terça-feira, 29 de novembro de 2016


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CONVERSINHA ALHEIA
(Escrito em 28/11/2016)
No ônibus, caio na besteira - costumeira, bem sei, sou reincidente - de escutar conversa alheia. De mim pra mim mesma, tento me prevenir de que aquilo não iria dar certo - serviria apenas pra cronicar, tudo bem, mas traria junto alguma aporrinhação. Vou ouvir, não vou poder me metidar (como dizia Mari em pequena), vou acabar tomando contato com o que não quero e ficar sem poder dar vazão às "minhas certezas" (Ah, como as tenho!). Mas, não teve jeito, não abri o livro que levava e, curiosa, sonsa, com cara de paisagem, vi que algo interessante vinha da poltrona de trás...
Isto mesmo, o papo ia animado entre duas senhoras e não deu outra: a da esquerda, lá pelas tantas, após reclamar bastante da vida e do Brasil, vira-se para a outra, do lado, e se sai com esta "... é, eu creio mesmo que acabamos trocando seis por meia dúzia tirando Dilma da presidência."
Flechada no coração! Ai, que dor!
Era isso mesmo, a presidente Dilma sendo comparada com o "profissa" temer, o qual, dia destes, só pra lembrar seu estilo e valores, elogiou o Geddel como excelente político? Em que matemática corrompida Dilma pode equivaler a um Temer? Que erro de cálculo é esse? Se essa criatura projeta um prédio, ele cai por erro crasso na quantificação dos materiais de sustentação.
Claro!, comigo também não deu outra: primeira pontada no peito, primeira agonia pelo silêncio forçado a ser providenciado, primeira - e forte - impaciência. Juro que forço minha natureza para ser tolerante, compreensiva, bondosa e tudo o mais ligado às boas normas de um convívio domesticado e preservador de sorrisos, mesmo que amarelados diante dos outros. Mas, sou fraca. Nem sempre dou conta da tarefa.
Fiquei tão embasbacada que ensurdeci. Sei apenas que a outra moça fez silêncio. Mas não sei qual silêncio, se acompanhado de qual gesto ou trejeito facial... A história parou por aí. Entreguei-me a mim mesma e às minhas conjecturas.
Pior pra mim. Castigo. Será que um dia aprendo? Por que não abri o livro e me dei ao prazer de com ele me abster do que vai ao redor? Quem sabe até me emocionar com o que diz Freud sobre os sonhos e esquecer esta mania de antropóloga de meia tigela, bisbilhoteira, isso sim, que fica, em tudo e por tudo, querendo extrair a dimensão política e estratégias que façam avançar a transformação social...?






MEU BOM LUGAR
(Escrito em 28/11/2016 – no dia seguinte do almoço na casa de Claudia e Helinho, no Rio)
Particularmente para todos os integrantes da DELBONZADA e muito especialmente para Claudia Barros Delbons que foi a responsável por nosso encontro de ontem - pessoa em quem me espelho em minha vontade de ser melhor: insuperável em sua arte, generosa ao extremo, bonita no sentido mais amplo do termo.
Com esta família aprendo cada dia com maior emoção o sentido de FRATERNIDADE como um bem valioso, aprimorador de minha humanidade. Não no sentido alienado de família que se fecha e só seus membros são os eleitos. Nem no sentido de uma juntada de pessoas iguais, carregadas de afinidades e por isso acarinhadas entre si. Família, SIM, no sentido de sermos amorosos em virtude de nossas parecenças e apesar de nossas diferenças. Família que secundariza qualquer dessemelhança e aposta no afeto, no toque, na atenção, na fraternidade. O que vale é o amor que nos une. Este é o valor maior. Nada mais importa.
Minha adorada irmã dindinha Nilza e meu saudoso cunhado Helio Delbons puseram no mundo uma prole adorável que vem agregando outras pessoas iluminadas que, por sua vez, vem-se desdobrando em pessoinhas do bem, que se juntam a outras que de modo idêntico vão-se tornando amigas e gostando da alegria que temos conosco ao nos encontrar. Só de gente bem miúda hoje temos 7 lindas criaturinhas que ontem alegraram o ambiente. Houve até estacionamento improvisado de carrinho de bebê à porta do apartamento.
Tenho orgulho de ser a "matriarca" deste grupo de pessoas tão incríveis. Um Natal antecipado de trocas afetivas das mais saborosas. Eu, de minha parte, à moda de papai, alisei cada um, afaguei rostos e deles todos recebi, como de praxe, afagos e mais afagos que hoje estão aqui comigo me sustentando na semana que se abre.

NOVO EMPREENDIMENTO ACEITA SÓCIOS! CORRAM QUE O NEGÓCIO É BOM!
(Necessária explicação prévia: este texto - cinismo no mais elevado grau - foi escrito em 2013. Hoje, 2015, o encontrei e creio ser adequado ao momento. Estarei enganada?)


(Escrito em 29/11/2013)
É, não tem jeito mesmo, é começar a ler os jornais do dia e ver brotar a mais agoniada das agonias, não só pelos fatos narrados como por sua interpretação estampada nas páginas do diário. Algo tem que ser feito senão o coração explode! Uma ação política precisa ser empreendida com urgência! Senão, é desistir, e nunca é o caso de desistir, concordam?
Buscar a alienação de tudo, criando uma igreja, e ainda aproveitar dos benefícios fiscais de que gozam, inaugurando mais uma das dezenas delas que vejo aqui perto de casa, não entusiasma o coração. Nem coça o coração, tal possibilidade só surge mesmo, jocosamente, para dar início a este texto. Essa não é mesmo minha praia, nem se fosse a Igreja da Homenagem Eterna a Irmã Zilda, única freira de quem me recordo com profunda emoção quando me lembro dos tempos do Auxiliadora. Nem essa igreja não dá.
Qual saída, então? Há de haver! Só lutar com as palavras é pouco, pouco demais! Ah, já sei, vou entrar na onda das ONGs e terceirizações e criarei uma empresa pronta para fazer agitações sociais, diante dos absurdos do cotidiano. Reunirei todos os antigos militantes do movimento sindical e do sonho de se construir a sonhada sociedade dos iguais e lá iremos nós. A turma está mesmo quase toda aposentada, com tempo, e, claro!, com ainda caudalosas doses da mesma esperança, e lá iremos nós. Anunciamos aqui mesmo no Face e, pronto, iremos à luta.
Qual é o problema? Menina estuprada no Leblon? É só ligar que a gente vai pra lá. Ou é dar força ao governo argentino contra o El Clarin? Também topamos. O sucesso vai ser tão grande que dará até para uma viagenzinha a Buenos Aires, de quebra, o que é ótimo, porque militante agitador também tem bom gosto... Também podemos ir até são Gonçalo protestar contar a comida podre oferecida aos moradores do Bumba, ainda sem nenhuma proteção, acolhidos num Batalhão da Polícia... ou... ou...
Vida torta à procura de solução é que não falta. E uma EMPRESA DE AGITAÇÃO E PROTESTO pode ser uma boa. Agitação é conosco mesmo! Eu, que sou boa de escrita, até produzo panfletos. E veementes!
Vamos lá, companheiros? Estou aceitando sócios. O negócio é garantido! A vida nos contratará, com certeza. Se a rua murchou e se tudo está cada vez mais aviltante, vamos ganhar dinheiro com isso. Ou nascemos mesmo para sermos gauche na vida e nem para isso o capitalismo vai nos beneficiar? Será?


domingo, 27 de novembro de 2016

Pra Uzinha
(Escrito em 27/11/2014)

Campos, em uma semana, a segunda vinda. O fim das coisas. O fim das histórias. O fim das pessoas. Este, sim, o que traz a marca do fim derradeiro e corrosivo. As coisas que findam abrem frestas para o que virá. As histórias, por sua vez, quando esgotadas e sugadas até o último caldo, já grosso de tantos resíduos esparramados no fundo da alma, libertam aquele que as sonhou diversas do real. Ah, mas o fim das pessoas amadas, ah, esse, sim, sempre escurece o olhar, recolhe a alegria e deixa dolorido o corpo que pressente tempos de saudade.
Minha irmã, aquiete-se! Desfranza a testa. Durma em paz. Sonhe com todas as boas obras que você espalhou em sua vida. E, sem alarde, até mesmo por sua conhecida timidez. A sua imagem e a sua história são muito maiores do que o seu corpo miúdo que dormitava, cansado, hoje, naquela cama de hospital.
Até amanhã!



terça-feira, 22 de novembro de 2016


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UM NOVO ESCAMBO À VISTA
(Escrito em 21/11/2016)




Aviso meu, particular, aos cientistas de plantão: talvez seja preciso mudar alguns estudos sobre nossas necessidades humanas. É que viver está tão difícil que amigo pra gente conversar está se tornando necessidade primária, junto com o rol das nossas premências fisiológicas de respirar, comer, dormir, o basicão. Sei não, mas parece estar se aproximando um tempo em que vai ter ser humano trocando um bom prato de cuzcuz marroquino bem incrementado por 4 dedos de prosa com algum amigo do peito... Se houver vinho de acompanhamento, pode ser que o escambo envolva confidências mais agudas e avassaladoras. Estou rindo, mas é de chorar...

VALEI-ME!

(escrito em 21/11/2016, a propósito da notícia de que o BB vai fechar 402 agências e aposentar 18 mil funcionários))

Diria mamãe em alto e bom som: "Nossa Senhora da Penha!!!!", que era a sua maneira de se expressar quando tomava um susto. Ao ler esta matéria sobre o Banco do Brasil, a comprovar a influência da linguagem na formação de minha/nossa própria maneira de usar a língua, também sou compelida a dar meu gritinho religioso: "Virgem Santa!" (O VIRGEM é meio bandeiroso, bem sei, aí já fruto de influências da fase adolescente de "meu hímen incólume por um casamento de véu e grinalda!"). Nota de rodapé: só em ler isso, a vontade é mesmo de gritar "Virgem Santa, que asneira!"
Mas, o impulso é mesmo o de apelar por algum santo milagreiro que possa nos acudir diante da tragédia iminente. O Banco do Brasil sendo destruído? A vitória dos bancos privados? Deus meu: pelo andar da carruagem, o que os ricos do Planeta vão fazer sozinhos? Vai ser tudo mecanizado... e eles farão o quê?





BERLINDA POLÍTICA
(Escrito em 21/11/2016)
Um diz que se Garotinho fosse inocente teria galhardia e não espernearia como esperneou, covardemente, na maca. Outro vem e diz que se aquele espetáculo fosse honesto, se fosse assim, a altivez do Eduardo Cunha não se faria, pois ele esteve aparentando a maior tranquilidade sendo conduzido pelos policiais. Vem um terceiro e diz que não é nada disso: que o cara esperneia porque estava totalmente incrédulo e nunca imaginou que o seu poder desabaria. Um quarto chega e diz que a tranquilidade não tem nada a ver com dignidade, pelo contrário, é a prova cabal de que o larápio sabe que será solto logo, logo e que seus dinheiros tantos os tirarão daquela dificuldade momentânea. Aí vem um quinto e arremata:
- "Ô pixotada, meninos e meninas, deixem de especular sobre o outro. Deem adeus às certezas. Tudo é possível e nada é uma coisa só. Deixem de lado essas baboseiras. Enquanto vocês se distraem com todo este espetáculo, a realidade caminha a passos largos para algo com cheiro, cor, som e gosto de barbárie... Mais vale reunir os amigos e os nem tanto (os que têm afinidade de querer um mundo menos doentio) para debater, olhos nos olhos, a parte que nos cabe neste latifúndio, pois o mundo  está descarrilando..."





