sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017


QUERO MINHA INFÂNCIA DE VOLTA
(E OLHE QUE NÃO FOI DAS MAIS TRANQUILAS COM "SEU" JOÃO COMO DONO DE MEU DESTINO)!
12/2/2017
Em menos de 6 horas, vivi duas situações que me deixaram perplexa, inconformada, desalentada, com a minha hérnia de hiato gritando escandalosamente como uma louca desvairada aqui na frente, se espichando tanto que quase dava para dar as mãos à sua amiguinha lá de trás, a hérnia de disco que se estende por meu tronco calejado de vida (leiam-se muitas alegrias também, felizmente, ao lado das aporrinhações do cotidiano):
- Fato 1 - ouvir de uma pessoa de quem gosto muito que Dilma e Temer são farinha do mesmo saco. Sim, Dilma, a mulher a quem admiro, aquela mesma que, mesmo sob tortura manteve-se digna e respeitável;
- Fato 2 - ir a uma festinha e ver a babá de uma criança se acercar da mesa de doces e quase "furtar" uma brigadeiro, tamanha a falta de jeito com que pegou aquele docinho e o levou à boca, mastigando-o disfarçadamente. Ela sabia que não era para ela. Não é só a piscina de um filme (Que horas ela volta?) que tem gente certa para dela se servir. Pra que meus olhos bateram nela justo naquele momento? A vontade foi de lhe servir outros. E não o fiz. Fiquei foi embasbacada mesmo. Covardemente omissa.
Quero minha inocência de volta!



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PINHA DA MANHÃ

17/2/2017
Sou mais compartimentada do que uma daquelas pinhas suculentas que brotavam lá no quintal da Beira Rio, é, aquelas mesmas que Maninho adorava enquanto eu preferia uma laranja lima, seguida de outra e mais algumas, sempre doces e amarelinhas das dezenas que papai trazia do Mercado.
O porquê da comparação é de fácil explicação, até meio bobinha, pra qualquer criança entender de primeira, sem auxílio dos recursos mais rebuscados do pensamento abstrato. Sou, sim, gominhos mais gominhos, vizinhos fraternos, até serem apartados pelo nosso desejo de aproveitar de seu sabor e gozo. Um simplesmente representa um doce sorriso que deixo escapar ante uma carta de amor endereçada à filha também por mim tão amada; outro, um duro golpe na boca do estômago pelo último gesto cínico de algum representante da banda fétida que faz de conta que nos governa enquanto ganha para si mais poder e benesses dos mais variados tipos; outro, o riso mais efusivo e desgovernado diante da última piada produzida pelo humor incansável e hilário que os brasileiros repartem entre si; mais um gomo, da saudade e das dores e alegrias que compõem nisso percurso pelas trilhas do viver; e por aí vai, ora mordiscando o gomo mais suculento, ora com alguma dificuldade de eliminar o caroço de maior porte, que teima em se apegar ao que de delicioso queremos sorver.
Não sei mesmo se a imagem é a melhor - Lulu, a pinha de uma manhã - mas fazer o quê quando me vejo repartida entre a mulher que ri, lamenta, espera, projeta e simplesmente quer escrever estas mal traçadas linhas antes de se por de pé e dar bom dia ao mundo?
BILHETINHO PARA LUNA ESCRITO EM ATAFONA

