quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Brindes e brindes

Creio que maluqueci. Ou estou me protegendo pra não maluquecer. Mal acordei, tasquei João Donato, com sua batida inconfundível no meu som que tem aquele grave que eu adoro, e já cantarolei muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito. Talvez coloque um maiô bem recatado e elegante e vá pra praia pegar sol. O almoço? Ah, "xaver"... algo do mar com um vinhozinho, uma taça que seja, só para amolecer um pouco a fala depois dos primeiros goles e ver o mundo da cor do céu. Fechando o circuito do bom paladar, certamente, uma sobremesa portuguesa para arrematar. Isso tudo antes do soninho que é a única mesóclise de que gosto nesta vida, antes de voltar à consciência possível e colocar o grande Chico no mesmo som e ver o sol cair, encerrando o dia, o mês e as suas agruras.

Claríssima a maluquice. É a mais nítida ressignificação dos tantos e tantos "seresumanos" que já estão colocando seus servos para colocar o vinho milionário para ficar no ponto e para tirar do bar aquele uísque de sei lá quantos anos para a festa de logo mais. A imagem é tão cinematográfica que quase ouço as estridentes demonstrações de euforia: uma piadinha machista aqui, um comentário malicioso sobre a mulher que está sozinha ali, a risadinha cínica pelo "liivramento que o Senhor proporcionou"... e tudo seguirá, bem normal e "feliz". Em algumas destas reuniões festivas, nem mesmo duvido que se ensaie uma oraçãozinha de louvor. Libera-se o álcool e faz-se uma boa combinação de refresco de lichia com preces ao Alto (Argh!).

Como o maluquecimento é só brincadeira de perdedora (nata),meu movimento é bem outro. O que espero mesmo em meu entardecer é ter amigos por perto para brindarmos à liberdade, à disposição de seguir em luta e, mais que tudo, para juntos homenagearmos Dilma Vana, a quem admiro cada vez mais e tenho por referência pela vida afora. Na minha maneira costumeira de usar palavras com o vigor indo ao ápice dos significados, ela á, sem dúvida, a mulher da minha vida. E a ela dou vivas por sua tão rara capacidade de ser mulher!

E vamos em frente! Temos boas lições a seguir e muitas outras, novas, para aprender e dar conta. Juntos! Tim tim!
Para rirmos de mim, faz mal, não...
(Escrito em 31/08/2015
Tem um tempinho aí, eu andava meio (ou muito) borocoxô por conta de um amor mal terminado. Estava ruim mesmo. Remorso e coisa e tal. Chorava dia sim, outro também. Foi quando não faltaram palpites para que eu abrisse meu coração para outro amor, naquela velha cantiga de que só um amor cura o que acabou. E eu?, nada, nada de querer pensar no assunto! Sob nenhuma hipótese. Não adiantava surgir ninguém com alguma segunda intenção que eu já saía anunciando que havia fechado o coração. E não era para balanço, não. Era coisa derradeira, definitiva. Meia volta, companheiro. Não perca suas ilusões comigo!
Mas o tempo foi passando, e a gente sabe como são estas coisas... Do luto fechado, a gente começa a usar preto com bolinhas brancas e, quando espanta, o luto fica apenas para ocasiões especiais, e que vão rareando. É da vida. Pois, vá se entender o porquê, ninguém vai acreditar, quando fiquei menos fechada para novos empreendimentos afetivos, rarearam as ofertas. Nada de novo no front. Mercado em baixa total.
Amigas, sempre elas, não faltaram, para dar novos palpites para o ressurgimento de alguma coisa nova no coração da "viúva". E foi aí que me chegou de uma querida colega, a ideia de me inscrever num desses grupos de namoros virtuais. A mulherada tem feito uso à beça do recurso e uma delas me animou a dar início à nova experiência. Titubeei, mas acabei arranjando uma hora para dar início ao trabalho de colocar-me na janela.
Nem vou dar detalhes da chatice que é preencher o perfil, ficar em dúvida se uma ou mais fotos devem ou não serem expostas... Tudo muito cheio de dúvidas quanto à segurança pessoal, por mais que eu seja um tanto desprovida de temores e dessas coisas do gênero. Mas, a amiga aconselhou, eu fui seguindo as "normas". Pronto, lá estava eu, toda faceira. Uma Carolina perfeita, na janela. Ou uma Dona Baratinha. Como queiram...
Sem mais delongas, vou direto ao resultado da novidade.
O primeiro candidato não tardou a aparecer. Bem que o site diz que "perfil com foto tem mais chance de atrair candidatos". Eu obedeci, fui premiada e me animei toda com a brincadeira. Simpático o moço. Mensagem bem escrita, ausência de erros de concordância, foto sem inspirar grandes emoções, mas também sem provocar gastura ou repulsa. Bom começo. Mas, a decepção estava à espreita e não tardou a me pegar pelo pé: militar reformado! Isso, em plena época em que alguns andam por aí pedindo a volta dos militares decretou a sentença de morte do infeliz. O adeus veio antes de qualquer possibilidade. Tirei meia dúzia de palavras bonitas da cachola e fugi sem dó nem piedade. antes de qualquer aproximação com aquela farda verde-oliva, por mais que estivesse num velho e requintado armário de uma bela e atraente cidade do interior do estado...
Sem me deixar levar pela primeira experiência negativa, vou ao segundo candidato. E com ele cheguei a conversar um pouquinho. A fisionomia do moço era agradável, cara de gente boa. E assim, dedilhamos algumas conversinhas a distância. Foi meu mal. Conversei sem ler o perfil do cidadão, Me despi de preconceitos e entabulei um papo num entardecer de domingo em que o Flamengo ia perdendo e me deixando enjoada diante da TV.
Pois bem, entre a terceira ou quarta conversa, resolvo dar uma passeada no que o candidato dizia de si em sua página.
Resumo da ópera: saí do grupo. Pago mais nenhuma mensalidade, não. É dinheiro jogado fora! Candidato com um metro e 51 centímetros?
Tô fora!
Chega!
Ninguém pode dizer que não tentei. E gostei demais. Como uma situação para reabastecer o meu bom humor diante da vida. E só.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

