quarta-feira, 29 de março de 2017

AMOR AMADO
27/03/2017


O entardecer me trouxe você. Bobagem. Puro disfarce. Poderia ser o amanhecer. Sempre seria você a se achegar sem pedir licença ante toda e qualquer circunstância: seu porte, suas mãos, sua boca, sua voz, você. Você todo. Até mesmo sua fragilidade tão bem protegida (não de mim!) por sua verve e postura tão altiva.
Meu amor é heróico, forte, potente. Nada o abate nem detém. Se abro um e-mail e há alguém com sua inicial a me escrever, você me vem, inteiro, como se a letra de seu nome fosse exclusividade sua e alguém a houvesse usurpado só para trazer a sua imagem ao meu pensamento. Se ouço o hino do seu time, me vem você, sua imagem, seu sorriso contagiante de torcedor apaixonado. Se um seu amigo me escreve, “faceiro”, é em você que penso e ele passa a ser um mero elemento de ligação entre nós. Se vejo um carro com a placa de sua cidade, ah... é a sua cidade. Não o sendo, ah, bem que este carro poderia ser de lá... Se vejo um casal sem amorosidade à vista, desprezando o gozo de seu encontro em vida, só me vem à mente a sua incapacidade de me atingir com qualquer indelicadeza, pois de você só tive gentilezas e mimos. Se vejo um político falar asneiras ou outro lançar propostas humanizadoras, lembro-me de nossa afinidade na Política e do quanto sempre nos identificamos no essencial da vida...  Se... se... se... como essas, muitas e diferentes situações poderiam ser aqui relembradas para dar conta do tanto você nunca se afasta de mim. Noite e dia, dia e noite.
Pelo direito ou pelo avesso, a referência é você. A qualquer coisa que acontece, você é quem me chega, sem tirar nem por. Inteirinho. Presente nas tantas e tantas histórias que vivemos juntos. Uma história até certo ponto curta, para o que foi, é, significou e significa. Inesgotável. Na verdade, você está todo o tempo em mim, habitando-me, preenchendo-me, sendo parte de mim mesma, uma fração poderosa, intensa, carregada de sentido e de saudade.
Sou inteiramente só e incompreendida nesse sentimento e na luta inglória – já abandonada - de escorraçá-lo de meu coração. Amigos servem para todos os momentos, menos para os de minha necessidade de escuta sobre você. Não há meios de convencê-los de que o conheço e às suas manhas e sei de sua necessidade de se fazer forte, sem conseguir se dobrar ao amor que o liga a mim. Isso não passa pela razão, mas pela sensibilidade e esta é só minha, foge ao domínio de qualquer outra pessoa.
Pois é isto: nem panos quentes nem compressas geladas. Nem conselhos nem divã. Tentativas vãs. Nada o tira de mim. Hora alguma. Eu o amei um dia. Eu o amo agora. Eu o amarei sempre - é a pressuposição diante das evidências. Essa é uma verdade, a bem dizer, não das melhores, pois envolve ausência e impossibilidade, mas, por outro lado, por que escamoteá-la? Minha vontade é tecer palavras em torno de meu/nosso amor. E eu as digo, respeitosa e triste. Sem me importar com nada além de minha própria necessidade de, pelo menos neste relato, curto mas intenso, ter você junto de mim e nosso lindo amor de volta. 
Mas, a escrita é apenas uma ilusão e, como num sonho, eu acordo e apenas resta a saudade.



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