domingo, 29 de janeiro de 2017


Sem chorar, em intervalos em que rio, sorrio e me equilibro. 
LÁGRIMAS INCONTIDAS

(Ensaio?/Crônica?/Artigo? – gênero aberto)
29/01/2017

Quando a amiga me emprestou aquele livro que contava a história das lágrimas através dos tempos, tomei-me de uma surpresa em dose potencializada. Que raro, meu deus! O que eu ia sabendo sem chegar ao topo da montanha do entendimento, atingiu o cume e se fez consciência. Ficava nítido ali que realmente tem gosto pra tudo e gente que estuda qualquer tipo de coisa. A vida encaminha, sem anunciar explicitamente nada com nome e conceito, revelando dados daqui e dali, o sujeito recebe o que lhe vem da vida e, em função de seu íntimo e das marcas de sua historicidade, acaba por cumprir o que lhe chega para dali se construa algo. E, sem se dar conta dos limites de sua autoria naquela decisão, cumpre o traçado, acolhe e traz a si, com o cotidiano intermediando o que lhe vem de fora e o que de dentro responde.
Só não me perguntem por quem essa trama toda é definida, pois nem de longe desconfio. O caso é que tenho visto que autoria mesmo, esta que para muitos lhes define como sujeito, ela é muito mais reduzida do que pode supor o “autor” de qualquer façanha enquanto vai indo adiante em seu trajeto vitalício. O estado de dúvidas com o qual convivo a respeito é permanente, mas nunca a ponto de me tirar o sono nem me impedir de avançar, tomar as rédeas do ir, dialogando em atos com as circunstâncias e seus circunstantes. Vivo e vou vivendo mesmo que ainda não tenha consciência da intensidade  – maior ou menor – da minha porção sujeito e da minha porção objeto diante do que trilho a cada dia. Sabe-se lá em que curva da vida, a criatura se depara com uma necessidade tão específica e inusitada e lá vai ela atrás de um maior entendimento quanto a nuances, gêneses ou sabe-se lá o que mais a respeito daquilo com que tropeçou no meio de seu caminho.
O livro me soou bastante interessante e eu recomendo, pelo jeito como vai tratando do que motiva a lágrima aqui e ali, em tempos dantanho e mais prá cá. Sobre ele, é o que tenho a dizer. Ele foi o que me chegou da vida lá fora para eu falar do que vai aqui dentro...
Fiel ao que acabo de expor e dividir, avalio que, pelo amor a mim mesma e pelo irrestrito interesse que mantenho com minha própria história, sei bem que o meu abraço tão acolhedor em relação ao tema CHORO não é gratuito e tem raízes nas minhas próprias lágrimas e em sua presença tão corriqueira em meu cotidiano. Choro a não mais poder. Choro por tudo. Na contramão de Paulo Vanzolini, em sua composição em que afirma que “ali onde eu chorei qualquer um chorava”, comigo a barra pesa um cadinho mais. Cadinho, nada! Choro por coisas e pessoas sobre as quais não suspeito quem mais possa ter chorado. Os de perto, nem se dão mais ao trabalho de fazer olhar de soslaio para conferir ou nem mais indagam o motivo que faz a voz ficar tremida ou a face orvalhada das sobras que a percorrem, escorrendo dos olhos até onde der. Dependendo da intensidade e não sendo interrompidas pela mão que trata de recolhê-las na maior sororidade (adorei descobrir esta nova palavra!), atingem a blusa bem na altura do peito que lhes serve de anteparo. E tudo segue. Choro, o choro é meu e eu que me vire com aquele líquido desperdiçado (?) a cada tanto.
Vida que segue, mas leva a pensar...  Se fosse apenas quando estou só, mas, não, o choro não tem cerimônia com ninguém. E há circunstâncias especiais que são mais provocadoras. Sem que seja sob efeitos externos, os casos são mais restritos. Sozinha, quieta no meu canto, só choro mesmo é de saudade e por uma brutal decepção que tive com uma grande amizade. Saudade de quem se foi e do grande amor perdido. Sem hora marcada, a dor retorna e eu choro. E isso é realmente quando estou só e sem nenhum estímulo a mais. Vem a vontade e me invade, quando vejo já sou a elas totalmente submetida. A elas, quem? Ainda não ficou claro? Sim, às lágrimas. Às vezes até acompanhadas de alguns gemidos de matar de tão sofridos. Quero lembrar agora, não.  
Com estímulo, o leque se abre bem. Mergulhando em Atafona, é só dar vez a vontade e ao gesto de impulsionar o corpo para a frente e furar a onda que se aproxima que antes do retorno à tona, algo, com certeza, há a mais de úmido em minha face do que a simples água amorenada daquele meu mar. O sentido nessa hora parece ser de libertação e indisfarçável necessidade de recepção de acolchoamento interior para seguir a vida.   
Fotos ou vídeos de Luna também são imbatíveis conclamadores de lágrimas. Raros são aqueles que não me fazem chorar de amor e de vontade de que a presença dela seja, mais do que um registro, uma viva continuidade dos momentos em nos termos de perto uma a outra, integralmente em nossas brincadeiras de tentar ser gente juntas.
Havendo música, aí é que beira ao inexplicável e a explosão é totalmente desavergonhada. Desrespeitosa de maneira indevida com quem puder estar por perto. Quem quiser que evite olhar e vire seu rosto pro outro lado, disfarce como puder e quiser – pegue o celular, mande uma mensagem, assobie ou aproveite o embalo e chore também. Não serei apenas eu a ter motivos de sobra pra chorar. A vida anda maltratando duro e não só a mim.
Nesses momentos, o choro é o sujeito da oração e chega independente de espaço ou tempo, aporta e me arrebata (Também adoro o verbo arrebatar!): tanto posso estar na rua, na sala de espera do dentista, no Municipal do Rio, na rede ou no raio que nos parta a todos.     
Como o fundo musical parece ser proeminente como indutor às minhas lágrimas, penso muito mais em seus desígnios e possibilidades. Perco tempo elucubrando suas maneirices e perco-me em busca de indícios... Assim é que ando tendo uma desconfiança – e que vem-se acentuando nestes últimos tempos – , a de que o tipo de nota musical que integra a melodia, algumas delas facilitam mais o acionamento da função “lágrimas já”. É que, tenho a nítida sensação de que os bemóis e sustenidos parecem ser mais escavadores das profundezas do sentimento. A algumas notas, claro que combinadas com outras, pois que sozinhas são pouco férteis e provocativas, deve ter sido dado, por algum ser superior, um Bach, Tom ou Chopin da vida, um poder a mais de fazerem emergir aqueles sentimentos mais fundos. Assim como agulhas ou qualquer outro instrumento mais pontiagudo que corta com mais facilidade alguns tecidos, os sustenidos e bemóis têm, sei lá,  a potencialidade de abrir a correnteza das dores e inconformismos, saudades e emoções que não se bastam sem algum tipo de choro que nos preserve a vida. Quando nossos ouvis captam seu som, se não chorarmos, me parece, sucumbimos. Há que ser chorada a emoção. Submissão total - não passa por mim a decisão sobre a conveniência ou não da descarga líquida. Sem esse extravasamento, sobre o qual não tenho o menor controle, talvez o alma não pudesse conter suas dimensões sem explodir, e até matar.

O que anseio, ao falar disso publicamente, é encontrar alguém que faça ou já tenha feito algum estudo sobre o que provocam melodias na alma humana, tal qual Anne Vincent-Buffault produziu em relação ao tema da lágrima, ela que se dedica a estudar a história da sensibilidade humana.

Alguém aí? Não que eu não vá continuar a chorar ante notas musicais deste ou daquele tipo, mas seria tão mais virtuoso e consistente saber um pouco mais da teoria que me conduz à prática de tamanha exposição e insubordinação diante do que é mais usual entre os humanos com quem convivo...


Ainda bem que sou também dada a risos, tímidos, leves, fartos ou até espalhafatosos. Pelo menos dou conta de viver de modo mais ambivalente. Pior seria ser taxada como um bloco unitário que só pende para um lado só, e o da tristeza, o que, para mim, pelo menos, seria lamentável. Convivo muito bem com a busca e o encontro daquilo que, sem que saibamos também bem o porquê, traz uma boa gargalhada à face, cobrindo de ressignificação  e de pureza o ambiente, por ser fruto de algo que, vindo de outro coração, pode transformar o insosso, o invisível, o irrelevante num outro acontecimento carregado de viva em novas bases.

Lágrimas ou risos, menos a mesmice e a superficialidade! E que nada nos sujeite a ser de um jeito só, imutável, em linha reta. Isso, não, por favor!








sábado, 28 de janeiro de 2017


LIBERDADE PARA AS BORBOLETAS

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Euzinha, imaginária

(28/01/2017)

Providência preliminar indispensável: definir um dos termos – no caso, borboleta, trazido para o singular. Não o fazendo, o texto certamente cairá no vazio por falta de referência. Preciso facilitar pro leitor. É uma questão de respeito por ele e por mim. Quero dizer e quero ser entendida.
Ah, sim, e faço isso porque reivindico igualdade de direitos. Se havia um conhecido senhor de negócios em minha cidade do interior sobre quem se contava que não tinha muita palavra nos negócios, tendo por hábito dizer “a palavra é minha, eu dou e tiro a hora que quiser”, se ele podia realizar tal proeza, com direito até a ter virado lenda urbana, eu exijo isonomia e quero que se entenda, pelo menos neste texto, o termo borboleta como simplesmente o monosssílabo MIM. Dá pra se substituir por euzinha que também dá certo.
Temos, então, por força de minha vontade (escrevendo sou dona do mundo), o aproveitamento que faço de um título bastante conhecido de um filme – LIBERDADE PARA AS BORBOLETAS – e liberdade aqui significa simplesmente MIM. Simplificando, o título desta minha conversa fiada (ou afiada) pode ser lido simplesmente como LIBERDADE PRA EUZINHA. É isso.
É que a liberdade que me dou vem-se fazendo ilimitada. Vantagem (cobertor curto) da idade: a boca está mais frouxa, deixa escapulir o que dá na telha. Até posso me esforçar para mudar, mas só se me derem uma, uma que seja, vantagem para eu perder a minha espontaneidade, estando já na esquina de entregá-la, junto com o resto da borboleta (Lembram-se? Borboleta = mim) às ondas douradas e tíbias de Atafona, quando a voz sumir de vez cá na terra onde piso cada vez menos firme. Na verdade, terra firme está virando ficção – anda escassa tanto emocionalmente quanto no mundo das caminhadas no chão mesmo por onde passo com os pés de carne e osso (e vontade de seguir).
Pois ontem o meu fisioterapeuta esteve aqui a me acarinhar com a desculpa de que é para colocar no lugar devido a minha coluna, cheia de entorses de nomes estranhos. Conversa mole para boi dormir. Ou, para ser mais exata, para senhora de fino trato ser apertada por poderosas mãos que trazem conforto muito mais do que cura para o que já foi além de um lugar de onde possa ter retorno.Qualquer coisa diferente disso é puro detalhe sem a menos importância. 
Estava tão delicioso que a certa altura eu me virei pra ele, hoje já meu amigo do coração, e indago: “Você faz massagem em sua mulher? Se quer tê-la pra sempre, nunca deixe de fazer, pois ela não viverá sem. Nunquinha abrirá mão deste prazer. Agora, se quer que ela vá embora, pare rapidinho de fazer antes que ela se vicie nesta maravilha e não deixe mais você em paz.”
Rimos um bom tempo e ele me prometeu intensificar o trato massagístico-terapêutico que vem dando àquela que gosta de ter por companheira...
Mas, com um detalhe, arrematei: "Só não pode me abandonar, meu médico recomendou como totalmente indispensável, bla bla bla bla bla bla e eu já estou viciadinha". A cada sessão, tudo continua dolorido como antes, melhora mesmo não vem, não, é coisa pouca. Do que não abro mão pra valer é dessas duas horas de carinho explícito. E conversando junto? Tem melhor, não!

Até semana que vem, mãozinha santa!



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

ADEUS ÀS ILUSÕES
(26/01/2017)

Foi filme, eu sei. Mas hoje é minha vida, real como aquela árvore verde que me olha da janela. É que o caminhar da vida é o grande mestre. Você anda, você vive, você aprende. O pensamento é como um escravo, sem autonomia alguma, vai seguindo, calado atrás daquele que segue, até dar um salto à frente do vivente e se fazer ouvir. Num átimo de segundo, sai de seu papel secundário, invisível, e toma as rédeas do raciocínio explícito, visível, sistematizado, vamos dizer assim...

Estou aqui pensando... apenas  revendo o que tenho feito há dias... De repente, me dou conta de um comportamento muito interessante que tenho tido. Não planejei nada. Foi acontecendo e hoje me salta ao pensamento esta constatação: tenho limpado minhas coisas. Não as coisas do mundo dos objetos – jogar roupa fora, enfeite inútil ou quebrado, sapato que não uso, ... não. Isso já faço. Aliás, tenho passado a fazer, como um jeito recente de caminhar com menos tropeço e mais alcance, creio que vindo da tentativa de um certo bom senso de olhar e ver o que vale e o que é lixo e inutilidade.  O que sempre fiz, e isso vem de longe, é aproveitar o que pode ser aproveitado. O lixo é o fim da linha. Podendo, aproveito.

Mas, do que me dou conta é de que estou limpando o existencial, não sei como chamar, mas limpando o que não vale a pena em termos de vida, de relações, daquilo que não é diálogo verdadeiro. Limpando-me de pessoas, de gente. No jogo do bicho não vale o escrito? Aqui, agora, quero que valha o que é. Verdadeiramente, o que é. 