PENSAMENTO CRÍTICO OU RENDIÇÃO
                                                      (Escrito em 17/11/2016)
(para uma conversa com amigos)
É bem verdade que os acontecimentos não devem ser aceitos sem questionamentos. Bem sei: nada é apenas o que aparenta ser. Mais ainda: é só buscarmos autores filiados a uma concepção histórico-crítica de construção do conhecimento que eles lá estarão a nos ensinar que algo pode haver subjacente àquilo que parece ser usual, natural, corriqueiro. Desconfiar, então, é prática do bem viver para não idealizar nem imaginar irrealidades e incompletudes. Esse é um método. Método que muitos de nós busca exercitar, que envolve a dialética e a busca da unidade entre a aparência e a essência.Tudo bem.
Mas, convenhamos, algo anda mudando e me intrigando deveras, em função das atuais circunstâncias, em se tratando da política nacional, já que o alcance e o volume das possibilidades de engodo tornaram-se descomunais. O que nos contarem de improbidade, corrupção e afins, em princípio, é recebido como uma verdade nua e crua. Estamos aportando a um modo extremado - conclusivo, derradeiro, inescapável - em nossa tentativa de olharmos criticamente as circunstâncias que se sucedem.
Ajudem-me a ver: é como se o olhar reflexivo não fosse para superar a aparência, mas para desmontá-la por inteiro. É como se estivéssemos acuados, num fim de linha, de encontro a um muro intransponível, sem saída, em estado de irrestrita desconfiança em relação a tudo. Tudo que sucede, em princípio, pode ser o seu oposto, pode não ser NADA daquilo que aparenta. Explico: para estarmos com nosso senso crítico aguçado, nada que venha a suceder não deve apenas ser complementado com um conhecimento mais aprofundado e amplo. A essência não é apenas uma outra dimensão a ser articulada com o que se constata de seu exterior formando uma unidade a traduzir uma realidade concreta. Não! A realidade visível seria de todo falsa. A “verdade” é o que ela esconde. É como se estivéssemos pondo abaixo o diálogo entre o que é o que aparenta ser. Como se estivéssemos acatando o rompimento de vínculos entre objetividade e subjetividade.
Por que tais elucubrações? Por nada além do que eu mesma penso e do que ando lendo aqui – diante da prisão de Garotinho e Cabral, cá estamos, muitos de nós, intrigados, querendo entender, mais do que indícios do que parece ser, o que ela não é. Temo, de verdade, estarmos reféns de um modo de ver e entender os fatos que nos aprisiona.


SOU, MAS QUEM NÃO É?
(Escrito em 14/11/2014)
Ando invocada com uma situação que me coloca, se não como a mais pretensiosa das criaturas, como uma das candidatas mais sérias ao título. É que cismei que, como maneira de dar conta de minha vasculhação interior - que, diga-se de passagem, é um misto de doce amargura e de amarga doçura -,escrever vem sendo a receita certa para refazer tecidos, carnes e outras partes, tudo lá de dentro, de todo tipo de textura e consistência. Transformada numa prática interminável e em níveis cada vez mais aprofundados de localização de vestígios e descosturas -, a escrita de coisas e mais coisas que se abastecem de minha cotidianidade tem sido a minha mais nova paixão, a única que substituiu a anterior, que era de gente pra gente e não intracorpórea.
Mas, o estranho e o que poderia caracterizar minha porção pretensiosa que anunciei ali atrás não se liga a essa minha mais nova e deliciosa paixão. O que me faz questionar-me a mim mesma - e neste espaço público ao infinito - é justamente o fato do lugar de meus expurgos ser este aqui, com certeza, à primeira vista, pelo menos, mais público do que o usual. Aí é que vem o xix da questão: tenho a pretensão de, num mundo onde nem sempre é dada oportunidade para as pessoas se perceberem com maior nitidez, muitas vezes enganando-se a si próprias, mesmo sem a menor intenção, quanto às suas formas de ser e agir (em geral, a contradição, a maldade, a birra ou os equívocos estão no OUTRO, não em si próprias), tenho a pretensão de, expondo minhas mazelas, ajudar os demais a se olharem com mais senso. E, caminharem adiante em função de suas releituras, como eu própria faço em relação às escritas de que me sirvo sobre o meu percurso... Isso é o pretensioso. Isso é que talvez fosse dispensável. Mas quem disse que dele consigo abrir mão? Vejo-me acometida de uma imperiosa ordem interior de entender que, falando de mim, possa educar pelo exemplo. Pretensão da grossa mesmo! Só não me sinto de todo num pedestal, pois a forma de fazer a pretensa ação educativa custa-me postar-me numa posição de humildade de quem aponta a si própria, escarafuncha suas próprias dores, falando de suas penas e inseguranças. Assim é que, feito esse acordo interior, tranquilizo-me, considero o jogo como que empatado, abastecendo-me da necessária tranquilidade para seguir adiante. Colocando em cena a humildade, a pretensão pode vir a público sem que muitos dedos em riste surjam em minha direção (Espero!).
Feito todo esse preâmbulo justificatório, anuncio a mazela do dia, para que reflitam sobre ela. É que acabo de fazer o seguro do carro, como a cada ano sucede, ininterruptamente. O corretor me apresenta uma nova seguradora e eu, mesmo considerando sua opinião, sinto-me insegura. Aceito, pago, mas com um certo desconforto interior. Jogo feito totalmente no escuro. Pois acreditem, senhores: sabem quanto me vi numa situação mais relaxada quanto ao fato de ter feito uma boa escolha? Não duvidem! Foi ontem, quando vi, pela TV GLOBO, o anúncio da tal seguradora sobre a qual, nunca tinha ouvido falar antes.
Não tinha como não repartir esse fato aparentemente pouco valorizável. E não tinha por uma razão bastante simples: por ser ele revelador do tanto que somos formados pela mídia que nos circunda e invade nossas formas de pensar. Sem ser pretenciosa, mas, se, mesmo eu, dedicada, anos a fios, a estudar a nossa conformação à influência do que nos ensinam os chamados "mass media", vi-me diante de tamanha contradição, que dirá quem estuda outras áreas? Ou todos aqueles que pouco estudam, entregues que estão a obter o seu sustento diário nesta tão penalizadora e injusta sociedade?
Autocrítica é, assim, atitude a ser vivida por todos nós. Não nos enganemos! Ou será bem pior!


