia e meia de ditos populares ou mais elaborados, filosóficos até, para não sucumbir e continuar a ser gentil com todos, até mesmo na hora de explicar a quem capou o arbusto que ingenuamente crescia, a diferença entre uma árvore belíssima, que se fazia como tal, de uma erva daninha que se espalha pelo chão.
Ô, ódio!
Mas, está bem! Já sei! Não sou uma ilha, vou me acalmar e pacificar meu coração. Isso não é nada. Não é nada mesmo! Nadica de nada!
Pensando melhor, acho que nem aconteceu! Foi ilusão der ótica.
13/11/?
Tenho uma conhecida que sempre fala meio dura com o marido e em quem eu uma certa feita, já dei um puxão de orelha para que fosse mais suave com ele. Mas ela me corrigiu na hora e eu aprendi para sempre: "Com algumas pessoas, se a gente é afável, gentil, essa coisa toda, elas vêm com tudo e tentam nos submeter. Nem todo mundo sabe ser tratado em pé de igualdade. Homem por mulher, então, logo abusa, com licença, mas 'monta' na gente... Deixa comigo, que eu sei o que estou fazendo."
Hoje, um pouco mais cedo, foi dela que me lembrei quando, molhando as plantas do jardim, feliz da vida, toda borrocada de terra a água, dei com a minha acácia imperial, que já estava crescidinha, cortada a poucos centímetros do chão. Um mísero cotoco, com todo um tempo de cultivo jogado por terra. Foi de chorar! Meses, se não anos, esperando seu florescimento, seu espichamento a ponto de vir a distribuir seus cachos amarelos pendurados em beleza e charme, e me deparar com o novo tempo que terei que aguardar para que ela dê de si à nossa rua seu puro encantamento. Com certos vizinhos mais mal humorados, chego a pensar que tal engano não sucederia...
Haja reserva de bom humor e consciência de que "tudo vale a pena se a alma não é pequena" e mais uma dúzia e meia de ditos populares ou mais elaborados, filosóficos até, para não sucumbir e continuar a ser gentil com todos, até mesmo na hora de explicar a quem capou o arbusto que ingenuamente crescia, a diferença entre uma árvore belíssima, que se fazia como tal, de uma erva daninha que se espalha pelo chão.
Ô, ódio!
Mas, está bem! Já sei! Não sou uma ilha, vou me acalmar e pacificar meu coração. Isso não é nada. Não é nada mesmo! Nadica de nada!
Pensando melhor, acho que nem aconteceu! Foi ilusão der ótica.
sábado, 11 de novembro de 2017
SOBRE PIMENTAS
11/11/?
Não dou mais conta de das repreensões alheias por me emocionar demais - e verter minhas baitas porções de incontidas lágrimas - diante das dores que estão no mundo. Que eu tenho que desligar a TV, não ler o Face, safar-me de algum modo da enxurrada de notícias fétidas, destrutivas, que não cessam de invadir meu cotidiano, que poderia ser menos sofrido. Que eu tenho que ter distanciamento, que eu não sou o outro, que eu tenho que encontrar algum recurso para me proteger da dor alheia, que eu gosto de sofrer, que não sou mais criança, que isto e aquilo, e tudo o mais. É só o que escuto.
Que mal há no fato das sensações entrarem e me tomarem por inteiro? Rir eu posso, à vontade em em bom som, mas chorar não? Por quê? Onde está escrito? Que lei restritiva é esta?
E eu argumento que sou feliz à minha moda, que viver intensamente um momento ruim não significa que sou mal humorada ou amarga. O fato de meu filho me flagrar, desencantada, vendo o vídeo mostrando a lindeza que era Bento Rodrigues antes de ser extirpada do mapa, não faz de mim um estandarte de tristeza e agonia.
Sou eu também que vivo com cores vivas e luminosas a vida que vai chegando com as suas boas novas. Como a notícia, trazida por Carlinhos, de que o pé de pimenta biquinho está carregadinho lá na horta. E eu desço e colho com as mesmas mãos que aqui dedilham estas contradições do viver.
