sábado, 17 de fevereiro de 2018



EMBATES ÉTICOS

17/02/2016

Quando o meu pirão chega na frente, em caso de farinha pouca...

Tenho sossego não. Nem no ônibus, calada no meu canto, não deixo de ter um dilema para resolver. É de impressionar aos mais incrédulos! Tem horas que dá vontade de extrair todo e qualquer vestígio de pensamento crítico e atirar longe, pra lá do horizonte. Como um dardo lançado por um campeão olímpico. Ou como um longo suspiro de um iatista europeu quando se livrar das porcarias que se perpetuam na Baía, após a prova de fogo (e de água podre) enfrentada na próxima Olimpíada.. 

Meu caso é sem volta. Impossível viver de dúvida em dúvida, de desassossego em desassossego. Não dá nem para me deliciar com um cochilo ou com uma olhada para o lado para ver a nova propaganda da igreja por onde o ônibus passa ("Abaixo a violência em Itaipu!", o que já me faz pensar, pois que deixa implícito que se a violência for em Várzea das Moças ou no Engenho do Mato dá para aguentar...)... Não é brincadeira, não. São infinitos os chamados da vida para que eu reflita e decida. E eu não quero mais decidir nada, não. Quero ser uma maria-vai-com-as outras. Chega de ter senso e me exigir posições. Saco!

Hoje foi a mulher que entrou e me encontrou quieta, no banco do corredor, eu que, minutos antes, havia deixado a cadeira da janela pois lá batia sol e o calor era canicular. Só na volta é que peguei um ônibus "desenvolvido", com ar refrigerado... Mas o que conto foi na ida. Eu na sombra, a mulher paga sua passagem e vem em minha direção. Seu olhar chegou antes dela, anunciando sua disposição de estar ao meu lado na condução, o que já me colocou em alerta. Pronto! Acabou a paz! Aí vem mais uma coisinha do cotidiano para me pôr a pensar. Que faço eu? Vou pro sol e faço a gentileza de deixar a nova usuária do serviço de transporte ficar à sombra? Ou me faço de boba, mantenho-me calminha em meu canto, mais aprazível do que o que a espera, sob o sol ardente de três horas da tarde?

Foram segundos que tardaram horas. Eu ou ela? Quem fica com a melhor parte? Dou meu lugar? Ou sou a mais horrível das criaturas e afasto a minha perninha pro lado dando lugar para a moça ir ao encontro da solina sem fim?

Tenho uma conhecida que esteve lá em casa em Atafona numa certa ocasião e que, ao ver a saborosa fatia de melancia que coloquei para irmos beliscando, enquanto papeávamos, pegou a faca e cortou toda a parte vermelhinha de cima e me deixou a ver navios (ou melancia insossa, como queiram), ou seja, a procurar o que restava de doce na fruta, que não fosse aquela parte mais esbranquiçada, já perto da casca.

Assim foi hoje. Como decidir? Ficar com a parte doce da fruta ou a entregá-la à companheira de viagem? Se fosse para nós duas ficarmos na sombra, seria moleza. O diabo é quando se trata da escolha por si próprio ou pelo outro. Quando a sombra só dá para um. Aí é que a porca torce o rabo.
Muito feio dizer, mas eu cheguei ao meu destino fresquinha da silva. Pelo menos estou sendo sincera. E vim correndo escrever. Com certeza imaginando que a sinceridade serviria de atenuante para aliviar a culpa por meu egoísmo. Mas também, vamos e venhamos, a moça era bem mais jovem, ainda tem bem mais hormônios do que eu para serem derretidos pelo sol da tarde. A vez agora é dela.  Mas, a verdade, é que nem assim, sossego. Na hora de reparar os outros, estou viva a verificar equívocos e manias. Mas, quando é comigo, deixo o altruísmo de lado e deixo pender para o meu lado, justificando-me pelo tanto que já caminhei, sob sol e sob chuva. Sem falar de intempéries outras, até mais castigantes. 


(CREIO QUE JÁ PUBLIQUEI ISSO AQUI, SEI LÁ...)

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