segunda-feira, 3 de outubro de 2016


Alma partida
(Escrito em 3/10/2015)
Que a vida é um poço de contradições, eu sei desde antes de ser loura, creio mesmo que é descoberta vinda desde antes, quando era tão morena que até de PRETINHA eu era chamada. É mais do que sabido e sentido que nossas carnes e ideias têm que cotidianamente se digladiar entre risos e lamentos, num dia-a-dia que nos embaraça entre momentos que individualmente nos alegram e circunstâncias sócio-históricas marcadas pela descrença e pelo egoismo. Mal temos um momento leve com um filho ou filha e já nos vemos em estado de perplexidade diante da crueldade de um acontecimento. Um sorriso franco e largado descomprometidamente ao sabor do vento é comumente interrompido por mais uma informação que revela mais uma selvageria do mundo dos homens, tornando-nos instáveis, indecisos, falsos. Ou bem valorizamos o nosso próprio umbigo e o solzinho que lhe aquece a pele frágil, ou bem nos envolvemos com o último fracasso de uma ação no âmbito social que retarda ainda mais a esperança na possibilidade de um mundo mais humanizado. É a ambivalência impondo -se todo o tempo dentro de nós.
Pois lá vinha eu contar a conversa que tive com meu filho no caminho Itaipu-Niterói, e que mais uma vez me fez rir diante de seu humor reconhecidamente refinado, e me deparo com o noticiário que fala da morte de médicos e enfermeiros do MÉDICOS SEM FRONTEIRAS num hospital do Afeganistão.
Nem o que dá pra rir dá pra chorar nem dá para se tratar de risos quanto se quer mesmo é chorar. A história gaiata há de esperar. Há que se cuidar com zelo de tamanhas contradições em franco embate. Caso contrário, a esquizofrenia vem e nos toma por inteiro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário