sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O fim, a sua determinação e a responsabilidade por ele
(Escrito em 6/01/2015)
Aqui do lado de fora da janela, pendendo do beiral, há uma aranha, bem graúda, que sobe e desce e, ao que tudo indica, a cada dia com uma base de sustentação mais e mais tecida e ampliada e que, com sinceridade,até onde irá, não sei. A distância que ela mantém de mim ainda me permite deixá-la a salvo e conviver com o medo e a repulsa que, por certo, estivesse mais à mão, me tomariam por completo, obrigando-me a tomar alguma decisão, além desta de simplesmente olhar e conferir seu trajeto e potência, a cada manhã, quando sento para escrever bem pertinho do local de onde se dependura, altiva e alheia a meus temores e expectativas. Vamos as duas nos equilibrando em nossas próprias teias, ela no seu bordado escuro que a traz cada vez mais para perto das plantas que enfeitam o canteiro à beira da janela; eu, com meu sorriso agradecido, com meus medos, coragens, dúvidas, alegrias, e tudo o mais que aranhas e outros bichos - o meu mesmo, sempre irrequieto e sonhador - provocam ao meu existir, individual e coletivo.
Os processos são deste jeito: sabe-se lá por qual motivo têm início, porque avançam na direção que avançam, por que se encerram, à luz de nossos tímidos ou agressivos empurrões a lhes conduzir o trajeto... E mesmo por que deixam rastros mais ou menos sanguinolentos quando dão por findada a sua construção.
Quem determina o que vai sucedendo neste mundo instável e surpreendente no qual, só para citar um exemplo, num desastre morrem 11 e os demais são poupados do término de sua vida naquela circunstância? Quem bate o poderoso martelo que crava o que acontecerá, ali, naquele segundo definidor da vida ou da morte? Ou do quer que seja?
Será Deus, ou seja como chamemos uma suposta força superior, que dá as ordens para que os destinos se cumpram de um jeito ou de outro?
Será a Física, a Ciência mesma, em sua magnitude, com sua conexões que determinam as razões de os fatos se processarem de um jeito ou não de outro?
Ou o acaso, a ausência de causas aparentes ou controláveis, incapazes de serem previstas?
A teia da aranha dá o que pensar. Enquanto ela é tecida, algumas vidas estão sendo levadas até onde não se sabe. E nem por quê. Ou para quê. A aranha se movimenta e avança. E quem não tem mais o seu vigor construtivo? Espera o mando derradeiro, venha ele de onde vier?
Quem observa que se reduza, calada, a sua insignificância...

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