Niterói, 6 de outubro de 2016.
Para meus amados Luciana Farias
Sampaio e Zeca Azevedo
Ainda hoje a nossa Luna
(permitam-me ter um pedacinho desse sentimento de pertencimento em relação a
ela...) carrega um já quase imperceptível assombreado abaixo do olho direito em
função da brutal queda que teve da rede da varanda lá da casa de vocês. Foi
horrível demais ver aquela criaturinha, conhecida por sempre expressar sua
intensa alegria, sofrendo a dor de um machucado tão violento, justamente em sua
face, costumeiramente iluminada e iluminante.
Todos nós, integrantes do fá
clube do "Luna Handebol Clube", nem é bom lembrar, ficamos aturdidos
e acometidos de um profundo mal estar por não podermos nos transportar para o
lugar dela e termos que ir acompanhando, com a paciência possível e o carinho
desmedido, a sua recuperação, que pareceu levar um tempo muitíssimo além da
conta.
Hoje e quanto mais leio sobre
crianças e seu desenvolvimento, me dá uma vontade danada de dizer a vocês o que
sinto a respeito do machucado físico de Luninha, hoje totalmente superado. É
que ela se acidentou por estar brincando. Ela estava em estado de liberdade e
alegria com os primos numa atividade criativa e lúdica no jardim. Ela estava
vivendo simplesmente a benção de ser criança em sua livre expressão. Ela estava
em estado de amor, em estado de descoberta, em pelo vigor do viver a sua tenra
idade. E, quem vive, queridos, vive. Expõe-se. Corre riscos. Acidenta-se. E
segue adiante, acumulando os aprendizados do viver. Ou seja: momentaneamente,
houve um sofrimento desmedido. Mas, isso é da vida de quem está ativo, em
estado de viver em direção a um tipo de sucesso que não é individual nem fruto
de mensurações descabidas, de competições e desvios em relação ao que é
"ser feliz".
Não me julguem mal. Penso até
que não me julgarão. Mas, nada é pior do que uma criança tolhida e pré-moldada.
Seu futuro fica comprometido e apequenado. O machucado de Luna foi superficial
e fruto de um bem-viver cujo valor é inestimável. Muitíssimo mais grave, sem
comparação mesmo, seria ela ser uma criança modelada, a alma toda refreada em
sua criatividade e nas possibilidades de descoberta e surpresas diante do
mundo.
Sofrimentos? Que sejam os
originados de uma queda em pleno voo numa varanda ao sol! Os da alma, para
estes, sim, as consequências são mais severas e de alcances mais doloridos.
Com muito amor,
Vovó Lulu
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