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AMANHECIDOS
23/2/2017
Impossível ver a GLOBO NEWS na madrugada, como mais uma vez
tentei fazer ontem. Impossível é um dizer muito acanhado. Não expressa o
sentimento todo. É gerador de dor na boca do estômago, é provocador do mais
amargo gosto azedo em minha boca, tornada ressecada e áspera, é o mais
desagradável mal estar físico diante da mais deslavada expressão de um
asqueroso propósito ideológico ao noticiar. A máscara de satisfação com que
cada qual que compõe aquela bancada direitista enfeita seus comentários
é enauseante. Qualquer hora minha hérnia de hiato, (tida como) curadinha da
silva, volta a incomodar. O mundo está acabando em merda e em arbitrariedade e
aquelas pessoas saltitam em sua voz, sobre o bom momento brasileiro, sobre o
tanto que o careca da maldade arrasou e está nomeado ministro, e coisa e tal.
Só discurso pronto e encomendado. Orgasminhos trimilicantes. kikiki kakaka...
(do fundo de minha maldade quase rogo praga para que orgasmos mesmo, os bons,
eles não conheçam em suas vidas particulares). E entre uma vírgula e outra, lá
vem o triplex de Guarujá e mais algum comentário maldoso contra ação que Dilma
e Lula perderam em sei lá qual instância da justiça ou algo afim sobre a
"quadrilha do PT". A tática é treinada para produzir o que há de
pior. Zé Dirceu (aquele que não tem conta na Suíça) ou um de seus pares é a
vírgula entre uma fala e outra de enaltecimento do Brasil que toma o rumo certo
sob o comando do feliz presidente em exercício. Eita gente "ruinha",
como bem diz meu povo da roça, dentre ele "seu" Bil, meu antigo
vizinho, que sempre me chamou e me chama de dona Carma, quando me vê chegar por
perto.
Já
venci um vício, o de fumar. Me fazia mal a não mais poder. Agora, tenho que
inventar a cura para o vício da TV antes de dormir. Cadê o marido que eu
deixava acordado, cheio de carinho e de quem eu fugia antes da hora, para os
braços de Morfeu?
Por que comigo tudo acaba em riso? É o que faço agora, rir um
bom riso, pela primeira vez na vida tendo saudades de um tempo em que a
alienação total - o sono - era melhor do que os avanços das tentativas de
alienação - o sono simbólico - que a TV vem construindo junto a seu público...
Cadê o marido? Sim, mas eu desenho para evitar equívocos. O
"chama sono" eu não quero, não! O outro, sim, aí eu quero, ele mesmo,
aquele com quem quase não dormia. Tempos de muita conversa e em que a vírgula
era outra. Mas, continuando a esclarecer: por uns dias, deixo bem claro, também
não precisa ser aquela eternidade toda... tempo pouco, intermitente, talvez...
E paro por aqui, antes que o riso descambe para a saudade, pois com a tristeza
eu lido bem mais desequilibradamente.
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