PENSAMENTO CRÍTICO OU RENDIÇÃO
16/11/?
(para uma conversa com amigos, principalmente Marisa Calheiros Alvarenga, Angela Siqueira e Ana Chrystina Mignot, que se manifestaram a respeito)
É bem verdade que os acontecimentos não devem ser aceitos sem questionamentos. Bem sei: nada é apenas o que aparenta ser. Mais ainda: é só buscarmos autores filiados a uma concepção histórico-crítica de construção do conhecimento que eles lá estarão a nos ensinar que algo pode haver subjacente àquilo que parece ser usual, natural, corriqueiro. Desconfiar, então, é prática do bem viver para não idealizar nem imaginar irrealidades e incompletudes. Esse é um método. Método que muitos de nós busca exercitar, que envolve a dialética e a busca da unidade entre a aparência e a essência.Tudo bem.
Mas, convenhamos, algo anda mudando e me intrigando deveras, em função das atuais circunstâncias, em se tratando da política nacional, já que o alcance e o volume das possibilidades de engodo tornaram-se descomunais. O que nos contarem de improbidade, corrupção e afins, em princípio, é recebido como uma verdade nua e crua. Estamos aportando a um modo extremado - conclusivo, derradeiro, inescapável - em nossa tentativa de olharmos criticamente as circunstâncias que se sucedem.
Ajudem-me a ver: é como se o olhar reflexivo não fosse para superar a aparência, mas para desmontá-la por inteiro. É como se estivéssemos acuados, num fim de linha, de encontro a um muro intransponível, sem saída, em estado de irrestrita desconfiança em relação a tudo. Tudo que sucede, em princípio, pode ser o seu oposto, pode não ser NADA daquilo que aparenta. Explico: para estarmos com nosso senso crítico aguçado, nada que venha a suceder não deve apenas ser complementado com um conhecimento mais aprofundado e amplo. A essência não é apenas uma outra dimensão a ser articulada com o que se constata de seu exterior formando uma unidade a traduzir uma realidade concreta. Não! A realidade visível seria de todo falsa. A “verdade” é o que ela esconde. É como se estivéssemos pondo abaixo o diálogo entre o que é o que aparenta ser. Como se estivéssemos acatando o rompimento de vínculos entre objetividade e subjetividade.
Por que tais elucubrações? Por nada além do que eu mesma penso e do que ando lendo aqui – diante da prisão de Garotinho e Cabral, cá estamos, muitos de nós, intrigados, querendo entender, mais do que indícios do que parece ser, o que ela não é. Temo, de verdade, estarmos reféns de um modo de ver e entender os fatos que nos aprisiona.
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