DISCERNIMENTO
(5/2/2017)
A palavra eu aprendi a escrever, sei de cor que existe aquele s antes do c. Caminhando por suas particularidades, sei também de onde
partiu – a “ação de discernir” - , de quem bem sei ser filha derivada e substantiva. Dela
utilizo sinônimos e compreendo, sem titubear, creio que até com o necessário discernimento,
a sua capacidade de indicar uma boa escolha, de quem sabe estabelecer
diferenças, avaliar, optar por algo (ou alguém – huuuum, aí é que a alma se posta em impossibilidades...), sabendo separar, afastar alhos de bugalhos, ponderando – com
juízo, senso, até, quem sabe?, sem temer as danadas das consequências.
Muito bem. Esse é o âmbito das palavras, da sua vã tentativa de prestar
serviços à vida e ao registro da condução que dela fazemos. Bem sei que por aí
caminho e que lido de modo fraterno não só com os tais dos grafemas, o tão nobre mundo da escrita, e escrevo bem escritinha a palavra – d i s c e r n i m e n t
o. No âmbito do significado da palavra, também cruzei caminhos e dou conta de
entender sua extensão e grave ambição. Alcanço conversar sobre os sentidos denotativo
e conotativo, metafórico e esses tipos de variações que tornam cada palavra – no caso,
discernimento - ainda mais
potencialmente ampla e sujeita a nomear situações, sentimentos, coisas e tudo o
mais.
Mas, isso só serve à Literatura, até mesmo a esta minha, corriqueira,
cujo olhar e expressão se reduzem às pequenas porções que penetram o meu
cotidiano. Arraia miúda. Coisinha que
não chega longe, nem vai à esquina... São apenas falas ao vento e incontidas, não de uma literata, mas de uma mulher que
conta com a fidelidade das palavras e que ama
a relação com elas mantida.
Do que preciso urgentemente é de
uma aula, um curso, uma explanação, vindos de onde vierem, a me dar uma chance,
nem precisa ser muito avolumada e pretensiosa, para que eu obtenha algum sucesso em
meu propósito. Psicanalistas já tentaram, amigos, então, nem sei quantos... Vou
ter que me ater a especular qual Cortella, Karnal ou Gicovate poderá ser autor
da proeza até agora irrealizável, a de que eu preciso trazer a capacidade de
discernimento para a vida. Tirá-la do mundo imaginativo e incorporá-la ao embate da vida e à premência de um discernimento restaurador. Expulsar a infecção e estancar o sangue.
Escrever e sobre ela tecer conjecturas não mais me
serve. Do que necessito é ir além, ultrapassar,
viver o depois. Assim: estabelecido o discernimento de que é hora de desistir
do amor, encontrar uma poção que fuja do âmbito da gramática e alcance minhas
entranhas e jogue no lixo a saudade, expulse as recordações de amor explícito e
me impeça de continuar vivendo o inferno do fim do amor. Remédio milagreiro que me impeça de permanecer em meu particular e interno aposento negro do castelo
de Chenonceau, vestida simbolicamente de dor, tal qual Louise de Lorraine, lá
bem distante, no Vale do Loire. Urge! Caso de vida ou morte!
Bem que
algo me dizia, quando lá estive, tamanha o impacto em tomar contato com o vigor
daquele luto, que o ambiente visitado, de algum modo, teria um dia a ver
comigo. Pois tem. Minha intuição é confiável. A assim permanecer, torna-se mesmo ameaçador vivenciar um
permanente estado de alerta, tendo que, a cada instante, fazer soar a sirena da
alma, conclamando outros prazeres – o de escrever, o de cantar, o de estar com amores de
outro tipo – para não me deixar levar pelo mais irredutível sentimento de luto
e de perda. e ter as lágrimas como companheiras que não arredam o pé de mim.
Esta vestimenta já não cabe mais em mim. É sufocante e inútil. Necessito lançá-la ao vento e me desnudar desse estado de franco abatimento. E que não me venham repetir alguma amiga de meia tigela que é o troco que a vida está me oferecendo como paga pelo que fiz sofrer pela vida afora! Minha face coalhada de lágrimas - sem fim e
torturantes - indicam que a conta está mais do que bem paga. Digo até que é como se os cálculos tivessem sido feitos por um destes banqueiros brasileiros cujos lucros são inteiramente desavergonhados.
(*) Tudo isso porque encontrei esta carta hoje de manhã. Que má sorte!
Minha mulher
E como é bom sabê-la MINHA MULHER !!!
E como é gratificante saber-se objeto de preocupações
- como vc. faz parte das apreensões que vivo, cá, em relação a seu estar...
ASSIM, não como no folhetim, se escreve o verbo
AMAR...
E, de CONFIANÇA vimos, vida toda - necessitados.
CONFIANÇA em que temos caminho a percorrer...
Projetos a realizar...
Sonhos a sonhar...
E JUNTOS....
E SEPARADOS EVENTUALMENTE, MAS UNIDOS...
Mais uma vez me rendo à sua sabença, à sua presença,
à sua generosidade, a seu carinho...
VOU À LUTA, sabendo - confiado - da espera e de uma
mulher integral.
QUE ATÉ RESGATOU O SORRISO FRANCO, QUE ESCANCARA TODA
A BELEZA DE SUA ALMA...
Seu
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