sexta-feira, 3 de março de 2017


COMUNISTA? NÃO!
3/3/2015
Resultado de imagem para foice e martelo

Eleição de 1989. Um grandíssimo amigo era alto executivo de uma multinacional. Um homem bom, especialmente bom, mas um homem do sistema. Víamos o mundo por óticas diferenciadas. Por ocasião da eleição de 89, antes de participar de um comício de Lula e por ele optar, o meu primeiro candidato foi Roberto Freire, do Partido Comunista Brasileiro, grande orador, de esquerda, com um discurso totalmente identificado com meus ideais, daqueles em que “comunista tem que comunistar”. Tudo o que eu queria para dar meu voto!
Pois bem: haveria um churrasco no conhecido campinho de pelada Polytheama, de Chico Buarque, lá na Barra, para arrecadar fundos para Freire (que, aliás, hoje é um conservador de primeira!). Eu comprei alguns ingressos, não só pelo compromisso de ajudar como também para participar do evento na casa do meu grande ídolo, o que, por certo, haveria de ser bastante interessante. No entanto, para meu azar, os meus amigos que eu imaginava poderem ir comigo, cada qual estava com algum programa para o dia, e não obtive sucesso. Vários telefonemas foram dados e nada: todos ocupados. Seria num sábado e cada qual já tinha sua programação, desde viagens a comícios domésticos e encontros amorosos, essas coisas de quem está por aí, como o próprio poeta peladeiro nos ensina de “estar à toa na vida”...
Mesmo sabendo de minhas diferenças ideológicas com meu amigo, resolvo apelar para ele. Quem sabe não topava? Até porque havia o glamour de ser na casa do grande compositor, quem sabe conhecer Marieta, e isso seria, imaginava eu, um ponto e tanto a favor de sua aceitação e de sua mulher para querer aceitar. Minha consciência ética, porém, me impediu de simplesmente convidá-los sem maiores explicações. Tanto ele teria que saber que sua presença significaria doação para a campanha de um comunista, como, do ponto de vista do próprio Partido, seria respeitoso levar alguém que soubesse o significado político do campo (de futebol e da política) a ser visitado.
Que fiz eu? Antes propriamente de explicar do que se tratava, ao telefone, como arremedo de intróito, premissa mesmo, ao que viria em seguida – o convite propriamente para irmos ao tal churrasco – eu indaguei: “Meu amigo, vc tem como fazer de conta que é comunista mais ou menos durante umas cinco horas?” Ele parou por uma fração de segundos e me devolveu, sem titubear: “Cinco horas, Carmen Lucia? Cinco? Não, querida, é tempo demais!”
E por aí ficou a minha possibilidade de ir com o casal ao tal churrasco. O jeito foi correr atrás de outro alguém para dividir os ingressos já adquiridos.
O churrasco foi um horror, aquele avanço atrás das carnes parcas que se distribuía num canto do terreno, obrigando-me a ir com o meu acompanhante – conseguido a duras penas - almoçar num restaurante ali por perto. Mas as pernas do dono da casa valeram a pena de serem vistas em sua habilidade de jogador correndo em campo para marcar seus gols. Que nem sei se aconteceram. Isso era detalhe. Vi o processo (as perninhas), não o resultado (onde elas chegaram e com qual força). Coisas de educadora que valoriza o caminhar, sem se deter exclusivamente no final do percurso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário