ESTRANHA
NO NINHO
ESTRANHA NO NINHO
(Escrito em junho de 2014)
Desta
vez não tem escapatória, Babu, minha
querida francesinha amiga – que ainda está por concluir seu belo período de
infância – vai desistir de mim de vez, como sua pupila, e sem dó nem piedade.
Minha glória de ser a tia Carmita do coração creio que se fez em pedaços. Não é
de hoje que em nossas conversas habituais, quando me alegro com sua presença
aqui em casa, ela tece “conselhos” e ponderações sobre a necessidade de eu me
entregar menos sazonalmente a programas outros que não sejam o
meu insaciável gosto por ficar em casa. Certamente são ideias saídas de seu
espírito cosmopolita, ela que é filha de pai francês, avó espanhola e que tem alguns
parentes brasileiros a lhe dar mais um colorido especial em seu tão singular
jeito de linda menina cheia de graça e pendores.
Suas
sábias ponderações sempre foram no sentido de que rua, viagens, restaurantes, o
"fora de casa" tem riquezas tais que cada um de nós só tem a crescer
à medida que se lança ao mundo. Ela e eu, nesse tipo de conversa, vivemos a
mais pura inversão de papeis, ela sempre muito mais voltada para coisas do
mundo exterior, e eu, certamente saciada por tantas andanças já cumpridas quando
mais jovem, hoje adepta do meu conhecido recolhimento, até mesmo por minha
opção de viver tão distante, em minha casa cá na estrada.
Por tudo isso, quando Babu
souber o que sucedeu ontem comigo vai sentir a inutilidade de suas ponderações.
É que, ao me ver cruzar o portão do condomínio, a pé, eu que vim de ônibus do
centro da cidade, o porteiro veio em meu encalço para que eu me identificasse,
sem me reconhecer como moradora daqui há quase 10 anos. Não vai dar outra: Babuzinha
vai supor que eu passar pela portaria é fato tão raro que tal situação se tornou
possível de ter acontecido, eu tida e havida como visitante do lugar onde vivo.
Até agora estou boquiaberta.
De minha parte, já criei minha defesa e com ela estarei a esperar minha hóspede
tão especial em sua próxima vinda por estas bandas de Itaipu. Só posso crer que
a pé eu sou tão diferente que, caminhando, o porteiro não viu em mim a mesma
Carmen que costuma passar de carro e dar um baita sorriso e um adeusinho para
quem está de plantão. Sou caseira de fazer gosto, é verdade, mas não a ponto de
me tornar uma ilustre desconhecida em meu território mais que familiar. Pelo
menos, era no que acreditava...
Sem dúvida: essa é uma
daquelas histórias que só acontecem comigo...e venham me dizer se não é
inacreditável.
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