Quero ficar com o que existe de fato. Antes me sentia ocupada, tamanho o volume que recebia de emails. Verdade. Mas, isso era à primeira vista. A maioria? Propaganda. Bloqueei tudo que não era coisa para mim mesma. Hoje recebo poucos emails. Fico até meio incomodada, meio “abandonada”. Mas, o que chega é pra mim e eu fico com o real. Bom assim. Muito melhor assim.

Com os zaps, a mesma coisa. Pra que esta quantidade de coisicas pra cá e prá lá, pra pessoas com quem pouco falo? Chega de brincar de faz de conta. Faxina! Bom assim. Melhor assim.

Cadê aquela amiguinha, tão minha amiguinha que vivia curtindo minhas falas e fotos, me achando sempre linda e formosa? Ando sumida e a criatura está mais muda do que o meu criado, o do lado da cama, útil que só ele, mas mudinho, mudinho. Mensagens pra ela não envio há mais de 15 dias... Cadê a figura? Criada muda.

Alegra-me estar olhando para a minha vida como ela é, com quem está dentro dela de verdade. Em diálogo. Em idas e vindas. No saboroso toma lá/dá cá das trocas.

Tão interessante essa descoberta! E o que me impressiona é que comigo sempre as ações não são planejadas. Elas vão acontecendo e depois o escravo assume a condução e coloca a casa em ordem. Surge de dentro de mim – tanto o ato numa determinada direção como o insight sobre o que está acontecendo ou aconteceu. Para o poeta, uma parte dele almoça e janta, a outra, sei lá, parece que delira...  Pra mim, uma parte de mim age e avança. A outra, espertinha, observa e constata. E eu estou sentindo esse processo higienizador de uma riqueza e genuinidade incalculável!

Chega de ilusões que eu não sou Elizabeth Taylor e Richard Burton já partiu faz tempo daqui destas bandas de mim!




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           TADINHOS 
        
                                  (26/01/2017)




Caso 1 – Uma criança se machuca. O joelho sangra e o braço dói. A mãe acode. O pai vai chegando e vê. Sabe-se lá sob qual inspiração, ele diz: “Ou coloca algo ardente neste joelho ou ela vai ter que apanhar.”

Caso 2 – A professora, entrevistada pela estudante em vias de conclusão de seu curso de pedagoga, diz: “Aqui é o de sempre: os meninos são brigões e as meninas faladeiras...”

Caso 3 – Ao menino é pedido que descreva o que faz no recreio da escola e ela enumera: “não pode correr, não pode brincar de lutinha, não pode empurrar na fila, não pode...”

SOBRE OS TRÊS CASOS
Eu vejo
Tu vês
Ele vê
Nós precisamos refletir
Vós deveis refletir
Eles carecem do que refletimos sobre o que vemos...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

EU E O OUTRO



(25/11/2017)

A QUESTÃO DAS PRIMEIRAS HORAS DO DIA: Qual é a mágica? Ao me encontrar um tanto cabisbaixa, sem o riso solto habitual, a amiga de anos me repreende: “Você precisa saber envelhecer! Na nossa idade não dá pra ficar com ideia fixa no outro, no mundo... Não temos mais tanto tempo. Você tem que ser mais egoísta e pensar em você. Vive com esta mania de sofrer cada hora por um motivo que não é seu... ou é porque o mundo piorou, ou porque o tal prefeito é um autoritário, outra hora porque a educação confirma as condições desiguais  do nascimento de cada qual, ou porque a saúde de uns é “sírio-libanesa” e a da maioria é apátrida, filha (mal amada) do SUS, ou porque a criança pequena morreu sem nem ao menos se saber viva, por sua pouca idade e inocência numa brincadeira qualquer num pouco movimentado parquinho do bairro em que nasceu,  ... Assim, você está cavando a própria sepultura... e, pior, antecipando seu fim.”

A MINHA SINA: nada está no mundo sem que seja um pouco pertencente a mim também. É um blefe, dos maiores com os quais convivo, esta história de que a individualidade é o polo oposto da objetividade, nesta entendida o que não faz parte de minhas intestinas maneiras de existir, com minhas próprias raízes, eu, apenas eu, isolada e despregada do que me rodeia, esteja no Méier ou na Turquia. Não consigo sentir assim o meu estar no mundo, o meu existir, sem estar entranhado de meu estar no mundo, com quem estou no mundo, nas circunstâncias em que estou no mundo, com o que caracteriza o mundo de hoje, suas raízes e janelas para o que virá. Sou o que trago e o que me habita, venha de onde vier.  A interseção é meu formato, minha composição, minha essência. Sou a junção, briguenta, pacífica ou complexamente atada, de tudo que me compõe, dentro e fora de mim.