Leandro Konder em meu mural de fotos na estante

LEANDRO
A admiração sempre foi tanta que mantenho sua foto colada do lado da estante, compondo o mural de imagens de quem quero ter por perto. Nem é preciso olhar sempre, é estar ali, junto com o antigo terapeuta, com papai, com a amiga de infância, com os argentinos a quem reverencio - o pai de meus filhos e o especialíssimo Francisco - e mais umas tantas pessoas que gosto que componham o meu cenário cotidiano.
Leandro, pra mim, pelo menos, vida eterna é isto: é continuar a ter você vivo, como perene referência para nos recordar que podemos ir além, sem desistirmos de um mundo solidário e humanizado. Você continuará conosco, como pessoa totalmente indispensável, pelo que emana de suavidade de sua imagem em foto e de consistência de sua vasta obra.
Hoje é dia de escarafunchar gavetas para reencontrar seus artigos, com certeza, amarelados pelo tempo e repleto de meus grifos, sempre feitos a lápis, para me recordar do que não deve ser deixado de lado, na feitura incessante de minha humanidade.
Obrigada por tudo e um abraço apertado para Cristina.
DO LADO DE CÁ
(Escrito em 13/11/2016)
Contrastando com a chuva lá de fora, um sol luminoso esparge futuro - de dentro de mim para o mundo todo: nossos meninos e meninas estão acendendo a vida de maneira candente, promissora, alcançando e aquecendo cada qual em suas necessidades. Vamos ouvi-los e dar-lhes o apoio fraterno e firme de que necessitam. Estejamos com eles!
Se sobre eles pouco somos informados, cavemos informações sobre a luta que empreendem. Não é porque não a vemos nem nos contam sobre ela que ela não existe. Ela está viva, renhida, ampla.
Nossos algozes não passarão! A luz da juventude - aqui incluída a da parcela de pessoas maduras jovens de espírito, por suposto - é intensa e tem bons efeitos para todos nós. Sirvamo-nos de esperança e de LUTA à vontade!


A MORTE
(Escrito em 21/11/2014, quando Roberto faleceu)
O amigo de juventude, mais um, encerra seu ciclo de vida. Esse era particularmente próximo, não de toques e falas muito rotineiras, vivíamos distantes um do outro, mas sempre acompanhávamos nossos roteiros por meio de amigos comuns, e, quando nos víamos, era sempre uma alegria renovada.
Não fiquei triste quando soube. Tinha notícias de seu sofrimento e esperava mesmo que seu final fosse o menos dolorido possível. A dor sempre tem um apelo frontal em relação a mim, me atinge e me tonteia. Morrer, sim. Mas, sofrer morrendo de dor? Melhor, não.
Já até conversei com os filhos, um dia desses retomei a possibilidade de eutanásia, como uma solução para aliviar qualquer dor que venha a se mostrar além da conta em minha vida neste futuro que não tem data de término nem forma de chegar ao fim, como bem sabemos. Mas, já é conhecido, aqui em casa, é como um vício, tudo acaba em graça... E o filho, sempre irreverente e piadista, alegou, em contrário: “Mãe, aqui em casa, como as coisas são meio às avessas, qualquer injeçãozinha mortal que eu venha a aplicar em você, pode não dar certo...” . E eu: “Nem me fale, meu filho, a química do tal líquido, ao se ver em contato com o meu emaranhado interno, perdidinha da silva, pode me dar uma reanimada que eu fique aqui mais uns 200 anos, sozinha, zanzando,sem mais ninguém de amigo para papear... Isso, sim, seria a morte!”
O fato é que quando a morte se aproxima, nos belisca de perto, como no dia de hoje, volto sempre ao começo: como seria melhor acreditar que as coisas não cessam com a morte. Como são felizes aqueles que creem que haverá um reencontro, seja onde for, no “céu” ou numa nova vida em novas carnes e ossos.
Para mim, especialista em não-saberes, que nada sei sobre muitas e muitas coisas, e, especialmente sobre este drama humano de saber-se finito, a minha própria morte não me deixa triste nem apreensiva. Virá e pronto! E acabará por completo com o que pudemos ser enquanto tivermos sido. Nada mais depois. Vida eterna? Qual nada! Nos textos não existem os pontos e os pontos finais? Na vida também, por que não? Quando todos os parágrafos acabam de ser escritos e foi dada a conclusão da narrativa, a história se acaba e, aí, não tem jeito, é ponto final. Desde sempre, para sempre. Desde o não-início dos tempos, até o não-final dos tempos... Isso, sim, não tem letra maiúscula, por falta de início, e nem ponto final por total ausência de fim.

