sábado, 29 de outubro de 2016





AMOR EM TEMPOS DE IRA 
(Escrito em 2014, mas valendo pra hoje)

Vocês se lembram de uma frasezinha que se repetia, creio que num jornal do Rio, durante um bom tempo, que afirmava AMAR É ... e que ia sendo completada com alguma expressão que fazia sentido aos olhos de seu criador? Pois a minha máxima de hoje, de agora, deste instante, inspira-se na tal seção, mas não tem a ver com o amor, e, sim, com um agudo mal-estar de que me vejo acometida repentinamente.

Fiel ao sentimento que me acompanha, saio com esta: ATORDOAMENTO É ... desembarcar aqui na rede e tomar conhecimento de que Sarney votou num candidato usando o bóton de outro. Putz! Como a política vem se reduzindo à falta de caráter e a um vale tudo em defesa de interesses escusos e individualistas!

Sou de um tempo em que udenistas protegiam amigos comunistas em momentos de risco à sua liberdade. O que valia lá atrás eram valores que parecem ter caído em desuso. Entre amigos, as divergências se mandavam para outras bandas e davam lugar ao respeito e à solidariedade. Vivi isso em casa, na vizinhança, na minha cidade. Viva "seu" João! Viva "seu" Evaldo!

Hoje escuto - e engulo em seco - que um fulano desejou e decidiu ser candidato com receio de se aposentar com os parcos recursos que sua profissão poderiam lhe garantir. Querem que eu repita? Isso mesmo que escrevi. (E se elegeu, o danado! E tem um mandatinho fraquinho, fraquinho...).

O compromisso com o outro deixou de ser critério para uma ação política formal. O tal do bem comum nem mais aparece nos discursos que se enfrentam num determinado pleito. Quase creio que se a tal seção voltasse a ser introduzida num matutino de hoje em dia, forçosamente haveria de ganhar a forma reflexiva: AMAR-SE É...


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

COM POLÍTICA E COM AFETO
Minha família, em meus 70 anos, 2015
Com tanta gente se pronunciando sobre os ódios entre os eleitores de um e de outro candidato, eu quero agradecer aos meus amigos e, principalmente, aos meus familiares mais próximos (não me lembro de nenhum que tenha votado comigo!) por termos deixado prevalecer a amizade e o entendimento, sem que se estabelecesse nenhuma guerra entre nós por conta de nossa visão de mundo oposta e exposta mais nitidamente ainda neste processo eleitoral. Até fui – e na véspera da eleição – a uma festa de família e não havia nem um (assim mesmo, separado) nem unzinho eleitor – e éramos muitos... – que simpatizasse com o meu voto. Pois, brincamos com o assunto, que, aliás, pouco frequentou nosso bate-papo, e tratamos mesmo foi de matar nossa saudade, bem à nossa moda (ou será mais minha que dos demais?), alisando os rostos de um e de outro, sentindo falta e relembrando os que não puderam estar junto, acariciando as mãos dos que moram mais longe, beijando, abraçando e trocando sorrisos e conversas, no pouco tempo que tínhamos para nos entregarmos uns aos outros. E digo até mais, para além do aconchego familiar: até de um amor de adolescência, recebi uma singela mensagem, na manhã de domingo, dizendo que “esperava que vencesse o melhor para os brasileiros”, ao que eu respondi que: “antes, durante e depois dessa eleição, que nos colocava em lados opostos, nossa união afetiva vale até que a morte nos separe”.
Na verdade, nada ofusca um sorriso iluminado pelo bem-querer! E como custei a aprender isso! Não deve ser à toa que ando sonhando com situações em que estou reaprendendo coisas. Na semana passada foi uma situação de grande aflição onde eu estava por dar uma palestra, já no local, as pessoas esperando as minhas “sábias palavras” e nada me vinha à mente, completamente vazia de conceitos ou categorias a expor aos ouvintes. E esta noite, com Dilma já eleita, eu sonhei que estava para fazer um exame escrito numa Faculdade (o professor era um japonês – e sobre esse detalhe devo dizer que nem com muita terapia vou entendê-lo...) e eu, simplesmente não tinha lido o livro que seria a base do tal exame. Não me restou ir ao japonês e pedir que adiasse a minha apresentação para uns dias depois. Ele consentiu, mas isso não me atendeu de todo. Eu fiquei foi em dúvida se valeria a pena obter outro diploma de Pedagogia. Não seria melhor eu largar de mão esse novo curso de Pedagogia que eu havia voltado a frequentar?
Maluquices à parte, o principal é encontrar, a esta altura da vida, o sentido de família que sempre foi tão distanciado de mim. Vivendo e aprendendo, nem que seja pelo aflorar de sonhos ao amanhecer... E pelo convívio com as novas gerações pessanhísticas que ocupam o mundo nestes tempos de agora, quando a minha já está com poucos representantes por aqui. Bom como um chuvisco! Ou como um tronco bem molhadinho lá da minha terra... Que delícia!
Eu e meus irmãos com mamãe, na década de 80.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016




DE MARACUJÁS, MAS NÃO SÓ...
(Escrito em 24/10/2014)
Mais de 30. Novamente ao dispor de nossas vontades de beber sucos, de nos deliciarmos com mousses enfeitadas com alguns de seus grãozinhos por cima, de tontearmos a nossa coerência com alguma batidinha mais farta de uma boa cachaça da roça, essas coisas boas de saborear quando por elas se tem gosto.
Mas esse reflorescimento em forma de nova colheita também anuncia a permanência das coisas, em constante mutação, nos relembrando os efeitos do tempo e o jeito de ser do mundo em suas peripécias. Isto mesmo: segunda-feira nada mais é do que o terceiro dia após esta foto ter sido tirada. Isso tem a ver com maracujás e tudo o mais. Será um terceiro dia com o sabor daquilo que cada um de nós estará colhendo do que pudemos plantar.
Voltamos às ruas. Essa é uma rega mais do que efetiva, indicativa de uma excelente safra, e não apenas de maracujás graúdos e adocicados. De minha parte, estou totalmente convencida do estrago que seria (ou será?) a mudança do plantio de maracujás, que já vêm dando bons frutos, para qualquer outro tipo de cultura. Mas... será, com certeza, a vitalidade de nossa voz e o coro que pudermos recriar para combater as pragas - que empesteiam as lavouras desde que nos entendemos por brasileiros - que poderão gerar safras mais amplamente aproveitadas por todos.
Sinalizamos novamente para o PT que, se é para democratizar a ação governamental, dissemos SIM e dizemos PRESENTE. Mas, nada é simples: se o terceiro dia for dia de comemoração para a parcela mais sofrida do povo brasileiro, as ilusões devem ser postas para escanteio. Estaremos livres do pior, mas o sabor e a qualidade das lavouras, de todas elas, vai demandar muitos cuidados por parte de cada um de nós. O tempo de saborear doces e bebidas, de tudo quanto é fruta, não apenas de maracujás viçosos, vai ser curtinho, entre um embate e outro.
Estamos pensando que é fácil? Querem "sopa"? Venham brincar de pique e correr atrás de mim, que, além de fraca na "matéria", deixo-me vencer fácil, fácil com as gargalhadas que me levam ao chão na primeira ameaça de ser pega.

UM ANO DEPOIS...
(Escrito em 24/10/2015)
(Há um ano, gostando muito, muito, muito de ter escrito essa maracujice e sentindo as dores do "embate simbólico da floração". Maracujás para todos é sonho mais que distante. As plantações vão ao lixo, mas saciar a fome de todos não é meta para estes tempos em que estamos de passagem por aqui (ou vocês não leram sobre as toneladas de tomate que mais uma vez foi posta fora para garantir bom preço no MERCADO? )

