BLEFE- ONDE HÁ FUMAÇA HÁ FOGO
26/09/2017
Tomei o meu café como soe acontecer: em paz. E
enquanto mordia minha fatia de pão com chia e macadâmia - e fazia croc croc
como tanto aprecio para aproveitar cada pedaço bom de colocar os dentes para
brincar uns contra os outros - olhei pro lado e me deparei com os inspiradores
desenhos da fumaça que ainda subia do filtro com o pó usado reacendendo do bule
sobre a pia. Parênteses: sim, faço café com coador de pano, sempre. E direto na
xícara para não desperdiçar nem um grau de calor.
A imagem me fez lamentar não estar com o celular
ali, a postos, para registrar a delicadeza daqueles movimentos que dançavam
lindamente. É que ando assim, valorizando qualquer besteira, até um tempo
desapercebida, como fonte de vigor para enfrentar a vida e suas dissonâncias. A
fumaça do café não está só: o calorzinho no meu braço, vindo do sol que entra
pela janela, bem cedinho, quando começo a dedilhar minhas coisinhas; o copo até
a boca de água após o esforço de horas lá fora puxando a mangueira para que se
esgueire entre canteiros e pedras; a amiga que apenas me chama para me desejar
um bom dia; ou a descoberta, caída no meu colo, de que tenho meus direitos, até
de amar, sem ser por ninguém questionada quanto a isso... (Há outras companhias
para a alegria de me deter na imagem esvoaçante, mas paro, se não vira textão).
Mas, mais que tudo, o deleite existencial se deu
mesmo diante da fumacinha inofensiva e caseira, tão conhecida de cada dia que
chega Foi sorrir comigo mesma, ao constatar que onde há fumaça HOUVE fogo, não
necessariamente ainda com o vigor do incendeio.
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