DETALHES SÃO REVELADORES
16/08/2017
Certa vez, a caminho de uma escola pública em Vila Isabel para uma de minha atividades com professores, e lá se vão pelo menos uns dez, doze anos, pelas redondezas da 28 de setembro, o trânsito estava totalmente engarrafado, com desvios e total lerdeza. Carros buzinando, pessoas a reclamar e ninguém sabia bem o que estava acontecendo. Tempo perdido, fila de carros encompridando e nada da gente saber o que justificava a demora. Mais perto, o alvoroço de crianças uniformizadas começou a delinear o motivo da retenção. O motorista, tão curioso quanto eu, consegue a preciosa informação: desfile escolar, com banda e tudo, pelotões e mais pelotões de estudantes, das escolas do bairro, a desfilar pela avenida, sob os olhares de quem passava. Olhares dos populares, ali aglomerados – e este era o detalhe mais impressionante de tudo – entre surpresos e indagadores – totalmente alheios e curiosos sem saber que comemoração era aquela, em plena dia de semana, sem ser feriado nem dia da independência. Nada. Só quando cheguei à escola Francisco Manuel – lembro-me bem do seu nome e dos seus professores – é que fiquei sabendo que naquele dia, com o tal desfile, comemorava-se o 7 de setembro, já passado de há muito, mas que, sei lá por qual motivo, as autoridades transferiram para aquela manhã de sol. Ou seja: uma comemoração que não comemorava coisa alguma. Ou não são as pessoas e suas almas em festa diante de alguma data especial que saem às ruas para dar mostras do sentimento que lhe vai na alma? Se ninguém sabe do que se trata e apenas olha aparvalhado para crianças uniformizadas em fila, qual o significado do acontecimento? Só atrapalhar o cotidiano de quem vai pela cidade e que, sem ciência e sem sentimento, reclama dos atrapalhos, totalmente injustificáveis. O nada ocupando o lugar do conteúdo. A irresponsabilidade quanto ao sentido das coisas.
Pois é dessa situação que me lembro quando a minha amiga Angela Siqueira postou aqui um dia destes a sua estupefação ao constatar que as medalhas ganhas pelos vencedores de uma determinada competição de natação, esporte em que é exímia e premiada atleta, não vinham com nenhuma inscrição, apenas medalhas anônimas e sem qualquer significado. Para o atleta que ganha uma medalha sem inscrição, o que levará para sua vida quanto ao prêmio recebido? Quantos metros nadou? Em qual modalidade? Onde? Quando? Um conjunto de ausências e silêncios a lhe mostrar a insensibilidade, indicando o prêmio “vale qualquer coisa” ou “entenda e recorde-se como quiser”... Pra quê o faz de conta?
Um faz de conta me lembrou outro faz de conta. A Vila Isabel daquele dia lá atrás, que não comemorava nada e só aporrinhava comerciantes e transeuntes com uma parada sem data cívica, e a premiação inominada de uns dias atrás, numa premiação que carecia de qualquer significado, são momentos geminados de uma mesma falta de sentido. Ou bem se desfila e todos da comunidade sabem do que se trata e agitam bandeiras e cumprem o ritual daquele louvor específico ou bem cada qual fica em seus afazeres sem fazer de conta, um faz de conta abundante de falta de nexo e de valor. E o mesmo em relação ao prêmio: ou estou entregando uma medalha para que o ganhador tenha um registro de seu mérito num dado acontecimento esportivo, ou ... por que e para que mesmo a medalhinha apócrifa? Vale nada, não! Um dia, por total inutilidade, seu destino será a lata de lixo...
Ou bem se é ou bem se tenta ser. Fazer de conta não leva a lugar nenhum, apenas nos objetifica. Ensinamento equivocado sobre o sentido das coisas, da vida e dos seus valores.
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16/08/2017
Certa vez, a caminho de uma escola pública em Vila Isabel para uma de minha atividades com professores, e lá se vão pelo menos uns dez, doze anos, pelas redondezas da 28 de setembro, o trânsito estava totalmente engarrafado, com desvios e total lerdeza. Carros buzinando, pessoas a reclamar e ninguém sabia bem o que estava acontecendo. Tempo perdido, fila de carros encompridando e nada da gente saber o que justificava a demora. Mais perto, o alvoroço de crianças uniformizadas começou a delinear o motivo da retenção. O motorista, tão curioso quanto eu, consegue a preciosa informação: desfile escolar, com banda e tudo, pelotões e mais pelotões de estudantes, das escolas do bairro, a desfilar pela avenida, sob os olhares de quem passava. Olhares dos populares, ali aglomerados – e este era o detalhe mais impressionante de tudo – entre surpresos e indagadores – totalmente alheios e curiosos sem saber que comemoração era aquela, em plena dia de semana, sem ser feriado nem dia da independência. Nada. Só quando cheguei à escola Francisco Manuel – lembro-me bem do seu nome e dos seus professores – é que fiquei sabendo que naquele dia, com o tal desfile, comemorava-se o 7 de setembro, já passado de há muito, mas que, sei lá por qual motivo, as autoridades transferiram para aquela manhã de sol. Ou seja: uma comemoração que não comemorava coisa alguma. Ou não são as pessoas e suas almas em festa diante de alguma data especial que saem às ruas para dar mostras do sentimento que lhe vai na alma? Se ninguém sabe do que se trata e apenas olha aparvalhado para crianças uniformizadas em fila, qual o significado do acontecimento? Só atrapalhar o cotidiano de quem vai pela cidade e que, sem ciência e sem sentimento, reclama dos atrapalhos, totalmente injustificáveis. O nada ocupando o lugar do conteúdo. A irresponsabilidade quanto ao sentido das coisas.
Pois é dessa situação que me lembro quando a minha amiga Angela Siqueira postou aqui um dia destes a sua estupefação ao constatar que as medalhas ganhas pelos vencedores de uma determinada competição de natação, esporte em que é exímia e premiada atleta, não vinham com nenhuma inscrição, apenas medalhas anônimas e sem qualquer significado. Para o atleta que ganha uma medalha sem inscrição, o que levará para sua vida quanto ao prêmio recebido? Quantos metros nadou? Em qual modalidade? Onde? Quando? Um conjunto de ausências e silêncios a lhe mostrar a insensibilidade, indicando o prêmio “vale qualquer coisa” ou “entenda e recorde-se como quiser”... Pra quê o faz de conta?
Um faz de conta me lembrou outro faz de conta. A Vila Isabel daquele dia lá atrás, que não comemorava nada e só aporrinhava comerciantes e transeuntes com uma parada sem data cívica, e a premiação inominada de uns dias atrás, numa premiação que carecia de qualquer significado, são momentos geminados de uma mesma falta de sentido. Ou bem se desfila e todos da comunidade sabem do que se trata e agitam bandeiras e cumprem o ritual daquele louvor específico ou bem cada qual fica em seus afazeres sem fazer de conta, um faz de conta abundante de falta de nexo e de valor. E o mesmo em relação ao prêmio: ou estou entregando uma medalha para que o ganhador tenha um registro de seu mérito num dado acontecimento esportivo, ou ... por que e para que mesmo a medalhinha apócrifa? Vale nada, não! Um dia, por total inutilidade, seu destino será a lata de lixo...
Ou bem se é ou bem se tenta ser. Fazer de conta não leva a lugar nenhum, apenas nos objetifica. Ensinamento equivocado sobre o sentido das coisas, da vida e dos seus valores.
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