A MINHA IMPOSSIBILIDADE: VIVER, SENTIR, PONDERAR, GOSTAR, DESGOSTAR, OPTAR, ESQUECER, PRIORIZAR, RELEMBRAR, CONSTRUIR, DESCANSAR, DEIXAR, BUSCAR... SEM QUE O OUTRO ESTEJA DENTRO DE MIM PREENCHENDO MEUS ESPAÇOS DE VIVER, SENTIR, PONDERAR, GOSTAR, DESGOSTAR, OPTAR, ESQUECER, PRIORIZAR, RELEMBRAR, CONSTRUIR, DESCANSAR, DEIXAR, BUSCAR...


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

OBRIGADA, TRUMP!!
(24/01/2017)

(Para quem viu o porta-voz de TRUMP dizer que, diante de fatos que lhe contrariem, devem ser buscados fatos alternativos. E para quem não soube disso, procure saber. É básico ter tal informação. Sem ela não se entende o mundo de hoje)

Por mais incrível e assustador que pareça, trata-se do seguinte (no entendimento do presidente dos EUA): se a vida não lhe agrada, mude-se a vida. Explicando melhor: se o que se diz da vida não lhe agrada, invente-se outro discurso sobre o que foi dito sobre ela Mais explicadinho ainda: sobre a vida, pode-se inventar versões sobre o que durante o seu desenrolar aconteceu.  

Para Trump existe o fato e existe o fato alternativo.

Mais ou menos assim: houve um jogo. O Flamengo ganhou na raça - FATO NOTÓRIO. O jornal torce pelo Vasco? No problem! Ele cria um OUTRO fato: o Flamengo ganhou por conta de um pênalti mal marcado - FATO ALTERNATIVO.. Simples. Se você é da imprensa, cumpra seu papel: crie a vida. Invente. Tente. Faça algo diferente! E isso, no campo do esporte... imaginemos na política, na ação que engendra o cotidiano de uma nação..

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O cara que hoje ocupa a cadeira vista como a mais poderosa do Planeta, ter um assistente que entende que diante dos fatos, existem fatos alternativos, é uma aula de primeiros socorros quanto à nossa sobrevivência cívica. Aula a que não podemos faltar!!!!! Sem ela não entendemos o mundo e o que nos fazem pensar sobre ele.

VIVA TRUMP! Quero novas lições, grande líder!!!!!!!!!!!
ARGH!!!!!

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OBTUSA!
REINCIDENTE NUM MESMO ERRO!
REPETIDORA DE ASNICE!
...
(24/01/2017)
Nada disso! O título é mais simples: gulosa. Apenas essa palavrinha resume tudo: gulosa. Ela mesma, a que se deriva da que nomeia um dos sete pecados capitais, o que me põe a nocaute.
Por que não aprendo? Parece coisa de praga que me rogaram. Coisa de alguma “madrinha” malvada que andou me visitando ainda nos tempos em que meu quarto era aquele, pequenininho, do lado do de papai (em tempos em que ainda era de papai e mamãe – o quarto do bebê da vez)? Terá sido ela que me faz desprezar qualquer bom senso para depois sofrer como estou agora, aqui, em estado de lamentável remorso?
Não importa a origem desta minha incapacidade que insiste em me visitar. O fato é que estou aqui me retorcendo de arrependimento. Coisa de perder tempo pensando na besteira que fiz. Pior do que me lembrar de quando abandonei o homem amado e o danado, da terceira vez, nunca mais me perdoou... (Pior não é não... só falo para construir o texto do jeito que me apetece...) Apetece, veja só... tudo passa pelo paladar....
Eis o fato – corriqueiro – que me põe a lamentar meu próprio comportamento – desprezível: POR QUE NÃO DEIXEI – UMAZINHA QUE FOSSE –  DAS EMPANADAS QUE MEU FILHO FEZ ONTEM PRO LANCHE E DEVOREI TODAS, TODINHAS, E AGORA NÃO TENHO NEM UMA PARA O MEU CAFÉ DA MANHÃ??????????????????
Sou mesmo uma fraca!
OBTUSA!
REINCIDENTE NUM MESMO ERRO!
REPETIDORA DE ASNICE!
GULOSA MESMO! E PRONTO ACABOU ...
Oh, santa protetora dos fracos diante de uma delícia, protegei-me!



segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PINTAR A VIDA DE CINZA
(Escrito em 23/01/2017)
Coitados de nós! Ando com muita pena de todos nós, humanos. Americanos, em particular, como estamos decadentes! Brasileiros, então, ai, que dó! Estamos num país em que se brinca de fazer coisa séria. Ou se faz coisa séria como se fosse brincadeira. Não podemos nos dar o direito de afrouxar o olhar hora nenhuma nem em qualquer direção.  É só virarmos a cabeça prum canto e deixar de olhar o outro que dali virá algo que nos contraria, nos entristece, nos faz menores.
É como me sinto. Fui olhar para a nomeação de um torturador pelo Crivella e pronto: lá vem o prefeito de SP com uma das suas...  Eles são ágeis para fazerem merda. Parece que dormem com o capeta e amanhecem a querer fazer alguma coisa para contrariar os valores mais saudáveis e democráticos que deveriam nos governar. Esta do empresário João Dória pintar murais e grafites da cidade de SP (cidade que não tem mar, diga-se de passagem, um embelezador natural do espaço urbano),  e pintar de cinza, silenciando a voz da cidade, as cores dos artistas, a  leveza que traz ao ambiente urbano esse tipo de intervenção foi de amargar!
Não é preciso muito raciocínio. É rasa a constatação do que pretende o higienizador de paredes, Seu gesto é às claras. Nada exige de interpretações mais rebuscadas ou passíveis de elucubrações muito abaixo da epiderme. Restaurar, partir do que está, aperfeiçoar... nada disso parece estar posto. Apagar, calar, desconsiderar, deixar o nada no lugar do que trazia vida – essa, sim, parece ser a intenção. Que que é isso,minha gente? Pra que isso, meus amigos? Falta do que fazer??????????????
Coitados de nós. O cidadão amanhece e vai pro trabalho e encontra uma parede cinza à sua frente. Limpa.
Mas, não se engane, prefeito! Isso não muda a essência das coisas! Apenas mostra a arbitrariedade de seu gesto. Dá visibilidade aos valores que conduzem sua ação. Escancara o que você parece entender quanto a prioridades, estética, autoria, arte, essas pequenas bases que norteiam o cotidiano de um administrador. E que, como sustentáculos da ação humana que você empreende, se são feitas de um jeito, poderiam ser levadas a efeito de outro, bem diferente.
Imagino que nosso educador maior – Paulo Freire –, que já foi secretário de educação de sua cidade, com certeza veria em seu gesto aquilo que ele mostrava em relação ao setor educacional  e indagaria: a favor de que e de quem governa, prefeito? E contra quem e contra quê?
Estamos ficando imunes a surpresas. O que virá por aí? O Cristo com uma faixa iluminada recomendando que o dízimo seja pago nas agências da Igreja Universal? Ou o Ibirapuera trazendo uma grande exposição das indumentárias usadas pela família Trump no dia da posse?
Um dia eu ainda acabo entrando no rol dos que tomam tarja preta para dormir...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017


MODUS VIVENDI
(Escrito em 20/01/2017)
Eu sei que não virá. Como sabia ontem quando tampouco veio. De maneira idêntica aos dias de antes em que nunca veio. Amanhã não trairei meu hábito e também esperarei mesmo não vindo. Não virá, nunca virá, não é pra vir, não, mesmo, mas sou toda espera. E esperarei indefinidamente, até o dia em que me esquecer o significado do que seja esperar. Se é que virá... E explico bem: não esquecer quem eu espero, reafirmo com todas as letras de minha espera, pois que o objeto de minha espera é como que uma tatuagem cravada no coração e dela não me livro nem me livrarei jamais. Por ela acordo, abro os olhos, vivo o dia. E o faço, vivendo o que não é espera para dar conta do que de fato me move, me justifica e me sustenta. E, com todo o esmero e zelo, me visto de espera. 

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(escrito em 19/01/2017) 
O NOME DAS COISAS















No interior da barraca, de porta aberta, Tom viu as latas de óleo, havia só duas latas, e um balcão em que havia um prato com açúcar-cande quase estragado e barras  de alcaçuz, também muito velhas e cobertas de poeira, e cigarros.
(Trecho do livro "As Vinhas da Ira" cap. XII, de John Steinbeck).

