sábado, 1 de outubro de 2016

Meu amor Luna
O CERTO E O ERRADO PARA A CRIANÇA[1]
Vovó Lulu, em 29/09/2016
No primeiro ano, a criança sabe basicamente o que dá prazer e o que não dá prazer. Ri por ter prazer ou chora por não ter prazer. É tão dependente, os pais (muito principalmente a mãe) ficam tanto em função dela que é até natural que o bebê pense que ele é o centro do Universo e que os adultos — em especial seus pais — vivem apenas em função dele.
Nessa fase inicial de sua vida, ela ainda não tem a menor noção do que seja certo e errado. Mesmo assim, surgindo oportunidade, o certo e o errado devem ir sendo ensinados pelos pais e pelos adultos mais próximos com quem convive mais intimamente. Por exemplo: um bebê de 8 meses dá um tapa no rosto da tia, esta, ao invés de achar bonitinho e se divertir com a atitude da criança, deve mostrar para o bebê que ele não deve bater, mas sim fazer carinho. Mas isso não deve ser feito em voz alta nem em tom de briga.  A tia (ou quem for) deve demonstrar como fazer isso: pegar a mãozinha da criança e levá-la à sua face para que ela lhe faça um carinho. Não se trata de ameaçá-la. De jeito nenhum!!! Frases do tipo “Se você tornar a fazer isso, eu vou fazer igual em você” ou “Ah, é? Vai ficar sem sobremesa...”. DE JEITO NENHUM! Mansamente, mediante o exemplo, o adulto ensina. Apenas isso.
Por todos os estudos de Psicologia Infantil que se acumulam, sabemos que a partir dos dois anos de idade, a criança já começa a desenvolver a  consciência de seus atos, sabendo como interferir nas atitudes dos pais e estando mais atenta ao que acontece ao seu redor. O exemplo continua sendo o essencial para que a criança vá aprendendo as regras sociais, as regras de jogos, o certo e o errado. Mas não só pela observação do exemplo que ela aprende. Também a conversa é essencial para que a devida orientação seja dada. A partir desta idade é importante que os pais possam ter um olhar mais cuidadoso sobre as crianças, sobre suas atitudes e sobre os limites que estão dando a elas:
“É comum nesta idade as crianças testarem os pais para verem até onde eles irão nos limites, elas tornam-se insistentes e exigem muito dos pais. A criança já entende o que é certo e errado e já pode ser mais responsabilizada por suas atitudes, mas responsabilizada de acordo com a sua idade.” (SBARAINI[2], Cláudia, 2012)
Aos poucos, pelo que vê e pelo que ouve, sempre dito numa linguagem simples, a criança vai aprendendo que as ações de cada um trazem consequências, Isso vale para todo mundo, inclusive para ela. O pai perde a hora de acordar? Vai se atrasar para o trabalho. A mãe esqueceu de avisar à diarista para limpar o armário da sala? O armário vai ficar sujo. Não sou gentil com os meus amigos? Eles poderão não querer brincar comigo. E assim por diante... Ou seja: os conceitos a serem introjetados por ela são, a esta altura de sua pequena vida: a) ela não está sozinha no mundo; e b) suas ações têm consequências.
Quanto mais cedo ensinarmos para as crianças o que é certo e errado e que suas atitudes têm consequências, maior será a garantia de que estamos formando adultos responsáveis e conscientes de suas atitudes. Assim:
“A criança também desde cedo já pode aprender que as atitudes erradas dela também poderão fazer com que perca algo. Pais não querem que seus filhos mintam, não querem que seus filhos peguem objetos que não sejam seus, não querem que seus filhos tirem nota baixa na escola, não querem que seus filhos briguem, portanto, para isso, é preciso educá-los, com paciência e com carinho para ensinar que na vida existe o que é certo e errado, e que geralmente atitudes negativas nos trazem respostas negativas, e o contrário disso, quanto mais nos cercarmos de atitudes positivas mais teremos um retorno muito mais favorável.”
Na verdade, muitas vezes os pais custam a se acostumar com as mudanças – que são muitas – que a criança vai revelando a partir dos 2 anos, pois já não se tem mais um bebê em casa e surge uma grande transformação no comportamento da criança. A partir dessa nova idade, os adultos precisam ir mudando o jeito de tratar a criança, pois ela já está mais preparada para uma nova relação no seio da família e até nos grupos mais próximos de que começa a participar (escola, por exemplo).
Sobre o certo e o errado, que é o que nos ocupa aqui, até mesmo pelo olhar crítico dos pais ou pela mudança de postura deles em relação ao que faz, a criança começa a perceber que certas ações terão determinadas consequências, algumas são aceitáveis, outras não são aceitáveis. Daí ser importante elogiá-la quando fizer algo construtivo e orientá-la quando for o contrário. São estas medidas que a ajudam a manter ou deixar certos comportamentos e atitudes. Mas, atenção: o tom da fala do adulto nunca deve ser ameaçador nem seu conteúdo deve trazer nenhuma chantagem para a criança. E mais: é a partir dos 2 anos que a criança inaugura determinados comportamentos.  Fazem parte de seu desenvolvimento episódios de teimosia e de irritação (as famosas birras). Adora dizer “Não!” ou “Não quero!”. Sabendo disso, os adultos, principalmente os pais, devem compreender que ela apenas está aprendendo e conviver com seus próprios sentimentos conflitantes. Não é motivo para irritação.
Daí para a frente, até quase aos 3 anos, a criança começa a aprender os conceitos de certo e errado, bom e mau. Sem dúvida, essa é a hora de os pais educarem seus filhos para se tornarem adultos responsáveis. Mas, atenção, é interessante ressaltar que apesar de adquirir essa consciência, é justamente quando estiver mais próxima dos três anos que a criança começa a tentar violar as regras sociais e familiares. Muitas vezes o faz apenas por diversão, esperando arrancar risos dos adultos e irmãos. Assim, pode jogar o prato de comida no chão ou os talheres utilizados quando estiver satisfeita, rir dos erros de outras pessoas, desobedecer ordens.
Nada é motivo para agressividade ou punição. A conversa sempre será essencial. A orientação sempre será o caminho.



[1] Este texto para estudarmos foi escrito com todo o amor do mundo para sabermos lidar com Luna. Educar exige que aprendamos como fazê-lo. Não é brincadeira. Não nos formamos educadores espontaneamente. Precisamos debater, estudar, conversar.  Não é porque fomos educados de um jeito que ele é o correto. O mesmo vale para o oposto. Não se trata, portanto, de fazer o contrário do que se recebeu dos pais. E o que é fundamental é sabermos que nossas atitudes marcam a criança para sempre.
[2] Psicóloga.
 http://www.oaltotaquari.com.br/portal/2012/06/aprender-com-as-consequencias-desde-cedo/ - acesso em 29/09/2016.

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