Roberto, meu amigo, sua eternidade, para mim, são as lembranças que guardo de sua figura impar e adorável. Seus amigos estão um pouco menores com a sua ausência. Você bem sabia o quanto era querido! Que sua partida nos traga lições, nos faça mais tolerantes, mais humildes, menos presunçosos diante de nossa extrema insignificância. Que um dia acaba, sem dó nem piedade.
NOVA ÉTICA TEMERÁRIA
(Escrito em 21/11/2016 - Historinha criada para deixar bem clara a nova ética do governico fora temer - Se o ministro Geddel propôs uma ação ilícita ao outro, não tem problema. Teria apenas se quem recebeu a proposta tivesse aceito. Não aceitando, o autor da proposta é inocente)
  
- Alô! Manel! Tudo em paz por aí?
- Sim. Tranquilo.
- Ó, Manel, meio desagradável, mas sua mulher me cantou hoje lá no trabalho. E insistentemente. Queria porque queria sair comigo para irmos a um motel agora à tarde. Muito chato, companheiro. Sempre a tive como amiga e hoje resolveu se declarar a mim, a dizer que tem uma paixonite aguda há tempos pelo velho aqui.
- E você? Topou? O que você fez diante disso, meu amigo?
- Eu? Nada. Saí fora. E vim ligar para você. Não quero nada com ela, não. Tá doido?
- Então, está tudo certo. Vc não caiu no jogo de sedução dela, está tudo perfeito. Podemos marcar um chopp juntos, os três. Topa? Ou você prefere deixar de ser meu amigo? Se você ficou constrangido, pode romper comigo. Prefere?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

SOMOS TODOS NINGUÉM, ISSO, SIM!
(Escrito em 14/11/2014)

11 da manhã! Acordar a essa hora é fato raro. Compensação do corpo para a noite insone diante da televisão e da incessante procura de algo, até mesmo aqui, algo que me desse alguma sustentação emocional, política, humana para olhar o horror, com algum instrumento capaz de clarear o primeiro passo a ser projetado como capaz de superá-lo.
Nunca pensei que a Matemática aprendida no Calomeni, aquelas operações iniciais mesmo, fossem necessárias para comparações esdrúxulas sobre o tamanho das desgraças, perdas, mortes. O maior número, a quantidade mais danosa é a da morte de um Rio ou de pessoas? Animais contam? A relação é de 1 por 1? Ou animal é uma fração ordinária de um ser humano? E um rio, sobre ele o resultado do desastre deve ser buscado em proporção geométrica? Ou temos que elevar a alguma potência o número de perdas? Raiz quadrada de quê? Ou de quem? É caso de somar ou dividir? Multiplicar ou subtrair?
O fato é que ficamos aqui, desatinados, mantendo-nos no mesmo, como se algo fosse alterar a nossa incapacidade diante do horror. Catar a notícia de que soubemos mais da morte dos mineiros chilenos do que do povo mineiro - eu até compartilhei - mas é pura perda de tempo. Ou a hora é de vermos se valem mais as mortes do Primeiro Mundo, sob os efeitos luminosos da Torre, ou aquelas que foram acimentadas a ferro e lucro na adorável Mariana em seu pedaço de menor prestígio? A que nos levam tais cálculos?
Matemática mal aplicada essa! Tal comparação - ou as que vierem! - não servem pra nada. Perda de tempo. Distração e desvio de foco! Na melhor das hipóteses (ou na mais ingênua e enganadora) cumprem apenas o papel de nos iludir de que nosso tempo está sendo bem empregado, anunciando e disseminando nossa consciência quanto à perversidade do Capital! Ai, ai, ai... Somos os maiorais! Disseminamos consciência e informação!
Ledo engano, caros humanos de plantão! Estamos é desprovidos de trilhas! A lama fez um caminho morto. Duro. As explosões escureceram também os caminhos pelo ar. Cegueira. Aqui e bem longe.
Bem já aprendi que para caminhar é preciso a incerteza de, por uma fração de segundos, contar com o apoio de apenas um dos pés no chão. Mas, sim!, e o que se projeta, o pé revolucionário, o que não me deixa paralisar, o que ousa e segue, me digam, pelo amor dos homens e de todas as mulheres: lanço-o em qual direção?