19/2/2017

Minha amorzinha, deste ano não passa, você virá conhecer o lugar de vovó Lulu. Se somos tão parceirinhas em Niterói, se lá inventamos moda até não mais poder, aqui você encontrará novas cores e cheiros que sua terra não tem, por mais que seja acolhedora e receptiva como é para quem foge pra lá, como foi o caso de sua vovó Lulu. Aqui Luninha você conhecerá um azul mais iluminado quando olhar pro céu, um abraço mais quentinho quando mergulhar no mar e um ventinho que quase dá para pegar com a mão quando bate no rosto da gente. Atafona é tão gostosa que parece até uma empanada do Dindo ou uma brincadeira na piscina com tio Mido. Mais explicadinho ainda: alegre como nós duas juntas brincando de nossas invenções.
Você virá aqui e eu já estou voltando para reencontrar você, minha atafoninha feita gente. 
Estou troncha de saudade de você, de dindo Martin Lozza e de tia Mali Mariana Lozza.
O AVESSO DO BORDADO
21/2/2017
Sempre que se lê algo saído de algum autor, mesmo que no âmbito da ficção, quando de suas invencionices, especula-se sobre o caráter autobiográfico do material. Comigo nem é preciso supor tal gênese ou imaginar outra passibilidade para o que trago ao mundo com l wue escrevo. Que quem lê nem se dê ao trabalho. Sempre tomo a mim mesma como a mais autêntica e indisfarçável fonte para o que saio por aí apregoando. Sou a origem de mim mesma no que projeto sobre o mundo e seus circunstantes. Só imagino reações e entendimentos de um jeito assim e não assado porque aquela seria a maneira como minha alma se comportaria numa encruzilhada da vida de mesmo tipo. Se imagino o oposto também sou a referência, aí já em oposição àquele que seria o meu jeito de pensar ou agir num determinado momento de vida.
Por isso, quando vejo e aprecio as belezas dos bordados e artes que bela e singelamente Luiza Sarmet faz com suas mãos tão abençoadas, eu olho com tanta admiração e imagino, além do que vejo, o seu avesso, imaginando-o limpo e perfeito. Um acesso que poderia ser o direito.
Meu avesso, quando ouso tecer uma arte como a de Luiza não é limpo nem suave. É tosco e remendado. Minha suavidade reside em outra esfera. Não duvidem dela. Pode estar até meio agoniada, desgovernada, sem pouso. Mas é uma minha fração que se expressa de outros modos. Tenho provas.
Bom dia!
MEU DIREITO À ALEGRIA
23/2/2017
De tal modo estou entristecida com o que vejo e suponho como tendência sobre o que nos alcançará a nós, brasileiros, que até as piadas que circulam incessantemente sobre as artimanhas e maquiavélicas manobras e acertos proporcionados pelos golpistas não me têm encontrado aberta para divulgar e fazer circular pela rede. As graças que se fazem são incessantes e criativas além do esperado, sempre se superando, mas é como se eu não devesse brincar com coisa tão séria.
Acerca das postagens de uns dias para cá e das de ontem, principalmente, é como se uma força interna ralhasse comigo por eu estar sendo pouco séria em compartilhar gracinhas quando o assunto é de uma gravidade muito além do suportável. E é verdade. Como a sensação de desconforto vem crescendo notavelmente, não sei como vou continuar lidando com o humor que se produz sobre o inferno em que se transforma o Brasil a cada dia.
Uma voz interna vem em condenando por estar brincando com assuntos tão graves e de consequências tão nefastas. Eu que vivo de estudar os crimes ideológicos do jornalismo, sempre me detive em analisar o conflito ético, por exemplo, de um repórter fotográfico quando este, ao invés de dar um prato de comida ou um abraço a uma criança prestes a virar alimento de um abutre que a circunda, simplesmente a fotografa, espalhando pelo mundo a imagem daquele momento em que a humanidade se descredencia como tal, ao permitir tamanha crueldade. Mas o fotógrafo exerce o seu ofício, certo de que precisa informar ao mundo aquela maldade, até por amor à raça humana, para que coisas assim deixem de acontecer.
Pois o meu dilema ético do momento é o de me deixar levar pelo riso. A criatividade e o humor do brasileiro navegam em céu de brigadeiro, a toda velocidade, lindos, inigualáveis. Mas, como me deixar levar pelo riso diante deste outro tipo de abutre que nos ronda - o conjunto de maldades que este governo provisório (E VIVA RADUAN NASSAR que assim o classificou!) vem produzindo contra o trabalhador brasileiro?
Sinto-me torta, em dívida, estranha. Sem certezas sobre como agir. E para quem o humor é tão entranhado na derme, meu caso, é bem difícil ficar só com as paredes cinzas. As cores do riso sempre trazem um alento restaurador à caminhada.
Até isso nos caçam. Bem ao gosto do capitalismo que até nossa aliança com a alegria nos quer afanar. Pelo que padre Gabriel nos ameaçava. com a imagem do inferno, nos meus tempos de missa lá no Convento (Virgem Santa! Que meda!), ele está nos alcançando é aqui mesmo, na Terra. Cruzes, Silvinha Silvia Salgado!
Na foto, Luna e eu em um momento de alegria e bom humor no Carnaval passado.


MEU SONO, CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER
23/2/2017

Aí eu tenho que rir, pois me lembro de um dos maridos, o mais efêmero deles, que reclamava de meu sono sempre chegar tão cedo no tempo em que dividíamos os mesmos aposentos. E ele tinha razão. Radicais, não tínhamos televisão, tida por nós como invenção burguesa para alienar o povo. Anos 70. Era a lógica dos inconformados. Tínhamos que ser Toni Ramos e Elizabeth Savalla, nós dois mesmos. Ali, no calor do cotidiano, eu, depois de dar 320 horas de aulas, e ele, depois da volta de seu trabalho, que eu me lembre, sem a menor empolgação com o que realizou por lá. E fomos heróis de novela. Heroicamente. Por um tempinho. Curtinho. Na vida de carne e osso, naquela em que o mais comum é casamento virar biribinha de final de tarde, desisti(timos). Havia vida pra quem não queria dormir antes da hora do lado de fora.
Tem jeito, não. Hoje, sem sono, tenho mesmo é que rir - e ligar a GLOBO NEWS para ver alguma asneira. E dormir, agora não mais de enjoo da rotina, mas de raiva do que ouvirei, que suspeito, antes mesmo de ligar a tv, trará o mesmo do mesmo - outro casamento de merda este meu com os noticiários...
Boa noite - se é que é possível!
Nota de rodapé: ainda bem que tenho para lembrar outras noites insones - e sem tv,- só vivendo o que deve ser vivido. Mas, tal qual a novela da TV, compuseram uma história que teve um determinado número de capítulos e acabou.
E encerro o expediente, que ninguém está me perguntando nada, muito menos sobre a dialética entre horas de sono e casamento, e é passada a hora de ir pra cama e largar de conversa fiada, sem nexo nem finalidade. Ou tem?