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Educação para tudo ficar como está ou piorar? NÃO!
(Escrito em 21/10/2015)
Não é coisa de esquerdista, não! É me colocar mesmo no lugar de quem chegou, viu e venceu em nossa sociedade. Nem mexo com as classes sociais fundamentais e deixo-as como estão, tudo igualzinho. Mas, rogo por um pouquinho mais de bom senso.
É que ando mais do que preocupada por ver as propagandas de algumas escolas privadas com as quais tenho tomado contato. Uma chama seus candidatos a alunos para correrem para chegarem em primeiro lugar a fim de concorrerem a uma bolsa de estudo; outra, cria uma propaganda no sentido de que quer futuros vencedores, premiados, limpos da sujeira que reina em nossa sociedade.E que essa "eugenia social" vem de sua ação educativa, exclusivamente dela, a escola salvadora da pátria. Esses são só dois exemplos, mas o tom é sempre o mesmo, o da competição desenfreada e de "que vençam os melhores" (acrescento eu: os mesmos, os que já nasceram para serem vencedores).
Não sou ingênua de imaginar que uma escola privada possa ter interesses sociais nem públicos ou universais. Ela está inserida no mercado e quer se vender como a melhor para o futuro sucesso dos jovens meninos e meninas pagantes pelo serviço que oferece. Mas, não estarão eles, sim, os seus responsáveis, ingenuamente postos, analisando que o que está vigente em nossa sociedade está falido? Que a lógica da exclusão e do mérito, do egoísmo e do cada um por si está destruindo o mínimo de convivência entre os mais e menos apaniguados financeiramente? Os próprios "vencedores" não estão ficando aprisionados numa sociedade cruel e violenta?
Caminhar indiferentemente em direção à naturalização da injustiça social, no limite, da barbárie é inadmissível para educadores! Quase fico propensa a entender como menos perniciosa uma educação cristã que, pelo menos, traz o exemplo de uma figura exemplar para os jovens em formação. Se mais tarde eles vão rever e acertar contas com seus conceitos religiosos, será, talvez, melhor, do que serem treinados para verem como natural a desigualdade, sem nem ao menos criarem dentro de si um sentido de generosidade, até mesmo de caridade (que não é desejável, pois vê quem dá numa posição superior à de quem recebe), mas, é a tal questão de graus, como Dorinha Dora Henrique da Costatanto nos ensina: um pouquinho que seja menos ruim já dá uma aliviada na alma.
Grande e iluminado Francisco, sei que você está com prioridades e mais prioridades para atender com seu discurso restaurador, mas, dá uma palinha para este povo que está colocando o lucro acima do Bem Comum, meu grande Mestre! Aqui pelo Brasil a situação está de se lamentar!

sexta-feira, 7 de outubro de 2016



REFLEXÃO SOBRE AS PARECENÇAS
(Escrito em 7/10/2013)

Tenho vivido um treinamento intensivo, dia sim, outro também, para pacificar meu coração, valorizar a vida, entender a felicidade como a arte de procurar estar bem em qualquer circunstância. Difícil pra burro! Tadinho do burro! Acho mesmo que é difícil para elefante (que, pelo menos, aparece aqui na minha oração por ser grande, não por qualquer possível preconceito)!.
            O abrandamento do olhar enturvado e duro é atitude a ser revivida a cada manhã, meio como mantra, meio como bússola. Aquela mansidão exemplar de algumas pessoas - meu exemplo mais contundente é o de Conceição Muniz - não faz parte naturalmente de minha personalidade. Negocio com as circunstâncias e com os meus pares, troco aconchegos e ponderações, mas sinto o quanto é penoso aceitar, de alma limpa, a diferença do outro, aquilo que dele não faz parte minimamente de minha forma de lidar com o mundo. Abandonar o olhar julgador e dar a volta para acolher outros ângulos daquela personalidade que contraria meu jeito de viver a vida é tarefa que exige exercício e teima. Mas, o amor e a admiração são a senha para se prosseguir.
            Para tecer a ponte da tolerância, o exemplo de bons amigos - que sabem melhor que eu negociar com a vida e com seus pares a eles antagônicos - tem me servido muito mais do que pensado. E não se trata de alienação, de fazer de conta que um dado "defeito" de uma pessoa querida não exista. O esforço é para estar junto apesar de. Se há carinho, se há confiança mútua, que vá às favas algum caráter dissonante do outro! Ampliar o diálogo entre as identidades e ser tolerante com os descompassos - essa é a vontade em ação. E de parte à parte.
            Nesse processo de refazer modus vivendi de amar, cortes de relações só surgem em minha vida por questões de princípios. Aí, nem o afeto dá conta de sustentar a amizade.
Há que se suportar o sofrimento da perda!
Há que se viver o luto pelo desencontro!
Há que se ir além, pela impossibilidade instalada!
            Não se nega a história que se viveu junto. Mantém-se a gratidão pelo trajeto partilhado em comunhão. Mas, encerra-se um ciclo de entrega e afetividade, tornado incompatível.
            Aí, um dia, não se sabe o motivo, a gente pensa nisso com tristeza, vê que a amizade ruiu, mas segue adiante. Princípios são - e creio que sempre serão - inegociáveis!



