sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

VONTADE DE SUMIR
24-02-2017
Já ouvi tanto isso... Muita gente amiga já me disse, pelo menos uma vez na vida, algo parecido com “ah, que vontade de sumir” ou “se eu pudesse dormia agora e só acordava daqui a uns dias”, como também “ah, vontade de descer deste bonde...”
Nossa humanidade nos atribui luz e escuridão, crenças e desesperanças, movimentos de conquistas e paralisia de impossibilidades, momentâneas que sejam. Forçam-nos a ser ou azul ou rosa, mas a multitonalidade é a nossa marca. Mesmo que em tons pouco luminosos e marcantes não somos uma coisa só. Únicos sim, uniformes, não.
Só com o caminhar da vida – e muitos tropeços, quedas e reerguimentos – é que vamos percebendo que há tempo pra tudo enquanto respiramos. Somos de tudo um pouco e nossa vida também comporta movimentos diversos, inconstantes, até mesmo surpreendentes. Como bem afirma o dito popular – só não há jeito para a morte. Quanto ao mais, surpresas, ciência e o que mais for dão conta de ultrapassar, com ou sem acidentes. Diante da morte é que a pessoa sucumbe mesmo. Inexoravelmente. Dominado por uma determinação externa, alheia à sua vontade, pelo menos explícita, cada um apenas cumpre o seu destino de morrer naquele instante. Digo pelo menos num nível explícito porque, no campo do inconsciente, há circunstâncias em que o próprio cidadão, ainda respirante, constrói tamanhas maldades contra si próprio que a morte chega apenas para oficializar aquele processo destrutivo que já vinha se instalando no sujeito. A morte é de verdade toda poderosa. Ou ela nos tira quem não queremos que vá embora, ou, com relação a nós mesmos, ela ordena seja encerrada a ida e define o ponto final do percurso, independente de nossa vontade. Coisa de esfregar na cara que só ela tem o poder de decidir.

Querer sumir é clamar por uma morte temporária, algo assim como um ano sabático, autorizado, diante de alguns percalços que naquela hora do pedido de “clemência”, esteja-nos parecendo difícil de enfrentar.
Hoje sou eu quem está assim, querendo sumir, sumir de mim mesma. E querendo muito o impossível, que ALGUÉM me encontre. É como se voltar a mim, neste exato momento, não pudesse prescindir de um amor de fora que, por amor, me recoloque diante de meu amor por mim mesma. Nem sei bem explicar. Apenas sinto. E torço para que o meu lado abatido, em desconforto, acovardado se desgrude e que ressurja de minhas entranhas aquela minha porção – iluminada e crente, vigorosa e assertiva – para construir este novo dia que surge. Você, aí de fora, acende esta minha luz?


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