COMENTÁRIOS AMANHECIDOS – O PRIMEIRO
23/2/2017


Minha instabilidade é tamanha, que até a foto daqui de frente, a manchete de minha página, a que engana os trouxas sobre o que vem dentro, tem tempo que finda para ficar em exposição. Se ontem, era cara de garotinha com chuca, hoje é cara lavada. Virou o tempo emocional, nova foto. Sou isso que aí está. NEM BATOM! Mas, confesso, porque sou moça honesta: vai nessa, não. Tudo enganação. No ato do impulso ("Chega desta cara, vamos escolher outra") e da escolha de qual foto virá me anunciando, aquilo que parece ser a minha definição para o mundo, logo parecerá um baita equívoco e irá para o final da fila dos álbuns, até ressurgir como nova verdade que mais uma vez morrerá por um novo tempo. Fotos como afirmativas e sensações, mudam e são mudadas.


Como vejo e vê quem quiser, tem jeito, não. Escrevo sobre qualquer coisa. Vou inventando. Pura tática de mulher sabida. O mundo tá esquisito? O amor do coração anda vagueando por aí, burramente sem se dar direito a se entregar a um sentimento que o arrebata e o tira da lógica racional, bobo que só ele? A pia está com pratos, travessas e taças de vinho de ontem à noite para serem higienizadas e repostas em sua condição de virem a servir ao nosso prazer gastronômico um pouco mais tarde? Maya e Noah estão querendo se servir da nova ração que para eles foi comprada ontem à tarde? Que tudo espere! Vou escrever sobre a morte da bezerra. Ou sobre o que me apetecer. E que espere o que tiver que esperar.


Roda tempo, que eu escolho o que fazer com o meu... Tudo pode esperar, menos o meu prazer e a minha decisão de como gozar meu tempo de maneira fiel à foto do dia. Calminha, suavezinha, santinha. Quaquaquaquaquá...


E agora, tudo cessa. Daqui escuto que chegou a água do condomínio, e esta eu não deixo esperar. É ir molhar plantas e o que estiver pela frente, inclusive meu corpo mal dormido, mas cheio de calor e de amor ao que está à porta.


COMENTÁRIOS AMANHECIDOS
23/2/2017

Impossível ver a GLOBO NEWS na madrugada, como mais uma vez tentei fazer ontem. Impossível é um dizer muito acanhado. Não expressa o sentimento todo. É gerador de dor na boca do estômago, é provocador do mais amargo gosto azedo em minha boca, tornada ressecada e áspera, é o mais desagradável mal estar físico diante da mais deslavada expressão de um asqueroso propósito ideológico ao noticiar. A máscara de satisfação com que cada qual que compõe aquela bancada direitista enfeita seus comentários é enauseante. Qualquer hora minha hérnia de hiato, (tida como) curadinha da silva, volta a incomodar. O mundo está acabando em merda e em arbitrariedade e aquelas pessoas saltitam em sua voz, sobre o bom momento brasileiro, sobre o tanto que o careca da maldade arrasou e está nomeado ministro, e coisa e tal. Só discurso pronto e encomendado. Orgasminhos trimilicantes. kikiki kakaka... (do fundo de minha maldade quase rogo praga para que orgasmos mesmo, os bons, eles não conheçam em suas vidas particulares). E entre uma vírgula e outra, lá vem o triplex de Guarujá e mais algum comentário maldoso contra ação que Dilma e Lula perderam em sei lá qual instância da justiça ou algo afim sobre a "quadrilha do PT". A tática é treinada para produzir o que há de pior. Zé Dirceu (aquele que não tem conta na Suíça) ou um de seus pares é a vírgula entre uma fala e outra de enaltecimento do Brasil que toma o rumo certo sob o comando do feliz presidente em exercício. Eita gente "ruinha", como bem diz meu povo da roça, dentre ele "seu" Bil, meu antigo vizinho, que sempre me chamou e me chama de dona Carma, quando me vê chegar por perto.
Já venci um vício, o de fumar. Me fazia mal a não mais poder. Agora, tenho que inventar a cura para o vício da TV antes de dormir. Cadê o marido que eu deixava acordado, cheio de carinho e de quem eu fugia antes da hora, para os braços de Morfeu?
Por que comigo tudo acaba em riso? É o que faço agora, rir um bom riso, pela primeira vez na vida tendo saudades de um tempo em que a alienação total - o sono - era melhor do que os avanços das tentativas de alienação - o sono simbólico - que a TV vem construindo junto a seu público...
Cadê o marido? Sim, mas eu desenho para evitar equívocos. O "chama sono" eu não quero, não! O outro, sim, aí eu quero, ele mesmo, aquele com quem quase não dormia. Tempos de muita conversa e em que a vírgula era outra. Mas, continuando a esclarecer: por uns dias, deixo bem claro, também não precisa ser aquela eternidade toda... tempo pouco, intermitente, talvez... E paro por aqui, antes que o riso descambe para a saudade, pois com a tristeza eu lido bem mais desequilibradamente.