PAZ E AMOR
(Escrito em 7/10/2014)

Um amanhecer, depois de uma boa noite de sono, sempre traz algo de novo. Nem que seja um mesmo pensamento que já havia nos visitado e que a ele não tenhamos dado atenção em sua primeira chegada à consciência. Às vezes, são necessárias muitas repetições para que se escute, se sinta ou se veja algo.

O que hoje eu consigo perceber é que quem aqui está no Face já está com suas posições políticas mais ou menos consolidadas. Para que, então, cada qual ficar reiterando seu voto, sua posição, contra aqueles que têm postura contrária?

No momento, estou vendo assim, como uma atitude não apenas pouco afável como até inútil, cada qual insistir nesta disputa quanto ao segundo turno das eleições que nos toma por completo em nossa cidadania. Dilmistas e aecistas em guerra, cada qual buscando argumento os mais convincentes para interferir em favor de seu candidato? "Quelle bobage", diria o meu amigo Luís Raul, em seu francês de última geração...

Pretendo, então, aqui neste espaço, me recolher quanto à campanha eleitoral. Tomara que eu resista até o final! Já aprendi com o tempo que as pessoas podem se gostar apesar de suas diferenças ideológicas. Então, paz e amor! Cada qual com seu voto, cada qual com seus princípios, cada qual com seu viver...

E vamos em frente que atrás vem gente!

E viva o respeito às diferenças!

PALAVRAS À VENDA
(Escrito em 6/10/2016)


Dar não posso, nenhuma que seja, mesmo as mais corriqueiras ou de escrita desengonçada, por absoluta necessidade de delas fazer meu meio de vida. No sentido mais humano e sensível, palavras me dão sustento, fazendo-o de maneira substantiva, adjetiva, até adverbial. Estabelecem o que vive, o que morre, os trajetos percorridos, nomeiam e qualificam cada coisa, até por meio de diminutivos, disfarces e ênfases superlativas surgidas do meu entendimento e considerados indispensáveis à narrativa.
Bem sei que lanço palavras ao vento costumeiramente, sem nada ganhar de parte alguma que vire sequer um prato raso de alfaces lisas sem sequer o mais insípido tempero. Palavras gratuitas, até mesmo intrusas, do ponto de vista de quem as recebe, já que chegam sem nenhuma conclamação de parte alguma. Apenas lançadas por paixão ao vício de tê-las como intérpretes de meu estado d’alma, espalhadas sem pedir licença e sem esperar nada em troca. Brotam sem compromisso, e é para ser assim mesmo. Ora são bruxas que voam pela janela, escapulindo do mal e espargindo-o para bem longe. Ora, se fazem encantadas criaturas, como que fadas luminosas a jorrar alguma boa nova para o mundo se colorir de esperança e viço. Tudo por minha própria conta e risco.
Mas, a realidade vem e faz estancar o sonho e nos espreme diante da crueza do viver. Seres humanos necessitam bem mais do que pratos rasos de alfaces insossas. Nem sonhos nem vícios - mesmo que solenes - não enchem barrigas. Apenas iludem corações e mentes. Chegam gratuitas, são gratuitamente admiradas e a vida segue seu ritmo, com o escritor lançador de palavras - gratuitas - olhando para seu prato raso de alface, a esta altura até, além de insossa, amarelecida.
Por isso, passo a vender palavras e as ofereço a quem delas necessitar em sua precisão de narrar e se fazer ouvir. Agucem seus ouvidos e ouçam-me com toda a boa vontade:


ATENÇÃO, SENHORAS E SENHORES!
VAI PALAVRA AÍ?
QUEM VAI QUERER?
PALAVRAS À VENDA!
MONOSSÍLABAS PELA METADE DO PREÇO!
LIQUIDAÇÃO DE VERBOS IRREGULARES!


CONTATOS IN BOX


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

APENAS DOIS REGISTROS, EM DOIS TEMPOS, MAS COM A MESMA EXPRESSÃO






Niterói, 6 de outubro de 2016.
Para meus amados Luciana Farias Sampaio e Zeca Azevedo
Ainda hoje a nossa Luna (permitam-me ter um pedacinho desse sentimento de pertencimento em relação a ela...) carrega um já quase imperceptível assombreado abaixo do olho direito em função da brutal queda que teve da rede da varanda lá da casa de vocês. Foi horrível demais ver aquela criaturinha, conhecida por sempre expressar sua intensa alegria, sofrendo a dor de um machucado tão violento, justamente em sua face, costumeiramente iluminada e iluminante.
Todos nós, integrantes do fá clube do "Luna Handebol Clube", nem é bom lembrar, ficamos aturdidos e acometidos de um profundo mal estar por não podermos nos transportar para o lugar dela e termos que ir acompanhando, com a paciência possível e o carinho desmedido, a sua recuperação, que pareceu levar um tempo muitíssimo além da conta.
Hoje e quanto mais leio sobre crianças e seu desenvolvimento, me dá uma vontade danada de dizer a vocês o que sinto a respeito do machucado físico de Luninha, hoje totalmente superado. É que ela se acidentou por estar brincando. Ela estava em estado de liberdade e alegria com os primos numa atividade criativa e lúdica no jardim. Ela estava vivendo simplesmente a benção de ser criança em sua livre expressão. Ela estava em estado de amor, em estado de descoberta, em pelo vigor do viver a sua tenra idade. E, quem vive, queridos, vive. Expõe-se. Corre riscos. Acidenta-se. E segue adiante, acumulando os aprendizados do viver. Ou seja: momentaneamente, houve um sofrimento desmedido. Mas, isso é da vida de quem está ativo, em estado de viver em direção a um tipo de sucesso que não é individual nem fruto de mensurações descabidas, de competições e desvios em relação ao que é "ser feliz".
Não me julguem mal. Penso até que não me julgarão. Mas, nada é pior do que uma criança tolhida e pré-moldada. Seu futuro fica comprometido e apequenado. O machucado de Luna foi superficial e fruto de um bem-viver cujo valor é inestimável. Muitíssimo mais grave, sem comparação mesmo, seria ela ser uma criança modelada, a alma toda refreada em sua criatividade e nas possibilidades de descoberta e surpresas diante do mundo.
Sofrimentos? Que sejam os originados de uma queda em pleno voo numa varanda ao sol! Os da alma, para estes, sim, as consequências são mais severas e de alcances mais doloridos.
Com muito amor,

Vovó Lulu

VIVA A ESQUISITICE DO SER HUMANO
(ESCRITO EM 6/10/2016)

Alison Gopnik, psicóloga norte-americana, considera o ciclo de vida da espécie humana muito esquisito, se comparado à maioria dos demais mamíferos: o macho e a fêmea cooperam no cuidado aos bebês (inclusive parentes e vizinhos), a infância e a adolescência são incrivelmente longas e as fêmeas continuam vivas por décadas após a última ovulação.
Eu estou no lucro há mais mais de 20 anos. Que bom não ser uma aliá ou uma "jacaroa"!
Eu, robô
(Escrito em 6/10/2015)
Quem quiser que acredite. Eu estou em vias de acreditar que o que a Vida, a Natureza, Deus ou qualquer poder constituído, sozinho ou em conluio, determine na agoridade, é que me pega pela mão e me lança em novos rumos sem que haja vestígios de autoria sincera em meus gestos.
Ser acordada pela TV ligada, tatear em torno do corpo em busca do controle perdido, acioná-lo para dar fim ao som indesejável, virar-se mansamente na cama, correr o olhar pela janela que se abre para a brisa doce e na exata medida da boa sensação de aconchego , e descobrir uma Estrela Dalva deste tamanho e exuberância e brilho, vai muito além de minha potência e vontade.
Sou objeto do que está. E como tal, cumpro o que a circunstância me indica como efeito ilusório de que sou protagonista. Ligo a maquineta e fotografo. Quero ver é voltar a dormir diante da força das coisas que me colocam no meu devido lugar.
VIDA, NOSSA VIDA...

(Escrito em 6/10/2016)

Eu fui uma mãe repleta de defeitos. Nunca soube o remédio a dar para uma febre ou o que colocar numa queimadura. Restavam-me os amigos e amigas para me orientar. Sempre trabalhando muito, e SÓ!, nem sempre pude estar junto a meus filhos na medida do necessário. Mas, há algumas coisinhas que eu fazia ou falava, fruto da mais pura intuição, que, creio, tiveram um certo mérito. Uma era a de encarar os acidentes como normais: um caiu da escada, ouviu de mim, enquanto o abraçava: "Só cai de escadas quem sobe e desce escadas". Sujou a roupa de tinta? "Só suja a roupa de tinta quem brinca com tintas". Ao final de um tempo - e até hoje - eles já me completavam a frase... "Já sei, já sei, só acontece com quem faz...”


Hoje, refletindo sobre o fato de Luna brincar muito, valorizando esse seu viver infantil capaz de lhe abrir o espírito para a aventura que é viver, sinto que com os filhos, eu parecia estar estimulando-os a viver, a estar em algo, a não fugir do viver. Hoje, cada qual está lutando pela vida, entregues ao seu próprio viver. Que eu espero os esteja fazendo felizes...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

  

INÚTIL, ATÉ QUE...
(Escrito em 4/10/2014)
Não sei pra quê. Mas, um dia, quem sabe?, para alguma coisa há de servir o que li hoje num artigo na Folha de São Paulo...
Conta-se que um amigo do físico Wolfgang Pauli um dia lhe entregou um trabalho de um aluno, pedindo que opinasse a respeito, ao que o cientista respondeu: "não é que não esteja certo; não está sequer errado".
Não dá o que pensar? Que limbo será esse onde não há espaço nem para erros nem para acertos? Que palavras ocas serão essas que não exprimem nem que a maré está baixa nem que a maré está alta? No mínimo, a possibilidade de haver alguma coisa dita que não indique nem o sim nem o não, faz-nos pensar na cantoria de vozes que anunciam o vazio de sentidos. E o que será isso exatamente?


ALTERNATIVA PARA O VIVER
(Escrito em 4/10/2015)

Carta aberta a um grandíssimo amigo que me escreve, hoje cedinho, amoroso, ponderando sobre a minha mania de questionar o mundo, suas dores e suas contradições.
Eis que ele me diz mais ou menos assim: que o não-pensar também merece o seu posto; que o pensar tem uma habitual arrogância de se achar o único dono da produção de saber; que as vacas nos olham com compaixão e seguem a pastar tranquilas; que a tentativa deve ser a de caminharmos em busca de trans-pensamentos; que o real é vasto e generoso caleidoscópio; que quem perdeu o senso de humildade foi por isso mesmo privado da capacidade de contemplação; que contemplar escapole das dominâncias do saber, é novidade que se saboreia e dá gosto e sentido aos pequenos atos; e conclui dizendo que enquanto ele de sua janela recebe o coro de passarinhos, eu observo aranhas tecerem bordados.
Ao que me pareceu, para ele, amor e contemplação são as chaves do bem viver.
Minha resposta
Querido,
Deus meu! Domingo de manhã e essa linda, rica e profunda oração ao imponderável, prece efetiva e firme à nossa minúscula possibilidade de intervenção e à incapacidade da razão? E a canção sendo entoada em direção ao vento, à brisa simples, da entrega ao amor e à contemplação?
Leio, releio, torno a ler, quase rezo por esse credo e fico privada de meu instrumental já instalado e azeitado pelos anos de uso e reuso.
Deverei parar por aqui, jogar fora as sandálias e ir observar a aranha que tece? Minha insignificância – que cada vez mais prezo e busco, e compreendo e vejo, e sinto e internalizo – deve chegar às raias da total abstenção ao que se pensa construir de sabedoria pela Dialética e pela História?
Pergunto mesmo, do fundo do meu coração: logo eu, que abomino o maniqueísmo do “ou isto ou aquilo”, procurando captar as contradições que convivem em cada parte e na totalidade, devo entender que devo me entregar ao coração, ao cotidiano sem prévios traçados e sem ideais de utopia? É me entregar ao que está, aqui e agora, da borboleta à aranha, do vento ao mar, do que se faz historicamente (outros homens e mulheres) e me deixar inserir nas ondas do que está posto e me leva para o futuro, de maneira independente de mim?
Grandíssimo amigo, isso é conversa tão necessária, tão fundamental, tão educadora que merece um quintal – meu ou de algum amigo – para ser degustada por nossos pensares, dizeres, dúvidas e possibilidades.
A nós!
Com amor,
Carmen