)
Luna e eu em Itaipu

TESTEMUNHO (MAIS LONGO DO QUE EU GOSTARIA, MAS...
                                                                                                                                                                                  (Escrito em 20/08/2015)

Nunca consegui, nem em filmes nem em romances, ficar do lado do mocinho simpático que amava a mocinha sem que ela retribuísse. Aqueles, então, que se declaravam e, diante da indiferença da moça, dissessem que o seu (dele) amor dava para os dois, isso pra mim era sinal de fracasso e de franca torcida contra de minha parte. Nada podia dar certo assim, na base do pedido, da súplica, da espera pela generosidade do tempo para que o amor se fizesse presente e desse conta de uma boa história de amor.
Amor tem que ser com arrebatamento, na base do "sem você eu não vivo", do "como vivi sem você até aqui?", estas frases lapidares que fazem parte das histórias de amor que existem pra valer. Rapaz bonzinho, cheio de qualidades é um perdedor nato.

Que depois o amor acabe, aí é outra coisa, mas o existir da historia de amor enquanto dura tem que ser temperado por um bom tango argentino. Valsinhas e sonatas, só de vez em quando para equilibrar o clima, se não o coração explode. E o corpo cansado da vida não resiste. O comando é dos sentimentos com compasso bem marcado, fortes.

Pois a vida me ensinou o contrário e eu estou aqui, ajoelhada no milho para confessar que historinhas de amor podem ser construídas, sim. O discurso de que "meu amor por você dá para nós dois" existe. E gera frutos. Suculentos, deliciosos, dulcíssimos.

Com esta minha mania de escrever e de publicar aqui as histórias de minha vida (nem todas, é óbvio, mas chego perto...), não é surpresa para ninguém o amor que nutri por Luna desde que ela nasceu. Desde que a vi, toquei e cheirei, foi amor à primeira vista. Amor dominador e eu a ele entregue.

Recém-nascida, a figurinha parecia uma santa em meu colo enquanto eu a acarinhava ou simplesmente me fazia de berço ao seu conforto, do melhor jeito que ela se ajeitasse. Integração total e irretocável. Êxtase.

Mas bastou o seu olhar ganhar poder de ver que uma rejeição - dolorosa e lacrimosa - chegou para me arrasar e me fazer sentir a última das pessoas, sem espaço, sem chão, sem vez, jogada no fundo do poço da afetividade. Vulnerabilidade, este era o meu nome.

Daí pra frente, fiz de tudo, bem na base do "meu amor vale para nós duas" ou "hei de vencer e conquistá-la", intuitivamente cheia de fé na minha capacidade de sedução. Se diziam que o choro ao me ver era por causa do meu cabelo branco, colocava chapéu, lenço, o que fosse para cobri-lo. Já o palpite de que era o meu jeito à vontade de estar em casa, sempre com as roupas pra lá de informais e velhotas era respondido com minha elegância numa próxima vinda da luminosa menina Luna aqui. Fiz de tudo um pouco: usei batom, perfume adocicado, roupa pra lá de requintada. E nada!

Cantinho de brinquedos, presente. Livros de história, à mão, sim. Materiais diversos para atrair a atenção, todos. Mas, o choro ao me ver era incontido, coisa pra me jogar por terra mesmo. Um dia, cheguei a subir pro meu quarto, em estado de extrema desnutrição emocional, chorosa e sem volta à sala até o final do dia diante da rejeição anunciada, de cara.

Ninguém sabia mais o que fazer...

Meu amor foi dando para nós duas durante um largo tempo. Até que o milagre se fez. Ninguém sabe ao certo o que se deu na alma da bichinha.De tanto me ver sorrir, um dia, Luna me viu, me sentiu, me acolheu, me escolheu.

Hoje, tê-la junto a mim, me dando a mão para seguirmos adiante, nem que seja da cozinha para a sala, e depois dormirmos a sesta juntas é amor demais. Só dá pra sentir mesmo. As palavras são incapazes de dizer disso, para esse tanto elas realmente têm limites.
Luna nos meus 70 anos, ainda desconfiada em relação a mim (2015).

domingo, 28 de agosto de 2016

Azedume

Quieta no meu canto, revendo mais um texto e ouvindo o ótimo Zeca Baleiro, sou surpreendida com a chegada de Luciélia, nossa empregada, pronta para entabular uma conversa, destas que sempre acabamos por tecer durante um tempinho, enquanto cada qual faz a sua tarefa do dia. Eu que já estou envolta em duas atividades simultâneas, abro a possibilidade de uma terceira, a da conversinha sem compromisso, sempre tão saborosa, sem nenhuma perda ou dano. Dia sim, dia não juntas, acabamos as duas por nos tornar até confidentes, o que é muito agregador e lúdico.

