DE IMAGENS
Nunca me esqueço de uma vez em que estava na sala de Nilda, Alves Nilda, então diretora da Faculdade, quando umas alunas, um grupinho delas, entra e indaga: “Lozza(*), sabe de “Fulana”? Ela não passou por aqui? Aquela que se parece com Costinha...?”. Paro de separar a documentação a ser levada para Angra e respondo, espantada:“Coooooostiiiiiiiinha??? Quem, criatura?”. Elas explicam e eu me controlo para não rir e dar asas à minha perversidade. Aluno tem mesmo olhos de lince. Costinha tinha mesmo, de um determinado ponto de vista, uma sósia na Faculdade de Educação. “Vocês, hein? São terríveis... Eu bem queria que me dissessem se fosse eu a estar sendo localizada, quais seriam os adjetivos e detalhes que iriam utilizar para facilitar a minha identificação... Realmente, aluno é bicho danado.... Andem, falem, não me escondam.. Qual a minha síntese?” (E lá foram elas, pelo corredor, aos risinhos, suponho eu, por força de ‘algum detalhe’ a meu respeito que não queriam revelar, assim, de graça...)
Mas, não é? Como as pessoas se referem a nós? O que nos identifica aos olhos dos outros? Não propriamente pela aparência, mas por qualquer aspecto... O que nos resume ao olhar alheio?
Ontem foi um amigo que me fez retomar esta temática comigo mesma, a de quem somos, cada um de nós, perante o olhar alheio. O rapaz, melhor dizendo, o senhor, pois já passa dos sessenta, me confidencia que está numa dúvida atroz em sua vida amorosa: referindo-se ao seu dilema do momento, não sabe se fica com “a de 35” ou com “a de 49”. Duas mulheres resumidas pela idade que já cumpriram.
Meu ouvido não recebeu bem aquele contar. O raciocínio, menos ainda. Fiel à matematização da vida que costuma nos envolver, eu poderia ter ouvido: “a de 1,67m ou a de 1,58?” . Ou, quem sabe: “a de 65 kg ou a de 72?” Tudo esquisito por demais... E pior: ouvi a síntese feita pelo critério idade e logo me imaginei como alvo de uma fala semelhante e não me agradou nem um pouco: “escolho a de 72 ou a de 57?”
Mas, mesmo sem entrar nesta de me autoproteger, por que o critério ser o da idade, meu pai? Por que não: a de olhos tristes ou a de sorriso aberto? A mais tímida ou a mais falante? A que eu adorei beijar ou a que outra, com quem gostei demais de conversar???? Na verdade, se o critério for o de idade, já saio perdendo na comparação. 72 não tem o menor charme! Até provar que libido não tem idade, já fui descartada sem dó nem piedade. Aí dou de pensar em qual seria a mínima expressão que me resume.
Oh, céus! Por que não vou pegar sol ao invés de ficar pensando asnice? Coisa mesmo de “gente de idade”?!?!?!
(*) Lozza, para quem não sabe, era eu mesma, Carmen Lozza.
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