EU E O OUTRO
(25/11/2017)
A QUESTÃO DAS PRIMEIRAS HORAS DO DIA: Qual é a mágica? Ao me encontrar um tanto cabisbaixa, sem o riso solto habitual, a amiga de anos me repreende: “Você precisa saber envelhecer! Na nossa idade não dá pra ficar com ideia fixa no outro, no mundo... Não temos mais tanto tempo. Você tem que ser mais egoísta e pensar em você. Vive com esta mania de sofrer cada hora por um motivo que não é seu... ou é porque o mundo piorou, ou porque o tal prefeito é um autoritário, outra hora porque a educação confirma as condições desiguais do nascimento de cada qual, ou porque a saúde de uns é “sírio-libanesa” e a da maioria é apátrida, filha (mal amada) do SUS, ou porque a criança pequena morreu sem nem ao menos se saber viva, por sua pouca idade e inocência numa brincadeira qualquer num pouco movimentado parquinho do bairro em que nasceu, ... Assim, você está cavando a própria sepultura... e, pior, antecipando seu fim.”
A MINHA SINA: nada está no mundo sem
que seja um pouco pertencente a mim também. É um blefe, dos maiores com os
quais convivo, esta história de que a individualidade é o polo oposto da
objetividade, nesta entendida o que não faz parte de minhas intestinas maneiras
de existir, com minhas próprias raízes, eu, apenas eu, isolada e despregada do
que me rodeia, esteja no Méier ou na Turquia. Não consigo sentir assim o meu
estar no mundo, o meu existir, sem estar entranhado de meu estar no mundo, com
quem estou no mundo, nas circunstâncias em que estou no mundo, com o que
caracteriza o mundo de hoje, suas raízes e janelas para o que virá. Sou o que trago
e o que me habita, venha de onde vier. A
interseção é meu formato, minha composição, minha essência. Sou a junção,
briguenta, pacífica ou complexamente atada, de tudo que me compõe, dentro e
fora de mim.
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