Hoje, nada sério, o assunto era o da mais pura fofoca, boazinha de ouvir e de comentar. Tanto que estou aqui (inventando uma quarta tarefa, a de escrever, diga-se de passagem, passando adiante a fofoca recém ouvida; e,se a amiga telefonar, vamos a ela, será a quinta tarefa, e sigamos em frente, nada demais, é da vida feminina a multiplicidade de ações...).

O que Luci vem contar é que a vizinha, nossa velha conhecida, a mesma que detesta animais e solta bombas para que se calem quando latem, acaba de ser vista na janela batendo palmas para os miquinhos que faziam ruídos (quase inaudíveis) na mangueira do quintal lá atrás. E não é só isso, completa a minha parceira de conversa fiada: outro dia, foram as rolinhas que ciscavam em busca de alimento que foram expulsas pelo ruído humano das mãos avessas às pequenas aventuras e venturas do cotidiano.

Terminando aqui, não tem jeito, vou ter que dar vez a mais uma tarefa: acho que vou jogar pelo muro alguma coisa para a "boa senhora" fazer lá do outro lado. Parece que está faltando coisas a agir do lado de lá.

(E paro por aqui porque vem me dando vontade de escrever um rolzinho de pequenos- grandes prazeres a serem exercidos por casais já de idade avançada. Huuum, paro já, pois a mente dá sinais de rememorações inadequadas a uma senhora distinta como eu. Meus sais!).

Mas, antes de encerrar, permitam-me: PORRA!

sexta-feira, 26 de agosto de 2016


PARALELAS

(Escrito em 26/08/2016, diante do tudo que a REDE GLOBO não noticia, em seu mundo paralelo)






Nunca se encontram. Nunca mesmo. Uma vai numa direção. A outra, bem sabemos, segue no mesmo rumo, mas num outro nível, numa outra sintonia, sem dar nem uma mirada para a que sobre ela busca seu próprio norte. É como se uma estivesse na altura do fio do poste da rua em frente da casa azul, aqui mesmo, em frente de casa; e a outra, linha também, reta também, mas postada bem mais acima, na altura dos aviões que fazem rota também por aqui, muito mais acima da casa azul e das que estão a seu lado, em sequência. Até da verde, de que tanto gosto da tonalidade.
Uma cá perto, outra mais acima, uma mais visível, quase à altura das mãos, sendo até possível alcançá-la se contarmos com o apoio de uma escada de eletricista, por exemplo. Para a de cima, não, já não é assim tão acessível, dá mais trabalho percebê-la; tocá-la, então, impossível. É bem mais distante para o alcance da visão e se houver árvores pode ser até que fique encoberta por algumas das mais frondosas.
Uma aqui, disponível a olho nu, próxima, quase intrusa, basta que se lance o olhar para a frente e a encontramos; a outra, nem tanto, carece de ser procurada, desvendada, nós nos oferecendo para ir ao seu encontro.
São linhas paralelas. A do poste e a do azul do céu.
Por que penso nelas? Simples. Apenas porque me informo. Se o faço pela paralela mais disponível, a TV e a grande imprensa, sei coisas. Se, insatisfeita, vou à cata de outras informações, menos junto de mim, sei OUTRAS coisas. As notícias não se encontram. São paralelas de verdade. Como aprendi nas aulas de Geometria.
As personagens que insistentemente povoam os jornais são uns, criminalizados e exaustivamente acusados. Já na outra paralela, o mundo e os maus são outros. Parece filme de ficção: as muralhas são intransponíveis entre as paralelas da informação. Bandidos e mocinhos não frequentam as mesmas linhas. Nem sequer se cruzam. Como nas belíssimas escadas de Chambord, onde quem sobe não cruza com quem desce, sob nenhuma hipótese.
Conjecturo: temos mesmo que ir atrás do difícil, do oculto, do menos à mão, o fácil, me parece, nos aprisiona no senso comum e na impossibilidade de desvendar quem se esconde atrás das muralhas da obviedade.



Advérbios

(Valendo, de um ano atrás, 26/08/2015)

Fui comigo dentro de mim, voltei comigo ampliada dentro de mim, sou o que sou, o que desejo ser - e me inspira - e o que fui - e me conforma. Lugar comum, mas futuro, passado e presente são dimensões do meu viver, hoje. Hoje, ontem, sempre, quando, agora.

POTE CHEIO
(Escrito em 26/08/2015)
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Não, não é de mágoas, não, é de assuntos mesmo. Tantos, que não sei por qual começar. O primeiro assunto, o que chegou, flagrando-me ainda na cama, foi o da vontade de falar dela mesma, da minha cama, da sua maravilhosa acolhida, do quanto é bom ter tempo hoje em dia para dela desfrutar, sem pressa, sem alunos a me aguardar, sem estudos a fazer e a reelaborar, sem discussão política a me pressionar o crânio para encontrar saídas e propostas para a nova direção da Faculdade ou do Henrique Lage ou para a prefeitura da cidade...

Há muito minha cama merece uma ode à sua silenciosa fidelidade e ao seu conforto certeiro, desde que passei a poder estar mais em sua superfície macia, sem correrias para ir ao encontro da vida lá de fora. Como sou meio dividida em relação a tudo na vida, sempre com um olho no padre, outro na missa (OU É UM NO GATO, OUTRO NO PEIXE?), incapaz de focar num único ponto, mas contumaz perseguidora de focos, ângulos e dimensões do que, em cada situação, está dentro e fora de mim, nem sempre a valorizo como deveria. Não foi nem uma nem duas nem sei lá quantas vezes que, ao invés de gostar da preguiça da manhã, deixando-me levar pela leseira da falta de urgências e simplesmente me deixar fica na cama sem tempo para abandoná-la, fico é me atormentando, me questionando por estar inutilmente posta em sossego sem nada a fazer – com hora certa – pelo mundo em chamas... Defeito de fabricação, eu sei. O DNA é meio complicado, hi, como sei... Nem sempre consigo ver o lado cheio do copo como tantos sábios do bem viver recomendam. Qual nada! Vejo o gato, olhando pro peixe...Tem dias que me sinto "como quem partiu ou morreu". Tenho mesmo é que aproveitar um dia como o de hoje, onde as nuvens da militância incontida ou sei lá que nome dar a esta sensação de desconforto existencial, deram uma trégua, para louvar os novos tempos da aposentadoria relaxante. Prazer de ficar na cama e nada mais. E agradecer à vida por isso. Nada mais mesmo! As tarefas postas na mesa são coisa que podem esperar, nada para ontem, nada para salvar o mundo hoje, já. Na verdade, o mundo não foi salvo. E nem será tão cedo. Dá para aproveitar um pouquinho do conforto de simplesmente me deixar ficar. Nunca é demais relembrar, como ideal de vida, o ensinamento que conheci pela fala de Scarlett O’Hara em O VENTO LEVOU: “nisso eu penso depois...” (e, olhem, que não era pensar depois sobre qualquer assunto: dizia respeito ao seu grande amor!).
Ai, ai...

quinta-feira, 25 de agosto de 2016



         

          ESTAMOS INDO
(Escrito há um tempo e revisto e concluído no dia seguinte ao da morte de Luiz Carlos Aquino, meu amigo - 24/08/2016)
Bonde na Beira Rio, em minha cidade natal, Campos.
Naquele filme UMA LINDA MULHER, cujo autor do título em Português comete, no mínimo, uma baita injustiça com o poema em forma de gente que é a banda masculina do casal de protagonistas, num determinado trecho da película, quando os dois saem para um jantar, ainda na ida, a bela, garantindo desde logo o seu imenso agrado por tudo que ainda viria naquela noite, dirige-se ao belíssimo e, antecipadamente, agradece pela noite que apenas iniciava. É disso que me lembro, com muito frio, por fora e por dentro, quando vou vendo que minha geração vai encerrando sua participação neste intrincado enredo que é a vida. Muita gente querida pulando do bonde andando. Enquanto dá tempo e antes que eu me esqueça, adianto-me para fazer jus à boa educação recebida: "valeu muito ter tido e estar tendo cada um em minha vida. Até mesmo quem fez sinal para entrar e tornou o barco mais pesado de levar por entre as ondas do mar. Tudo e todos valeram e valem. Valem a pena e o gozo".
Estamos indo. Nos dois - ou mais - sentidos.

terça-feira, 23 de agosto de 2016


Esculpindo o bem coletivo
(Escrito em 23/08/2016)


Muito estranho! Repentinamente, dou um salto do trabalho e venho aqui com uma ideia pronta na cabeça. Michelangelo nos meus ouvidos. Ele mesmo, o imortal escultor. Privilegiada, eu. Me ver interrompida por um artista desse porte, o clássico dos clássicos... O acontecido: é como se escutasse a voz do mestre quando certa feita viu-se indagado sobre como esculpia e simplesmente disse que "a escultura já estava lá, dentro do bloco de mármore; eu só retirei os excessos.”

Mas eu entendo o “recado” que me chega do pai do imponente Davi. Aliás, como entendo! Sua obra está livre e dada ao mundo e eis que a uma necessidade minha, humana, achegou-se, permitindo que minha sensibilidade pegasse por empréstimo a sua fala para elucidar o meu momento. Não há mistério no fato. O padecimento de ver meu país tomando o rumo que está a tomar, as perdas e retrocessos – não bem noticiados, bem sei, mas cada vez mais nítidos quando se buscam fontes alternativas de notícias, aguça em mim a ânsia por uma providência transformadora. Daí, Micheangelo.

Tento ser mais explícita. É realmente hora de retirar os excessos e deixar o que é, tornado visível. Ou, dito de outra forma: é hora de, querendo esculpir um touro, retirar da pedra tudo que não é touro. O touro só. Inteiro. Mostrar o touro ao mundo. A vontade é mesmo esta e vem do canto mais profundo de meu sentir: a de que tudo que não é essencial caia por terra e só fique nítido o que define a essência de um viver com dignidade. Para todos. Que nos seja dada a capacidade, a arte, de limparmos tudo que nos impede de ver o que é, o que vale, o que nos compõe como indivíduos em processo de humanização! Que caia por terra o que nos veda a visão! Que fique apenas a verdade ou o que mais dela se aproxime!

Quase asseguro que o silêncio que se nota de forma quase que generalizada entre as pessoas (à exceção dos insistentes de plantão, onde me incluo) dará lugar a um coro vigoroso em prol da democracia, em direção ao miolo daquilo que verdadeiramente importa. Não para uns e outros. Não para poucos. Não para privilegiados. Mas para todos. Coisa universal.

Tudo isso, talvez, seja efeito do atual momento de minha tão rica e espraiada vida: são tempos onde a taça de vinho convive com perdas, as possibilidades de encontros se cruzam com despedidas, com dores, fins e afins. Hora de ir deixando o palco mais limpo, só essencialidades...


COM QUE MEIOS?
(Escrito em 23/08/2014)

Sou das antigas. Do tempo em que Política era coisa séria. Instrumento para se construir um novo tempo – justo e democrático. Tudo era mais nítido, visível, perceptível. O joio era separado do trigo sem grande esforço. Fulano é de qual partido? Quais ideias defende? Quem o apoia? Era olhar a história de cada qual e pronto: cada qual já se habilitava para votar com justeza. Não era por ser amigo ou parente que se conquistava o voto. O voto surgia da afinidade ideológica. E vinha junto com o doce gosto de participação. Com vigor. E não era só votar. Era produzir material, panfletar, ir à luta em defesa das ideias de justiça, de humanização, de democracia, de igualdade! Bandeiras no carro. Camisetas no corpo. Gritos garganta afora. Alegria de sentir-se parte. Cansaço dos bons! “Quase igual”, só para fazer uma gracinha, do jeito que gosto. (Hi, que bom! Consegui fazer uma primeira piadinha!).

Ou era Arena ou MDB. Ou era o conservadorismo e o atraso ou era a possibilidade de mudança. E a gente ia lá e votava. Como votei, dando o meu primeiro voto, ainda morando em Campos, em Roberto Saturnino Braga, grande brasileiro, inigualável, ímpar, até hoje meu candidato para o que for.  Tempos em que, em função da escuridão daqueles tempos, permanecia todo mundo embaralhado no único partido de oposição, o PMDB, a grande casa, desde que foi criado, nos idos de 66, eu assinando a ficha, me lembro como se fosse hoje, no Jardim do Liceu, Manel  (1) chegando às pressas, nós dois em pé, ali mesmo, bem em frente ao coreto.

Depois, vieram os tempos em que o leque se abriu. Então, já visíveis a olho nu, em suas novas siglas, havia os mais à esquerda, os nem tanto, os revolucionários mesmo. E o bom senso e a necessidade de análise política passaram a ser mais agudos ainda. Votar em Brizola ou ficar com Miro, em nome das questões nacionais? Encontros e mais encontros. Ponderações. Dúvidas. Argumentos. Reconsiderações. Estávamos construindo o Brasil também pelo voto. Seriedade na definição era o mínimo. E nada individual. Construção coletiva de opinião. Era assim. Vocês, os mais jovens, podem acreditar!

Corta. Em cena, o ano de 2014.

As lições de antes hoje estão esvaziadas. Onde é o Norte desta parte do trajeto? Cadê a bússola? Aprendi fazendo Política que sempre há uma escolha. É analisar é ver que força política está um grau que seja mais comprometido com o novo e com a humanização. Mas. o que posso fazer? Meus esquadros e réguas não conseguem aferir. Parece que a escala mudou, criaram-se novos intervalos, ínfimos, que eu, com minha vista cansada, não consigo vislumbrar. Olho e não vejo as diferenças. O 1 está coladinho no 2. Quase trepado (sem segunda intenção, podem crer!). Não enxergo nada entre um e outro.

Se olho para quem acompanha quem, não é por esse critério que posso fazer a minha escolha, e dou com os burros n’água. Tem gente minha na inauguração do Templo de Salomão. Tem gente minha como parceira de foto e de jornada de quem eu aprendi na cartilha da participação política ser meu inimigo de classe. Tem amiga do peito, de antigas lutas, pessoa séria e sempre preocupada com a justiça social, que quase me tomba de susto ao sinalizar a intenção de votar no cara da igreja-empresa que cresce até lá na Patagônia (Eu vi!). Tem de tudo um pouco. Menos clareza e lucidez! Para mim, esclareço.

Quando eu li Cem Anos de Solidão, me vi tentada, lá pelo meio do livro, a fazer uma árvore genealógica da família para poder entender melhor o que ia sucedendo, e com quem. As ciladas do Garcia Marquez de misturar muito nome igual ou parecido estavam dificultando o meu entendimento acerca do enredo. Depois vi que isso era de somenos importância. O essencial estava além dos nomes que tanto se assemelhavam e repetiam. Mas, para esta eleição que vem aí, eu vou partir para fazer o mapa de quem está com quem, algo como um organograma, com todos os cruzamentos que estão traçados pelos diversos partidos, para ver se, assim, enxergo o grau de identidade ou de distanciamento entre cada qual, o que vai me fazer apertar o botão correto quando chegar a hora.

Mas, nem tudo está perdido. Cá do meu canto, fico refletindo que quanto a um aspecto – e fundamental! – eu posso pensar com menos chance de errar: se para o Executivo estou às tontas, tamanha a barafunda reinante, preciso investir mais firmemente numa composição com maior nitidez ideológica para compor o LEGISLATIVO. Até porque, é nesse âmbito que alguns passos podem ser dados numa direção oposta à da mixórdia que aí está.

Será que estou saindo pela tangente?

(1) Manoel Luiz Martins



2014

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

DA ORDEM DE PERGUNTAR NÃO OFENDE
(Escrito em 21/08/2014)

Sobre a sopa de partidos - eleitoral, cínica e indecentemente unidos - para as próximas eleições

Quem souber, por gentileza, me esclareça (antes de outubro,  por favor):

Se eu votar em Dilma, na medida em que Garotinho, Lindinho,  Crivellinha e Pezinho estão com ela, como apaziguo minha consciência para conciliar politicas que são antagônicas, defendidas por esses candidatos?  Estarei a favor do que,  afinal?
A) da homofobia ou do respeito à diversidade sexual?
B) do estado mínimo ou do estado intervencionista?
C) da educação pública para todos ou do ensino diferenciado - aos mais ricos uma educação de um tipo, aos mais pobres uma migalha de educação, já levando cada criança a ter seu destino, desde pequenininha, traçado de acordo com a situação financeira de seus pais?
D) do agronegócio ou do trabalhador do campo?
E) de uma saúde pública de qualidade, como obrigação do Estado ou do oferecimento de um tipo de serviço de saúde de acordo com o poder aquisitivo de cada um?
 F) de um tipo de transporte que dê prioridade a formas coletivas de uso das vias públicas ou que contunue oferecendo meios precários de locomoção para a grande maioria enquanto a elite continua se deslocando por meios individualizados e  causadores das tormentosas idas e vindas que paralisam as cidades?