VONTADE DE SUMIR
24-02-2017
Já ouvi tanto isso... Muita gente amiga já me disse, pelo menos uma vez na vida, algo parecido com “ah, que vontade de sumir” ou “se eu pudesse dormia agora e só acordava daqui a uns dias”, como também “ah, vontade de descer deste bonde...”
Nossa humanidade nos atribui luz e escuridão, crenças e desesperanças, movimentos de conquistas e paralisia de impossibilidades, momentâneas que sejam. Forçam-nos a ser ou azul ou rosa, mas a multitonalidade é a nossa marca. Mesmo que em tons pouco luminosos e marcantes não somos uma coisa só. Únicos sim, uniformes, não.
Só com o caminhar da vida – e muitos tropeços, quedas e reerguimentos – é que vamos percebendo que há tempo pra tudo enquanto respiramos. Somos de tudo um pouco e nossa vida também comporta movimentos diversos, inconstantes, até mesmo surpreendentes. Como bem afirma o dito popular – só não há jeito para a morte. Quanto ao mais, surpresas, ciência e o que mais for dão conta de ultrapassar, com ou sem acidentes. Diante da morte é que a pessoa sucumbe mesmo. Inexoravelmente. Dominado por uma determinação externa, alheia à sua vontade, pelo menos explícita, cada um apenas cumpre o seu destino de morrer naquele instante. Digo pelo menos num nível explícito porque, no campo do inconsciente, há circunstâncias em que o próprio cidadão, ainda respirante, constrói tamanhas maldades contra si próprio que a morte chega apenas para oficializar aquele processo destrutivo que já vinha se instalando no sujeito. A morte é de verdade toda poderosa. Ou ela nos tira quem não queremos que vá embora, ou, com relação a nós mesmos, ela ordena seja encerrada a ida e define o ponto final do percurso, independente de nossa vontade. Coisa de esfregar na cara que só ela tem o poder de decidir.

Querer sumir é clamar por uma morte temporária, algo assim como um ano sabático, autorizado, diante de alguns percalços que naquela hora do pedido de “clemência”, esteja-nos parecendo difícil de enfrentar.
Hoje sou eu quem está assim, querendo sumir, sumir de mim mesma. E querendo muito o impossível, que ALGUÉM me encontre. É como se voltar a mim, neste exato momento, não pudesse prescindir de um amor de fora que, por amor, me recoloque diante de meu amor por mim mesma. Nem sei bem explicar. Apenas sinto. E torço para que o meu lado abatido, em desconforto, acovardado se desgrude e que ressurja de minhas entranhas aquela minha porção – iluminada e crente, vigorosa e assertiva – para construir este novo dia que surge. Você, aí de fora, acende esta minha luz?


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Da ordem do pensar alto em busca do alívio pela via do humor
(9/2/2017)
Tenho uma amiga que sempre me envia imagens lindas, seja para dar bom dia, boa noite, excelente sexta-feira, abençoada terça-feira, exitosa quinta-feira ou qualquer outro bom augúrio que, diga-se de passagem, nunca deixo de agradecer e retribuir.
Ontem, quando sua mensagem de boa noite adentrou meu celular, eu conferi o relógio e ainda nem eram seis da tarde, espantada, eu respondi, sem titubear: "MAS, JÁ????". E dei de fazer conjecturas imaginando o motivo de a quitanda estar fechando tão tempranamente para a minha delicada companheira virtual. Não deu outra, o que pensei foi que só podia ser pelo fato de o mundo estar tão descarrilado, os políticos brasileiros, a começar pelo temerário, estarem dando tanta vergonha a cada um de nós, que a autora da mensagem se retirou mais cedo para a necessária recuperação das forças gastas, entregando-se ainda com o sol bem posto para o merecido descanso de um dia tão cruel. Afinal de contas, estarem em destaque para posições de comando do país, numa mesma semana, num tabuleiro bem armado e inescrupuloso, personagens da mais legítima estirpe da malvadeza nacional - Lobão-Mauzão, Menino-Maia, Eduardo-Problema-na-Cabeça-Cunha, Eunício-Cabelo-Asa-da-Graúna-Amigo-do-Agro-Negócio, Careca-Mau-Que-Nem Pica-Pau-Moraes, Nem-De-Longe-Franco-Angorá, sem falar do Homem-Dos-Dedos-Finos-Como-De-Borracha-Que-Se-Mexem-Sem-Parar-Quando-Fala-Com-A- Imprensa, vulgo Fora Temer - faz qualquer um usar qualquer recurso para antecipar o término de seu dia e correr para baixo dos lençóis...
Em tempo: e o Bom Dia dela de hoje ainda não chegou. Deve estar custando a sair da cama, numa ressaca moral do tamanho de um bonde...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017



Hora de me servir, está à mesa


(6/2/2017)

A sensação é exatamente esta, a de ter algum prato posto à mesa para que eu possa me servir, como bem quiser e me aprouver. Dada a sua fama de ser raro, incomum de ser produzido entre humanos e, como tal, ser tido como marca emblemática de sua confeiteira, veio transportado da cozinha com todo o zelo, cruzou o trajeto que o trouxe de onde foi preparado e vinha permanecendo em estado de espera e aportou ao local onde sua apreciação possa se dar, a mesa de almoço, feita para receber alimentos a serem degustados. Sob meus olhares, agora está em sua nova e desafiadora condição. É pois chegada a hora de, com inteligência, tino e autopreservação, tomando os imprescindíveis cuidados com a minha saúde diante de um prato assim tão emblemático, tomar assento, buscar talheres apropriados ao nobre momento e dar partida ao que me cabe diante do que vejo...


