QUAL SAÍDA? E HÁ?
(6/2/2014)
A
cabeça ferve, a alma pena. Não tem escapatória quando me vejo diante de uma
notícia ruim que me abala. O ansiado equilíbrio nunca se diz presente e a
angústia chega certeira, com intimidade, sabendo que meu peito é berço
esplêndido com o qual troca figurinhas amiúde.
Eduardo
Coutinho morre. Da forma que morre. Como um raio, a sensação que me arrebata é
a de sempre: sentir-me o próprio penitente, imaginar suas dores, ver-me em sua
fisionomia crispada a olhar, incrédulo, sofrido, impactado, a imagem de quem
lhe tira a vida. Sim, aquele a quem ele mesmo a deu, há umas tantas décadas
atrás. Terá partido com um olhar de pavor a lhe compor dramaticamente a
fisionomia? Não me parece possível ser diferente! E tome de pensar no
sofrimento alheio, quase me deixando sufocar pelo que me traz.
Por
que não ser diferente? Não foi isso que aprendi na escola. O que me foi sendo
cravado na consciência – religião faz dessas coisas – é que , diante da
desgraça alheia temos que rezar um pouquinho para que o sofredor se alivie, se
for amigo a gente deve dar um socorro presencial, mas não devemos nunca nos
esquecer de que temos que nos aliviar e agradecer por não ter sido conosco.
Tomada tal providência, dentro de nós mesmos, em silêncio, conversa íntima de
filho de Deus diretamente com Ele, é hora de lembrar do quanto somos
privilegiados: graças a deus não tenho um filho esquizofrênico, graças a deus
não fui eu quem caiu na rua (tenho uma amiga que se espatifou na praia de
Icaraí por descuido dos responsáveis pelos orelhões, que retirou um deles do
lugar mas deixou aquela pedra “sinalizadora” da sua presença no local, a qual,
sem ele, tornou-se a legítima pedra no meio do caminho para tombar – e
arrebentar – uns e outros. E se minha amiga caísse de lado? Ou num grau um
pouco mais à esquerda ou à direita que fizesse com que as leis da Física a
levassem a ter ferido seu crânio e não a face??????????)
Então,
por que eu não aprendi a ser uma católica com maior teor de fé e maior nível de
fidelidade às regras que devem orientar o procedimento humano diante de si e do
próximo????????? Por que, ao invés de agradecer e me sentir eleita para não ter
passado por aquele sofrimento eu sofro junto com o outro? Eu não poderia evitar
o ocorrido, não dependeu de mim o ocorrido, por que me sentir assim? Por que me
ver uma vez mais acometida por inútil e conflituoso sofrimento diante da dor
alheia. devo ser presunçosa, achando que posso mais do que realmente posso.
Falta-me humildade, é isso.
O
pior é que só sobra o inútil sofrimento mesmo. Nada posso fazer. Nada poderia
ter feito. Nada poderei fazer. Não há tempo de verbo que atribua a mim a menor
possibilidade de reconstruir o fato já levado a cabo.
Por
que sentir a dor alheia como minha? E só sentir que o nó que está agarrado na
garganta não se dissolve? Nem quando eu venho me utilizar das mesmas velhas,
companheiras e ineficazes palavras eu resolvo meu conflito. Nem resolvo o
problema do outro, nem o meu. Por quais motivos vejo-me tão contaminada pelos
rios pelos quais passei em minha vida, para me dar tão insistentemente a
inutilidades?
O
jogo não era para ser jogado assim, pela vida adentro – naquela base do
“alivie-se, amiga, você vai reclamar de quê? Tanta gente em situação pior e você
sofrendo à toa? Falta-lhe fé, para dizer o mínimo, filha ingrata!”
Vou
mesmo correr pra minha adorável terapeuta (argentina, não poderia ser
diferente!). Mas não creio haver jeito. A briga interna é sexagenária. Nem dá
mais tempo de pacificar as partes em contenda.
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