(SÓ PARA COMECAR)

domingo, 21 de agosto de 2016

Alienação assobiante

Tenho um conhecido sobre quem é sabida uma historinha, já pra lá de antiga, coisa do tempo em que éramos adolescentes. Eis que ele estava assistindo um jogo de vôlei, numa quadra onde só jovens, seus amigos, da elite do lugar, se distraíam numa bela tarde de sábado. Ao ver um seu colega fazendo xixi ali mesmo, num arbusto do bem ornamentado jardim, sem saber o que fazer e muito sem graça de ser visto vendo aquela tremenda falta de educação, saiu de fininho, assobiando uma canção (alguma de Cole Porter, imagino...).

Hoje, diante do quadro político, enlouquecedor e embarreirado, totalmente atônita, diante do estado crítico e fedido do amplo jardim nacional, eu saio assobiando pela casa, qual aquele jovem, hoje um senhor, de quem aliás, há muito não tenho notícias...

Ou seja, eu brinco, encabulada, por total falta do que pensar, dizer, agir, ponderar, e coisas tais, aproveitando uma outra historinha que acaba de me chegar, meio tarde, é bem verdade, mas oportuna.

Vamos a ela:

Um belo dia, pela manhã, o marido encontra em cima do guarda roupa R$7.500,00 e 4 ovos e vai correndo perguntar à mulher o que significava aquilo e ela diz:

– Durante este tempo em que estamos juntos,cada vez que vc me irrita eu guardo um ovo em cima do guarda roupa.

O marido fica todo contente por ter apenas 4 ovos em cima do guarda roupa e então pergunta:

– E os R$7.500,00 reais?

Ela responde:

– Toda vez que completa uma dúzia eu vendo...

Muitos risos!!!

(Um complemento meu - a pergunta que não quer calar: POR QUE EU NÃO FIZ ISSO? Dava até para eu estar com alguma reservinha e comprar novas mudas de orquídeas para enfeitar o meu inspirado jardim...)

Muito mais riso!

(E tome de preocupação e embasbacamento (existe?), que eu não sou de ferro de ver o estado das plantas que começam a apodrecer do lado de fora).

sábado, 20 de agosto de 2016

Menos prepotência, please!
(ESCRITO EM 20/08/2016, A PROPÓSITO DE MATÉRIA DO New York Times)
Vejam vocês! Esses americanos são mesmo presunçosos! Eles, justo eles, conhecidos internacionalmente pela comida de mau gosto e totalmente prejudicial à saúde, quererem falar de nossa culinária... 
Com ares de franceses - estes, sim, exuberantes e invejáveis em sua gastronomia! - quererem falar das nossas delícias... Não, não são franceses. São insossos. Para mim, o problema não é terem falado do biscoito GLOBO, que pode, de verdade, não agradar a todos, mas é a generalização. Faz-me rir! Devem estar com o paladar estragado, viciado em fast foods.
Insista em ensinar seu povo, aí, Michelle Obama, a apurar seu paladar. Eles entendem muito de negócios e de tentativas - muitas com êxito! - de dominação. Mas, de prazer diante de um bom prato, parece que não.
Talvez, se o tal nadador louro que vem ocupando as páginas dos jornais por ter cometido um crime e que se mandou egoisticamente - antes dos companheiros - de volta para seu país, tivesse provado um pastel de feijoada ou um bolinho de carne assada por aqui, tivesse aprendido um pouco sobre os prazeres da boa mesa, do prazer do companheirismo em volta da mesa, e fora dela.


MÁ DISTRIBUIÇÃO DE APETITES
(Escrito em 20/08/2015)

Ontem falava ao telefone com uma grandíssima amiga, apreciadora de bons pratos, como eu, sobre uma outra, também adorável, mas a quem "odiamos" por seu eterno equilíbrio diante de um saboroso prato, seja ele qual for. Nada a tira do sério e há anos é sempre vítima de nossa permanente reclamação sobre sua capacidade de lidar com seu apetite. A "inimiga comum" é tão disciplinada que irrita qualquer um. Em seu dia-a-dia, é comum sair da mesa ainda com um grau de insatisfação, tamanho o seu comedimento frente a qualquer das delícias que possam nela se apresentar. E ela, sempre que pode, anuncia isso com um certo sorriso nos lábios (à Mona Lisa), impiedosa, sabendo que provoca nossa ira e inveja no mais alto grau.
Na semana passada, a "madame-disciplina-alimentar" fez uma pequena cirurgia, coisa simples, passa bem, felizmente, mas está precisando fazer uma pequena dieta nestes primeiros dias. Hoje ligo para saber notícias e, juro a vocês, se estou viva aqui a contar o fato é por milagre. É que ela quase me provocou um enfarte agudo do miocárdio com o que me anunciou, com sua costumeira voz suave, sem nenhuma intenção de me ofender, absolutamente!
Sabem o que fui obrigada a ouvir? Eu que a imaginava talvez um pouco ansiosa para comer alguma coisinha diferente neste seu pós-operatório, simplesmente, tive que aturar a sua doce afirmação de que "está até gostando de só beber líquidos por uns dias..."
Refeita do golpe mortal, só me resta telefonar para a amiga de ontem para desabafar e contar com seu apoio irrestrito à minha revolta. Justa, sã, irrefutável.
Quanta humilhação! Diversidade tem limites!!!!