Ler nos leva a caminhos totalmente surpreendentes, insuspeitos, inimagináveis. Ler, trato logo de explicar, lendo com olhos, mente e coração de braços abertos para entender, para interpretar, para avançar no corpo e na alma do que é lido.
Eu já li, por exemplo, de Roberto Pompeu de Toledo, até falsamente atribuída ao imortal Drummond, a indagação sobre quem teve a ideia de repartir o tempo em fatias, ideia sempre revisitada por ocasião das ilusões (permitam-me!) de final de ano e trocada à exaustão entre conhecidos e amigos, em seus ditos realimentadores de ânimo sempre que o tempo troca de roupa, a cada 365 dias, ao menos na aparência.
Agora, sou apresentada a uma palavra totalmente desconhecida para mim. Palavra bonita. Sedutora. Talvez até por sua invulgaridade, eu que sou de um mundo em que o diferente logo chama a atenção. Palavra esquisita. Daqui não é. Tem jeito de andarilha, de ter vindo de bandas d’além. A palavra é ALCAÇUZ.
De onde terá saído? O que será?  Antes de nomear o local onde se inaugura a era da barbárie mais candente, o que era? Aos meus ouvidos, Alcaçuz soou como um nome poético, quem sabe de origem árabe, o AL me convida a conjecturar assim, distante dos sons mais comuns com que convivo e que tenha algum sentido aos meus ouvidos brasileiros, lá do interior da terra do cabrunco.
E eu quero ler. Quero, necessito, tentarei. E ler daquele jeito como falei dijaojinha, daquele jeito que entra e sai da leitura no gozo da descoberta, do encontro, do trabalho com as palavras. E fui atrás de sua história, do seu significado, da sua origem. Não ousava nada muito profundo, nenhuma pesquisa de especialista, nada disso, apenas querendo me situar. Cidadania viva. Aliás, não consigo dar conta de nenhum tema sem olhar nos olhos de seu nome. É um começo pelo qual me afeiçoei enquanto vim cruzando os caminhos desta vida. Não foi assim que fui atrás de meu nome e descobri o verbo carmear, que congrega a ação de desfazer nós? Pois é...
E o que é ALCAÇUZ?
Espanto! Quase susto!
Alcaçuz é uma leguminosa, originária da Europa e da Ásia, cuja parte mais usada é a sua raiz adocicada, rica em glicirrizina, com diversificado uso na medicina natural. Produz adrenalina e auxilia no tratamento de úlceras de estômago, tosses, amigdalite, rouquidão, feridas e furúnculos; em bochechos cura inflamações bucais e combate aftas; combate conjuntivite aguda; indicada para ações para conforto do aparelho gastrointestinal, até mesmo contra refluxos; eficaz para os músculos e articulações e contra artrite reumatoide; há indícios de que combata cáries e recupera o doente de esgotamento crônico e até mesmo do cansaço da menopausa. Suprime a secreção do antígeno do vírus da hepatite em pacientes infectados. Combate virores, dentre elas o HIV, a Hepatite C e o herpes.
Planta selvagem, é alvo de estudos publicados de vários autores sobre sua ação antiviral, é usada na fabricação pastas, licores e até xaropes para as confeitarias, sua forma é de um arbusto, com floração garantida todo ano, sendo suas flores de um róseo arroxeado, em cachos, e seu fruto uma vagem alongada, cada qual contendo de 3 a 5 sementes marrons, prontas para perpetuar a espécie. Cresce naturalmente em lugares planos e secos, bem como em solo arenoso das bacias dos rios.
O seu uso de forma medicinal é um dos mais antigos registrados, chegando até a ter sido relatado pelos egípcios antigos em seus papiros e tendo tido suas virtudes apontada também pelos gregos.

Li e reli. Comparei e analisei. Juntei fragmentos e raciocinei. Por agora – com certeza outras inquietações virão adiante – particularmente chamou-me a atenção a capacidade da Alcaçuz trazer aos humanos uma maior facilidade de acesso ao ar que nos garante a vida. Sim, recomenda-se com destaque o seu uso para bronquite e asma. Veja só: coisa de dar vida, de trazer conforto. De abrir pulmões ao mundo. Nada a ver com morte e encerramento do ciclo de absorção do oxigênio, este mesmo que nos coloca de pé e sem o qual fenecemos.
No Brasil, Alcaçuz é nome de um presídio, situado no Rio Grande do Norte, inaugurado, em 1998, na gestão de Garibaldi Filho. É um dos locais onde nos últimos dias se inaugurou uma nova indústria, a de matar presidiários de maneira trágica, desapiedada, covarde, animalesca.
Aí, comovida e vivenciando dúvida similar à do escritor que se perguntou sobre quem teve a ideia de dividir o tempo em fatias, eu também indago aflita: quem teve a ideia de nomear um presídio com nome de uma planta tão generosa, tão pronta para facilitar a vida, tão à mercê de um uso humanitário tão amplo? O que há que ligue uma coisa a outra? Quais nexos entre a planta e o presídio?
Vou ter que estudar mais. Foi muito pouco. Incipientes as informações. A grandiosidade da planta não parece combinar com um local de aprisionamento, infelicidade e, mais recentemente, barbárie. Vou adiante e conto com o mundo em meu auxílio. Os nomes, ao nomear, encaminham configurações, entendimentos, possibilidades e impedimentos, não absolutos, mas reais.
E isso tudo na terra do grande e inesquecível Moacyr de Góes, o que amplia a beleza da planta e torna ainda mais fúnebre o destino que dão à planta feita nome de um local de morte e horrores.







