terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

QUAL SAÍDA? E HÁ?
7/2/2014
A cabeça ferve, a alma pena. Não tem escapatória quando me vejo diante de uma notícia ruim que me abala. O ansiado equilíbrio nunca se diz presente e a angústia chega certeira, com intimidade, sabendo que meu peito é berço esplêndido com o qual troca figurinhas amiúde.

Eduardo Coutinho morre. Da forma que morre. Como um raio, a sensação que me arrebata é a de sempre: sentir-me o próprio penitente, imaginar suas dores, ver-me em sua fisionomia crispada a olhar, incrédulo, sofrido, impactado, a imagem de quem lhe tira a vida. Sim, aquele a quem ele mesmo a deu, há umas tantas décadas atrás. Terá partido com um olhar de pavor a lhe compor dramaticamente a fisionomia? Não me parece possível ser diferente! E tome de pensar no sofrimento alheio, quase me deixando sufocar pelo que me traz.

Por que não ser diferente? Não foi isso que aprendi na escola. O que me foi sendo cravado na consciência – religião faz dessas coisas – é que , diante da desgraça alheia temos que rezar um pouquinho para que o sofredor se alivie, se for amigo a gente deve dar um socorro presencial, mas não devemos nunca nos esquecer de que temos que nos aliviar e agradecer por não ter sido conosco. Tomada tal providência, dentro de nós mesmos, em silêncio, conversa íntima de filho de Deus diretamente com Ele, é hora de lembrar do quanto somos privilegiados: graças a deus não tenho um filho esquizofrênico, graças a deus não fui eu quem caiu na rua (tenho uma amiga que se espatifou na praia de Icaraí por descuido dos responsáveis pelos orelhões, que retirou um deles do lugar mas deixou aquela pedra “sinalizadora” da sua presença no local, a qual, sem ele, tornou-se a legítima pedra no meio do caminho para tombar – e arrebentar – uns e outros. E se minha amiga caísse de lado? Ou num grau um pouco mais à esquerda ou à direita que fizesse com que as leis da Física a levassem a ter ferido seu crânio e não a face??????????)

Então, por que eu não aprendi a ser uma católica com maior teor de fé e maior nível de fidelidade às regras que devem orientar o procedimento humano diante de si e do próximo????????? Por que, ao invés de agradecer e me sentir eleita para não ter passado por aquele sofrimento eu sofro junto com o outro? Eu não poderia evitar o ocorrido, não dependeu de mim o ocorrido, por que me sentir assim? Por que me ver uma vez mais acometida por inútil e conflituoso sofrimento diante da dor alheia. devo ser presunçosa, achando que posso mais do que realmente posso. Falta-me humildade, é isso.

O pior é que só sobra o inútil sofrimento mesmo. Nada posso fazer. Nada poderia ter feito. Nada poderei fazer. Não há tempo de verbo que atribua a mim a menor possibilidade de reconstruir o fato já levado a cabo.

Por que sentir a dor alheia como minha? E só sentir que o nó que está agarrado na garganta não se dissolve? Nem quando eu venho me utilizar das mesmas velhas, companheiras e ineficazes palavras eu resolvo meu conflito. Nem resolvo o problema do outro, nem o meu. Por quais motivos vejo-me tão contaminada pelos rios pelos quais passei em minha vida, para me dar tão insistentemente a inutilidades?

O jogo não era para ser jogado assim, pela vida adentro – naquela base do “alivie-se, amiga, você vai reclamar de quê? Tanta gente em situação pior e você sofrendo à toa? Falta-lhe fé , para dizer o mínimo, filha ingrata!”

Vou mesmo correr pra minha adorável terapeuta (argentina, não poderia ser diferente!). Mas não creio haver jeito. A briga interna é sexagenária. Nem dá mais tempo de pacificar essas partes em contenda.

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