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

                                   


                     Quem avisa amigo é!

(Escrito em 19/08/2016)

No discurso, só não dou jeito no momento político brasileiro. Também pudera! Quem dá? No mais, produzo soluções! Em palavras, é bem verdade, mas tenho todas! Fico cá do alto de minha sapiência, só dando pitaco no que vai em torno, fazendo conjecturas e mais conjecturas, verdadeiras lições de vida sobre o eu, o outro, as circunstâncias, o que vem, o que veio, o que pode vir... Haja palavras!

O fato é que ando deveras irritada com tanta pretensão numa só pessoa! Lucia e Carmen sempre se desentenderam pela vida afora. Os amigos próximos sabem bem disso. Às vezes até mandam convite para Lucia rogando para Carmen não se meter na definição do aceite. Mas, ultimamente, a tal da Carmeadora está insuportável. Fala, fala, fala. Melhor dito: escreve, escreve, escreve, como se entendesse de viver - e bem! E o pior, há pessoas que acreditam, a levam a sério, e até gostam. 

Por isso, este aviso. É coisa de gente de responsabilidade. Coisa de Lucia, antes que Carmen saia novamente de sua velha presunção e dê outra direção à conversa...

A explicação é mais do que simples, oriunda da vida vivida. Apenas observei.

É que ontem saí de casa para um compromisso no Rio, passei numa loja de discos meio inusitada lá na Garagem Menezes Cortes, onde se vendem vinhos, ao lado de Cds e DVDs. No impulso, entrei e fui fazer um agrado a mim mesma e comprei o DVD de Adriana Calcanhoto cantando Lupicínio. E, à noitinha, já em casa, avaliando que o golpe seria forte, no meu som mais que poderoso, com o baixo em seu tom mais cortante, me pus a ouvir. Com cautela, mas inteira no ato.

Agora, pergunto: onde está a "sabe tudo"? A boa de bico? A dona da palavra alentadora? A inspirada? 

Podem desistir! Não adianta procurar. A criatura (Lucia carregando Carmen pelos ombros, depois de muito cafuné...) foi dormir de cara inchada, chorou de cansar, de entupir o nariz e nem o sono desfez a sensação da véspera. Acordou mais destruída do que quando o grande amor, lá trás, na adolescência, saiu de sua vida. 

Assim, em nome do bom senso e da verdade, a quem tem histórias de amor para recordar, dois pequenos conselhos: fujam da Adriana cantando esse tal de Lupicínio e nunca mais acreditem em nada de ponderado que eu disser. Em se tratando das chamadas coisas do coração, sou uma mulher insensata,. Para dizer o mínimo!

Ui!





quinta-feira, 18 de agosto de 2016




Remendos 

(escrito em 18/08/2015)


Recebi de uma amiga, mas desconhecemos o autor. Treinada que sou em cerziduras, repasso, feliz da vida em ter mãos hábeis e garantidoras de deixar nos tecidos refeitos algumas tramas com frestas para entrar luz e ar.Se mais adiante novas linhas serão necessárias, é assunto pra depois, na hora que outros rasgos tumultuarem a experiência do viver. Voilà!

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Remendos necessários
(Escrito em 16/08/2015, relido hoje, um ano depois. E como gostei!)
 
É uma mania de família a de se ter sempre em casa colchas de piquê. Enxoval sem colcha de piquê está irrecuperavelmente incompleto. Isso vem de geração em geração. À rouparia de cada casa, podem ser acrescidos todos os edredons mais modernosos e fofos, os cobertores mais macios e acolhedores, que a colcha de piquê não perde o seu lugar.
Basta se chegar à casa de qualquer das filhas ou netas de dona Neném que para a dormidinha de depois do almoço ou mesmo para a boa noite de sono, o que vem oferecido, junto com as demais delícias da acolhida, é uma colcha do tipo, algumas ainda daquelas mais antigas, outras com padronagens mais atuais, mas do mesmo gênero.
Eu mesma tinha uma - branca, de casal - que não sei onde foi parar. Não sei se acabou com o tempo, se envelheceu e passou a ser proteção de um dos três cães ou se foi uma das perdas dos fatídicos assaltos onde perdi minha casa quase inteira, antes de me mudar pra cá. Ali, até a camisola do meu batizado, toda em renda, de mais de metro de comprimento, que ficou comigo só em fotos, foi embora, junto com todo o resto. Nem é bom lembrar! Ou é, porque teve tudo que ficou, inclusive meus filhos e eu (às vezes eu me esqueço de ver o lado cheio do copo).
A rememoração da colcha me chega por conta de que, desde que vim de viagem dei de me proteger no soninho tradicional pós almoço com uma dessas colchas, a que me ficou de mamãe, até bem simplinha, estampada, desbotada, mas que tem sido a minha escolha (vá se entender!), quando quero dar uma descansada sem desfazer a cama, apenas repousar com algo suave sobre os pés neste inverno cujo calorzinho tem sido adorável.
Pois, mais do que esta rotina que criei, espontaneamente, de dela me utilizar em movimentos de proteção ao corpo, surpreendeu-me hoje, sem mais nem menos, como soe acontecer comigo - que simplesmente vou tomando rumos, sem planejar nem estruturar métodos quando quero fazer algo - dar-me conta de que me pus a analisar o tecido já esgarçado da colchinha de dona Neném e colocar-me a cerzir um ponto dela, bem central, que estava mais vulnerável.
Cá com meus pensamentos: estes retornos e contornos, quando se aparam arestas (ou se cortam fiapos...), quando se percebem buracos e trata-se de preenchê-los, quando se alisa o que se tem, renovando-o com a nossa ação cicatrizante, coisas assim, pode não ter nenhum vínculo aparente com nossos tecidos internos, mas como são bons de viver e de sobre eles pensar e conjecturar... (Por mais que alguns me julguem séria demais em relação aos acontecimentos).