É assim que consigo descrever uma função primordial que a escrita tem para mim. Sei que são várias e falo das que precedem esta que hoje quero colocar sob luzes. Tudo começa em que tenho clareza de que gosto de escrever e de que encontro pessoas que gostam de ler o que escrevo, principalmente quando me dou a graça de, ante minhas observações em relação ao mundo, escarafunchar alegria no movimento do cotidiano, buscando imperceptíveis gotas de humor que existem desafiando o nosso olhar, como que à espera de uma outra perspectiva para que possam invadir o mundo. Ontem, por exemplo, passar na estrada do Engenho do Mato e, bem em cima de uma curva onde há um radar, olhar pro lado e ver que algum brasileiro maroto inaugurou um tal açougue denominando-o de “O Radar das Carnes” não tem uma humor subjacente? Tenho um faro para esse tipo de coisa e gosto de contar pros outros estas pequenas bobagens fazedoras de risos. Similarmente ao que há na Justiça, sinto-me como uma juíza de pequenas causas do humor, imbuída, sabe-se lá por quem, da missão de aliviar as agruras do dia-a-dia com o que pode virar riso.


Fora esse lado do meu prazer em escrever – o de gostar de expressar, contar alguma novidade, buscar diálogo, contar histórias – há o da militância, hoje quase que exclusivamente feita à base de textos e mais textos postos a público pelas redes sociais. É só acontecer mais algum desmando, a mídia tradicional dar mais uma de suas tendenciosas interpretações, a população mais esquecida ser golpeada mais cruelmente, esse tipo de assunto que vem cada vez mais se banalizando, que eu sempre me vejo impelida a falar sobre. Sempre tenho a presunção de que tenho algo a dizer, e digo. 

Isso tudo é público, seja escrever para brincar com a vida, escrever para debater política, ... Nada a acrescentar, pelo menos por agora. Na verdade, não é nada que se enquadre nos escalões da alta Literatura, é apenas conversa fiada de quem quer expor e trocar ideias. Daí, tantas croniquetas do cotidiano saem de mim e que, se engraçadinhas, tanto melhor.


Outro motivo, este mais sério, cirúrgico, profilático que me leva a escrever tem a ver com as minhas dores da alma e a minha tentativa de colocá-las ao sol para quarar em busca de amenizar seus efeitos dramáticos. E é essa dimensão da escrita que motiva esta minha escrita de agora, desta linda manhã de fevereiro, aqui em Itaipu, a escrita que vem das tripas e expõe o que é retirado dos rincões da alma e expondo o achado psicológico, interno, dolorido a uma análise a olho nu. Daí a imagem do prato servido para dele me servir. Extirpar de onde está oculto e trazer a meu autoexame. Pura medicina à moda gastronômica da alma em suas penas.

Quando escrevo sobre coisas do sofrimento, não posso sequer dizer que gosto da escrita que surge, pois ela expurga dor e sofrimento. Mas, com certeza, posso assegurar que prezo o ato de haver escrito, pois alivia a alma. Escrever, nesse caso, é terapêutico e tem o dom de me fazer alterar o lugar das coisas em mim, ao me permitir colocar o que me submete fora de mim. Aí facilita a minha ação de ter o mal, sem retoques, ao alcance de minha própria análise. Ele perde forçar ao vir à luz. Lidando com o que me faz sofrer com menos medo, posso dissecá-lo, parti-lo em partes menores e até expulsá-lo de onde estava acostumado a viver, agora expulso, por minhas palavras, das sombras em que andava escondido. Saindo de dentro e vindo para um novo lugar, o mal perde força, tem seu tamanho e potência reduzidos e posso voltar a tomar tenência na vida. É a minha intenção ao escrever lavando minhas feridas. O fantasma deixa de estar à espreita, vem para o centro do rinque e somos, enfim, dueladores em idênticas possibilidades de vitória – aquilo que me faz sofrer e eu.  

Nessas novas circunstâncias, olho no olho, dá pra enfrentar o monstro, fazendo essa dissecação que a escrita permite. Como falei no início, talheres ajeitados nas mãos, posso – creio que só assim – ver a mim mesma com uma ação propositiva que me tire da inércia e me ponha num outro caminhar, a caminho da cura afetiva.  É que está a meu alcance e eu tento. Apetite não ma falta. Cansaço do que já se faz repetitivo além do tolerável. Hei de vencer!



ACORDA, DIA!