SOU, MAS QUEM NÃO É?
(escrito em 14/11/2014)
Ando invocada com uma situação que me coloca, se não como a mais pretenciosa das criaturas, como uma das candidatas mais sérias ao título. É que cismei que, como maneira de dar conta de minha vasculhação interior - que, diga-se de passagem, é um misto de doce amargura e de amarga doçura -,escrever vem sendo a receita certa para refazer tecidos, carnes e outras partes, tudo lá de dentro, de todo tipo de textura e consistência. Transformada numa prática interminável e em níveis cada vez mais aprofundados de localização de vestígios e descosturas -, a escrita de coisas e mais coisas que se abastecem de minha cotidianidade tem sido a minha mais nova paixão, a única que substituiu a anterior, que era de gente pra gente e não intracorpórea.
Mas, o estranho e o que poderia caracterizar minha porção pretenciosa que anunciei ali atrás não se liga a essa minha mais nova e deliciosa paixão. O que me faz questionar-me a mim mesma - e neste espaço público ao infinito - é justamente o fato do lugar de meus expurgos ser este aqui, com certeza, à primeira vista, pelo menos, mais público do que o usual. Aí é que vem o xix da questão: tenho a pretensão de, num mundo onde nem sempre é dada oportunidade para as pessoas se perceberem com maior nitidez, muitas vezes enganando-se a si próprias, mesmo sem a menor intenção, quanto às suas formas de ser e agir (em geral, a contradição, a maldade, a birra ou os equívocos estão no OUTRO, não em si próprias), tenho a pretensão de, expondo minhas mazelas, ajudar os demais a se olharem com mais senso. E, caminharem adiante em função de suas releituras, como eu própria faço em relação às escritas de que me sirvo sobre o meu percurso... Isso é o pretencioso. Isso é que talvez fosse dispensável. Mas quem disse que dele consigo abrir mão? Vejo-me acometida de uma imperiosa ordem interior de entender que, falando de mim, possa educar pelo exemplo. Pretensão da grossa mesmo! Só não me sinto de todo num pedestal, pois a forma de fazer a pretensa ação educativa custa-me postar-me numa posição de humildade de quem aponta a si própria, escarafuncha suas próprias dores, falando de suas penas e inseguranças. Assim é que, feito esse acordo interior, tranquilizo-me, considero o jogo como que empatado, abastecendo-me da necessária tranquilidade para seguir adiante. Colocando em cena a humildade, a pretensão pode vir a público sem que muitos dedos em riste surjam em minha direção (Espero!).
Feito todo esse preâmbulo justificatório, anuncio a mazela do dia, para que reflitam sobre ela. É que acabo de fazer o seguro do carro, como a cada ano sucede, ininterruptamente. O corretor me apresenta uma nova seguradora e eu, mesmo considerando sua opinião, sinto-me insegura. Aceito, pago, mas com um certo desconforto interior. Jogo feito totalmente no escuro. Pois acreditem, senhores: sabem quanto me vi numa situação mais relaxada quanto ao fato de ter feito uma boa escolha? Não duvidem! Foi ontem, quando vi, pela TV GLOBO, o anúncio da tal seguradora sobre a qual, nunca tinha ouvido falar antes.
Não tinha como não repartir esse fato aparentemente pouco valorizável. E não tinha por uma razão bastante simples: por ser ele revelador do tanto que somos formados pela mídia que nos circunda e invade nossas formas de pensar. Sem ser pretenciosa, mas, se, mesmo eu, dedicada, anos a fios, a estudar a nossa conformação à influência do que nos ensinam os chamados "mass media", vi-me diante de tamanha contradição, que dirá quem estuda outras áreas? Ou todos aqueles que pouco estudam, entregues que estão a obter o seu sustento diário nesta tão penalizadora e injusta sociedade?
Autocrítica é, assim, atitude a ser vivida por todos nós. Não nos enganemos! Ou será bem pior!

domingo, 13 de novembro de 2016




EXERCÍCIO DE BOA VONTADE

Tenho uma conhecida que sempre fala meio dura com o marido e em quem eu uma certa feita, já dei um puxão de orelha para que fosse mais suave com ele. Mas ela me corrigiu na hora e eu aprendi para sempre: "Com algumas pessoas, se a gente é afável, gentil, essa coisa toda, elas vêm com tudo e tentam nos submeter. Nem todo mundo sabe ser tratado em pé de igualdade. Homem por mulher, então, logo abusa, com licença, mas 'monta' na gente... Deixa comigo, que eu sei o que estou fazendo."
Hoje, um pouco mais cedo, foi dela que me lembrei quando, molhando as plantas do jardim, feliz da vida, toda borrocada de terra a água, dei com a minha acácia imperial, que já estava crescidinha, cortada a poucos centímetros do chão. Um mísero cotoco, com todo um tempo de cultivo jogado por terra. Foi de chorar! Meses, se não anos, esperando seu florescimento, seu espichamento a ponto de vir a distribuir seus cachos amarelos pendurados em beleza e charme, e me deparar com o novo tempo que terei que aguardar para que ela dê de si à nossa rua seu puro encantamento. Com certos vizinhos mais mal humorados, chego a pensar que tal engano não sucederia...
Haja reserva de bom humor e consciência de que "tudo vale a pena se a alma não é pequena" e mais uma dúzia e meia de ditos populares ou mais elaborados, filosóficos até, para não sucumbir e continuar a ser gentil com todos, até mesmo na hora de explicar a quem capou o arbusto que ingenuamente crescia, a diferença entre uma árvore belíssima, que se fazia como tal, de uma erva daninha que se espalha pelo chão.
Ô, ódio!
Mas, está bem! Já sei! Não sou uma ilha, vou me acalmar e pacificar meu coração. Isso não é nada. Não é nada mesmo! Nadica de nada!
Pensando melhor, acho que nem aconteceu! Foi ilusão der ótica.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

EUREKA
(Escrito em 9/11/2016)

Eureka! Acabo de descobrir uma maneira simples de entender o que uma pessoa é apenas captando com atenção o que ela diz. Vejam se não é simples: inverta a fala que escutou e terá, de maneira translúcida, o que o sujeito falante pensa e/ou verdadeiramente é. Vejamos: quando Fora Temer fala que os estudantes não sabem o que quer dizer PEC, ele está de fato dizendo vivamente que ele próprio não sabe quem são os estudantes. E isso é grave, bastante grave.

Vou já começar a aplicar meu método, que está me parecendo bem interessante.

DIABRURAS
(ESCRITO EM 9/11/2016)


"O diabo é sabido porque é velho, não porque é diabo" - ouvi isso um dia e guardei. Pois hoje, do alto dos meus 71 anos, vejo-me aplicando essa teoria de velhinha pretensamente sabichona. Diaba em tempos de cólera!


Começo a pensar maliciosamente que este raio de governo do Estado colocou - com este pacote covarde - o bode no meio da sala. A intenção é distrair os servidores para a sua real intenção - fazer passar um índice menor, mas apenas atingindo o funcionalismo, o lado que ele supõe como fraco e passível de sofrer abuso. Assim, com medo da permanência do bode, os prejudicados se sentirão aliviados com a sua saída do ambiente e, crentes que estão sendo beneficiados, serão prejudicados de uma outra maneira.
Pezão disse na TV não ter plano B. Desconfio que não tem mesmo. O plano é um só, o de provocar pânico (a fedentina do bode) para vir então com sua real intenção.


Sei não... Se o diabo velho é sabido, que dirá uma sua costelinha bem vivida? Tem cada artimanha a danada que só vendo...e especula com o fígado e a intuição, harmonicamente conjugados. É melhor ouvir a danada.



A incompletude do discurso
(Escrito em 9/11/2016)
Ok, já aprendi a duras penas que as palavras têm seus limites para expressar ideias e coisas. Um amigo falando daqui, uma circunstância acontecendo de lá, um sentimento abafado no meu próprio peito surgindo acolá ... e fui sendo obrigada a perceber que vocábulo algum, em certas situações, dá conta de expressar certos momentos da vida. Nem luto nem festa, vez por outra, encontra similar, no âmbito do discurso, para ser dito. Vive-se a emoção e pronto. Nada de querer traduzir. Às vezes torna-se inviável.
Morte de filho, não creio haver palavra alguma para traduzir. Decepção com amigo mais que querido, também não. Primeiro beijo na boca no homem amado, impossível! Há outros impedimentos, mas esses três já ilustram bem e sintetizam a minha impossibilidade de falar sobre alguns acontecimentos aportados ao meu viver.
Sobre a desilusão com a possibilidade de o mundo ser menos desastroso para todos, até tento falar, mas não me vejo atendida em minha intenção de expor meu sofrimento diante da cassação do futuro que vem-se processando. De todo modo, uma amiga, a grande Leinha, falou hoje uma pequena palavra que estou acreditando que se aproxima - até quase alcançá-lo - do meu estado d'alma no dia de hoje:
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS
TREVAS

segunda-feira, 7 de novembro de 2016



O CORAÇÃO DO BRASIL, SEM MAIS ALEGORIAS!
Os fatos me obrigam, como que à força, não que eu queira, sem brincadeira! (vem espontânea mesmo a ordem para que eu tome tal providenciamento), a juntar duas pérolas do nosso linguajar mais corriqueiro, como expressões capazes de me tirar da letargia a que estou dada nesta manhã friinha, sob meus lençóis.
Verdade verdadeira: sem esforço algum, me vieram do fundo d’alma as expressões “MAR DE LAMA” e CORAÇÃO DO BRASIL”. Não as busquei.Não houve esforço. Chegaram – claras, inteiramente disponíveis. Eu só faço obedecer ao impulso e juntar as duas. Pois não é que a Pachamama – a Mãe Terra –, já que nós, viventes, no caso, os brasileiros, estamos na maior madorna em nossa capacidade de expulsar o carnegão do monstruoso furúnculo que contamina nossos territórios – físicos e simbólicos – nos mostrou sua força arrebatadora a nos conclamar a tomarmos o remo, o leme, ou o que seja para a necessária correção de rumo?
Lá das Minas, do coração do Brasil, surge o mar de lama alertador, concreto, impiedoso. Já não bastam as notícias, respingadas ou espalhadas no dia a dia, ou as conversas e leituras, insistentes, a nos dizer, repetida e insistentemente que precisamos reencontrar nossa potência de luta. O CORAÇÃO DO BRASIL EXPLODIU EM LAMA. Agora foram pro espaço a linguagem figurada ou qualquer metáfora. A Mãe Terra ordenou, gritou, fez a sua parte. Mais incisiva impossível!
Pachamama, você é mais uma lição que a Argentina me doou e eu agradeço por você ser tão admirável!
Tudo a ver: segunda-feira tem ato contra o comedor de hambúrguer na Cinelândia.
Diálogo virtual – novas aprendizagens
(Escrito em 7/11/2014)
Depois vocês não querem que eu ria... espalham que eu sou escandalosa, que meu riso é farto demais, que é culpa de papai e do exemplo a irmã mais velha, essas coisas que são pura maldade... Mas tudo isso é injustiça e fruto de um olhar caolho sobre o real. Só quem é pouco atento às coisas do mundo é que não há de me entender...
Vejam vocês: tendo eu aprendido há milhares de anos – e até exercitado, com um certo esforço – a arte de dialogar, ou seja, de esperar uma pergunta e responder, esforçando-me para não cortar o meu interlocutor, procurando ser atenta e ir, passinho a passinho, sem deixar que a converse se atropele, mas sempre procurando ir no ritmo cadenciado entre perguntas e respostas que se sucedem, cá estou eu, a esta altura da vida, tendo que reaprender a conversar.
Uzinha me ensinou assim. E não só ela. Isso vem de antes, da escola primária. Tenho até uma amiga, que foi aluna do Calomeni, que quando me manda uma mensagem e eu não respondo exatamente o que me perguntou, e saio por outras abas do assunto, ralha (palavrinha que não devia usar para não dar pinta que os 70 já estão já me dizendo “vem cá, minha garota!”) me exigindo que eu seja fiel ao que indagava. Depois disso, quando se trata de mensagens dela, copio e colo cada questão e vou respondendo, feito aqueles questionários de Geografia que, na verdade, só serviram para hoje aqui eu me lembrar deles e fazer piada...
Mas, enfim, e hoje, conversar pelo Messanger? O que me dizem? Será só comigo que acontece assim? Sem brincadeira, para mim, é caso de reaprendizado. O moço insistente, tentando ser sedutor, do outro lado, indaga algo. Mas, no intervalo da sua pergunta, você já pensou em outro tema e já lhe indagou sobre outro assunto. Ou simplesmente anunciou, sem nada perguntar. Aí, segue-se a resposta da pergunta (ou a afirmativa) referente ao assunto que ficou no ar há duas ou três falas atrás... A cada fala de um lado, a pessoa do outro tem que ler e reler os trechos anteriores para se localizar e entender. Sem falar do jogo de sedução que a tudo conduz e que determina também em grande medida a trama, feita em palavras, que vai se tecendo...E, assim, nossos neurônios, além de produzir respostas adequadas e interessantes, têm que que fazer o exercício de identificar a que o sujeito se refere quando diz algo que, à primeira vista, está totalmente inadequado ao que vc acabou de postar.
Uma escola de diálogo virtual, pelamordedeus!
Lugar de destaque 
(escrito em 7/11/1014)

