AMOR AMADO
27/03/2017
O entardecer me trouxe você.
Bobagem. Puro disfarce. Poderia ser o amanhecer. Sempre seria você a se achegar
sem pedir licença ante toda e qualquer circunstância: seu porte, suas mãos, sua
boca, sua voz, você. Você todo. Até mesmo sua fragilidade tão bem protegida
(não de mim!) por sua verve e postura tão altiva.
Meu amor é heróico, forte,
potente. Nada o abate nem detém. Se abro um e-mail e há alguém com sua inicial
a me escrever, você me vem, inteiro, como se a letra de seu nome fosse
exclusividade sua e alguém a houvesse usurpado só para trazer a sua imagem ao
meu pensamento. Se ouço o hino do seu time, me vem você, sua imagem, seu
sorriso contagiante de torcedor apaixonado. Se um seu amigo me escreve,
“faceiro”, é em você que penso e ele passa a ser um mero elemento de ligação
entre nós. Se vejo um carro com a placa de sua cidade, ah... é a sua cidade.
Não o sendo, ah, bem que este carro poderia ser de lá... Se vejo um casal sem
amorosidade à vista, desprezando o gozo de seu encontro em vida, só me vem à
mente a sua incapacidade de me atingir com qualquer indelicadeza, pois de você
só tive gentilezas e mimos. Se vejo um político falar asneiras ou outro lançar
propostas humanizadoras, lembro-me de nossa
afinidade na Política e do quanto sempre nos identificamos no essencial da
vida... Se... se... se... como essas, muitas e diferentes situações
poderiam ser aqui relembradas para dar conta do tanto você nunca se afasta de
mim. Noite e dia, dia e noite.
Pelo direito ou pelo avesso, a
referência é você. A qualquer coisa que acontece, você é quem me chega, sem
tirar nem por. Inteirinho. Presente nas tantas e tantas histórias que vivemos
juntos. Uma história até certo ponto curta, para
o que foi, é, significou e significa. Inesgotável. Na verdade, você está todo o
tempo em mim, habitando-me, preenchendo-me, sendo parte de mim mesma, uma
fração poderosa, intensa, carregada de sentido e de saudade.
Sou inteiramente só e
incompreendida nesse sentimento e na luta inglória – já abandonada - de
escorraçá-lo de meu coração. Amigos servem para todos os momentos, menos para
os de minha necessidade de escuta sobre você. Não há meios de convencê-los de
que o conheço e às suas manhas e sei de sua necessidade de se fazer forte, sem
conseguir se dobrar ao amor que o liga a mim. Isso não passa pela razão, mas
pela sensibilidade e esta é só minha, foge ao domínio de qualquer outra pessoa.
Pois é isto: nem panos quentes
nem compressas geladas. Nem conselhos nem divã. Tentativas vãs. Nada o tira de
mim. Hora alguma. Eu o amei um dia. Eu o amo agora. Eu o amarei sempre - é a
pressuposição diante das evidências. Essa é uma verdade, a bem dizer, não das
melhores, pois envolve ausência e impossibilidade, mas, por outro lado, por que
escamoteá-la? Minha vontade é tecer palavras em torno de meu/nosso amor. E eu
as digo, respeitosa e triste. Sem me importar com nada além de minha própria
necessidade de, pelo menos neste relato, curto mas intenso, ter você junto de
mim e nosso lindo amor de volta.
Mas, a escrita é apenas uma
ilusão e, como num sonho, eu acordo e apenas resta a saudade.
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