ALTERNATIVA PARA O VIVER
(Escrito em 4/10/2015)
Carta aberta a um grandíssimo amigo
que me escreve, hoje cedinho, amoroso, ponderando sobre a minha mania de
questionar o mundo, suas dores e suas contradições.
Eis que ele me diz mais ou menos
assim: que o não-pensar também merece o seu posto; que o pensar tem uma
habitual arrogância de se achar o único dono da produção de saber; que as vacas
nos olham com compaixão e seguem a pastar tranquilas; que a tentativa deve ser
a de caminharmos em busca de trans-pensamentos; que o real é vasto e generoso
caleidoscópio; que quem perdeu o senso de humildade foi por isso mesmo privado
da capacidade de contemplação; que contemplar escapole das dominâncias do
saber, é novidade que se saboreia e dá gosto e sentido aos pequenos atos; e
conclui dizendo que enquanto ele de sua janela recebe o coro de passarinhos, eu
observo aranhas tecerem bordados.
Ao que me pareceu, para ele, amor e contemplação são as
chaves do bem viver.
Minha resposta
Querido,
Deus meu! Domingo de manhã e essa linda, rica e profunda
oração ao imponderável, prece efetiva e firme à nossa minúscula possibilidade
de intervenção e à incapacidade da razão? E a canção sendo entoada em direção
ao vento, à brisa simples, da entrega ao amor e à contemplação?
Leio, releio, torno a ler, quase rezo por esse credo e fico
privada de meu instrumental já instalado e azeitado pelos anos de uso e reuso.
Deverei parar por aqui, jogar fora as sandálias e ir observar a aranha que tece? Minha insignificância – que cada vez mais prezo e busco, e compreendo e vejo, e sinto e internalizo – deve chegar às raias da total abstenção ao que se pensa construir de sabedoria pela Dialética e pela História?
Deverei parar por aqui, jogar fora as sandálias e ir observar a aranha que tece? Minha insignificância – que cada vez mais prezo e busco, e compreendo e vejo, e sinto e internalizo – deve chegar às raias da total abstenção ao que se pensa construir de sabedoria pela Dialética e pela História?
Pergunto mesmo, do fundo do meu coração: logo eu, que
abomino o maniqueísmo do “ou isto ou aquilo”, procurando captar as contradições
que convivem em cada parte e na totalidade, devo entender que devo me entregar
ao coração, ao cotidiano sem prévios traçados e sem ideais de utopia? É me
entregar ao que está, aqui e agora, da borboleta à aranha, do vento ao mar, do
que se faz historicamente (outros homens e mulheres) e me deixar inserir nas
ondas do que está posto e me leva para o futuro, de maneira independente de
mim?
Grandíssimo amigo, isso é conversa tão necessária, tão
fundamental, tão educadora que merece um quintal – meu ou de algum amigo – para
ser degustada por nossos pensares, dizeres, dúvidas e possibilidades.
A nós!
Com amor,
Carmen
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