sexta-feira, 25 de agosto de 2017


O DESAFINAR DA BANDA
25/08/2017


Nos tempos da Ditadura Militar estávamos unidos, nós que sonhávamos com um mundo em que a liberdade nos abraçasse a todos, nela incluída a liberdade de estarmos acolhidos por uma vida digna e universalmente distribuída, indistintamente. Assim como um cobertor de bem estar para todos, até mesmo em respeito a quem produz a riqueza por tão poucos recolhida e usufruída mundo afora. A esquerda tinha, sim, suas divergências quanto a métodos e momentos, mas na hora do imprescindível estávamos unidos contra os generais – e a quem representavam – e contra o mal que nos faziam, cerceando nossos direitos básicos. Contra nós, claro, estavam atentos e fortes os conservadores e a chamada classe média, assistindo a banda passar, sem saber ao certo – ou mais de perto – o que ia pelo Brasil e pelo submundo das arbitrariedades sem fim.
Hoje algo de estranho acontece. E por alguma analogia – estranha? – me lembra os tempos da repressão em que existiam os dois lados bem nítidos – nós e eles. Nós e eles, sim, mas com o recheio daqueles que se mantinham omissos ante a luta ideológica de então. Não fossem os fatos que não me deixam mentir por evidenciarem a pasmaceira geral, poderíamos supor que no atual momento alcançamos uma rara oportunidade, até mesmo impensável hoje em dia. O recheio derreteu e saiu pelas bordas. O brado TODOS JUNTOS SOMOS FORTES está visível, palpável, praticamente universalizado. A obediência rasa e irrestrita dos ocupantes do Planalto aos ditames do deus Mercado / Capital apátrida nos uniu a todos. Dos mais variados cenários e origens surgem vozes contrárias ao que o inimigo de nossa soberania e desregulador de nossa democracia promove com sua ação executiva, autoritária e pérfida. O bando que está no poder nos uniu. Conseguiu praticamente o impossível, dispondo contra si e lado a lado as gentes (quase) todas, nós, eles e os indiferentes: a moça triste que vivia fechada, o homem sério que contava dinheiro, o velho fraco, o faroleiro que contava vantagem, a moça feia, a meninada, a namorada que contava as estrelas – todos em torno de nossa gente sofrida, vendo-se, com certeza, finalmente, também como a própria gente sofrida, em estado de desgosto e revolta diante da destruição da pátria amada, fazendo dela uma pátria como se não fosse...
Momento ideal para mudanças, transformações, sonhos trazidos ao chão da vida? Momento de todos juntos SERMOS fortes? Talvez fosse a primeira e alentadora impressão...
Mas no meio do caminho houve uma pedra. Entre a Ditadura Militar e a de hoje, Civil (mas com armas!), houve os governos do PT. Para o bem e para o mal. O bem, nem preciso repetir e relembrar, pois foi expressiva, marcante e inigualável a realização das políticas sociais que abriram oportunidades antes inalcançáveis para a população mais sofrida do país. Desnecessário bater na mesma tecla. Nossa geração viu, sentiu, avaliou o Brasil de dar orgulho, o Brasil que saiu do mapa da fome, o Brasil que se fez notar fora de suas fronteiras como um exemplo de reorientação de direitos e conquistas fundamentais.
Falo do mal. Do mal que hoje impede que, num momento em que tantos, tantos e tantos estão unidos, não conseguimos ver tal união frutificar em busca de conquistas para todos. O faroleiro estar junto do velho e as moças feias e bonitas estarem unidas contra o desmantelamento da soberania nacional e da ordem democrática não trazem o efeito que poderia advir desse compartilhamento. Todos estão juntos, mas inertes. Contestando, mas sem produção de ação política concreta. O erro crasso do PT em desprezar as ruas e se aliar aos políticos tradicionais, dando prosseguimento aos sórdidos métodos de estar no poder nos leva à descrença, à desorientação, à ausência de direção política. Num momento em que finalmente a chamada classe média se vê como também gente sofrida, o que poderia alavancar ações de avanço democrático e de justiça social, o aparvalhamento é generalizado.
Não desconfio o que virá no pós entrega do Brasil aos interesses do capital transnacional mediante o destroçamento dos trabalhadores, hoje inorgânicos e esfacelados como classe. Não sei, não desconfio, não me atrevo a imaginar. Só sinto vestígios de que a banda está passando. Não soubemos cantar com ela, não estamos sabendo entoar o canto da liberdade. Perdemos, minhas senhoras e meus senhores. A Política tirou férias e nos deu as costas. Estamos sós e sem trilhas a vencer.


QUANTO SOFRER!



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