(Escrito no dia 15 de junho, quando completei 70 anos)

Acorda, dia! Anda, não se faça de rogado! Pensa que só porque vc todos os dias me expulsa da cama - com seu vigor, poder e façanha - pode retirar de mim a possibilidade um dia sequer chamar você para fora das cobertas estreladas de junho, para mostrar minha luz do encanto mais-pé-no-chão-de-quem-começa-a-se-alfabetizar-no-que-é-ser-alegre-pela-glória-de-chegar-aos-setenta anos?
Sai fora, moleque dia! Hoje sou eu quem acorda você e o retira de seu merecido descanso, pois que estou sendo despertada pelos deuses da alegria, noite ainda, lavando os vestígios da noite com a claridade de meus olhos abençoados. Abençoados por simplesmente existir. Existir e acordar. E acordar cercada de proezas, de amores, de feitos, de dores, algumas até merecidas, outras meio fora de propósito aos olhos de minha condição de pequenino grão de pó de nada, mas dores também ensinantes, por mais que o tempo não as afaste de todo de todos os meus dias de antes e dos que virão...
Não vou me estender muito. Não que não queira, mas não posso. Você vai chegando veloz, só para mais uma vez demonstrar o seu poder e me reconduzir à minha real condição de pó de coisa quase nenhuma... E se eu escrevo muito além disso aqui, você acaba surgindo glorioso, cheio de si, e cassa a minha saudação de querer acordá-lo. Seu tempo é mais rápido do que o de minhas mãos ao teclarem o que me vai no peito.
Voltarei a falar. Hoje, por enquanto, é só agradecer à vida que me concede o prazer de chegar até aqui, acompanhada de pessoas e de situações que me fazem cheia de mim, repleta de amor, não desistente de aprender a existir. Em especial, aos amigos, da família - de sangue e da que venho construindo durante estes 70 anos - que no sábado me surpreenderam com a festa mais linda e emocionante de que já participei. Tudo vindo do coração das pessoas. Tudo para dizer que vale a pena estarmos por aqui por estas plagas. Apesar de tudo. E muito bem acompanhada.


 
Luna comigo no dia dos meus 70 anos

QUAL SAÍDA? E HÁ?
(6/2/2014)

A cabeça ferve, a alma pena. Não tem escapatória quando me vejo diante de uma notícia ruim que me abala. O ansiado equilíbrio nunca se diz presente e a angústia chega certeira, com intimidade, sabendo que meu peito é berço esplêndido com o qual troca figurinhas amiúde.
Eduardo Coutinho morre. Da forma que morre. Como um raio, a sensação que me arrebata é a de sempre: sentir-me o próprio penitente, imaginar suas dores, ver-me em sua fisionomia crispada a olhar, incrédulo, sofrido, impactado, a imagem de quem lhe tira a vida. Sim, aquele a quem ele mesmo a deu, há umas tantas décadas atrás. Terá partido com um olhar de pavor a lhe compor dramaticamente a fisionomia? Não me parece possível ser diferente! E tome de pensar no sofrimento alheio, quase me deixando sufocar pelo que me traz.
Por que não ser diferente? Não foi isso que aprendi na escola. O que me foi sendo cravado na consciência – religião faz dessas coisas – é que , diante da desgraça alheia temos que rezar um pouquinho para que o sofredor se alivie, se for amigo a gente deve dar um socorro presencial, mas não devemos nunca nos esquecer de que temos que nos aliviar e agradecer por não ter sido conosco. Tomada tal providência, dentro de nós mesmos, em silêncio, conversa íntima de filho de Deus diretamente com Ele, é hora de lembrar do quanto somos privilegiados: graças a deus não tenho um filho esquizofrênico, graças a deus não fui eu quem caiu na rua (tenho uma amiga que se espatifou na praia de Icaraí por descuido dos responsáveis pelos orelhões, que retirou um deles do lugar mas deixou aquela pedra “sinalizadora” da sua presença no local, a qual, sem ele, tornou-se a legítima pedra no meio do caminho para tombar – e arrebentar – uns e outros. E se minha amiga caísse de lado? Ou num grau um pouco mais à esquerda ou à direita que fizesse com que as leis da Física a levassem a ter ferido seu crânio e não a face??????????)
Então, por que eu não aprendi a ser uma católica com maior teor de fé e maior nível de fidelidade às regras que devem orientar o procedimento humano diante de si e do próximo????????? Por que, ao invés de agradecer e me sentir eleita para não ter passado por aquele sofrimento eu sofro junto com o outro? Eu não poderia evitar o ocorrido, não dependeu de mim o ocorrido, por que me sentir assim? Por que me ver uma vez mais acometida por inútil e conflituoso sofrimento diante da dor alheia. devo ser presunçosa, achando que posso mais do que realmente posso. Falta-me humildade, é isso.
O pior é que só sobra o inútil sofrimento mesmo. Nada posso fazer. Nada poderia ter feito. Nada poderei fazer. Não há tempo de verbo que atribua a mim a menor possibilidade de reconstruir o fato já levado a cabo.
Por que sentir a dor alheia como minha? E só sentir que o nó que está agarrado na garganta não se dissolve? Nem quando eu venho me utilizar das mesmas velhas, companheiras e ineficazes palavras eu resolvo meu conflito. Nem resolvo o problema do outro, nem o meu. Por quais motivos vejo-me tão contaminada pelos rios pelos quais passei em minha vida, para me dar tão insistentemente a inutilidades?
O jogo não era para ser jogado assim, pela vida adentro – naquela base do “alivie-se, amiga, você vai reclamar de quê? Tanta gente em situação pior e você sofrendo à toa? Falta-lhe fé, para dizer o mínimo, filha ingrata!”
Vou mesmo correr pra minha adorável terapeuta (argentina, não poderia ser diferente!). Mas não creio haver jeito. A briga interna é sexagenária. Nem dá mais tempo de pacificar as partes em contenda.