domingo, 15 de janeiro de 2017

INCETO

(escrito em 15/01/2017 após receber uma correspondência oficial de um especialista, pós-graduado onde se lia a palavra inseto assim grafada, com c)

Já não sei mais classificar que bicho é este. No máximo, espichando minhas possibilidades, faço suposições. Dou trelas – e bem coesas e bem segmentadas –  à imaginação. Rememoro até idas à roça, espaço mais habitual de serem encontrados estes seres raros, para ver se descubro do que se trata. Mas, nada! Inseto com c? INCETO? Não, não mesmo, nada me ocorre!

E dou de ponderar: se aqueles outros, comunzinhos, grafados com a letra oficialmente recomendada (o esse, todo bonito cheio de curvas ) – abelha, zangão, formiga e que tais – são pequeninos, e mesmo assim muitos deles nos aterrorizam, esse novo – o do c da barriga aberta – deve ser assustadoríssimo.

Desconhecido, sua periculosidade se amplia. Verdade. Li uma vez, e agora me serve, que a força dos fantasmas está justamente em sua irrealidade. Ui, que horror! Nem quero pensar nisso, pois o medo se avoluma em proporções geométricas.

Mas, sigo atormentada. Que danado de bicho será esse? Imagino tenha sido descoberto enquanto eu envelhecia e pensava em política e nem me dei conta. É o de sempre, o trivial simples: eu sempre fora do tom...

Quantas patas terá? O fato de ter grafia tão inusitada ampliará em quanto as suas dimensões físicas?Terá surgido das águas fétidas da Samarco? A peçonha mata ou sucumbe a alguma vacina? Tem a ver com a febre amarela que começam a anunciar como próximo mal a nos acometer? Dúvidas, muitas dúvidas...

Antes que me enterre viva de pavor, vou é tomar um banho frio que o calor é assustador e, em seguida, me servir de uma boa taça de espumante gelado para aquietar o meu coração. Essa conversa fiada que teço não me serve pra nada. Apenas me desvia do essencial da vida – meu almoço de amanhã. E eu que escrevo tão direitinho...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

PEQUENOS SINTOMAS DE QUE ATOS FALHOS MERECEM SER CONSIDERADOS PARA APRENDERMOS COM ELES

(9/01/2017)

Enfrento, hoje em dia, o mais pleno processo de bipolaridade: ou rio - do mundo e, muito especialmente, de mim; ou me irrito com tanta asneira explícita que anda solta por aí, a olhos vistos, sem as pessoas nem se darem conta do que andam expondo de si; ou sigo à onda do tudo junto e misturado e contemplo as duas coisas: diante de alguma barbaridade(assim considerada por mim), dou uma boa risada, esteja eu onde estiver, e faço acompanhar a minha explosão humorístico-nervosa, da mais profunda perplexidade pelo caminhar da rota e de seus transeuntes...

Tanto é assim que, só num relance, me lembro das seguintes ações que tive ao meu alcance e diante das quais me embolei entre riso e susto:

Escracho 1 - O marido está com doença gravíssima podendo até morrer em pouco tempo, e a mulher - servidora pública - lamenta, como a pior situação do ano que passou, o fato de ter ficado sem pagamento. Que casamento, hein? será que segue a tal lógica do "sou infeliz, mas tenho marido?"

Escracho 2 - A coordenadora explica que haverá um "treinamento" na escola mas que os professores nem precisam se preocupar em participar, é apenas para cumprir uma exigência do órgão de Educação. Está, pois, autorizado o vale-tudo na escola em termos de dissimulação e engodo. Eita educação séria!!!

Escracho 3 - Uma educadora organiza um calendário escolar e ilustra os dias letivos com a imagem de um bonequinho sério, inexpressivo, e os finais de semana com outro, feliz da vida, riso tomando a cara toda, de orelha a orelha. Se ela entende que só longe da escola se tem alegria, que dirá a pobre criança?

Escracho 4 - A mãe diz para a professora que o seu filho gosta mesmo é da hora do recreio. A professora concorda e entende, dizendo que "o recreio é legal mesmo, porque as crianças se soltam e se divertem". Pera aí: a sala de aula não é atraente, não propicia desafios, não é estimulante? E é assim mesmo que deve permanecer?