O PROCESSO E O POETA
23/8/2017
Nunca me esqueço de um dia, no
tempo em que atuei na secretaria de educação, quando uma funcionária que
trabalhava na burocracia de lá me mostrou o que encontrou num processo que
tinha em mãos e ao qual cabia analisar. O "despacho" que vinha a ela
endereçado, fazendo retornar às suas mãos o tal volume, dizia simplesmente
assim: "Aqui por engano."
Num mar de idas sempre adiante,
que é o costumeiro percurso de processos no interior das burocracias oficiais,
aquele inusitado encaminhamento permaneceu em minhas lembranças, certamente por
seu caráter desviante. Ao invés de fazer seguir em frente, um freio repentino e
um retorno ao posto anterior. Aquilo era novo para mim. E ficou. Os desvios são
sempre atraentes.
Hoje, quando uma tia querida, faz
chegar às minhas mãos este afetuoso bilhete, com sua letra desenhada e
inconfundível, eu queria poder dizer o mesmo AQUI POR ENGANO. Mas não posso nem
devo, estaria enganando a mim mesma:
"Carmen Lucia, lembrei-me de
você quando li estes versos de Mario Quintana!
'Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti.
Mas será que nunca deixo
de lembrar que te esqueci?'"
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