domingo, 5 de fevereiro de 2017


DISCERNIMENTO
(um desabafo num domingo pela manhã *)

(5/2/2017)

Aposentos de Louise de Lorraine, no Castelo de Chenencou

A palavra eu aprendi a escrever, sei de cor que existe aquele s antes do c. Caminhando por suas particularidades, sei também de onde partiu – a “ação de discernir” - , de quem bem sei ser filha derivada e substantiva. Dela utilizo sinônimos e compreendo, sem titubear, creio que até com o necessário discernimento, a sua capacidade de indicar uma boa escolha, de quem sabe estabelecer diferenças, avaliar, optar por algo (ou alguém – huuuum, aí é que a alma se posta em impossibilidades...), sabendo separar, afastar alhos de bugalhos, ponderando – com juízo, senso, até, quem sabe?, sem temer as danadas das consequências.

Muito bem. Esse é o âmbito das palavras, da sua vã tentativa de prestar serviços à vida e ao registro da condução que dela fazemos. Bem sei que por aí caminho e que lido de modo fraterno não só com os tais dos grafemas, o tão nobre mundo da escrita, e escrevo bem escritinha a palavra – d i s c e r n i m e n t o. No âmbito do significado da palavra, também cruzei caminhos e dou conta de entender sua extensão e grave ambição. Alcanço conversar sobre os sentidos denotativo e conotativo, metafórico e esses tipos de variações que tornam cada palavra – no caso, discernimento -  ainda mais potencialmente ampla e sujeita a nomear situações, sentimentos, coisas e tudo o mais.

Mas, isso só serve à Literatura, até mesmo a esta minha, corriqueira, cujo olhar e expressão se reduzem às pequenas porções que penetram o meu cotidiano. Arraia miúda.  Coisinha que não chega longe, nem vai à esquina... São apenas falas ao vento e incontidas, não de uma literata, mas de uma mulher que conta com a fidelidade das palavras e que ama  a relação com elas mantida.

 Do que preciso urgentemente é de uma aula, um curso, uma explanação, vindos de onde vierem, a me dar uma chance, nem precisa ser muito avolumada e pretensiosa, para que eu obtenha algum sucesso em meu propósito. Psicanalistas já tentaram, amigos, então, nem sei quantos... Vou ter que me ater a especular qual Cortella, Karnal ou Gicovate poderá ser autor da proeza até agora irrealizável, a de que eu preciso trazer a capacidade de discernimento para a vida. Tirá-la do mundo imaginativo e incorporá-la ao embate da vida e à premência de um discernimento restaurador. Expulsar a infecção e estancar o sangue. 

Escrever e sobre ela tecer conjecturas não mais me serve. Do que necessito é  ir além, ultrapassar, viver o depois. Assim: estabelecido o discernimento de que é hora de desistir do amor, encontrar uma poção que fuja do âmbito da gramática e alcance minhas entranhas e jogue no lixo a saudade, expulse as recordações de amor explícito e me impeça de continuar vivendo o inferno do fim do amor. Remédio milagreiro que me impeça de permanecer em meu particular e interno aposento negro do castelo de Chenonceau, vestida simbolicamente de dor, tal qual Louise de Lorraine, lá bem distante, no Vale do Loire. Urge! Caso de vida ou morte!

Bem que algo me dizia, quando lá estive, tamanha o impacto em tomar contato com o vigor daquele luto, que o ambiente visitado, de algum modo, teria um dia a ver comigo. Pois tem. Minha intuição é confiável.  A assim permanecer, torna-se mesmo ameaçador vivenciar um permanente estado de alerta, tendo que, a cada instante, fazer soar a sirena da alma, conclamando outros prazeres – o de escrever, o de cantar, o de estar com amores de outro tipo – para não me deixar levar pelo mais irredutível sentimento de luto e de perda. e ter as lágrimas como companheiras que não arredam o pé de mim.

Esta vestimenta já não cabe mais em mim. É sufocante e inútil. Necessito lançá-la ao vento e me desnudar desse estado de franco abatimento. E que não me venham repetir alguma amiga de meia tigela que é o troco que a vida está me oferecendo como paga pelo que fiz sofrer pela vida afora! Minha face coalhada de lágrimas - sem fim e torturantes -  indicam que a conta está mais do que bem paga. Digo até que é como se os cálculos tivessem sido feitos por um destes banqueiros brasileiros cujos lucros são inteiramente desavergonhados. 


(*) Tudo isso porque encontrei esta carta hoje de manhã. Que má sorte!

Minha mulher
E como é bom sabê-la MINHA MULHER !!!
E como é gratificante saber-se objeto de preocupações - como vc. faz parte das apreensões que vivo, cá, em relação a seu estar...
ASSIM, não como no folhetim, se escreve o verbo AMAR...
E, de CONFIANÇA vimos, vida toda - necessitados.
CONFIANÇA em que temos caminho a percorrer...
Projetos a realizar...
Sonhos a sonhar...
E JUNTOS....
E SEPARADOS EVENTUALMENTE, MAS UNIDOS...
Mais uma vez me rendo à sua sabença, à sua presença, à sua generosidade, a seu carinho...
VOU À LUTA, sabendo - confiado - da espera e de uma mulher integral.
QUE ATÉ RESGATOU O SORRISO FRANCO, QUE ESCANCARA TODA A BELEZA DE SUA ALMA...
Seu


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PALAVRAS REVISTAS

(2/2/2016)
Recebo a mensagem ... 

BREVES LIÇÕES DE GRAMÁTICA - "ANTES DE SER PLURAL APRENDA A SER SINGULAR. QUANDO O CÉREBRO DIZ QUE É PONTO FINAL NÃO DEIXE O CORAÇÃO USAR VÍRGULA." ZACK MAGIEZI



... e penso com os meus botões:
como fazer-me um sujeito simples se tantos complementos me complexificam? 
Como ser sujeito da oração de minha vida se há tantas e diversificadas circunstâncias a adverbiar modos, tempos, afirmações e negações na composição de cada parágrafo aglutinador das vivências que se entrelaçam dia após dia?
Por certo é mais factível gramaticar com as palavras e conceitos do que viver a vida, ela mesma, em atos, ela mesma, que poderá - ou não - ser narrada ao mundo...


QUEM ATIRA A PRIMEIRA PEDRA?
31/01/2014

Não vou mais me repetir insistindo, como faço há décadas, com o meu discurso repetitivo e professoral, espalhado aos quatro ventos, insistindo em que a escola tem por obrigação ensinar como temos nossas mentalidades formadas pela mídia. E que, à medida em que qual se descobre, em grandíssima medida, assujeitado pela influência do chamado quarto poder, é que pode partir para suas próprias escolhas, desanuviado da camada de desinformação que faz-nos sentir como donos de nossa própria vida (Oh, ilusão!), quando somos, não raras vezes, escolhidos para fazermos as escolhas que o pensamento hegemônico vêm de fora invadir os nossos próprios espíritos e induzindo-nos a lhe seguir.  

Chega desse discurso oco que, não o fosse, já teria surtido algum efeito, coisa que não vejo tão nitidamente como gostaria! Só peço que cada qual avalie o quanto fomos cumprindo o que os autores da novela que hoje se encerra determinaram.
Estou aqui justamente para me expor ao açoite alheio e humildemente me confessar, conclamando os demais para que também se submetam a este simples exame de consciência. Nada demais. Pouquíssimo esforço requer. Assumo e pronto: Walcyr Carrasco – e demais autores não explícitos do novelão - fez de mim gato e sapato. O mesmo Félix – na magistral interpretação de Mateus Solano – que me provocou náuseas e indignação no início da trama, tamanha a sua perversidade, me trouxe lágrimas aos olhos, comovidas, de verdade, quando foi expondo as razões de seus traumas de infância, até chegar ao ápice de hoje ser o mocinho que merece o final mais que feliz, cheio de afeto e de lições de generosidade, junto ao seu amor, o também adorável Nico, este, desde o começo, um amor de pessoa. Mais ingênuo que ele só eu ao fechar um negócio! (Mas isso é conversa para outra hora).

Se esta que vos fala, senhora que julga saber das coisas subjacentes ao discurso midiático, está cumprindo fielmente o riscado, que atire a primeira pedra quem não se foi deixando amoldar pelo que foi sendo tecido para mudar nossos sentimentos e compreensões, com o passar dos meses. E isso é que está visível. E o que fomos “aprendendo” quanto ao mais, desde as marcas de carro, os acessórios da moda, a linguagem, os preconceitos e tudo servido como complemento da história televisiva, até mesmo o quanto devemos ir nos esquecendo das pedras do meio da caminho? Para que ter memória?

Que sejamos generosos, sim! Que compreendamos, com amor, a história de cada qual e seus efeitos – muitas vezes trágicos – na configuração do caráter de cada um – mas para tudo tem limites.
E que venha o beijo do casal! É a Rede Globo quebrando tabus e abrindo caminhos. Ô xente! E cá entre nós: tudo tem mesmo vários lados. Nada é mesmo uma coisa só todo o tempo. E vamos em frente que atrás vem gente. Atrás, não, à frente, na segunda que vem. É Manoel Carlos que chega e mais uma vez estarei com o olho na TV para os novos "ensinamentos" que dele virão. Não gostasse tanto de onde vivo, mesmo antes do início da nova novela, já estaria introjetando mais fortemente ainda o meu sentimento de incompetência por não ter cacife para viver no Leblon. Oh, céus!