Pimenta biquinho lá, pimenta biquinho cá. Creio ser melhor senti-las em sua doce-dura realidade, do que ir passando pelas veredas da existência sem provar seus sabores, e com vontade. Sofrer não é apenas dor e abandono. Como sorrir também não é o seu contraditório sem frestas que deixem passar a luz e sua ausência.
https://www.youtube.com/watch?v=g6yymyyoYNE
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
URGENTE! BOM CONSELHO, E DE GRAÇA!
9/11/2015
Impaciente, logo que Karla Faria acabou de ler o livro de Alain de Botton - "Notícias - Manual do Usuário" – da Intrínseca, que acabara de adquirir, peguei para ler e, já no Prefácio, fui ficando entusiasmada com a obra. E segui adiante, descortinando as páginas, suculentas, mas, eu mesma, sempre em conflito. Explico: o conflito entre ler – e ver contidas as minhas mãos ansiosas por grifar, anotar e rabiscar – e esperar o meu par de exemplares que havia encomendado na Saraiva, e poder escancarar a minha ânsia por deixar fluir meus comentários. O livro da amiga saciava a minha “neurose de urgência” de tomar contato com a obra, mas eu não podia devolvê-lo em petição de miséria, com rabiscos inteiramente oriundos de minha própria leitura. Nem Uzinha nem Irmã Zilda, dentro de mim, me permitiam tal invasão de território. Se eu haveria de reprimir as mãos para evitar a formação de qualquer orelha, que dirá distribuir grafismos feitos à mão para contrastar com as letras impressas de fábrica? Jamais!
Era tanta coisa a marcar e a me conclamar para colocar minhas setas indicativas da necessidade de voltar a ler, que nocauteei a minha ansiedade e resolvi aguardar a minha encomenda pelos Correios. Aquele não era um livro para ler apenas com os olhos sem movimentar minha mão certeira, deixando frases, parágrafos e palavras ilesos, sem nenhuma marquinha por mim determinada.
Devolvido o livro à sua legítima proprietária (outros leitores amigos aguardavam para também usufruir a leitura), aguardo mais um par de dias e retomo a minha veia leitora, agora de posse de minha fiel companheira lapiseira 0,5, grafite Mitsubishi 2B, prontinha para o diálogo com o que viesse dali de dentro daquelas sedutoras páginas em papel modernamente amarelecido. Abro numa página qualquer e dali mesmo volto a me deliciar com as lições do autor. Huuum, quase tão bom quanto o bolinho de aipim com camarão do “Ricardinho”. Ou brigando pelo empate com os frutos do mar na chapa do “Transa Louca”. Sorvido esse diminuto aperitivo que, por si só, já me abriu os olhos do entendimento para abrigar o que viria de novas informações, dou uma suspirada e retomo o livro do início. Seria melhor na ordem, na ordem do autor. Calma, Carmen, um passinho, depois outro, e vamos...
Nunca foi tão necessário ler a mídia e nos apropriarmos da compreensão de sua força em nos fazer pessoas (Isso mesmo! E viva Simone de Beauvoir quando anuncia ser a vida mesma a fazer as mulheres se tornarem mulheres! E não só elas, sabemos bem, todos os humanos!).
Não é por acaso que Alain de Botton precisa ser lido. E ele não traz novidades bombásticas e nem utiliza uma linguagem para estudiosos do assunto. Ele fala – e com exemplos – para o leitor comum, homens e mulheres que, por sua leitura, podem ver mais claramente o tanto que são assujeitados pelo poder midiático que lhes forma o pensar e o agir.
Não é por acaso que Alain de Botton precisa ser lido. E ele não traz novidades bombásticas e nem utiliza uma linguagem para estudiosos do assunto. Ele fala – e com exemplos – para o leitor comum, homens e mulheres que, por sua leitura, podem ver mais claramente o tanto que são assujeitados pelo poder midiático que lhes forma o pensar e o agir.
