domingo, 9 de abril de 2017


PERDEU, DONA, PERDEU!
9/4/2017
É a exata sensação ao acordar neste domingo meio chocho de claridade vinda de fora. O sol tarda, talvez fazendo preparações gloriosas para as tardes de maio em que ele se põe majestoso, com raios que, passo a acreditar, talvez precisem de ensaios num amanhecer como o de hoje. Fosse apenas ele... mas a falta de luz também se anuncia de dentro, da alma ferida, perplexa ante as decepções com a vida.
Perdeu, dona, perdeu! – como um moleque sobrevivente poderia me dizer num assalto à mão armada em qualquer esquina da cidade, é o que a vida parece me dizer nesta manhã. Dedo em riste, esnoba minha tentativa de viver sem metas financeiras e anuncia cheia de certeza a minha qualidade de perdedora diante da vida.
Nem vim direto à máquina, creio que querendo evitar a exposição desta minha sensação de perdedora, talvez pretendendo jogar pras beiradas a necessidade de tecer este desabafo em palavras. Até já me distraí com trabalhos domésticos, mas, nada feito. Ao subir e novamente me deparar com o aconchego de meu quarto – a cama ainda em desalinho e a máquina ociosa, corri para a minha costumeira forma de desanuviar as dores que me tombam a cada dia – escrever. E acredito que hoje com menos peias na língua.
Para muitos, as redes sociais parecem ser janelas onde expõem conquistas, belezuras e a porção mais suave do cotidiano. Outros tantos fazem por elas as suas denúncias, encarando-as como um palco para uma saudável e potente militância em torno de suas ideias e convicções. Há aqueles que mandam recados enviesados para uns e outros. Eu mesma já tive que amargar calada a explosão de raiva de um ex-companheiro quando associou meu sobrenome à venenosa peçonha de alguns animais perigosos (E cá estou eu dando meu recadinho agora. Qua qua qua).
Na verdade há um sem fim de formas de as pessoas utilizarem a comunicação virtual. Eu as uso a meu bel prazer. Ela é o que eu quiser que seja. Depende exclusivamente da minha necessidade do momento. Basicamente, é um veículo de luta política, é verdade, mas não só. Filhos brigam porque me exponho, mas já não obedeço a mais ninguém. Deu vontade, escrevo. E escrevendo, posto. O mundo que faça o que quiser ou não faça nada diante do que escrevo. Os efeitos do que escrevo não me pertencem. E ponto final.
Hoje, depois de tantos rodeios, vou ao ponto. E do que quero falar é da nítida sensação quanto ao recado que a vida me dá, friamente, de que eu sou uma perdedora diante de suas manobras e consensos. Os caminhos pelos quais trilhei estavam todos equivocados.
Nunca sequer pensei em construir patrimônio – azar o meu!
Nunca me preocupei em acumular bens – azar o meu!
Nunca deixei de comprar um doce caro ou uma fruta fora da estação para não gastar – azar o meu!
Nunca deixei de viajar para guardar dinheiro – azar o meu!
Nunca olhei para a condição de nenhum dos maridos como condição facilitadora para a relação – azar o meu!
Nunca pensei que no futuro eu precisaria mais do que meus salários (proventos) de professora do Estado e da União – azar o meu!
Nunca avaliei que uma parte de meu orçamento seria gasta com remédios na velhice – azar o meu!
Nunca deixei de comprar as roupas, acessórios e joias que quis nos tempos em que tive excelente receita mensal, no auge de minha carreira profissional – azar o meu!
Nunca deixei de presentear um filho quando podia arcar com a despesa no satisfação do desejo ou necessidade de cada um – azar o meu!
Nunca valorizei convenientemente o meu gosto por escrever – azar o meu!
Nunca avaliei as dificuldades que poderia ter no futuro e sempre me abasteci das circunstâncias do presente – azar o meu!
Nunca deixei de seguir minha intuição e abandonei situações que poderiam no futuro ser rentáveis para mim – azar o meu!
Nunca orientei os filhos a seguirem profissões rentáveis, apenas acolhi suas definições profissionais – azar o meu!
Tenho apenas a minha casa e nada mais – azar o meu!
E hoje, recebo críticas de todos os lados por não ter sido previdente – azar o meu!
Perdeu, dona Carmen, perdeu!
 (*) Joias valiosas, inúmeras, tão lindas, todas afanadas num assalto à minha antiga casa, junto com tudo o mais  de valor que havia lá.

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