sábado, 13 de agosto de 2016

Uma tarde com o sabor amargo de se sentir  ínfimo


Não se trata de ser ou não simpatizante do candidato morto. No contexto geral da tragédia esse é um detalhe mais do que insignificante. Trata-se, sim, do mais profundo abatimento diante da nossa total, ampla e apavorante falta de poder em dominar o segundo seguinte ao de agora. Somos nada.  O poder sobre o que virá antes que eu digite a próxima palavra não vem de mim. Sou nada.  Sabe-se lá de onde surgem as determinações para que hoje 5 filhos estejam órfãos de pai e um país continental como o nosso,  tão sofrido quanto alegre, tão esperançoso quanto frustrado, tão corajoso quanto assujeitado, esteja, a 50 dias das eleições presidenciais com um quadro sucessório totalmente posto abaixo e à mercê do imponderável. 

Talvez por isso e por isto, ao nosso redor, a luta pelo poder seja tão insana: para disfarçar a fragilidade dos humanos diante de seu próprio destino

quinta-feira, 11 de agosto de 2016


PAI EM FILHA
(10/8/2015 - domingo dia dos pais)

Fiquei com inveja de uma amiga e da maravilhosa foto que postou com seu pai (ela fumando) -  retrato de uma época (só que eu sempre fumei escondido de papai) e quis postar uma foto com Seu João,  o velho João.  Escarafunchei as fotos que tenho aqui no tablet,  não achei nenhuma e, não querendo abrir o computador agora pra buscar, resolvi,  creio que a contento,  a situação. Aí está o velho João em mim. Sempre que solto a minha gargalhada,  é ele, vivinho da silva,  que mostra a sua perenidade. E também,  sempre que os amigos me paparicam (e como são dados a isso!) é ao pai gostado por tantos amigos,  pobres e ricos, que eles estão louvando. Uma das alegrias das quais me recordo com o peito inflado, é a do dia em que, conversando com um motorista de táxi no Rio, em pleno percurso,  conversa vai,  conversa vem, ao falar que era de Campos e filha dele,  o  motorista entabulou um papo cheio de meandros, cheio de lembranças de meu velho pai, e ainda por cima não cobrou a corrida. Bom demais! Valeu "Seu" João!
Gargalhada à moda João Pessanha
Dois rabiscos sem nexo, logo de manhã
(10/8/2015)

Primeiro - A força da culpa atravessa o tempo sem dó nem piedade. A coisa é séria. Não é a primeira e com certeza não será a última vez que, ao me preparar para o prazer de uma última garfada, mordida ou gole, sou acometida de um impulso de me "sacrificar" e deixar o ansiado prazer irrealizado. Isso vem da adolescência e eu preciso me concentrar numa razão bastante séria para perceber a inutilidade e a irracionalidade da ideia que tenta impedir que eu venha a degustar a delícia à minha frente. E tem mais: o evento é mais provável de acontecer quando a guloseima é do meu mais intenso agrado. Formação religiosa mal introjetada (e distribuída) dá nisso. Num tempinho se aprende pra numa vida inteira se desaprender...

Segundo - Sair da mesa de café para ganhar de presente esta foto de Maya e Noah, dos sempre amáveis vizinhos Míriam e Hézio, é uma dose de valor em nossa crença no ser humano.



                                              

    
             X








A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
(escrito em 11/08/2016)

De que adianta tanta emoção, tanto choro - copioso e até sincero - de nossa parte, com a vitória da Rafaela, se cada um de nós voltar ao nosso cotidiano, indiferente ao que está acontecendo em Brasília com o conchavo - o maior já visto em nossa história - para sacramentar, com o nosso aval, silêncio e cumplicidade, o pior dos mundos em termos de políticas públicas para tantas e tantos da Silva que se espalham por nosso país?
Sabem quando - com nosso silêncio, cumplicidade e aval - o governico que estamos apoiando que permaneça dará chance a novas Rafaelas? Nunquinha!!!!!! Aliás, ele já está mostrando as suas afiadas unhas.
Com nosso aval, cumplicidade e silêncio estes tempos são tempos de outro tipo de criança, sabemos muito bem quais. As Rafaelas que se explodam! E nós, quietinhos, sem chorar nem rir. Assobiando, como se nada tivéssemos a ver com nada.
Acredito que o momento não é de pensarmos apenas no que significa a expulsão da presidente eleita. São tempos de verificarmos o que - com nosso silêncio, cumplicidade e aval - estamos chancelando para que fique.
Não adianta chorar e não fazemos nada para mudar. Choro sozinho é impossibilidade e culpa. Já choro e ação elimina o silêncio e joga a cumplicidade e o aval para escanteio, e com vigor.