Só para abrir o apetite dos leitores, meus amigos, aqui estão três fragmentos que acabo de grifar para apreender bem no âmago – meu e da temática em si:
[...] “Hegel já dizia que as sociedades se modernizam quando o noticiário passa a ocupar o lugar da religião como principal fonte de orientação e como referência de autoridade.”[...]
[...] “Hegel já dizia que as sociedades se modernizam quando o noticiário passa a ocupar o lugar da religião como principal fonte de orientação e como referência de autoridade.”[...]
[Ele] abre mão de deixar claro que não se limita a informar sobre o mundo, pelo contrário: empenha-se o tempo inteiro em modelar um novo planeta em nossa mente, um que esteja de acordo com suas prioridades muitas vezes bem específicas.”[...]
[...] Uma vez concluída a educação formal, o noticiário é quem passa a nos ensinar. É ele que, sobretudo, dá o tom da vida pública e molda as impressões que temos da comunidade para além dos limites de nossa casa. É ele o grande criador das realidades política e social.” [...]
A leitura continua, com certeza, voltarei a comentá-la.
Mais uma vez, obrigada, Karlinha (Karla Faria)!
A incompletude do discurso
9/11/2016
Ok, já aprendi a duras penas que as palavras têm seus limites para expressar ideias e coisas. Um amigo falando daqui, uma circunstância acontecendo de lá, um sentimento abafado no meu próprio peito surgindo acolá ... e fui sendo obrigada a perceber que vocábulo algum, em certas situações, dá conta de expressar certos momentos da vida. Nem luto nem festa, vez por outra, encontra similar, no âmbito do discurso, para ser dito. Vive-se a emoção e pronto. Nada de querer traduzir. Às vezes torna-se inviável.
Morte de filho, não creio haver palavra alguma para traduzir. Decepção com amigo mais que querido, também não. Primeiro beijo na boca no homem amado, impossível! Há outros impedimentos, mas esses três já ilustram bem e sintetizam a minha impossibilidade de falar sobre alguns acontecimentos aportados ao meu viver.
Sobre a desilusão com a possibilidade de o mundo ser menos desastroso para todos, até tento falar, mas não me vejo atendida em minha intenção de expor meu sofrimento diante da cassação do futuro que vem-se processando. De todo modo, uma amiga, a grande Leinha, falou hoje uma pequena palavra que estou acreditando que se aproxima - até quase alcançá-lo - do meu estado d'alma no dia de hoje:
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
EUREKA
9/11/2016
Eureka! Acabo de descobrir uma maneira simples de entender o que uma pessoa é apenas captando com atenção o que ela diz. Vejam se não é simples: inverta a fala que escutou e terá, de maneira translúcida, o que o sujeito falante pensa e/ou verdadeiramente é. Vejamos: quando Fora Temer fala que os estudantes não sabem o que quer dizer PEC, ele está de fato dizendo vivamente que ele próprio não sabe quem são os estudantes. E isso é grave, bastante grave.
Eureka! Acabo de descobrir uma maneira simples de entender o que uma pessoa é apenas captando com atenção o que ela diz. Vejam se não é simples: inverta a fala que escutou e terá, de maneira translúcida, o que o sujeito falante pensa e/ou verdadeiramente é. Vejamos: quando Fora Temer fala que os estudantes não sabem o que quer dizer PEC, ele está de fato dizendo vivamente que ele próprio não sabe quem são os estudantes. E isso é grave, bastante grave.
Vou já começar a aplicar meu método, que está me parecendo bem interessante.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
ÁGUAS MALDOSAS
7/11/2016
Ando enjoada de mim. A repetição se tornou minha vestimenta de todo dia. Uniforme que não mais suporto vestir para proteger minha alma inquieta. É que nada mais faço do que olhar, ver e reclamar. Repudiar mesmo. A sensação é mais ou menos esta: parecia haver um contingente descomunal de maldades, todas elas comprimidas, enclausuradas – e por longo tempo – e eis que cada uma delas, por força de algum fenômeno surpreendente e preciso – dá de escapar de sua prisão imaginária e se lança país adentro, tomando orlas e interiores, planícies e pântanos, cidades e campos, mangues e morros, dia após dia, todas elas vorazes e sanguinárias. Desenfreadas.
Não há um dia sequer, de uns tempos pra cá, em que não sejamos tomados por algum nefasto sentimento diante de mais um horror, em geral lançado insensivelmente contra as pessoas menos aquinhoadas na escala social em que se postam, doloridamente assujeitadas.
Poucos são os políticos que escapam da pecha de oportunista, desonesto e aproveitador (pra dizer o mínimo), cujo compromisso, via de regra, se estabelece com o capital e contra os trabalhadores. Alguns, mais cínicos, até disfarçam, mas sempre se acovardam e votam mesmo em prol de si mesmos. Daí decorre a série de políticas, estratégias, medidas, vindas das várias instâncias e setores, sempre em prejuízo da maioria da população. Presas por longo tempo, parecem águas represadas saindo furiosas à cata de novas vítimas.
É inacreditável o rol de circunstâncias criminosas, truculentas, acirradoras de desigualdades que se vêm observando no país. Decretos, emendas, portarias, discursos, comissões, pecs, acordos e tudo o mais só fazem lançar mais e mais insegurança e perspectiva de vida com redução de direitos.
Cá de minha roça, vou me exasperando e não faço outra coisa a não ser repetir, e repetir e repetir falas pouco efetivas contra a insanidade de tudo isso. “Guento” mais não. Enjoei. Por inutilidade de minhas palavras. Mudanças? Estas virão mesmo - ardentes e produtivas - dos jovens, em luta. Que saibamos ser dignos coadjuvantes destes belos protagonistas!
7/11/2016
Ando enjoada de mim. A repetição se tornou minha vestimenta de todo dia. Uniforme que não mais suporto vestir para proteger minha alma inquieta. É que nada mais faço do que olhar, ver e reclamar. Repudiar mesmo. A sensação é mais ou menos esta: parecia haver um contingente descomunal de maldades, todas elas comprimidas, enclausuradas – e por longo tempo – e eis que cada uma delas, por força de algum fenômeno surpreendente e preciso – dá de escapar de sua prisão imaginária e se lança país adentro, tomando orlas e interiores, planícies e pântanos, cidades e campos, mangues e morros, dia após dia, todas elas vorazes e sanguinárias. Desenfreadas.
Não há um dia sequer, de uns tempos pra cá, em que não sejamos tomados por algum nefasto sentimento diante de mais um horror, em geral lançado insensivelmente contra as pessoas menos aquinhoadas na escala social em que se postam, doloridamente assujeitadas.
Poucos são os políticos que escapam da pecha de oportunista, desonesto e aproveitador (pra dizer o mínimo), cujo compromisso, via de regra, se estabelece com o capital e contra os trabalhadores. Alguns, mais cínicos, até disfarçam, mas sempre se acovardam e votam mesmo em prol de si mesmos. Daí decorre a série de políticas, estratégias, medidas, vindas das várias instâncias e setores, sempre em prejuízo da maioria da população. Presas por longo tempo, parecem águas represadas saindo furiosas à cata de novas vítimas.
É inacreditável o rol de circunstâncias criminosas, truculentas, acirradoras de desigualdades que se vêm observando no país. Decretos, emendas, portarias, discursos, comissões, pecs, acordos e tudo o mais só fazem lançar mais e mais insegurança e perspectiva de vida com redução de direitos.
Cá de minha roça, vou me exasperando e não faço outra coisa a não ser repetir, e repetir e repetir falas pouco efetivas contra a insanidade de tudo isso. “Guento” mais não. Enjoei. Por inutilidade de minhas palavras. Mudanças? Estas virão mesmo - ardentes e produtivas - dos jovens, em luta. Que saibamos ser dignos coadjuvantes destes belos protagonistas!
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