segunda-feira, 3 de outubro de 2016


Alma partida
(Escrito em 3/10/2015)
Que a vida é um poço de contradições, eu sei desde antes de ser loura, creio mesmo que é descoberta vinda desde antes, quando era tão morena que até de PRETINHA eu era chamada. É mais do que sabido e sentido que nossas carnes e ideias têm que cotidianamente se digladiar entre risos e lamentos, num dia-a-dia que nos embaraça entre momentos que individualmente nos alegram e circunstâncias sócio-históricas marcadas pela descrença e pelo egoismo. Mal temos um momento leve com um filho ou filha e já nos vemos em estado de perplexidade diante da crueldade de um acontecimento. Um sorriso franco e largado descomprometidamente ao sabor do vento é comumente interrompido por mais uma informação que revela mais uma selvageria do mundo dos homens, tornando-nos instáveis, indecisos, falsos. Ou bem valorizamos o nosso próprio umbigo e o solzinho que lhe aquece a pele frágil, ou bem nos envolvemos com o último fracasso de uma ação no âmbito social que retarda ainda mais a esperança na possibilidade de um mundo mais humanizado. É a ambivalência impondo -se todo o tempo dentro de nós.
Pois lá vinha eu contar a conversa que tive com meu filho no caminho Itaipu-Niterói, e que mais uma vez me fez rir diante de seu humor reconhecidamente refinado, e me deparo com o noticiário que fala da morte de médicos e enfermeiros do MÉDICOS SEM FRONTEIRAS num hospital do Afeganistão.
Nem o que dá pra rir dá pra chorar nem dá para se tratar de risos quanto se quer mesmo é chorar. A história gaiata há de esperar. Há que se cuidar com zelo de tamanhas contradições em franco embate. Caso contrário, a esquizofrenia vem e nos toma por inteiro.




Filé?????????? 
(Escrito em 3/10/2014)
A senhora, bem à vontade, vai ao supermercado para comprar umas poucas coisas, o alho que se esqueceu na véspera, aquele tal produto que tira ferrugem, algumas coisinhas pequenas de última hora. Vai na maior boa vontade, feliz de ter aquele ponto de comércio ali, bem vizinho, facilitando sua vida.
Recebida pelo simpático dono do espaço, que, pelo trato já antigo, já se fez amigo cordial, troca com ele meia dúzia de palavras, amistosas, como de praxe. Apenas estranhou, ao se despedir, o galanteio inesperado, até mesmo inadequado para as circunstâncias: "A senhora sempre bonita, não é? Agora, mais magra, está um filé..."
A mulher, não só saiu do diálogo um tanto constrangida pelo elogio fora de contexto, como também pensou com seus botões, na volta pra casa: "É, aqui é bem bom de se comprar uma coisinha ou outra, mas da carne daqui não quero mais saber. Parece que Jorge não está mais entendendo bem do assunto... Eu, filé??????". E sorriu, subindo a ladeira em direção à sua casa, já pensando na pia do banheiro de cima, necessitado de se livrar de umas manchas de ferrugem que a vinham enfeando...
Cada coisa!



domingo, 2 de outubro de 2016


DIFERENÇAS INDIVIDUAIS

(Escrito em 2/10/2013)
Houve um tempo em que, pela natureza de meu trabalho, eu visitava muitas escolas, para me reunir com professores. Programávamos uma reunião e lá ia eu no dia e hora marcados para estar com eles e conversarmos sobre educação e sobre o meu velho tema – o de como ler jornais, sem nos deixarmos assujeitar pelo seu discurso e deles fazermos o mais proximamente possível um instrumento que pudesse fortalecer nossa condição de leitores que vão além do que, na aparência, querem nos fazer crer. São tempos que me deixaram lições e mais lições que, vez por outra, me invadem e me felicitam.
Uma delas – essa é definitiva: nas escolas públicas, por mais que os governantes, cada vez mais, encontrem maneiras e gestos de se distanciarem do que é uma educação pública e de qualidade para todos, nelas há sempre um grupo que resiste, nem que seja extremamente reduzido, sempre criando alternativas de levar seu compromisso social ao encontro daqueles que estão sob sua direção em busca da almejada cidadania. E isso, na maioria das vezes, nas escolas do município do Rio de Janeiro, senhora secretária! Procure olhar e ver, com olhos educadores e não burocratas, por favor!
Mas, juro!, por mais que queira homenagear meus colegas em greve (não deve ter sido à toa que foi deles que comecei a falar), a minha intenção aqui é falar de um assunto bem outro. E eu vou a ele.
É que, naquele tempo, havia um jovem senhor, adorável, competente, tranquilo e, além de tudo, exímio motorista, que era quem me conduzia às escolas, diariamente, aguardando-me para trazer-me de volta à casa, após o cumprimento da tarefa. Sua principal característica era a de ser extremamente paciente. Tardasse eu quanto fosse – duas, três, sei lá quantas horas em meu encontro com os professores – na saída, lá estava ele, totalmente tranquilo, imóvel, sem nada fazer até eu voltar ao carro, para tomarmos a direção de casa novamente.
Pois, eu, sempre em minha superprodutividade, tipicamente “pessanha”, daquela que não passa pela sala, vindo do quarto, sem levar qualquer copo ou o que for para a cozinha, equilibrando o que preciso for nas mãos, fazendo mágicas impensáveis com os imaginados – e ali tão necessários – setenta e dois dedos, para não perder a viagem, pois, eis, que, num dos dias em que volto ao carro, com certeza, mais “hiperativa” do que o usual, entro no carro e digo:
- “Agnaldo, vc está aí tão quietinho, Agnaldo? Como consegue? Vc não gosta de ouvir música enquanto aguarda?”
- “Não, professora...”
- “E ler, Agnaldo? ... Palavras cruzadas, já tentou?”
- “... Huuuuuuuuum, palavras cruzadas... não...”
- “Um livrinho miúdo? Uma revista? Nada?”
- “Não, professora. Sei lá... Ah, a senhora sabe de que eu gosto mesmo, professora?”
E eu, pronta para me aliviar com a enfim possibilidade dele vir a falar de uma ação além da paralisia que se mostrava evidente, me animo toda:
“- De que, Agnaldo???????????”
- “De esperar, professora!”
Voltei para casa em estado de choque, creio até que cochilei na travessia da Ponte. Nunca, nem lá atrás no curso Normal nem nos manuais de Psicologia com os quais mais tarde vim a tomar contato, eu entendi, tão concreta e sabiamente, o que são diferenças individuais. Isso, para euzinha – que para qualquer possibilidade de espera (em aeroporto, em sala de espera de médico ou dentista) tenho sempre algum antídoto, nem que seja aquele amarfanhado e mais que relido Manuel de Barros, que sempre dá para ler mais uma vez... – é lição para guardar. E vive la différence!


Onde vai dar isto?
(Escrito em 2/10/2014)
A cada dia um equívoco. O de terça-feira foi grave: deixar a chaleira do café, já sem água (café já passado no coador de pano), no fogo, com o risco de provocar um incêndio. Ontem, foi a vez de sair do quarto com alguns grampos na mão e umas tantas moedas para colocar cada qual em seu lugar. Pois os grampos foram parar na bolsinha de moedas e só me dei conta do erro - e caí na risada - quando me encaminhava para colocar as moedinhas na caixa onde vivem os "frisos", como se diz na minha terra. Hoje o quase prejuízo foi financeiro: paguei a conta do celular, ela mesma, a que eu tenho em débito automático para facilitar a vida. Assunto resolvido com um telefonema para o banco, fico aqui a bisbilhotar minhas travessuras, as que eu faço sem consciência, por puro desgaste mental pela vida acumulada de tantos entrecruzamentos de fatos de tudo quanto é ordem.
Eu só não quero perder, junto com os cabelos escuros, que cada vez mais se "apessanham", a alegria de lidar com o mundo, até mesmo com as falhas que se processam lá por dentro do meu calejado cérebro e que me fazem levar a cabo besteiras desse tipo. É, porque a sensação que tenho diante de mim mesma é que o choro e uma certa amargura são meus eternos companheiros, a todo instante me lembrando injustiças, tristezas, sofrimentos. O mundo não me dá sossego! Não me dá mesmo! Palavra! Mas, também é verdade que, passados aqueles intensos momentos de luto trançados por dentro de minha alma, sempre tenho um estado de ser alegre, prontinho para vir à tona diante dos sucedidos que vão chegando de cada parte da realidade. Esse componente de brincar com a vida, eu quero muito manter até o fim. Sem ele, é melhor morrer.


A tristeza é senhora, Desde que o samba é samba é assim / A lágrima clara sobre a pele escura, a noite e a chuva que cai lá fora/ Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim / Mas alguma coisa acontece, no quando agora em mim / Cantando eu mando
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