O ex-namorado, conservador até dizer chega, liga surpreendentemente, no início da noite e diz que quer aparecer por aqui. Mas que queria saber se o retrato de Che Guevara ainda estava morando no meu banheiro, porque era exigir demais dele tal reencontro. Eu, com a voz rouca de tanto que conversei hoje, por telefone, com o amigo Rogério Álvaro Rogério Viana Goulart, apenas respondi, baixinho: " huuuum, é melhor não vir, o retrato saiu do banheiro, mas porque foi alçado a um novo espaço, mais nobre - ele hoje mora na estante de livros de madeira crua, bem pertinho da minha cama." Daí, pra frente, não sei bem o que houve, se a ligação caiu ou qual o mistério. Simplesmente, a voz, por tempos tão próxima e familiar, sumiu sem deixar vestígio. Também, é preciso convir, bem ao longe, lá na direção da serra, eu bem que ouvi umas trovoadas tonitroantes. Terá sido a chuva que, mesmo antes de cair, já andou fazendo seus estragos aqui na roca?

domingo, 6 de novembro de 2016

DA ORDEM DO PERGUNTAR NÃO OFENDE
(de 6/11/2013)
Quem é mais ingênua:
- a moça humilde que lê no muro da avenida "Trago a pessoa amada em poucos dias" e que corre para anotar o telefone da cartomante para ir até lá resolver sua agonia de mulher abandonada?
- a outra, granfina, que corre a encomendar pela internet a nova tonalidade de batom parisiense, cuja propaganda na TV assegura que vai lhe deixar com os lábios irresistíveis? (Quem sabe o homem escapado da outra não vem atrás de sua boca luminosa e não acaba por se entregar a ela inteira?)
- ou euzinha, que não vai a cartomante mas que adora um batom, e que fico cá do meu canto, presunçosa, pensando que entendo de umas e outras? E vai saber mais do quê...
(Qualquer hora eu canso e abandono esta minha mania de olhar e ver)
EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO!
Escrito em 6/11/2014
Este Face é realmente, como a gente dizia na infância, "um ninho de macagafo cheio de macagafinhos". Vê-se de tudo por aqui. Até uma coisa simples assim, mas que dá vontade de levar para outros também pensarem a respeito. No meu caso, além do mais, esta postagem particular, ai embaixo, também traz um certo alívio, pois, ao contrário de uma velha conhecida que, ao ver a idade vir avançando, comentou que "é... está quase na hora de eu voltar a ser católica...". Bom saber que um chinês, que deve ser figura respeitável, andou espalhando que o "terço" que eu rezo pode não ser aquele onde se murmura automaticamente tantas aves Marias quantas sejam aquelas sequências de bolinhas geminadas, antes de vir ao tato um espaço um pouco maior, apalpadas sem muito pensar até ver concluído o circuito. Não podemos, sem a expectativa de uma vida eterna (a outra, a boa), tentar domar nossa maldade, sabendo bem o quanto é concreta, e vivermos sem religião, dando vez e voz à nossa parte mais generosa? Até porque (esta eu aprendi faz tempo) religião não tem nada a ver com religiosidade...
E, por falar nisso tudo, o que temos pra hoje, em direção a que vamos alimentar nosso cão farejador que está abrindo os olhos, vendo a luz em torno e iluminando-se com ela, já espreguiçando-se para criar um novo dia?

sábado, 5 de novembro de 2016

INVISIBILIDADES
A imagem pode conter: 1 pessoa
(Brincando com a vida e suas "graças"...)
(Escrito em 5/11/2014)
Esta historinha tem pelo menos 50 anos. E é dela que me lembro ao ler todos os comentários dirigidos a Luna na foto em que aparece ao lado de Noah, o belíssimo caçula de nossos cães.
Eis que estavam numa janela, lá em Campos, duas crianças, bem pequenas, acompanhando sua avó, que ali estava, debruçada, a olhar o movimento da rua, num final de tarde, aproveitando o fato de viver numa casa de face de rua, bem apropriada para esse seu hábito vespertino, numa época em que os vizinhos paravam para falar uns com os outros, sem grande pressa a lhe determinar prioridades outras... A avó, uma simpática senhora, tinha de cada lado um neto, cada qual mais gracioso do que o outro. Um braço/abraço para cada um. Uma metade afetiva distribuída para cada menino ali postado vendo o que ia e vinha pela calçada... Mas, a moça que passou pareceu não ter pensamento idêntico ao meu de considerar ambas as crianças merecedoras de um afago e de um olhar especial. Mesmo enxergando bem (não usava óculos), dirigiu-se a apenas uma delas e disse: "Que lindo! Que sorriso! Lindo, Fulana, esse seu neto...!" E trocou mais meia dúzia de palavras com a amiga, indo, em seguida, em direção à padaria da esquina. A criança invisibilizada pelo comentário revelador da pouca sensibilidade da passante virou-se para a avó e disse: "Ela não me viu aqui, não, vó?" Ao que a simpática senhora tascou-lhe um beijo na testa e, sabendo, talvez intuitivamente, que qualquer palavra dita ali, seria incapaz de diluir a preferência demonstrada pela insensível criatura, apenas comentou: "Será? Mas, você tão bonito aqui do meu lado? Talvez seja porque ela prefira crianças morenas a ruivas..."
Pois é isso aí, Luna é tão iluminada e tão expressiva, que consegue esconder Noah, imperial, grandalhão, garboso, ao seu lado. E olhem que se for pelo tamanho, ele ganha longe.

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